POV. Natasha Romanoff

Merda.

Merda.

Não acredito que Steve tinha visto tudo.

Eu não sabia o que falar, não sabia como agir. A última coisa que eu sempre quis era que Steve soubesse do meu passado tão demasiado obscuro. Ele não merecia isso. Por essa razão, provavelmente falei a coisa mais estúpida que poderia falar:

— O quanto você viu? – Ele estava ficando vermelho. E não era no sentido fofo quando ele se envergonhava.

— Eu queria poder dizer o bastante, mas infelizmente a resposta é tudo. – Sua voz tremulou – Você não me respondeu. Você matou o filho do presidente?

Respirei fundo. Aquilo não podia estar acontecendo.

— Não. – Respondi – A Viúva Negra o fez.

— Ah, Natasha, pelo amor de Deus. – Ele me olhou com cara desprezo – Poupe-me. Aquela era você. Aquela... – Ele deu um passo para frente, depois recuou. Seu olhar de desprezo foi substituído por um de desespero – Aquela era você, Natasha. Por que nunca me contou? Por que nunca me disse sobre tudo isso? – Sua voz tremulou novamente. Ele parecia tentar se controlar.

— Eu disse, Steve. – Minha voz falhou e percebi que também tentava me controlar; não sabia se de tristeza ou raiva – Eu falei pra você quem eu era, você sempre soube. Soube dos meus demônios. – Remeti àquele dia na cobertura. Ele crispou os lábios. Algo em seus olhos mudou.

— Você nunca me contou. Nunca. Você me escondeu isso tudo. Eu não sei o que é pior... – Eu abri a boca, prestes a interrompê-lo, até que ele gritou, explodindo – EU ESTOU FALANDO! – Eu me calei, não por obediência, mas por susto. Eu nunca esperei ver o Steve assim – Você assassinou crianças, Natasha, e nem piscou. Na verdade, até riu disso. Como? Como você pôde ser assim? Como eu posso ter certeza de que você não é mais assim? Eu me apaixonei por uma pessoa, Natasha, e não é ela que eu vejo aqui na minha frente (n/a: quando escrevi essa frase começou a tocar “Vestido Estampado”, da Ana Carolina. Tenso).

Senti como se meu estômago estivesse afundando após receber múltiplos socos. Steve fora bastante duro até o momento, mas essa frase foi a mais dolorosa que eu poderia ouvir. Eu não conseguia acreditar que ele tinha dito isso.

Steve continuou.

— E não é só isso. Você mata por prazer, você tira vidas do jeito que eu tomo café da manhã. Orgulha-se em se chamar de Viúva Negra. Se entrega de forma pífia para qualquer um que queira tocar em seu corpo, se isso for necessário para pegar uma mera informação, para depois se livrar deste mesmo alguém de forma tão fria. É isso que eu consigo enxergar aqui: uma mulher fria, calculista...

— Steve, não era eu. – Eu interrompi, prestes a me descontrolar. Como ele pode dizer essas coisas? – Eu não sou assim. Pare de tentar de bancar o santo e preste atenção no que você viu. Não prestou atenção no início? Mexeram na minha cabeça, Steve, eu fui forçada a fazer aquelas coisas. Não era eu, eu não queria.

— Parecia querer para mim.

— Eu estava sendo manipulada!

— Se quisesse, dava para lutar contra! Isso não é desculpa!

— E POR QUE É DESCULPA PARA O BUCKY?!

— PELO MENOS BUCKY NÃO SE ESFREGAVA EM QUALQUER UM COMO UMA PROSTITUTA INÚTIL E SEM VALOR!

PLAF!

O tapa que desferi em seu rosto ecoou no vazio. Observei o vermelho de minha mão no seu rosto, enquanto ele continuava virado. Steve passou um bom tempo assim.

Como? Como ele poderia ter dito uma coisa dessas? Justo o meu Steve? Por que ele não me entendia? Ele tinha me dito, ele me falou que ia relevar essas coisas quando começamos a namorar. Como ele era capaz de ser tão incompreensivo? De ter me falado essas coisas horríveis e depois me olhar nos olhos e me chamar de prostituta inútil e sem valor?

Ele estava certo.

Essa não era a pessoa por quem me apaixonei.

Ele finalmente virou o rosto. Olhou fundo nos meus olhos, e eu sei que ele viu em mim o que eu vi nele. Pura indignação, rancor, raiva, confusão, incompreensão, mas, lá no fundo, pesar. Mas o que mais predominava: a certeza de um rompimento.

Não tivemos como falar mais nada, porque aparentemente o feitiço em que estávamos enfiados estava se desfazendo. Todo o breu que nos envolvia começou a desaparecer, como se estivesse sendo sugado para algum lugar. De repente, nos víamos novamente na base onde tínhamos ido resgatar Skye e onde Ultron estava prestes a me atacar. Não nos perguntamos como Steve tinha se aparatado de onde tinha e surgira do meu lado.

Ultron estava na nossa frente, meio aturdido. Acho que o feitiço acabou pegando-o também. Ele parecia confuso, perdido da realidade. Isso não durou muito tempo, pois logo notou nossa presença novamente e, sem nenhum tipo de aviso, levantou o braço e desferiu um raio na nossa direção.

Eu me esquivei pulando para o lado, enquanto Steve erguia o escudo para se proteger. Eu me preparava para a batalha, sabendo que tinha que me focar, mas a única coisa que apitava na minha cabeça era a briga que tivera com Steve. Imaturo, imparcial, hipócrita...

Lancei meu ferrão no pescoço de Ultron, puxando-o com força para baixo. Steve jogou o escudo para cima, fazendo-o ricochetear no teto e bater na cabeça de Ultron, dando impulso para baixo; isso mais o puxão que eu dei fizeram com que o sintozoide fosse ao chão. Steve foi para cima dele e afundou o escudo em sua direção; Ultron, porém, fora mais rápido e segurou o escudo com uma só mão. Pegou impulso e ia jogar Steve para a parede, mas eu joguei um dispositivo elétrico em uma de suas luzes, que eram brechas. Ele teve um mini curto-circuito, e quando jogou Steve para longe, o impacto fora muito menor do que o que seria antes. Peguei minha arma com rapidez, mas quando olhei para Ultron novamente, ele estava de pé.

Como Steve poderia ter sido tão insensível a esse ponto? Me ofender daquela maneira? Ele não era assim, nunca nem achei que ele conhecesse tal linguajar. E, agora, além de conhecer, ele o usa e ainda mais contra mim?

Indo contra o que queria que acontecesse, me perdi nesses devaneios e me distraí. Ultron apareceu na minha frente e me desferiu um tapa na região da cabeça. Eu caí, e percebi que o robô estava meio lento. Tanto ele, quanto eu, quanto Steve estávamos distraídos demais com o que acontecera.

Falso, exagerado, insensível...

Senti a dor da tapa de Ultron crescer. Mais e mais, como se ele tivesse entrado no meu crânio. Por que só dói agora, tão depois de desferido o golpe?

Steve se ergue para ir em cima de Ultron, mas quando vai avançar, Ultron liga os propulsores e começa a voar. Eu e o Capitão não nos olhamos a luta inteira.

O sintozoide olha para nós, de forma distante, e fala com sua voz gutural:

— Desculpe o transtorno, (n/a: preciso falar da Clarice) mas creio que terei que deixá-los. Quem sabe uma outra hora continuamos com nossa brincadeira.

E, sem falar mais nada, vai embora, com os propulsores a todo vapor.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.