POV. Steve Rogers

– O que... Foi isso? – Perguntou Natasha, virando-se para nós. Vendo sua roupa novamente, não pude evitar corar de forma brutal.

– Ultron enlouqueceu. Ele, de alguma forma, pegou vibranium e colocou em seu... – Stark, que antes estava olhando para o buraco na parede feito por Ultron, desviou sua atenção para Natasha; vendo em que camisola ela se encontrava, Stark não conseguiu evitar erguer as sobrancelhas e o brilho que atingiu seu olhar – Seu corpo. – Ele deu um destaque desnecessário na palavra “corpo”, cheio de significado – Ele deve ter pegado quando Wanda o fez cair no buraco; ele pode ter achado a mina. Por isso demorou tanto lá.

– Ok, mas por que ele pirou desse jeito? – Perguntou Barton.

– Nós não cansávamos de ressaltar o seu poder. Sempre dissemos que ele era o maior trunfo dos Vingadores e, vencendo uma ameaça com a qual não conseguíamos lidar, somado com os elogios que fazíamos a ele... Talvez isso tudo tenha mexido com a cabeça dele; talvez ele tenha ficado convencido demais de seu poder e achou que nós não éramos páreo para ele. – Explicou Banner, pensativo; notei que ele evitava olhar para Natasha.

– É, parabéns, Stark. Um robô com vontade própria. Grande ideia. Genial. – Natasha falou sarcástica, cruzando os braços e passando por Tony, indo até a porta.

– Hey, pra onde vai? – Perguntei.

– Dar uma olhada nos prisioneiros. Sério que ninguém pensou que Ultron pode ter libertado eles? – Falou Natasha, virando na porta e descendo ainda mais para a cela onde estavam Ward, Wanda e Pietro. Todos nós nos entreolhamos e a seguimos. Quando chegamos lá, vimos todos os prisioneiros acordados, com uma cara confusa. Estavam sentados no chão com as mãos algemadas; Thor tinha providenciado uma algema especial para Wanda, coberta com magia para que ela não se libertasse.

– O que diabos está acontecendo aqui? – Perguntou Ward, agitado, levantando-se com dificuldade. Natasha caminhou até ele com passos fortes e decididos.

– Nada que seja da sua conta. – Ela se abaixou para ver o sistema de segurança da cela – É, parece que ele não mexeu em nada. Só queria sair daqui mesmo. – Ela voltou a ficar de pé e nos fitou. Quando olhei os prisioneiros, peguei Ward e Pietro olhando vidrados para as curvas de Natasha. Tive certeza que Grant limpou um rastro de saliva que caíra de sua boca. Não sei exatamente a razão, mas isso me deixou muito irritado.

– Uma coisa me incomoda. Por que Ultron se foi? De acordo com Banner, ele quer provar que nós não somos páreo para ele, que nós somos mais fracos. Ele não podia simplesmente tentar nos matar? – Perguntou Sam.

– Ultron é muito inteligente; ele me provou isso nas conversas que tivemos. – Disse Stark, pensativo – Vocês viram o que ele fez. Ele aproveitou a queda que a Pomba Gira aí deu nele para pegar vibranium e implantar nele. Ele pretende se aprimorar para depois nos destruir.

Um momento de silêncio enquanto todos tentavam entender o que acabara de se passar; pelo olhar de Wanda, ela já tinha sacado o que tinha acontecido. A Feiticeira solta uma risada.

– Vocês são tão patéticos. – Ela falou com um sorriso no rosto – A única maneira que encontraram para nos vencer quer destruir vocês. Chega a ser hilário.

Natasha a fuzila com os olhos; se vira, irritada.

– Nós temos que achar Ultron. E sair logo daqui, porque eu juro, se essa garota falar mais alguma coisa eu não vou mais me segurar. - Disse Natasha de braços cruzados, deixando a sala. Notei que, ao sair do aposento, ela ainda foi acompanhada pelo olhar de todos no cômodo; homens completamente admirados e mulheres pensativas. Eu suspirei, pensando em uma coisa imediatamente.

– Skye e Stark, rastreiem Ultron com afinco; precisamos achá-lo o mais rápido possível. Sam, Triplett, fiquem de guarda na cela. Thor, você vai ajudar a lidar com Wanda. May, você vai interrogar Ward com todos os métodos que conhece. – A agente sorriu. “Com prazer”, disse ela – Jemma e Coulson, vocês vão me ajudar a cuidar de Fitz. Por fim, todos nós, sem exceção, vamos treinar com afinco e estudar todas as coisas que Stark disse ter colocado em Ultron. Precisamos achar sua fraqueza, portanto, Tony, qualquer informação é preciosa. – Ele assentiu – Ótimo. Eu vou me deitar. Podem colocar esse plano em prática amanhã, porque sei que todos merecem uma boa noite de sono. – Dito isso, subi para meu quarto. Eu queria dormir e nada mais. Tomei um banho, troquei de roupa e me joguei na cama.

Lembro-me que a última imagem que veio a minha cabeça antes de adormecer foi, inevitavelmente, Natasha em sua roupa de dormir.

POV. Natasha Romanoff

Mudei de posição na cama, inquieta. Normalmente eu diria que não estava conseguindo adormecer, mas na verdade eu não estava conseguindo acordar. Me virei para lá. Me virei para cá. Suor escorria pela minha testa, enquanto ouvia uma voz esfaquear minha cabeça:

Sua conta está pingando, está jorrando vermelho...”.

