POV. Steve Rogers

Eu não acreditava naquilo. Natasha estava em meus braços, finalmente. Eu estava tão feliz que parei o beijo que trocávamos para simplesmente olhar para ela, para seu rosto perfeito; abracei-a, incrédulo, ela rindo de minha reação. Nosso momento é interrompido quando escutamos os dois em nossos pontos eletrônicos:

Poderiam todos virem para o hall, por favor? Obrigada desde já. – Ouvimos a voz de Skye. Eu e Natasha nos separamos, olhando um para o outro confusos. Saímos do meu quarto sem demora, nos direcionando ao saguão. Quando chegamos lá, vemos todos os outros ainda se posicionando. Ao nos sentarmos, Skye liga uma das telas flutuantes e mostra a gravação que Ultron mostrara há alguns dias, sem áudio, e para na parte em que ele mostra o exército.

– Eu rastreei e descobri que essa gravação foi feita e enviada ao vivo. Não teve diferença de tempo da execução para exibição. E se nós observarmos atrás de Ultron, – Ela deu zoom na tela – podemos ver que há uma pilha de cabeças, braços, enfim, membros soltos dos robôs que serão construídos. E são muitos. Isso quer dizer que...

– Quer dizer que o exército não está pronto. – Falei, interrompendo-a – Quer dizer que temos tempo. Que ele está vulnerável apenas se preocupando em construir os robôs. – Animado, eu me ergui do sofá e olhei para Stark – Tony, você fez o que te pedi? Alterou o sistema de câmeras da Torre?

– Alterei sim.

– Ótimo. Nesse exato momento Ultron está distraído demais fazendo seu exército. Está na hora de agirmos. E eu já tenho um plano para isso.

POV. Grant Ward

Estava cansado, entediado, farto. Queria sair dali o mais rápido possível. Não há coisa pior do que ser humilhado pelas pessoas que traiu, ser espancado pela mulher com quem foi para a cama e depois desprezou, – pela segunda vez – ser jogado num cela imunda junto de duas aberrações letais que não gostam nem desgostam de você, ser alimentado à base de sopa e água e não ter absolutamente nada para fazer. Eu queria ação. Eu queria uma vida melhor do que aquela. Pode até ser difícil admitir, mas na vida com a S.H.I.E.L.D. eu ficava sempre à ativa, sem dizer que lá eu vivia decentemente.

Eu e Os Gêmeos escutamos passos próximos e logo depois o Capitão América entra na sala, com chaves numa mão e uma arma na outra. Aponta a pistola na direção dos irmãos e começa a passar a chave na fechadura da cela.

– Ward, você vem comigo. Temos que conversar. – Ele diz, sério e duro. Abre a porta da cela minimamente e me puxa para fora. Volta a trancar Os Gêmeos e me leva pelo braço pelos corredores, a arma apontada para minha costela. Chegamos ao hall e vejo todos os Vingadores prontos para partirem – assim como a equipe de Coulson. Por algum motivo, tentei não olhar para eles, um sentimento parecido com vergonha crescendo dentro de mim. Não sei bem o porquê. Porém, não pude evitar trocar olhares com Skye, a saudade mútua inundando nossa visão e a mágoa, raiva, decepção tomando conta do olhar da 0-8-4. Me senti mal.

– Ok, Ward. – Fala o Capitão – Nós temos um plano para invadir a H.Y.D.R.A. e você faz parte dele. Se pensar em recusar, você vai implorar por algo suave como a dor que sentiu ao ser interrogado pela May. – Conclui ele, me fazendo engolir em seco. Parei e pensei um pouco, refletindo minhas opções.

Se eu recusasse, iria sofrer. Isso já ficara claro.

Se eu aceitasse, iria me livrar do sofrimento. E talvez todos aqueles sentimentos negativos que vira no olhar de Skye diminuíssem. Talvez eu parasse de pensar tanto no que fiz com Fitz-Simmons e me sentir tão mal. Talvez essa história, essa sensação de dívida não paga que tenho para com a equipe com quem trabalhei – principalmente por Coulson – cesse. Suspirei.

– Qual é o plano? – Uma sombra de um sorriso se escondeu nos lábios do Capitão.

