Era de madrugada quando Jane me ligou. Assim que atendi ao telefone, ouvindo sua voz chorosa, soube o que era. Enquanto calçava um tênis, notei minhas mãos tremerem. Ainda de pijama, peguei a chave da moto e saí em direção à rua. O céu escuro proporcionava a tudo aquilo, um ar mais malévolo do que seria necessário. Abri a garagem sem me importar com o frio que atingia meus ossos, e subi na Street Triple, coisa que evitava fazer ultimamente. Meu primeiro pensamento ao sentir o vento gélido que congelava minha face foi: Merda, esqueci o capacete. Mas ok, porque depois eu perdi a sensibilidade, e tudo ficou bem. Cheguei ao hospital em pouco tempo, e encontrei na sala de espera, uma loira de, outrora sorridentes, verdes olhos inchados. Me aproximei, sentindo a corrente de lágrimas que iria me atingir.

–Adam, ele... Ele... Morreu. – Falou, entre um soluço e outro. – Ai meu Deus, isso não pode estar acontecendo.

Me senti extremamente desconfortável, e sem nada a dizer que pudesse reconfortá-la, então coloquei um braço ao redor de seus ombros. O hospital estava vazio, a não ser por nós, e os soluços de Jane ecoavam na sala ampla e bem iluminada. Após alguns minutos, me veio uma pergunta à mente, que não pude evitar de fazer.

–Hm, loira? O que você vai fazer? Digo, ainda é menor de idade e não pode viver sozinha. – Falei, desconcertado.

–Esse é um assunto que tenho de tratar com você. – Ela falou, engolindo o choro e secando as lágrimas. Seu olhar penetrou em minha alma, e me senti desconfortável novamente. – Estou com as malas prontas para viajar para a Irlanda. Eu vou morar com a minha tia. – E abaixou a cabeça, liberando mais lágrimas.

Diante daquela cena, e da atual situação, senti meus olhos ficarem marejados. Eu vou perdê-la. Era tudo o que passava em minha mente. Logo senti algo gelado a tocar minhas bochechas, e senti as lágrimas molhando toda a camiseta branca que eu vestia.

–Me desculpe. – Jane murmurou, após algum tempo de silêncio.

–Para quando é? – Falei, observando ela abaixar a cabeça novamente.

–Amanhã. – Disse, com a voz inebriada.

Engoli em seco, e me permiti soltar algumas lágrimas a mais. Ficamos ali durante um tempo, até que decidi levá-la para casa. Assim que entramos na luxuosa residência, ela parou de chorar e se jogou no sofá branco que ocupava maior parte da sala.

Assim se passou toda a madrugada e manhã daquele dia. Me peguei pensando em como seria a minha vida sem a Jane, e me repreendi por imaginá-la tão horrível assim. Quero dizer, eu sobrevivi 17 anos sem ela, não é? Mas como irei viver em um mundo onde não tenho seus olhos verdes a se comprimir a cada sorriso? Como irei viver em um mundo onde não tenho seus longos cabelos loiros para acariciar? Como irei viver em um mundo onde não tenho seus doces e viciadores lábios para beijar? Olhei-a, dormindo enquanto esperava a tia. As escuras olheiras não tornavam seu rosto menos belo. Ela parecia tão pequena naquele imenso sofá, e reprimi a ânsia repentina de abraçá-la e dizer que iria ficar tudo bem, e que jamais iríamos nos separar. Tão frágil. Tão dócil. Tão inocente. Tão perfeita. Tão... Jane. E as lágrimas encharcavam meus olhos novamente.