Welcome To The Coven - Hiatus

Capítulo 12 - Início de um Novo Conhecimento


Os olhos azuis focavam no teto branco de seu quarto. Seu corpo deitado sobre a cama enquanto seu antebraço direito repousava sobre a testa. O jovem Reid balançava sua cabeça para os lados de forma leve, deixando-a movimentar-se enquanto a melodia da música Numb entrava em seus ouvidos pela segunda vez naquele dia.

A música alta ecoava pelo quarto, o ajudando a se distrair. E Garwin esperava que ela também o fizesse esquecer aquela conversa chata que teve com Caleb e os outros.

“O que aconteceu?”

Caleb havia perguntado ao se dirigir para o loiro.

“Foi um acidente. As coisas saíram do controle.”

Reid lembrou-se de ter dito aquilo como forma de justificativa. Seu olhar sobre Danvers e Pogue quando o último se aproximou dos demais após se despedir de Kate e Sarah.

Violet tinha ido embora com Elizabeth e Chase ficou ali, por mais um tempo. Ele observou a conversa entre os quatro por mais alguns breves minutos antes de finalmente sair.

O Garwin odiou aquilo. O ocorrido com Aaron só daria mais força para os argumentos de Chase.

“Não é a primeira vez que você faz algo imprudente com... magia, Reid.” Completou Caleb após parar por um instante e diminuir o tom de voz. Ele encarava o outro com um olhar sério e preocupado.

“Ele nunca machucou ninguém antes.” Disse Tyler, defendendo o amigo ao seu lado.

Reid era grato por isso. Mesmo em meio á brigas bobas e comentários sarcásticos do loiro, Tyler nunca o deixou na mão. Eles eram próximos um do outro desde pequenos e isso parecia não mudar até os dias atuais.

“Mas isso não o impediu de fazer isso agora.” Falou Pogue, alternando o olhar entre Simms e Garwin.

“Eu estava entediado e irritado. E minha irritação só aumentou quando o idiota do Chase apareceu.” Reid recorda-se de ter dito tal argumento. Ele não escondeu seu mau humor e sua feição desgostosa. No entanto, o garoto sabia que tais palavras não eram desculpas muito plausíveis naquele momento.

“Cara, você precisa se controlar.”

“Pogue está certo. Você sabe como nossas emoções podem afetar nossos poderes. Especialmente agora, com a Violet aqui.”

Um bufo sai de sua boca.

O adolescente se senta, tirando a toca preta de cima de seus cabelos loiros claros em um único e rápido movimento somente para jogá-la sobre a cama.

Mesmo que ele achasse toda aquela conversação chata, Reid sabia que seus amigos estavam certos. Com Vy ali, seus poderes pareciam mais fortes e ele até se sentia mais poderoso. E isso era tão tentador. Tão atrativo que o jovem esquecia o quanto aquilo também podia ser perigoso.

O Garwin recordou-se do dia, ainda recente, em que finalmente contaram á Violet sobre o que ela era. O dia em que ele fez um feitiço rápido para fazê-la se sentir melhor.

Naquele momento, Reid até tinha disfarçado seu pequeno espanto e surpresa quando viu todas as flores do vaso vivas e vermelhas quando o que ele queria era apenas reavivar a rosa em suas mãos.

No entanto, Reid não podia ignorar o que tinha feito a Aaron. Ele não podia esconder seu espanto como fez antes. O jovem realmente estava preocupado.

Ok. Aaron era um mauricinho e um grande idiota. Contudo, ele não merecia aquilo.

Quando ele caiu inconsciente, um dos alunos que presenciou a cena correu para chamar a monitora Denise. A mulher tomou as providências corretas e informou a coordenadora Vivian, que cuidou da situação. Aaron foi levado para o hospital da cidade.

Só restava para Reid torcer que a situação do outro não fosse tão grave.

O loiro olha para o celular ao seu lado, lembrando que havia tido a Violet que mandaria uma mensagem para ela após a escola. Já era noite e ele não tinha feito tal coisa ainda.

— Acho que já escutei essa mesma música mais de uma vez. — O garoto olha para a porta, vendo sua mãe ali.

Ela faz uma leve careta enquanto apontava para um dos seus ouvidos. Reid lança para ela um olhar um pouco aborrecido antes de se levantar e desligar o som.

