POV. Natasha Romanoff

O que estava acontecendo?!

Steve simplesmente se virou e me beijou. Ele me beijou. Por quê?!

Apesar da confusão, não pude deixar de notar que Steve beijava bem quando não estava sob pressão; ele era terno, gentil. Mas isso não importava.

– Steve, o que foi isso?! – Perguntei, frustrada, ao afastá-lo de mim.

– Eu percebi. – Falou ele, como se fizesse todo o sentido do mundo. O olhei como se ele fosse o ser mais estranho do planeta – Eu sei que demorou, eu sei que eu fui estúpido e teimoso, mas agora eu vi finalmente. Eu estou apaixonado por você, Natasha.

Eu o olhei, pasma. Cadê a lógica do mundo, cadê?!

– Eu sei que parece loucura, - Ele continuou, e eu assenti freneticamente, concordando – eu sei que parece sem sentido, mas é a verdade que eu evitei ver por muito tempo. Tempo demais. – E o pior não foi isso. O pior foi a declaração que veio a seguir – E eu sei que você sente o mesmo.

Eu abri e fechei a boca diversas vezes, surpresa. Eu não sabia o que dizer, fazer, nem mesmo tinha ideia do que estava acontecendo ali.

– Steve. – Falei por fim – Você está confuso. Não sabe o que está falando. A morte de Peggy ainda deve estar mexendo com você, você está carente. Você não está apaixonado por mim. E ademais, eu estou com o Clint...

– Mas você não está apaixonada por ele. – Ele me interrompeu – Admito, a princípio eu pensei que sim. Mas agora que eu lembrei como é se sentir assim novamente, eu posso dizer que você sente o mesmo. Eu vejo em seus olhos, Natasha. Eles me permitem ver sua alma, - Eu revirei os olhos; agora, além da sandice, ele vinha com clichês – e eu vi que você também está apaixonada por mim.

Eu vi em seu olhar que ele estava falando sério, ele realmente acreditava que era recíproco. Isto é, se ele sentisse algo por mim, o que eu descreio fortemente. Eu queria sair dali, eu queria esfriar a cabeça, queria ficar longe desse mundo surreal e inexistente.

– Eu não... Eu tenho que... É melhor eu ir. – Eu tentei me esquivar dele, mas ele segurou meu braço gentilmente.

– Espera, Natasha... – Mas eu já me livrava daquele aperto e corria para longe daquela loucura toda. Antes indo para a cozinha, dessa vez eu estava me encaminhando para o caminho oposto.

Quando me dei conta, estava na frente do quarto de Clint. Sem pensar, sem bater nem nada, simplesmente entrei no aposento e encontro Clint mexendo em suas flechas. Ao me ver, levanta uma sobrancelha.

– Nat? O que foi? – Pergunta.

Eu não respondo. Ando até ele com passos firmes, coloco seu rosto entre minhas mãos e o beijo. Eu precisava sentir. Eu precisava provar.

Quando me separo de Clint, sinto um medo leve, mas ainda presente; durante o beijo eu só consegui pensar em Steve e em suas palavras para mim, exatamente como eu temia que acontecesse.

Então, pela primeira vez, me dou conta de que pensei mais no momento que tive na escada rolante com Steve do que realmente tinha percebido. Essa lembrança sempre esteve lá, presente, cutucando minha cabeça.

Mas eu não gostava de Steve. Eu não estava apaixonada por ele, isso é ridículo. Aliás, ele nem mesmo gostava de mim, ele estava com a mente turva com os recentes acontecimentos, só isso. Nada demais. E de qualquer forma, mesmo que eu gostasse dele, – algo que, certamente, não aconteceria – nós nunca poderíamos ficar juntos. Ele é muito bom. Muito puro. Eu só iria corrompê-lo. Ele não merece alguém como eu, que poderia tirar essa inocência que ele tem. Ele só iria se machucar.

– Natasha? Você está bem? – Pergunta Clint preocupado, me lembrando de sua existência.

– Ah. Desculpa, Clint, mas eu... Eu precisava te ver. Eu estou muito nervosa com essa história de Ultron. – Disse; era verdade, mas não era esse o motivo de eu estar lá, né? Eu sabia que se mentisse Clint iria perceber – Quer dizer, isso é muito grande. Ele está no comando da H.Y.D.R.A. e construindo um exército de robôs. É demais para lidarmos. – Ele assentiu.

– Eu sei, eu entendo. Eu também estou assustado. – Ele acariciou meu rosto e, pela primeira vez, isso não me acalmou.