– Nós vamos para a Itália, os Vingadores, a equipe de Coulson e você. – Ele começou a explicar – Skye, Fitz-Simmons e May irão cuidar das informações de longe, já que a última está incapacitada. Coulson, Hill, Fury e Triplett irão dar cobertura do lado de fora da base, enquanto eu e os outros esperamos pelo sinal que você dará para entrarmos. Você irá até lá levando... Levando Natasha em custódia. – Ele deixou um tom de reprovação óbvio na voz ao dizer que a Agente Romanoff seria a isca – Você fingirá que conseguiu escapar de nosso cárcere, mas não foi possível libertar os irmãos Maximoff. Dirá também que apesar disso conseguiu capturar a famosa Viúva Negra. Irei te dar um pen drive para que você pegue todas as informações importantes da H.Y.D.R.A. e quando isso acontecer, você nos falará para começarmos o ataque. Os detalhes eu darei no caminho para a Itália. Entendeu tudo? – Perguntou ele, e eu assenti – Ótimo. Vamos. Temos que acabar com um robô psicopata.

POV. Steve Rogers

Estávamos todos no Quinjet (n/a: jato usado nos filmes da Marvel), indo para a base da H.Y.D.R.A., na Itália. Eu estava extremamente irritado com o fato de que Natasha iria ser a isca implantada no território inimigo, mas ao ouvir o argumento dela de que ela era “uma espiã russa treinada para essa função” e era a “melhor para sair de uma situação dessas”, não pude discutir. Muito menos depois de a maioria inteira aceitar sua posição. Minha opinião foi minoria.

Eu repassava todo o plano em minha cabeça. Ao receber o sinal de Ward, entrar na base e dar o comando para abrir fogo. Ok.

– Chegamos. – Falou Hill do controle do Quinjet, me tirando de meus devaneios. Eu coloquei o escudo posicionado em minha mão, pronto para o combate quando chegar a hora.

Observo Natasha e Ward se levantarem, ela colocando as algemas elétricas que Stark havia construído há algum tempo. Grant ajeitou o ponto eletrônico no ouvido, ajeitou no de Natasha, pegou-a pelo braço e se preparou para sair. Porém, ao vê-la deixando o jato daquele jeito, não consegui conter:

– Espera! – Falei. Ambos me olharam e quando me dei conta já estava me levantando. Peguei a ruiva pela nuca e tasquei-lhe um beijo na frente de todo mundo. Quando nos separamos, vi em seu olhar susto, reprovação, confusão, repreensão – Boa sorte. – Dei-lhe outro beijo, dessa vez na testa e voltei ao meu lugar, todos olhando para mim surpresos, indagando mil coisas com o olhar. Eu ignorei. Depois de mais alguns segundos ainda me encarando, Ward e Natasha deram a volta e saíram do jato.

POV. Grant Ward

Eu levava uma das maiores agentes da S.H.I.E.L.D. arrastada pelo braço, fazendo-a de refém. Quando consegui ver a base da H.Y.D.R.A. (já que tínhamos parado há alguns poucos metros para não dar na vista), um centro de treinamento antigo, apertei no botão escondido que sabia que existia e um scanner apareceu. Coloquei meu olho extremamente próximo a ele e minha pupila foi lida. A câmera na entrada virou para mim e escutei uma voz em algum alto falante escondido:

Schneiden Sie ein... – Disse ele; “cortam uma” em alemão, ele dissera.

–... Zwei weitere sind in dem Ort geboren. – “Mais duas nascem no lugar”, respondi na mesma língua. Era a senha. A porta em minha frente se abriu. Com violência, carreguei a Agente Romanoff arrastada pelo braço até Von Strucker. Apesar de tudo, eu era respeitado ali. Podia ir até o Strucker sem precisar falar nada, nem pedir nada.

Quando chego à sala do mesmo, o encontro examinando o cetro de Loki, como sempre fazia. Anunciei minha chegada com um “Hail H.Y.D.R.A.”.

– Senhor Strucker. Venho aqui com informações sobre os Vingadores. Consegui escapar de seu cárcere, senhor, mas não consegui resgatar Os Gêmeos. Mas... Aqui está um dos trunfos do grupo.

Strucker me olha de esguelha e se vira, encarando-me. Vai até mim e, quando próximo, desvia seu olhar para a Agente Romanoff. Toca seu queixo e deixa um sorriso malicioso estampar seus lábios.