Subitamente o silêncio toma conta do quarto.

O garoto volta a se sentar na cama com aquele seu jeito desleixado enquanto Emily entrava no cômodo, observando a organização, ou a falta dela, naquele lugar.

Reid ignora tal coisa já que sua mãe sempre fazia isso.

Ele leva as pernas para cima da cama e se acomoda melhor ali. Já a sua mãe olha para certas roupas que deveriam estar arrumadas em gavetas ou dentro do cesto de roupas sujas.

— Reid, quando vai fazer uma faxina por aqui?

— Não está tão bagunçado assim. — Fala ele, lançando mais uma de suas desculpas.

Emily se vira, encarando o filho.

Ela estava prestes a dizer algo sobre organização ou que ele já estava grandinho para ainda permitir que seu quarto estivesse daquele jeito. No entanto, Emily se detém ao notar algo diferente no semblante seu filho.

A mulher se aproxima, parando ao lado da cama.

— O que há?

— Nada. — Ele dá de ombros, desviando do olhar da mãe.

Ela, por sua vez, ignora tal resposta e dá algumas batidas na perna do filho. Ele, a contra gosto, as move para o lado e deixa sua mãe se sentar.

Reid sentia o olhar de sua mãe sobre si e de má vontade, olha para ela quando a mulher o chama.

— O que foi?

— Nada. Já disse que estou bem.

— Bom, então vou insistir até você me dizer a verdade.

Ele olha para um ponto aleatório á sua frente, silenciando-se. No entanto, não demorou para que Emily insistisse mais um pouco.

— Reid?

O Garwin se remexe na cama, acabando que se sentando novamente. Ele a encara. Não queria contar ocorrido para ela. Sabia como sua mãe era. Emily sempre foi uma boa mãe, mas também era exigente com certas coisas que deixavam Reid louco.

Ela sempre implicava com certas vestimentas dele e com seus comportamentos em certas ocasiões. Reid detestava.

Emily arqueia uma sobrancelha como se perguntasse mais uma vez o que ele tinha.

— Provoquei um acidente na escola hoje. Eu usei magia contra um dos alunos. — Solta ele já esperando uma reação de sua mãe.

— Reid, nós já falamos sobre isso umas mi...

— Foi um acidente. — Ele a interrompe para se justificar e também para tentar melhorar as coisas. — Eu só queria zoar com ele, mas acabou que o feitiço saiu do meu controle. — O jovem lembra-se de que somente queria que a bola atingisse o peito de Aaron e o derruba-se como da última vez. No entanto, a bola seguiu para a direção errada com uma velocidade muito maior, atingindo a cabeça dele.

A mulher ao seu lado passa uma das mãos sobre a testa, calando-se por uns instantes antes de soltar um suspiro.

— Filho, você sabe que não pode sair praticando magia assim. Isso pode chamar atenção.

— Eu já sei disso.

Reid estava cansado daquela repetição de palavras. Desde os treze anos e até antes, ouvia de sua mãe as precauções que deveria tomar quando seus poderes surgissem. Um pouco depois de Violet ter ido embora, o jovem passou a receber orientações mais frequentes sobre o coven e sobre como proceder quando seus poderes aflorassem. A partir dali, as coisas só se intensificaram.

Não é como se ele não respeitasse ou não compreendesse a importância de tudo aquilo. Mas Garwin ás vezes se sentia preso e sufocado justamente por não poder fazia aquilo que, para ele, era uma das coisas mais incríveis que lhe aconteceu.

— Mesmo assim fez tal coisa.

Reid desvia do olhar de sua mãe e encara sua frente, apoiando os antebraços sobre suas coxas.

Silêncio se fez presente por alguns minutos.

— O garoto está bem?

— O levaram para o hospital. Vou tentar conseguir notícias dele amanhã. — Responde ele, agora olhando para suas mãos.

Emily podia sentir o peso da culpa nas palavras do filho. Reid mexia as mãos cobertas pelas luvas pretas, que cobriam apenas as palmas e os torsos das mãos, enquanto ainda as encarava. Ela então leva uma de suas mãos até os cabelos dele.

— Sabe que só fico preocupada com você, não é?

