What If?

Capítulo 13


2015 – Dias Atuais – Chiapas

Nesse canto que é tão meu vou tecendo meu mundo de sonhos onde a verdade se escondeu, me desfaço da vergonha e de certezas incertas.

Sandy

— Anahí?

Escutei aquela senhora falar comigo perfeitamente, diferente de momentos atrás, eu já tinha deixado o tal filtro novamente onde encontrei, tinha medo de sequer olhar para o tal objeto. Minha respiração estava voltando a ficar controlada, se eu olhasse ao meu redor teria certeza que algumas pessoas olhavam curiosas, afinal porque tantas pessoas me chamavam e eu não respondia?

— A senhora está bem? – Encarei quem fez a pergunta deveria ser alguém que estava falando comigo algum tempo, tinha roupas indígenas, era alguém da feira.

Consegui endireitar meu corpo e dar uma longa e profunda inspiração para soltar o ar de dentro dos meus pulmões, tudo aparentemente normal.

— Estou eu não sei o que aconteceu! – Respondi como pude.

— Não é a primeira vez que isso acontece, de novo mãe! – Ele reclamou agora olhando a senhora e então fez sentido pela semelhança.

— Eu estava contando como fazia meus artesanatos, da nossa cultura maia, não lhe disse nada demais. – a senhora se defendeu depois de olhar para o filho me encarou e eu percebi que ela estava falando a verdade, mas tinha algo oculto ali. – Mas, se a senhora quiser que eu diga o farei. – o seu tom de advertência me assustou. Ela sabia sobre o que acabou de ter acontecido?

— Sem essa história de adivinhações, Cosmo, Pirâmides novamente mãe, assim você assusta nossos clientes e não faremos boas vendas. – O filho parecia cansado, então eu não sou a primeira a passar por isso? Essa senhora poderia me dar as explicações que preciso?

— Ela não esta me chateando, eu acho que minha pressão deve ter baixado por conta do sol que está muito quente. – Eu a defendi e isso a fez mostrar um sorriso fechado para o filho, bem convencida. – Eu quero comprar este par de brincos, por favor. – Peguei os objetos que antes olhavam. – Pode embrulhar?

O filho tomou conta da venda, me tratada cordialmente, eu estava ainda abalada e só conseguia encarar a senhora que me encarava de tal para qual.

— Aqui está senhora primeira Dama. – me chamou pelo meu título mais recente, eu retribui a gentileza e após pagá-lo dei as costas sentindo minhas pernas firmes, diferente de momentos atrás. Será que eu tive uma alucinação?

Andei de volta pela feira onde estaria Velasco, quanto tempo será que eu fiquei aqui, quanto tempo de verdade! E o que será que aconteceu comigo? Estava confusa. Avistei meu noivo conversando com algumas pessoas do partido, eu queria ficar para apoiá-lo. Mas, sentia que o melhor que tinha a fazer era ir para casa. Assim que me decidi, escutei uma voz me chamando ao olhar para a direção, era ela.

— Meu filho me pediu para lhe dar isso como um sinal de gentileza, ele acha que eu não lhe atendi bem. – Ela me explicou assim que chegou perto de mim. Me deu um saquinho e pude ver que tinha dentro um pequeno filtro do sonhos, um desses que encontramos mais facilmente, não tinha muito a ver com o outro. Aquela senhora era misteriosa demais.

— Diga a ele que a senhora me atendeu muito bem. – Fui gentil. E também não poderia perder a oportunidade. – A senhora sabe o que aconteceu comigo? Pode me dar respostas? Eu sei que além dos outros, sabe em seu íntimo que passou algo raro.

— Infelizmente eu não posso te dar as respostas que tanto quer. – ela negou com a sua cabeça. – O que aconteceu contigo, foi algo particular, só você pode encontrar as respostas.

— Eu não sei por onde começar, não consigo nem acreditar no que foi aquilo. É algo além da compreensão humana. – Eu comentei confusa, ela me olhou sorrindo, parecia que eu estava começando bem.

— O que aconteceu com você, pode ter vários significados, depende do que acredita. Eu como descendente dos Maias, nasci aqui em Chiapas. Já vi muito por aqui, menina. Muitas pessoas com esse mesmo olhar perdido e confuso depois de viver algo extraordinário e assustador, turistas, nativos, católicos, ateus, eu fui uma delas. – Já estava prestando atenção conforme ela falava, mas saber que ela viveu algo parecido comigo, me fez ter mais vontade de tentar entender o que é isso. – Estava em Palenque em meio a ruína fiquei emocionada com a beleza do lugar, e de repente sem esperar eu fui tomada por algo muito forte, como um chamado, eu vi, conversei e abracei meu filho mais novo que morreu tem alguns anos. Foi tão verdadeiro.

Era isso, eu tinha também essa mesma sensação e provavelmente mantinha esse olhar perdido como o dela. Sentia que tudo o que foi vivido foi verdadeiro, todavia tinha algo estranho.

