POV. Natasha Romanoff

Eu olho para Steve enquanto um silêncio inconvenientemente ensurdecedor enche o lugar, todos os presentes nos fitando com puro choque no rosto. O único que fez algum movimento foi Clint, que pegou o guardanapo de cima da mesa, limpou a boca e se levantou.

– Com licença. - Disse ele, se retirando do local. Depois que ele saiu, Stark começou a ter uma crise de riso, gargalhada após gargalhada, enquanto os outros soltavam algumas parabenizações incrédulas. Mas eu não estava dando muita atenção.

Que ideia imbecil. Que ideia idiota essa. Dar a notícia dessa forma brusca? Você é burra, Natasha? Tá bom que o Steve disse que ia ser melhor - e até mesmo mais prático - contar para todos de uma vez, mas isso foi o cúmulo da irracionalidade e insensibilidade! Você precisa consertar isso, e precisa agora.

– Hã, obrigada, Skye. - Falei - Me dá um segundo? Obrigada. - Falei, sem nem esperar por sua resposta; imediatamente depois eu segui pelo caminho que Clint tinha indo há pouco. O encontrei andando com passos firmes pelo corredor, e chamei seu nome. Ele parou e virou o rosto para mim com uma violência grande o bastante ao ponto de eu conseguir escutar seu pescoço estralando.

– O que? - Indaga ele.

– Olha, me deixa explicar logo pra você, tá legal?

– Explicar o que, Natasha?! Não tem o que explicar! Cara, você tá grávida! Você tá esperando um bebê! O que resta para explicar? - Explodiu ele, de forma tão repentina que tudo o que eu fiz foi franzir o cenho e o encarar até que terminasse de falar. Ele respira fundo, procurando ter calma, e fala (com a voz mais calma e controlada, graças a Deus): - Há... Há alguma chance de... Natasha, o filho é meu? - Perguntou. Me controlei para não acertar a mão na cara dele e respondi:

– Não, Clint. Não é. - Ele fecha os olhos, e eu não soube dizer se ele estava aliviado ou angustiado. Só sei que ele fez isso para se acalmar. Quando abriu a boca novamente, sua voz estava trêmula pela tentativa de segurar a irritação:

– Então quer dizer que você teve encontros íntimos – Ele deu uma ênfase de repulsa nessas últimas palavras - com o não-tão-incorruptível Capitão América antes mesmo de ter a decência de falar comigo para darmos um fim em... Em nós? - Ele terminou, se arrependendo no mesmo instante ao ver a expressão no meu rosto.

Eu não sou uma pessoa fácil de ser magoada. Apenas pessoas com quem você se importa podem te machucar, e como eu não tenho quase nenhuma, isso nunca me afetou. Mas é incrível como o fato de ter poucas pessoas de quem gosto ao meu redor faz uma chateação parecer ainda pior.

Eu sempre confiei em Clint. Ele sempre fora meu melhor amigo, com quem eu podia sempre contar. Ele sempre estava lá para mim e vice-versa. Sempre pensei que ele acreditava em mim cegamente do mesmo jeito que eu acreditava nele. Como ele tinha a coragem me chamar de traidora? Insinuar que eu agi por suas costas de forma que o atingisse tão diretamente? E mais, ainda falar que Steve não é o santo que parece. Como ele ousa? Steve possui a pureza que nenhum de nós jamais poderemos ter. Dar a entender que eu, que sempre botei a mão no fogo por ele, e Steve, que é a pessoa mais inocente que já conheci fizemos tal traição foi algo que sim, me magoou.

E ele parece ter percebido isso.

– Natasha, me desculpe, eu não... - Começou ele.

– Tenho certeza que não. Terminou o discursinho cheio de drama? Já estava de saco cheio. - O interrompi, seca. Ele suspira.

Passam-se alguns segundos, minutos, horas talvez, de silêncio absoluto entre nós. Clint olhava para baixo, sem conseguir me fitar, e eu refletia sobre essa discussão que estávamos tendo. Eu namorei o Clint. Depois terminei com ele para ficar com o Capitão América. Engravidei do Capitão América, mas Clint por um instante achou que o filho - uma criança que está sendo carregada por mim, Natasha Romanoff, a Viúva Negra, veja bem - fosse dele. Essa, definitivamente, era uma situação que eu nunca sonhara viver.

– Você... - Clint quebrou o silêncio e limpou a garganta - Você está feliz com essa notícia? - Eu suspiro e demoro alguns segundos antes de responder:

– Eu não sei.

POV. Skye

Eu estava, finalmente, conseguindo terminar de decifrar o código que cercava os arquivos dentro do pen drive que Ward havia trazido consigo da missão de infiltração na H.Y.D.R.A. Alguns segundos apenas e vou conseguir entrar... 5... 4... 3... 2...

Entrei.

A verdade é que não tinha muita coisa. Creio que as coisas mais significantes Ultron prefira guardar em seu próprio sistema. Só o que consegui ver no conteúdo dos arquivos foram duas pastas e um arquivo solto, que me chamou a atenção. Cliquei.

Era uma espécie de planta de um gerador de raio, parecido com os que Stark tinha na armadura. Parecia muito complexo e era titulado de eletroencefalografia. Eu conhecia esse nome. Mas o da planta que estava na tela do computador era muito mais completo e complicado do que o que eu tinha conhecimento. Ultron fez adaptações. O que ele pretendia? Minimizei a janela, anotando mentalmente de chamar Stark para dar uma olhada nisso depois.