— É. Eu sei. — O adolescente sentia os leves toques dos dedos de sua mãe sobre sua cabeça. — É só que... Por que conseguir fazer isso que fazemos se não podemos praticar livremente? — Ele volve seu olhar para a mãe.

— Você sabe o porquê filho. Praticar magia sem cuidado pode nos deixar expostos.

Reid balança a cabeça de forma afirmativa, baixando o olhar mais uma vez.

— Certo. — Ele já tinha escutado aquela resposta milhões de vezes. Não era uma resposta errada, mas ainda sim, não deixava de ser repetitiva.

Emily mexe mais um pouco nos fios de cabelo do filho antes de baixar seu braço.

— Você não ia me contar, não é?

— Provavelmente não. — Solta ele, dando de ombros como se aquilo não fosse nada. No entanto, isso era preocupante para sua mãe.

— Não quero que me esconda essas coisas. Sou sua mãe, me importo com você.

Reid nada falou, não estava afim. Iniciar um novo tópico ali não adiantaria em nada para o momento.

Sua mãe se levanta, andando um pouco para ficar de frente ao filho. Com a mão direita, Emily acaricia a face jovem de Reid por alguns segundos antes de caminhar para a porta. A mulher sabia que o filho não queria mais continuar com aquela conversa e por isso resolveu o deixar sozinho.

O Garwin olha para a entrada do quarto, não vendo mais a mãe ali. Ele se levanta e anda até seu aparelho som, o ligando mais uma vez.

Reid precisava de música.

~♢~

Os dedos dela passavam por sobre as capas duras, algumas até mais desgastadas do que outras, dos livros de sua vó. Violet a esperava dentro de uma sala que ela nunca tinha estado antes. A garota até buscou em algumas memórias de sua infância a presença daquele cômodo. Nada achou.

Ainda mastigando o ultimo pedaço da torta de creme oferecida por Elizabeth durante sua conversa com ela, Violet vira o corpo na direção da porta entreaberta. Sua vó estava conversando com alguém ao celular.

Amelie tinha chegado há alguns minutos atrás. Tinha passado a tarde toda ajudando Vincent e quando voltou para casa, encontrou a neta e Elizabeth batendo papo na cozinha. As duas conversaram bastante enquanto Violet se deliciava com sua comida favorita: A torta de creme. Elizabeth havia feito tal doce ao saber que a torta era a predileta da menina. Violet a agradeceu por isso.

Enquanto trocavam palavras uma com a outra, a governanta relevou que ela e Vincent também eram bruxos. Violet não sabia se ficava realmente surpresa já que, aparentemente as pessoas á sua volta, ou a maioria, estavam se apresentando como bruxos recentemente. Contudo, tal coisa não deixava de ser uma novidade e ao mesmo tempo fazer sentido, nem que fosse um pouco. Vincent era o melhor amigo de sua vó e Elizabeth trabalhava ali há anos. Se eles não fossem bruxos, ao menos poderiam saber de tal segredo. Era o que a jovem Green achava.

A Green mais velha parecia focada na conversa. Isso fez Violet se voltar para os livros mais uma vez. A estante estava cheia. O conteúdo variava entre livros históricos e de ocultismo.

Quase que automaticamente uma lembrança surge em meio aos pensamentos de Violet. Quando era mais nova, antes de sair da cidade, sua mãe pedia para que a filha não lesse certos livros de sua vó caso a garota visse a mais velha lendo quando as duas a visitavam. Recordava-se também da profissão de sua avó antes dela se aposentar. Agora, sabendo da verdade, chegava a ser irônico o fato de Amelie ter sido professora de ciências ocultas em uma universidade fora da cidade.

Violet solta um riso curto. Rindo da ironia.

A menina resolve observar o cômodo onde se encontrava. Além da estante que ocupava quase toda a parede á sua esquerda, a sala continha uma mesa de centro média, redonda de madeira envernizada próxima á janela, agora aberta. O vento movia levemente as cortinas brancas e delicadas. Lá fora estava escuro e silencioso. Do lado de dentro a luz branca da lâmpada fluorescente iluminava a sala.

Ao fundo, encontrava-se um armário de madeira maciça. Violet dá alguns passos tímidos até ele. Ela estende a mão para abri-lo, parando no meio do caminho. Não devia fazer isso. Devia esperar sua vó. Não era do feitio dela invadir a privacidade das pessoas e ser curiosa ao extremo. No entanto, não negava a vontade de querer saber o que tinha ali, no interior do móvel.