Eu sabia que era um sonho, uma ilusão, mas eu não conseguia tirar aquilo da minha mente. Tinha plena consciência de que se eu abrisse os olhos, a voz pararia, mas algo pregava minhas pálpebras.

Você mente e mata, a serviço de mentirosos e assassinos...”.

A voz, antes distante e ecoante, agora ficara clara e límpida, de tal forma que eu cheguei a vislumbrar o rosto de Loki falando aquelas coisas para mim.

Então eu perco o controle. Se outrora vinham apenas fragmentos do monólogo que o deus da trapaça fizera na minha frente, agora tudo jorrava na minha cabeça, de forma insuportável.

“Sua conta está pingando, jorrando vermelho. Você mente e mata, a serviço de mentirosos e assassinos. Você finge que não faz parte, que tem seu próprio código, algo que compensa os horrores, mas fazem parte de você. E eles nunca irão embora.”.

Os horrores fazem parte de mim. Não importa o que eu faça, eles sempre vão estar aqui, eles nunca irão me deixar. Isso era o que mais me doía. Loki estava certo, sobre tudo, sobre mim. Eu fiz que não me importava na época, mas era apenas porque eu não podia deixar a missão fracassar. Mas doera, dói e sei que doerá.

E ele ainda me chamou de vadia, aquele ridículo.

Minha agonia continuava e eu ansiava mais do que tudo por uma pausa. Eu queria sair. Eu queria acordar. Eu queria me livrar.

Já perdendo para o Loki dentro da minha mente, eu estava começando a deixar a consciência do mundo real escapar por entre meus dedos, mergulhando apenas naquelas frases venenosas e, para meu terror, verdadeiras. Tive a impressão de ter ouvido um grito estridente, porém distante, longínquo. Todavia, lá no fundo, algo me dizia que ele era meu.

Mas o meu grito passou a se misturar com o das vítimas que tinha feito; São Paulo... O incêndio no hospital... Toda aquela dor me inundava agora. Eu queria sair. Eu. Queria. Sair.

– Natasha! Natasha! – Escuto gritos ao longe. Pessoas implorando por misericórdia, talvez? – Natasha! – Agora o meu nome parecia mais real, presente. Sinto mãos em meus ombros, me chacoalhando. O que estava acontecendo?

– Natasha! – Abro os olhos, assustada. Steve estava olhando para mim com seus inebriantes olhos azuis, que estavam inundados por preocupação. O que ele estava fazendo no meu quarto?

– Rogers? – Falei, com a voz mais rouca que o normal – O que aconteceu? O que está fazendo aqui?

– Você está bem? – Ele leva a mão até meu cabelo grudado na testa pelo suor (n/a: Ugh! Eca!), separando-o do meu rosto – Eu ouvi você gritar e vim correndo para cá...

– Eu... Eu estou bem. Eu só... Meu grito foi alto assim?

– Foi estridente. É melhor se sentar, Natasha, você não está bem. – Ele me ajudou a me erguer, me sentando na cama. Só então percebi que ele estava sem camisa, apenas com uma calça de moletom. Não entendi bem o porquê, mas isso me prendeu mais a atenção do que o normal – O que aconteceu? Você está suando.

– Não foi... Não foi nada. Só um pesadelo. – Eu esbocei um sorriso, tentando parecer indiferente; mas estava tão esgotada, que apenas consegui mostrar um risinho fraco.

– Conte-me. Eu posso ajudar. Eu passei por muitos pesadelos quando me dei conta que não estava em 1945. – Ele se sentou ao meu lado, olhando nos meus olhos. Alguma coisa naquele olhar me fez querer contar, me fez confiar que estaria tudo bem se ele soubesse. Mas eu não falei.

– Nada demais... Eu só quero voltar a dormir. Por favor. – Acrescentei, quando ele abriu a boca para protestar – Estou cansada. Quero esquecer isso.

Steve olhou de mim para a cama, hesitando em sair. Senti que ele queria me falar alguma coisa, que ele queria pedir, oferecer alguma coisa. Mas ele não o fez.

– Tudo bem. – Ele se levantou, indo na direção da porta – Mas se isso acontecer de novo, eu vou voltar.

– Obrigada, Rogers. Por... Por tudo. – Eu sorri, dessa vez, com sinceridade. Ele retribuiu, abrindo a porta do quarto. Mas quando vi a perspectiva de ficar só novamente, de Steve me deixar, algo se apoderou de mim. Desolação.

Ele estava fechando a porta.

– Rogers! – Chamei e ele abriu mais o portal, me olhando confuso – Você... Você podia ficar comigo essa noite? – Pedi, para minha própria surpresa. Ele ergueu as sobrancelhas, enrubesceu levemente e eu vi em seus olhos que era isso que ele queria oferecer. Ficar ao meu lado.

– Claro. Vai ficar tudo bem, eu prometo. Chega pra lá. – Ele se deitou à minha direita, me puxando para seu peito. Esse ato me fez hesitar um pouco em permitir que isso continuasse, me fez parar e pensar se isso era realmente o melhor a ser feito.

E eu decidi que sim.

Deixei-me aconchegar pelos braços de Steve, me sentindo segura em seu abraço.

Nada mais me incomodou naquela noite.