Cliquei na primeira pasta da lista, que não tinha nome. Nela, tinha um arquivo, era uma foto. Cliquei.

A imagem nada mais era do que um mapa que não demorei para reconhecer. Era um mapa da Torre Stark, com os mais minuciosos detalhes, dos andares subterrâneos até a cobertura. Mas o assustador eram os nomes anotados do lado do mapa, com o título "alvos principais", com uma pequena lista de nomes. Stark, Ward, Os Gêmeos, o Capitão América e... Eu. Por que eu?

No canto inferior esquerdo do mapa estava um horário e uma data. Era o dia de amanhã, ao meio-dia.

Era um plano de ataque.

Ai, cara, eu preciso contar isso para alguém assim que terminar de investigar isso.

Minimizei também a janela do plano de ataque, me preparando para clicar na última pasta. Porém, quando vi o título da mesma, gelei.

Era o meu nome.

E não meu nome "Skye".

Meu nome verdadeiro.

POV. Clint Barton

Nós dois estávamos em silêncio, Natasha olhando para baixo e eu a fitando, a observando. Notei que ela tinha desenvolvido uma mania que não tinha antes. Num ato distraído, automático, ela segurava a barriga de tempos em tempos. Percebi, mais uma vez, que eu conheço Natasha mais do que nós dois sabíamos, pois eu sabia como ela estava se sentindo antes mesmo dela.

Nat dissera que não sabia se estava feliz ou não. Pois eu conseguia ver na minha amiga de longa data uma ternura que nunca achei ver antes. Sim, ela estava em dúvida sobre como se sentia com relação ao bebê ainda não nascido, mas eu podia ver que ela, pelo menos, gostou da ideia.

Acho incrível o quanto eu consigo ser idiota às vezes. Não acredito que a ficha do quão imbecil eu fui só caiu agora. Nat vai precisar de mim agora, vai precisar de meu apoio. Eu a conheço, isso vai ser tudo muito confuso para ela. Eu acredito que Rogers possa fazer um bom trabalho quanto a isso, mas eu tenho que estar lá pra Natasha.

– Bem... se for um menino, eu tenho algumas ideias para nomes. Sabe onde me achar. - Falei. Nat olhou para mim e exibiu aquele sorriso que ela sempre mantinha seguro no canto do lábio, assentindo. Eu também dou um meio sorriso e me viro para ir-me embora, até que escuto Natasha arfar atrás de mim. Olho para ela de novo, tenso e preocupado; ela estava com a mão na barriga - Nat, está tudo bem?

– Ah, tá sim. Eu só... Só senti uma pontada leve na barriga, nada demais, eu te garanto.

Eu não sei porque, mas quando Natasha diz que não é nada demais eu me preocupo mais ainda.

POV. Skye

Eu fico alguns segundos ainda olhando para a pasta com meu nome, sem muita certeza do que fazer. Nervosa, levo o cursor do mouse até ela e, hesitante, clico. Qual não foi minha surpresa. Era uma foto.

Da garota do vestido florido. Raina.

– E então, Skye, novidades? - Escuto a voz de Sam atrás de mim, me fazendo dar um pulo de susto. Rapidamente minimizo a página com a foto de Raina.

– Hã... Sim, Sam, tenho sim. - Eu abro a página com a eletroencefalografia - Esse é um projeto de uma espécie de raio chamada eletroencefalografia, mas... Aparentemente Ultron fez algumas melhorias, mas ainda não sei quais. Stark tem que dar uma olhada. E também há algo mais sério. - Abro a página do mapa - Isso é a Torre Stark, o mais detalhadamente possível. Tem essa data aqui do lado e... Uma lista. De alvos. Eu creio que é algum plano de ataque.

– Sim, entendo. - Disse Sam - Minha nossa.

– Por favor, Sam. - Falei, relutantemente pensando em Ward. Droga, esse miserável não sai da minha cabeça - Você tem que avisar às pessoas que estão na lista para se protegerem.

– Claro. Irei fazê-lo agora, não se preocupe. - Disse ele, já se afastando de mim, colocando a mão no ouvido - Cap? Então, eu preciso te falar uma coisa... - E sua voz morreu ao longe.

Eu reabri a pasta com o meu nome. Observo profundamente a foto de Raina, me perguntando o que diabos ela estava fazendo ali. Devo baixar o mouse? Tenho medo do que encontrar adiante.

Preciso de coragem.

POV. Wanda Maximoff

Estávamos todos quietos e sonolentos, eu estava quase adormecendo no ombro de um Pietro cansado até que alguém abre a porta e se dirige a nós. Era o Falcão.

– Olha, não me agrada muito ficar por aqui, então serei direto. - Disse ele, se sentando no chão em nossa frente - Acabamos de descobrir uma lista de alvos para Ultron e o nome de todos vocês está lá. Estão correndo perigo.

Eu sei que não deveria, mas fiquei animada com a notícia.

– Por que vocês não dão uma chance a mim e a Pietro? Nós podemos, sabe, ajudar. - Eu disse, pensando em como seria bom mudar de lado e, é claro, em Simmons também. Ela ficaria orgulhosa. Mas tudo que o Falcão faz é dar de ombros.

– Temo que isso não caiba a mim, irmã. Enfim, cuidem-se. - Disse ele, se levantando e saindo em seguida.

Ai, que droga. O "x" dói de novo em meu peito por eu estar tentando mudar de lado.

Como diabos irei parar esse maldito feitiço?