— Quer ver o que tem aí, não é querida?

Violet vira seu torso de uma forma um tanto brusca, tinha tomado um susto.

— Desculpe. — Amelie sai de perto da porta e a fecha. — Vi você tão focada nele que não resisti em perguntar. — A mais velha para ao lado da neta. — Posso mostrar o que há no interior deste armário. Na verdade, esperei muito tempo para fazer isso.

Amelie se volta para o móvel, Violet também. Ela esperava que a vó fosse abrir as portas duplas como todos faziam usualmente. No entanto, antes de tocar na madeira do puxador de uma das portas, a senhora Green faz um gesto simples com uma das mãos, como se acenasse uma única vez.

A neta franze os cenhos, olhando para a vó antes dela abrir as portas do móvel. Sua vó tinha acabado de praticar magia, ali, na sua frente. Violet nunca tinha visto a mais velha fazer tal coisa. Estava tão centrada no que acontecia consigo mesma, nos garotos e até em algumas outras pessoas ao seu redor, como Elizabeth e Vincent que não parou para pensar no fato de que sua avó era uma bruxa.

“Sua vó desempenha um papel relevante nisso tudo.”

A frase de Caleb se faz presente na mente dela por alguns instantes.

— Mantenho o armário fechado com feitiço. — Explica Amelie vendo a expressão confusa de sua neta. Violet sai de seus pensamentos e leva sua atenção para o rosto da mais velha. — Não quero que o que tem aqui caia em mãos erradas.

As últimas palavras da senhora Green fazem Violet finalmente olhar para o interior, agora exposto, do móvel.

A menina esperava encontrar algo mais diferenciado ou mais chamativo ali dentro. No entanto, ali só tinha mais livros. Violet até diria que eles eram mais antigos do que alguns que estavam na estante.

— Por que trancar esses livros aqui dentro com um feitiço? — Questiona a menina, encarando o conteúdo do armário por mais um tempo antes de volver seu olhar para a vó. — O que de tão importante está escrito neles?

Amelie sorri fechado. Uma expressão um tanto satisfeita presente em sua face ao ouvir tal questionamento da neta. Aquela pergunta impulsionaria muita coisa.

A senhora Green pega um dos livros antigos, um de capa marrom desgastada pelo tempo. O livro era de tamanho médio e não era tão fino e nem tão grosso. Violet a observa pegar mais um livro e, diferente do anterior, ele não aparentava estar tão desgastado.

Amelie entrega o segundo livro para a neta. A garota o recebe, observando sua capa dura e escura por alguns segundos antes de seguir sua vó. A mais velha se dirigia até a mesa.

— Sente-se, querida. — Pede a Green, sentando do lado esquerdo do móvel.

Violet faz o que lhe é pedido, sentando ao lado oposto á sua avó.

A senhora Green deposita o livro que segurava sobre a madeira da mesa, a menina repete o gesto, ainda esperando a resposta da mais velha.

— Diga-me Violet, o que sabe sobre a história da colonização de nossa cidade?

— Sei o que a senhora sempre me contou. Antes de ser colonizada, Ipswich era chamada de Agawam. — Começa a garota, colocando suas mãos unidas sobre as coxas. — A terra era muito boa e isso chamou atenção dos colonizadores. Foi então que em mil seiscentos e trinta e três, John Win... Win... — Violet franze os cenhos, tentando lembrar-se do sobrenome que precisava ser dito. Ela baixa um pouco seu olhar e encara a madeira envernizada, ainda puxando o nome pela memória.

— Winthrop. — Fala sua avó. — John Winthrop, querida.

— Isso. — Diz a mais nova enquanto levantava seus olhos com um movimento um tanto rápido. — Ele e mais doze homens foram enviados para cá para colonizar a terra. Um tempo depois, mais colonos e suas famílias vieram, incluindo a nossa. — Violet coloca suas mãos sobre a mesa, alternando seu olhar entre sua vó e a janela. — Foi só em mil seiscentos e trinta e quatro que nossa cidade recebeu o seu nome atual. — A Green mais nova para um pouco, um tanto surpresa por usar o termo “nossa cidade” tão facilmente.