– Belo trabalho, Ward... Trouxe o rostinho bonito dos Vingadores. O... O brinquedinho deles. Agora entendo o porquê de essa mulher ser tão famosa. – Senti os músculos de Natasha ficarem tensos sob o aperto de meus braços; pressionei-a mais, tentando contê-la – Entendo que ela também tenha suas habilidades, mas nada que surpreenda, creio eu. Bem... Sabe o que fazer. Leve-a para a cela e depois volte aqui. Quero lhe atualizar sobre algumas coisas e quero que você me atualize sobre outras.

– Sim, senhor. Com licença. – E me retiro; ao sair da sala, percebo que Natasha poderia explodir a qualquer momento, então sussurro em seu ouvido – Contenha-se. Você está numa missão. Não se deixe levar. – Ela respira fundo e seus músculos relaxam mais. Eu continuo a andar e, ao olhar para o lado, vi uma sala em que Ultron trabalhava em seus robôs. Depois de soldar alguma coisa, o robô percebe minha presença e me acompanha com o olhar com interesse. Eu paro de encarar e continuo meu caminho. Entro no lugar mais escuro e subterrâneo da base: a sala das celas.

As celas da base da H.Y.D.R.A. me fazem pensar na da Torre Stark como uma casa aconchegante. Era rústica, imunda, cruel. Joguei a Agente Romanoff naquele lugar e, ao soltar seu braço, deslizei minha mão delicadamente para a mão dela, deixando o dispositivo mínimo desenvolvido por Stark na mesma discretamente. Fecho a cela e, quando estou prestes a dar continuidade ao plano, me dou de cara com Ultron, que estava atrás de mim. Escondo o susto de dar taquicardia que levei.

– Ultron. Ou deveria dizer... Senhor Ultron. – Faço uma reverência com uma pontinha de nada de ironia. O robô dá uma risadinha.

– Então você realmente estava preso pelos Vingadores. Para saber que estou no comando da H.Y.D.R.A...

– Sim, senhor. O vídeo que mandou foi bem... Convincente. – Eu retruquei. Sabia que aquilo era um teste. Ele estava tentando checar a minha história e seu eu der uma única escorregadela, ferro todo o sistema.

– Sim. O vídeo. Que mostrava o meu exército de robôs prontos para o ataque. – Se ele tivesse sobrancelhas, estava certo de que ele ergueria uma agora.

– Não, senhor. O seu exército ainda estava em construção, se não me engano. – Falei, derrubando mais uma questão da prova. Ele me olhou em desafio.

– Deixe-me ver se eu entendi, Ward... Você escapou das garras dos Vingadores sozinho, capturou um deles sozinho e nossos dois melhores agentes, que têm habilidades especiais, continuam presos. Poderia me explicar como isso aconteceu, por favor? – Ele sabia perguntar, questionar os pontos certos. Para seu azar, eu pensava muito rápido.

– Em um momento de distração, senhor, quando foram nos dar comida, abaixaram-se para pegar uma colher que caíra. Nesse meio tempo, consegui pegar a chave que ficava pendurada na calça do Agente Triplett, que nos deu alimento, sem que ele percebesse. Quando ele foi embora, abri a cela e estava prestes a sair junto com Os Gêmeos, mas nessa hora os Vingadores chegaram alertados pelo alarme, segundos depois da Viúva Negra. Eu a fiz de refém e o Capitão América fechou a cela com o escudo, enquanto os outros apontavam armas para Os Gêmeos. Eu disse que se não me permitissem sair eu iria matar a Vingadora quebrando seu pescoço. Me deixaram partir, mas eu os enganei e a trouxe, senhor. – Ele espremeu os olhos, ainda desconfiado.

– Por que a Feiticeira Escarlate não usa magia para fugir?

– Thor arranjou uma algema antimagia. – Respondi imediatamente. Ultron assentiu.

– Ok, garoto. Liberado. – Sem esperar mais nada, saí da área dos calabouços e fui direto para o centro de comando. Ninguém me parou. Peguei o pen drive que estava em meu poder e enfiei na porta USB do computador central. Cliquei em alguns lugares, bati algumas teclas e os dados da H.Y.D.R.A. estavam sendo passados para o dispositivo móvel. Quando a transmissão está em 99%, aperto o ouvido e falo no ponto eletrônico:

– Ok, Capitão, pode preparar o ataq...

Nesse momento ouvi um estrondo e um raio vermelho atingiu o chão atrás de mim, me derrubando.