— Ainda que o catolicismo foi imposto sobre a nossa cultura, temos nossos ciclos anuais, busco seguir as crenças antigas. Rituais, minhas práticas mágicas, exista a nossa cosmologia que está baseada no conceito da interação do espírito, mente e corpo. E como eles atuam no mundo ou mundo sobrenatural. Do ponto de vista maia e indígena o que aconteceu com você não é estranho, tem algum significado. Você precisa entender o razão e o significado, talvez seja um aviso ou uma lição.

Christopher. Me veio a cabeça, o fato de eu ter aquela lembrança nossa antes de vir até aqui, pode estar ligada a tudo o que eu vivi? Eu só conseguia ficar incrédula, não separa minhas crenças e por meio delas entender.

— Eu preciso ir. – falei ainda confusa, por mais que as palavras dela tenha me dado direções, eu não sei se quero chegar até o fim. Especialmente se tudo se tratar sobre ele.

— Espere! – ela me segurou no braço, ainda que gentilmente, me senti acuada com o seu olhar. – Talvez encontre sentido ou não. Talvez o que te foi mostrado é algo que queria muito, o que viu pode mudar a sua vida ou não, mas antes de tomar qualquer decisão precisa saber de tudo do que são os seus sonhos, do que é o seu destino. – Ela pôs a mão em minha barriga ainda diante daquelas palavras que só fazia mais sentido para ela, estava falando sobre algo que sequer sabe o que é.

— Tenho que ir. Obrigada. – Estava abalada, não queria mais ver aquela senhora que passou a me incomodar com sua presença. O que ela quis dizer?

No caminho que fui andando até onde estava Manuel, ele viu que eu estava diferente, mas consegui não preocupa-lo. Ele teria que voltar ao seu gabinete para ter algumas reuniões e aproveitei essa desculpa para voltar para casa, eu precisava ficar sozinha. No carro, estava acomodada enquanto o motorista estava pronto para sair da feira na zona central de Tuxtla, tentei me organizar mentalmente, pela religião católica não teria nenhuma resposta. O que eu vivi parecia loucura do aspecto religioso, até mesmo para o aspecto científico, ou será que haveria teorias? Eu não sabia nada sobre o assunto.

Queria poder dividir isso com alguém, mas até eu estou me achando maluca, preciso dê um tempo. Pensei enquanto passava a mão no rosto, eu queria deixar de pensar sobre o assunto enquanto olhava a paisagem passando pelo vidro do carro, dizer que foi uma bobagem, mas mexeu comigo.

Anotei mentalmente pesquisar sobre mais sobre o ponto de vista maia, talvez se eu buscasse saber com algum astrólogo. Ou um bruxo?

Anahí olha só o que anda pensando? E por que não? Tinha uma voz que me questionou, afinal de contas não é normal você ver, era mais que isso sentir vivendo uma outra vida onde simplesmente toma uma decisão que muda completamente o rumo de tudo o que acreditei viver. Ter uma vida onde me casei com Christopher? Christopher veio novamente nos seus pensamentos, logo ele, não conseguia me lembrar a última vez em que o vi, fazia tanto tempo. Senti um aperto no peito. Queria poder ligar para ele e contar tudo, mas aqueles eram outros tempos, não tinham mais o companheirismo de antes. Quando foi o momento em que nos perdemos mesmo? Percebi que tudo foi estragado quando brigamos.

Senti uma lágrima queimando o olho com vontade de sair e deixei porque eu tinha que começar a admitir que sentia falta dele. Eu não sei mais onde ele se encontrava na minha vida, e jamais imaginei que isso viria algum dia a acontecer, não por tudo que fomos. Que poderíamos ter sido.

O que será que sinto por ele hoje? Me perguntei com medo da resposta do meu coração. Neste momento notei algo que já estava ali, mas que agora poderia ter outro sentido. Geralmente como andava muito com aquele carro e vez ou outra Manuel e eu demorávamos para chegar nos locais, eu deixava qualquer coisa que pudesse me distrair, basicamente revistas ou livros, e fui pegar o que me chamou mais a atenção.

Seria possível? Me perguntei num tom baixo, apenas para mim. Paulo Coelho além de ser um dos meus autores preferidos, era agora um amigo, estava em minhas mãos o exemplar de Aleph. Do ponto de vista em que é apresentado no livro eu poderia ter vivido algo semelhante, me arrepiei só de pensar na ideia, me lembrei de quando li a primeira vez e queria ter algo assim. Me lembrei de quanto eu compus junto com Mario a letra da música, da primeira vez que mostrei a Paulo ou mesmo da vez que eu cantei. Será? Eu lei a capa do livro como se ela pudesse me revelar o que eu queria.

Um bruxo! No momento em que fui aquela feira e peguei aquele filtro do sonhos, me jogaram no precipício da loucura mesmo, então decidi não descartar nenhuma possibilidade. Peguei meu celular e mandei uma mensagem, para ele, torcendo para que fosse respondida logo, apesar de nem saber que horas eram na Suíça. Foi uma espera ruim eu olhava o celular o tempo todo esperando, até que ela veio, eu lhe mandei um texto muito grande contando basicamente o que tinha me acontecido e enquanto isso Paulo que estava online visualizou e demorou uns cinco minutos para me responder.