Estava longe da cidade há sete anos, não esperava dizer tal coisa de forma tão natural. Talvez a sua fala decorada tivesse contribuído para tal atitude. O que, aliás, também era uma surpresa. Depois de tanto tempo, ela ainda lembrava-se das palavras usadas por sua vó ao contar a história da sua cidade natal.

— O nome Ipswich vem de uma cidade da Inglaterra. Os colonos vieram de lá. — Ela completa sua fala, focando seu olhar na mais velha.

Amelie sorri, satisfeita por saber que a neta ainda guardava tais informações em sua memória.

— Mas o que isso tem a ver com a minha pergunta? — Indaga a menina, olhando rapidamente para os livros próximos as duas.

Sua vó leva os olhos experientes até o livro de capa marrom, o abrindo. Violet vê a mulher folhear as páginas amareladas e antigas até ela parar em uma página. Amelie vira o livro na direção da garota, afastando um pouco o outro livro para que a neta pudesse ler o que estava escrito e gravado nas páginas marcadas pelo tempo.

— Toda a história das seis famílias fundadoras está neste livro. — Fala a mais velha. Violet levanta sua mão direita, pousando seus dedos sobre as gravuras presente na página esquerda. Cinco homens e uma mulher, trajados com as roupas da época e posicionados um ao lado do outro, estavam presentes na ilustração. — E esse homem, — Amelie usa o dedo indicador direito para apontar para um dos homens presentes na gravura. — É um dos nossos ancestrais. Seu nome era Paul Green.

Violet olha mais atentamente para ele, prestando atenção nos detalhes de seu rosto quadrado e seu olhar sério. A garota leva seus olhos cor de avelã até a legenda da gravura:

Charles Danvers, John Parry, Rebekah Garwin, Taylor Simms, Paul Green e Christopher Pope.

— Nas páginas anteriores você poderá ver mais um pouco sobre nossos ancestrais mais antigos. No entanto, acho importante começar com esses seis.

A menina volve seu olhar para a vó. Tinha feito um breve observação sobre as aparências dos demais componentes da foto. Christopher Pope se parecia com Chase, apresentando um olhar sarcástico. Rebekah tinha as expressões um tanto cínicas de Reid, John parecia tão na dele quanto Pogue. Já Charles tinha uma postura de liderança como Caleb apresentava em certos momentos e Taylor tinha leves traços delicados em seu rosto, assim como o Tyler. Podia ser apenas impressão dela, mas Violet não deixou de constatar tais observações.

— Por quê? — A jovem tinha seus cenhos franzidos.

Amelie inclina-se um pouco para frente, unindo suas mãos para apoiá-las sobre a mesa. Ela olha para o livro aberto antes de encarar a neta.

— Na época em que Charles Danvers assumiu a liderança do coven, boatos sobre bruxas estarem presentes na colônia começaram a se espalhar rapidamente. Nesse mesmo período, perseguições em Salém estavam acontecendo. O jovem Charles não podia correr o risco de ter o coven exposto, ele não desejava que os bruxos de Ipswich sofressem como os amigos e amigas de Salém estavam sofrendo.

— E o que ele fez? — Questiona a menina, atenta a narrativa.

— Mesmo com certa relutância de alguns membros, Charles, juntamente com os cinco novos e jovens representantes do coven, decidiu fazer um pacto de silêncio. Deixariam de praticar magia até que tais boatos enfraquecessem e sumissem. — Amelie pausa um pouco, endireitando sua postura.

— Eles conseguiram? Digo, é fácil assim deixar de praticar magia? — Violet não escondeu sua expressão de dúvida. Ela era nova em tudo aquilo e mal sabia lançar feitiços por vontade própria. E quando fez uso de magia, as coisas não saíram muito bem. A garota não evitou em questionar como os seis bruxos do passado fizeram tal coisa.

— Quando se tem domínio dos poderes, nós bruxas podemos sim deixar de praticar magia. Também há alguns meios que podem nos auxiliar nisso, posso explicar sobre tal coisa em outro momento. — Amelie pausa. Seu olhar tranquilo sobre Violet. — Me conte querida, o que Caleb disse á você quando os garotos e ele contaram a verdade?

— Ele me disse que todas as seis famílias fundadoras possuem habilidades mágicas, assim como os nossos ancestrais. Caleb não disse muita coisa. — Violet ainda tinha os seus dedos sobre a página antiga.

