POV. Clint Barton

Depois de entrarmos no jato e Hill nos explicar que não pôde nos ajudar na batalha, pois estava consertando um dos motores, eu finalmente senti as dores das lutas que enfrentei. E os olhares que lançavam para mim também diziam o bastante; seus rostos expressavam um sentimento que beirava a pena. E eu odeio que sintam pena de mim. O piloto do jato era enfermeiro, então ele veio até mim com uma maleta de primeiros socorros. Os olhares se desviaram de mim quando ele me pediu para tirar a camisa.

– Acabei de falar com o Stark. Ele já está a caminho, junto com a Agente Romanoff. – Disse Hill.

Ótimo, finalmente uma boa notícia. Pergunto-me se Natasha mudara nesse meio tempo em que não nos vimos. Queria muito falar com ela; afinal, existem boatos de que ela estava no centro da queda da S.H.I.E.L.D., junto com o Capitão América.

– Barton, poderia nos dar um relatório sobre o que diabos aconteceu aqui? – Perguntou Hill, doce como sempre. O piloto/enfermeiro passava uma faixa ao redor da minha cintura agora.

– Pouco antes da S.H.I.E.L.D. cair – comecei – Fury me deu a missão de rastrear e seguir dois indivíduos que pareciam perigosos. Foram meses de perseguição, bem chatos, na verdade. Os caras migravam de um país para o outro. De qualquer forma, eu escutei conversas bem estranhas, sem sentido nenhum; até eles citarem o nome “H.Y.D.R.A.”.

– A H.Y.D.R.A.? – Perguntou o Capitão, se aproximando de mim. Terminando de enrolar a faixa, o piloto/enfermeiro pegou umas gases, colocou algo nelas e passou nos lugares em que havia sangue. Ardeu, mas não esbocei reação.

– Sim. Claro, a partir daí comecei a ser mais atento. Então, de acordo com o que escutei, eles eram frutos de experimentos da organização e logo depois soltos ao mundo, sem razão aparente. Pelo o que eu ouvi, os gêmeos também não sabem o porquê. Só os libertaram e disseram “vivam a vida do nosso jeito”.

“Então eles continuaram as viagens. Passamos pela Itália, França (que foi onde eu descobri a queda da S.H.I.E.L.D.) e diversos países da Europa. Foi aí que eles viram algo na TV que os atraiu para a Coreia do Sul. Quando chegamos lá, eles encontraram um casebre. Entraram e, depois de alguns minutos, eu ouvi um grunhido estridente e o lugar explodiu. De lá, saiu o Hulk, já formado. Bem... O resto vocês já sabem. Fui eu contra três criaturas que ultrapassam a compreensão humana. E aqui estou”, contei, enquanto o piloto/enfermeiro pegava esparadrapos e enrolava ao redor do meu olho inchado. Depois disso, ele o pressionou, e senti uma dor dilacerante; mas não mudei a expressão do meu rosto.

– Mas como eles, simplesmente, vão parar onde Banner estava? Isso é ilógico. – Disse Hill.

– Eu sei. Eles mencionaram algo sobre testar alguma coisa antes de irem para lá. – Expliquei.

– Alguns dias antes deles aparecerem na minha casa – Banner começou a falar – uma emissora de TV soube onde eu estava de algum modo e foram fazer uma entrevista comigo, querendo saber sobre o... outro cara e sobre NY. Quando os gêmeos apareceram lá, eles quase me mataram. O homem ficou correndo ao meu redor e me batendo (um soco rápido dói mais do que o normal). Eu me controlei até aí. Mas então a mulher jogou um tijolo inteiro contra mim, com o poder da mente. Então eu... Me descontrolei. E não me lembro de mais nada até o Capitão aparecer.

– Eu só sei que no fim eles lutaram um pouco contra o Hulk, até ele me notar. Ele grunhiu e veio até mim. Consegui escapar, mas em compensação os gêmeos perceberam que eu estava ali. E então ficaram todos contra todos. – O piloto/enfermeiro grudou alguns curativos, gases e band-aids por todos os meus ferimentos – ou seja, todo o meu corpo. No fim, estava cheio de coisas brancas pelo meu corpo. Mas a dor havia cessado um pouco.

– Então vamos recapitular. Os nossos alvos são dois irmãos com poderes sobrenaturais que foram gerados por experimentos da H.Y.D.R.A., - Falou o cara negro que voava – que estão vivos por aí e dispostos até a enfrentar o Hulk para ver a potência de suas habilidades? Ok. É. Nada melhor que mais uma missão suicida para entrar na minha lista.

– Ei, espera um momento – Falou o Capitão – Como assim testar suas habilidades?

– Não é óbvio? – Retrucou o voador – Eles falaram em testar algo e logo depois foram parar numa batalha contra o Hulk causada por eles. Eles queriam ver o quanto eram poderosos, se arriscando numa luta contra um dos seres mais perigosos do mundo. Sem ofensas, – acrescentou, olhando para Banner; este riu um pouco e assentiu – então o que podemos concluir é que eles acham ser do mesmo nível do Hulk. Eles acreditam que são dois dos seres mais poderosos da Terra, e queriam comprovar isso lutando com alguém que era “páreo”.