Aquilo foi brutal, eu estava ansiosa para saber o que ele achava, assim que o meu carro chegou em minha casa foi o momento que recebi a resposta de Paulo. Agradeci a Juan por me trazer e entrei em casa muito rápido, fui direto para o quarto, e com a porta trancada voltei minha atenção total ao meu celular.

“Curioso, daria uma história fictícia maravilhosa.” Ele riu no áudio, estava com a voz mais baixa falava devagar. “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar´, disse Shakespeare. No que você acredita Anahí? Acredita no Aleph? Acredita em magia? Acredita no sobrenatural? Em mundos paralelos?” Ele fez uma pausa maior e eu pensei sobre. “Eu não posso te dar alguma explicação, minha querida infelizmente, mas já soube de histórias de pessoas que viveram o mesmo que você de diferentes religiões, a sua crença talvez explique o que viveu, ou sua arte, lembra de um famoso filme chamado ‘De volta para o futuro’ e se isso fosse possível? Recomendo que se tranquilize, da para perceber que está aflita, disse que a senhora te aconselhou a descobrir por si mesma, então por que não o faz isso? Fique sozinha, faça algo que te conecte consigo mesma assim entenderá melhor tudo. Conhecer a si mesmo é uma das melhores sabedorias.” O mandei um áudio agradecendo e o responderia mais tarde, após escutar seu conselho eu respirei profundamente, fazer algo que me faria bem e relaxaria? Hm tenho uma ideia do que.

Depois de duas horas, meu corpo estava exausto, quente, suado, dolorido, não aguentava mais fazer qualquer posição, nada mais de ásanas. Minha respiração estava regularizada e sentia uma paz me cercando como toda às vezes em que praticava Yôga. Estava de cabeça baixa, sentada sobre meus calcanhares, quando escutei uma voz dentro de mim.

Tenho suas respostas.

Era a minha voz, em minha cabeça, mas não era eu. Confuso? Até para mim. Como assim? Pensei como uma resposta, deixei de duvidar e passei a me entregar se eu queria entender, assim o seria. Posso te mostrar.

Diferente de ter ficado assustada se tivesse acontecido antes, estava completamente calma, na verdade ansiosa por ter segredos revelados. Eu quero saber o que aconteceu comigo! Desejei de olhos fechados, na tentativa de ver algo. Poderia ser algum tipo de anjo ou fada.

Você pode me ver é só você querer de verdade.

Eu quero. Pensei quero muito. Então senti que tinha que abrir os olhos, o fiz devagar como um instinto, olhei para o chão e então para frente onde eu tinha um enorme espelho. Eu estava ali. Eu refletida. Eu.

Sim, eu sou você. Uma versão de você. Ali tinha meu reflexo, mas ao mesmo tempo não era eu, ou era. Na verdade ali estava a Anahí que decidiu por Christopher. Tinha as roupas da minha última imagem na cabeça quando estava em Estolcomo.

Como isso é possível? Ela me disse. Na minha realidade, mundos paralelos são reais e não frutos de teorias científicas como Albert Einstein e outros cientistas defendem no seu mundo. Parece loucura, mas você viveu e sentiu, você sabe que não estou mentindo. Eu assenti para o meu reflexo, eu fiquei em silêncio apenas me olhando, para aquela outra imagem, ou melhor, para aquele outro eu de mim. Eu o amo muito! Me ouvi dizer repentinamente e agora sentia angustia, nossos sentimentos estavam conectados também. Eu precisava te mostrar o quanto o amo. Queria que visse como seria uma vida ao lado dele, que mesmo não sendo fácil valeria a pena. Eu não conseguia aceitar a perca! Suas últimas palavras me afetaram, porque a palavra perca foi me dita com um peso maior, e isso me fez engoli saliva porque eu senti o que ela sentia naquele momento. Eu preciso seguir em frente. E você mesmo que não consiga voltar no passado para mudar tudo, pode fazer isso agora, não ter um relacionamento fracassado.

Fracasso? Pensei sobre qual fracasso ela estava se referindo. Mas, essa resposta eu não tive. Você o ama tanto quanto eu, posso sentir. E nós duas fechamos os olhos se entregando ao que era esse sentimento. Ainda que acreditemos em destino, ele pode ser mudado, você pode mudar sua realidade ainda que eu não possa mais, foi bom estar com ele novamente. Obrigada por isso!

Então me desconectei consigo mesma, assim como começou se foi e algo me diz que não voltará a acontecer, talvez não nesse plano. Em outras realidades, quem sabe. Essas eram minhas respostas, que foram rasas, mas que foram suficientes, agora fazia sentido.

Eu o amava ainda, poderia ter uma vida diferente ao seu lado a partir de agora.

Pois quem olha pra fora, sonha e quem olha pra dentro, desperta!

Meu Canto

Sandy