Sua vó assente, fazendo um leve movimento positivo com sua cabeça. Ela cruza as pernas antes de voltar a falar.

— Provavelmente o jovem Danvers quis ser mais simplista em sua explicação. — As mãos de Amelie ainda estavam unidas sobre a mesa. — Mas de fato, nós bruxas somos seres humanos com a habilidade de praticar magia.

Nós bruxas.

Ela também estava incluída. Violet realmente precisava se acostumar com tal coisa.

— Nascemos com isto e é por isso que, mesmo podendo deixar de praticar magia, tal coisa não foi fácil para eles. No entanto, eles sabiam da importância de manter nosso segredo em segurança. Isso também vale para nós hoje.

— Mas o pacto de silêncio ainda existe?

— Nós ainda somos precavidos. As coisas podem estar mais tranquilas para nós, mas a relevância de manter nosso segredo á salvo ainda existe.

O vento sopra, balançando os fios de cabelo dourados de Violet. Ela olha para a janela, encarando o céu negro por alguns instantes.

— Mas passar nossos conhecimentos para as gerações futuras também é de suma importância. — Amelie segura a mão esquerda de sua neta. — E é por isso que você está aqui, querida. Você não sabe o quanto eu estou feliz por estar contando isso á você.

— É por isso que o armário está trancado com um feitiço? Por conta disso? — Ela aponta para o livro aberto com a mão livre.

— Sim, e por isto também. — A senhora Green pousa sua mão livre sobre a capa escura do segundo livro.

Violet olha para ele. Amelie solta a mão da neta para que ela pudesse o examinar melhor.

— Abra ele, querida.

A mais nova olha brevemente para sua avó antes de fazer o que lhe é pedido.

Violet folheia calmamente as páginas levemente amareladas. Elas continham textos, ilustrações e até alguns desenhos feitos de forma simplória, como certos lembretes. E a jovem Green conhecia a grafia presente ali.

— A mamãe escreveu esse livro? — Pergunta ela ao volver seu olhar para a mais velha. As sobrancelhas da garota levemente arqueadas pela constatação.

— Sim, ela escreveu. E não é um livro comum, querida. É um grimório.

— A mamãe escreveu um grimório? — Violet sabia o que era um grimório, filmes e séries já tinham feito a tarefa de explicar aquilo para ela. No entanto, saber que sua mãe tinha feito o seu próprio grimório era, no mínimo, interessante.

— Ela o deixou aqui quando se mudou com você e seu pai. O guardei como faço com os meus. — Amelie aponta e olha para o armário de forma breve. Ao voltar seu olhar para o grimório, a Green mais velha se cala enquanto passa a encarar o livro.

Ela pensava em sua filha, pensava em Olívia.

Violet sabia o quanto a perda era recente. Também sabia que sua avó não era de demonstrar sentimentos, e quando mostrava, não era do tipo de pessoa que falava sobre tal coisa.

Foi a vez da neta depositar uma de suas mãos sobre uma das mãos de sua vó. Amelie levantar o olhar a sentir o toque. Avó e neta sorriem uma para outra. Sorrisos reconfortantes e compreensivos.

— Quero que fique com ele. — Fala a mais velha após mais alguns segundos em silêncio. — Nele estão os primeiros feitiços que sua mãe aprendeu quando ainda era uma menina. — Amelie sorri saudosa. — Acredito que será bom começar com ele.

Violet assente, deixando seus olhos vagarem pelo rosto de sua avó antes de voltar seu olhar para as páginas do grimório.

— Também quero que leia sobre a nossa história. — A senhora Green aponta para o livro mais antigo. — Você tem muito que aprender querida.

Antes de soltar a mão da neta, Amelie acaricia levemente o dorso da mão da mais nova.

— Também aprenderá com Caleb e os outros garotos.

Caleb e os garotos.

Tais palavras a fazem lembrar o que aconteceu na escola, do que foi discutido entre Caleb e Chase. Violet olha para avó, entreabrindo a boca, pensando em contar tudo para ela. No entanto, Amelie tomou á frente.

— E já que estamos falando sobre isso, preciso conversar com você sobre algo.

Violet fecha os lábios, assentindo logo em seguida.

