POV Elizabeth - Narrador

Sua primeira reação foi andar apressadamente para longe da biblioteca. Depois, correu pelos corredores, sem se importar com os empregados que a olhavam assustados e perguntavam se estava bem. Claro que estava maravilhosamente bem. Tirando essa pressão em seu peito e a vontade absurda de repreender-se por estar acreditando nas palavras de Caroline, ela estava bem. Por que, veja bem, é claro que as palavras de Caroline Bingley são mentiras.

Mas então, por que estava com esse intenso sentimento de... Recusando-se a completar a frase, entrou numa sala e, fechando a porta, apoiou-se nela e cobriu o rosto com as mãos.

Não, não é isso. É impossível.

Descobrindo o rosto, olhou em volta. A sala era incrivelmente mobiliada. Apenas uma das muitas salas de visitas de Pemberley. Aproximou-se de uma poltrona e afundou nela, percebendo que a cabeça começava a latejar. Seus pensamentos foram para a cena em que conheci a figura de Mr. Darcy. Tanta coisa aconteceu! Tanto desprezo, tantas atitudes erradas, da parte dele e da dela, é claro. E apesar de todos os maus modos dela para com ele não o impediu de se apaixonar e declarar o seu amor. Mas... Foi tudo tão errado! Quantas palavras não foram ditas para machucar um ao outro?

Mas agora aparentavam estar bem. Poderia tentar, mas enganar a si mesma é um erro que ela não conseguia cometer... Apreciara sim, a companhia de Mr. Darcy. Na verdade, ansiava estar ao seu lado todos os dias... Queria provocá-lo para ver suas reações, queria ouvir a sua voz enquanto comentava sobre seus livros favoritos ou quando elogiava sua irmã e principalmente queria poder descobrir novas formas de fazê-lo sorrir de forma tão espontânea que fazia o seu peito arder e... Oh céus!!

Elizabeth Bennet estava apaixonada por Mr. Darcy!

Como pode o desprezo virar amor?

POV Darcy

Passara cerca de duas horas e eu ainda não tinha encontrado Elizabeth. Frustrei-me quando encontrei Bingley e os outros convidados reunidos em uma sala. Caroline Bingley, possivelmente tomada pela vergonha, não se encontrava por ali.

“Irmão!” exclamou Georgiana com um sorriso. “Terminei o desenho bem a tempo, caso o contrário a chuva retardaria o meu presente em mais um dia.” Olhei para a janela e percebeu que, de fato, caia uma forte chuva. Comecei a pensar em alguma desculpa para dizer quando, como se tivesse sido planejado, Elizabeth adentrou a sala por umas das portas e, um dos meus mordomos, por outra. Olhei imediatamente para Lizzie e ela corou.

“Mensagem urgente para Senhorita Elizabeth Bennet” declarou o mordomo. Ela olhou confusa para o homem e avançou firme, passando por mim, até pegar a carta nas mãos dele. Automaticamente me aproximei junto, percebendo que a atenção de todos estava nela e na carta. Por um breve momento minha respiração ficou presa em minha garganta, mediante ao fato de Elizabeth estar ficando pálida a cada linha da carta. Por fim ela me olhou, totalmente espantada e seus olhos fecharam, desfalecendo. Apesar de Bingley estar mais perto, forma os meus braços que conseguiram evitar a total queda dela ao chão. As senhoras exclamaram alto e meu amigo pegou o papel que estava no chão e dobrou.

“Leve-a para o seu quarto!” Exclamou Louisa. Passei a mão por suas pernas e a levantei, encaminhando-me para o andar de cima. Quando finalmente pus Elizabeth deitava em sua cama, percebi que todos tinham me seguido para dentro do quarto e tive o deslumbre de que, possivelmente, o conteúdo da carta era uma noticia extremamente intima e triste. Portanto, Miss Bennet possivelmente não iria querer compartilhar nesse momento. Comentei que apenas a Governanta ficasse para cuidar dela e que assim que eu tivesse certeza que ela estava bem, voltaria para a sala. Bingley deixou a bendita carta no criado mudo e levou sua irmã e cunhado para fora do quarto. Georgiana tinha um olhar apreensivo para a nova amiga e relutava para deixar o quarto. Solicitei que ela fosse apressar a governanta e ela ficou feliz de poder ajudar.