Até que o cara era esperto. Sua teoria fazia sentido. Típico caso clichê de heróis/vilões recém-formados procurando provar seu valor. O voador estava certo.

– Aproveitando a deixa – Disse Banner – eu gostaria de agradecer a vocês por terem me salvado. Eu ainda seria... Bem... Um pouco mais verde se não fosse por vocês. Principalmente a você, Capitão. Você salvou a vida de milhares de pessoas, inclusive a minha. Obrigado. – Steve deu de ombros:

– É isso que faz um time. – Ele sorriu de lado e eu tive vontade de vomitar.

– Aliás, eu nem sei seu nome. – Banner falou com o voador – Como se chama?

– Ah, claro! Estou bem mal-educado com essa história de, você sabe, quase morrer. Meu nome é Sam. Sam Wilson. – Ele apertou a mão de Banner e se virou para apertar a minha. Eu o fiz. – Alguns me chamam de Falcão, porque o projeto que me disponibilizou o dispositivo aéreo tinha esse nome.

– Claro, claro. – Falei, com um sorrisinho mínimo e forçado. Pela primeira vez em muito tempo, eu só queria dormir.

– Clint! Clint? – Ouvimos uma voz chamando, e num instante fiquei mais acordado.

Natasha entra no jato rápida como uma bala, parando de supetão quando me vê.

– Ai, meu Deus, você está horrível. – Diz ela, com uma careta. Eu sorrio.

– Olá para você também, Nat. Obrigada por estar tão preocupada comigo. – Ironizei e ela soltou uma risada.

– Hey, olá, Rogers. – Ela falou, como que percebendo a presença do Capitão apenas naquele momento – Como vai? Quanto tempo, hã.

– E aí, Nat? – Ele sorriu de lado de novo, e senti mais náuseas do que antes – Faz tempo que não falo com você mesmo. Será que vou ter que te ensinar como se usa um telefone?

– Ei, pode ir tirando o cavalinho da chuva, vovô. Quem você pensa que é para me ensinar a usar a tecnologia de hoje? – Ela riu. Eu quase pude sentir o vômito chegando na minha garganta e voltando.

– Olá, pessoas. Desculpe o atraso, mas eu tive que cuidar de tudo quando a Srta. Apressadinha correu que nem louca para fora do jato. – Stark entra na sala, guardando as chaves do carro – Hill nos ligou e contou o que aconteceu. Vocês estão bem? Ei – Ele não esperou por resposta – Quem é você? – Perguntou a Wilson.

– Ah, olá, senhor Stark. Meu nome é Sam Wilson. Conheci o Capitão em uma missão que tivemos juntos.

– Ah... Prazer então, Samuel L. Jackson. – Comentou Stark – Já vi que estão todos mortos. No meu jato tem quartos o bastante para todos, querem entrar?

– Claro. – Falou Banner, já se levantando – Tudo que preciso agora é dormir.

– De acordo. – Disse Wilson, suspirando. Então todos foram se levantando para sair; menos eu. Era difícil.

– Vem cá, eu te ajudo. Tenho um monte de coisas para contar sobre a queda da S.H.I.E.L.D., e você sobre essa missão de loucos. – Natasha passava o meu braço por cima de seu pescoço, me ajudando a levantar. Quando eu o faço, estou mais do que pronto para ir para o quarto.

– Ok, tudo bem. Sinto falta de uma conversinha, mesmo. – Brinquei, sorrindo.

POV. Wanda Maximoff

Pietro finalmente parou de correr e me colocou no chão fofo de uma floresta. A flecha cravada na minha barriga doía bastante e eu estava começando a ficar sem ar.

– Não se preocupe, Wanda. – Disse Pietro – Eu vou estancar o sangue até você ficar forte o bastante para se curar. – Eu quase pude ouvir o “e depois a mim” na frase dele. Mas não culpei. Seu braço estava bem feio.

Ele pegou umas folhas molhadas pelo orvalho, se abaixou do meu lado e me olhou.

– Olha, Wanda, eu vou ter que fazer isso...

– Arranque logo, Pietro. Vamos acabar com isso. – Ele assentiu e, com cuidado, retirou a flecha da minha barriga. Ele o fez com cautela, mas ainda assim doeu. Assim que a seta saiu do meu corpo, ele pressionou o buraco com as folhas úmidas. Até que aliviou um pouco.

– Pietro, eu vou ficar bem. E, assim que isso acontecer, eu vou curar você. Mas só se você me prometer uma coisa.

– O que?

– Os Vingadores. Nós vamos destruí-los. Cada um deles, até o seu último integrante, nem que tenhamos que ir até Asgard para matar um deus.

– Sim, Wanda. Eu prometo. E não é só por você. – Eu sabia que não. Vi o ódio nos olhos dele.

Eu só sei que agora eu iria testar meus poderes com um propósito real agora.

Eu iria me vingar dos que se vingam.