– De qualquer forma, eu... Eu vim aqui porque você me abranda. Mas eu acho que eu preciso ficar sozinha mesmo assim. Eu vou... Vou pro meu quarto. Pensar. E acho que dormir também, se conseguir, já que já está escurecendo... – Clint concordou e deu um beijo em minha testa. Eu saí e fui direto para a ducha do meu quarto. Precisava de um banho quente. Isso me relaxa.

Enquanto deixava a água quente bater em minha cabeça, – o que realmente me acalmou - ouvia a voz de Steve em minha cabeça, ainda que contra a minha vontade: “Eu estou apaixonado por você, Natasha”. “E eu sei que você sente o mesmo”. “Seus olhos me permitem ver sua alma, e eu vi que você também está apaixonada por mim”. Isso era loucura. Isso era irreal. Nada disso era verdade, pelo menos não podia ser verdade.

Saí do banho enxugando o cabelo e, pela primeira vez, notei um papelzinho debaixo da minha porta. Quando o peguei para ler, senti o meu estômago dar uma cambalhota.

Eu pensei no beijo. Ainda penso. O nosso, na escada rolante. Tanto que nem eu nem você podemos imaginar o quanto.

Ainda não desisti.

Steve”.

Senti-me ainda pior ao ver aquele bilhete. Ele tinha esperanças, esperanças inexistentes. Eu não queria vê-lo assim.

Afundei a cabeça no travesseiro e, dessa vez, demorei para adormecer.

POV. Steve Rogers

Corri para encontrar Sam. Ele merecia um abraço depois de ter conseguido abrir meus olhos. Pela primeira vez eu via Natasha como eu realmente queria ver. Portanto, ao encontrá-lo, dei um abraço de urso tão forte que ouvi alguns ossos estralarem.

– O-oi pra você também... Cap... – Ele falou, a voz esganada pelo meu abraço. Eu ri e o soltei, fazendo-o acariciar a barriga, aliviado.

– Desculpe. Mas eu tinha que te falar: você estava certo. – Ele me olhou confuso; parece que todos estavam me olhando confusos naquele dia.

– Eu estava certo...? Isso é bem natural, mas... Sobre o que?

– Sobre Natasha. Você tinha razão, eu estou apaixonado por ela, eu tenho certeza. – Sam sorriu e estava prestes a comemorar, mas eu o interrompi – E eu tenho certeza de que ela sente o mesmo. – Ele pestanejou e olhou para mim.

– Hã... Cap... Eu vou falar uma coisa que pode ser engraçada... – Ele deu uma risadinha forçada – Mas sabe a Natasha? Então, ela... Está namorando outra pessoa. Quando eu disse que achava que ela poderia gostar de você também, eu também deixei claro que seria se ela não estivesse com Barton.

– Eu sei, eu sei. Mas eu vi em seus olhos, Sam. Ela está no mesmo barco que eu. – Ele deu de ombros, ainda com preocupação nos olhos.

– Se você diz... Mas vou avisando: cuidado. Você pode acabar machucando a si mesmo e a outras pessoas. – Eu assenti.

– Eu estou ciente disso. Mas eu prometo que não vou magoar ninguém nessa história. Se Nat fosse indiferente, tudo bem, eu não investiria nem nada, eu ficaria na minha, ainda que continuasse apaixonado. Mas como eu sei que é recíproco, eu vou lutar por ela. E ninguém vai se machucar. – Sam assentiu e olhou para o relógio.

– Cara, tá começando a anoitecer... Eu vou me retirar pra empacotar, ok?

– Sem problemas. Também vou dormir. Boa noite, Sam.

– Boa noite, Cap.

Nós nos separamos e eu entrei em meu quarto, os pensamentos longe. Quando me sentei na cama e digeri tudo que tinha acontecido hoje, a alegria de ter entendido o que eu sentia por Natasha acabou por ser um pouco engolfada pela lembrança de que eu nunca mais veria o rosto de Peggy. Nem mesmo em seu enterro.

Olhei meu celular em cima da cômoda e o peguei, tendo uma ideia. Procurei em sua internet um número e anotei na mão, discando logo depois.

– Boa noite. Eu gostaria de encomendar um buquê de flores.

Quais as flores, senhor? – Pensei em quais flores poderiam representar Peggy, a sua pureza.

– Lírios. Um buquê de lírios.

Sim, senhor... E onde deveremos entregar?

– Em Washington D.C. E eu gostaria de um cartão apenas com o meu nome. Apenas com “Steve”. – Depois de acertarmos o preço, agradeci e desliguei o telefone.

Conseguiria dormir muito melhor agora que sei que o velório de Peggy seria enfeitado com flores minhas.