A mesma logo chegou e me afastei um pouco, para que ela pudesse destampar um vidro com um odor muito forte e aproximar do nariz de Lizzie. Imediatamente o seu corpo tremeu e ela abriu os olhos, atordoada. Quando seus olhos pousaram em mim, ela os arregalou e estendeu o braço e segurou as minhas vestes, puxando-me para mais perto. Não sei para onde a governanta foi, pois minha atenção estava exclusivamente nela.

“Wickman...ele...minha irmã...” ela tentava balbuciar, mas sua respiração não ajudava. Então ela olhou para a carta e eu entendi que era uma permissão para ler. Ajoelhei ao lado da cama e segurei a carta em minhas mãos.

Cara Elizabeth,

Queria eu poder ter boas noticias para lhe dar, contudo não podemos mais esconder o triste fato que caiu sobre nossa família. Nossa irmã mais nova deixou-se cair em desgraça ao fugir com George Wickman! Nosso pai e tio foram para Londres a procura deles, mas creio que a nossa sorte já foi destruída e esta irremediavelmente sem volta. Nossa casa está o caos e mamãe insiste que você volte para casa.

Que Deus tenha piedade de nós e nos possibilite aprender com tamanha atrocidade.

Com amor, Mary Bennet.

Quando dei por mim, havia saído do quarto e já me encontrava em meu escritório, chutando as cadeiras e jogando todos os papéis no chão. POR QUE MALDITO WICKMAN SEMPRE ESTRAGAVA TUDO A MINHA VOLTA?

Após um tempo destruindo tudo de meu escritório, consegui me acalmar o suficiente para servir-me de um pouco de whisky e sentar numa das poltronas. Meditei durante alguns minutos sobre a tristeza de mais uma moça inocente cair em suas garras e em como eu poderia resolver este problema. Wickman certamente queria atingi-lo.

“Irmão...” percebi Georgiana na porta, olhando alarmada para a sala totalmente bagunçada. Ela me olhou receosa e sua voz era um sussurro. “Miss Bennet deseja voltar imediatamente para casa e eu pensei que poderíamos providenciar uma carruagem...” sua voz foi sumindo aos poucos. Levantei, deixando o copo na mesa e me aproximei dela.

“Mas é claro, minha irmã. Eu mesmo irei acompanhar Miss Bennet para me assegurar que ela estará bem durante a viagem.” Disse, com as mãos em seus ombros e ela relaxou, esboçando um sorriso.

E assim o fiz. Providenciei com os criados a mais resistente carruagem e os melhores cavalos. Pedi que preparassem minhas malas e ajudassem Miss Bennet com as delas. E estava em meu quarto, terminando de me arrumar quando Bingley apareceu.

“Já está pronto? Estamos esperando você chegar, pensei que tivesse se afogado na banheira.” Olhei para ele imaginando que ele estivesse louco. “Eu vou pegar uma carona com vocês para Londres. Tinha que ir lá, correto?” ele disse, tentando parecer casual. Continuei a encará-lo, tentando me decidir sobre a situação. Ele passou as mãos pelos cabelos. “Também estou um pouco preocupado com a srta. Bennet e com a sua família, então...”

“Leve Miss Bennet para a carruagem e me aguarde que eu já chego, Charles. Preciso apenas dar algumas ultimas ordens.” Eu disse, também tentando parecer casual, apesar da culpa que caia sobre meu peito.

Não iria falar, mas eu te entendo Charles. As Bennet sempre preenchendo nossa cabeça e preocupações.