— Emily ligou para mim antes da nossa conversa.

A garota repete o gesto feito anteriormente, assentindo com dois movimentos positivos de cabeça. Então era com a tia Emily que sua vó estava falando ao celular.

— O que ela disse?

— Ela esta preocupada com o que aconteceu no pátio da escola hoje. O jovem Garwin machucou acidentalmente outro estudante após usar magia.

— Eu sei, vi quando aconteceu. — Fala ela, aproximando suas mãos para mais perto de si. — Alguma notícia do Aaron?

— O jovem Garwin disse á mãe que levaram o garoto para o hospital. — A mais velha para de falar. Violet já sabia o caminho que aquela conversa seguiria. — O que houve no pátio da Spencer, querida?

A menina se remexe na cadeira, também de madeira envernizada, antes de responder.

— Antes de ir até o carro para voltar para casa, Caleb me parou para conversar ele. Ele queria falar sobre a gente se reunir nessa semana, e combinamos até o dia. Aí eu lancei uma pergunta para ele, o Chase apareceu e... E aí o acidente aconteceu.

— Que pergunta fez a ele?

Violet fica em silêncio, encarando sua avó. Ela precisava falar com ela sobre o assunto.

— Eu queria saber o que era a união do círculo.

A garota vê quando a mais velha faz leves movimentos positivos com a cabeça antes de levar sua atenção para o livro de capa marrom, o puxando para si e o fechando em seguida.

— Quem lhe falou sobre isso?

— O Chase. — Diz ela, um tanto receosa sobre mencionar o nome dele. Ela fez certo?

— Oh sim, o jovem Collins. Ele é um jovem audacioso, sempre foi. — Fala Amelie, como se recordasse de certas lembranças. — Não me admira ele ter falado sobre tal coisa a você. — Uma pausa. — O jovem rapaz fez o certo.

— Fez? — Violet enruga a testa, não esperando tais palavras vindas de sua vó.

— Sim, ele fez. — A Green mais velha estica seus braços para pegar nas mãos da menina. Os olhos verdes dela encontrando os olhos da neta. — Querida, chegará um dia em que você e os garotos tomarão conta do nosso lar. E quando esse dia chegar, vocês precisarão estar preparados.

Violet absorve tais palavras, sentindo o peso delas. Não havia parado para pensar que tal responsabilidade cairia sobre ela e os garotos no futuro.

Ela respira fundo, deixando o ar sair de seus pulmões de forma lenta.

— Sei que você não está habituada á lidar com tudo isso, mas esperar mais do que já esperamos seria um erro. — Amelie deposita uma das mãos sobre o jovem rosto da garota. — Antes mesmo de Emily me contar o que ocorreu na escola, eu já pensava sobre tal coisa. — Uma rápida pausa. — Não quero que você ou os garotos se machuquem ou que algo pior aconteça. Falarei com os outros, a união do círculo é algo que realmente precisa ser feito.

Com a parte superior dos dedos, Amelie acaricia a bochecha esquerda de Violet. A menina sorri fechado, aproveitando o carinho. A mais velha sorri para a menina antes de voltar a se encostar-se à cadeira da forma correta.

— Pois bem, vamos continuar. Você tem muito que aprender.

~♢~

Os raios da manhã entravam pela janela á direita do quarto de Tyler. Ele terminava de colocar seus pertences em sua mochila depositada sobre a cama. De costas para a porta aberta, Simms escuta os passos apressados de seu pai quando ele passa pelo corredor.

O adolescente vira se corpo e caminha até a porta, inclinando-se um pouco para frente a tempo de ver seu pai quase saindo do corredor.

— Pai, o senhor já vai sair? — Questiona o menino ao notar que o mais velho já estava uniformizado.

Noah Simms se vira para encarar o filho.

— É. Ligaram para mim lá da delegacia. A mãe de uma jovem informou um desaparecimento. Ela está muito preocupada e quer falar comigo.

— Bom, eu posso ir com você? — Pergunta o mais novo, mesmo sabendo a resposta. Ele se move um pouco, apoiando suas costas sobre o batente direito da porta.

— Não. Você vai para a escola.

— Posso ao menos passar na delegacia depois da aula? — Arrisca o menino.

Noah cruza os braços e permanece encarando o filho.

— Tyler.

— Pai, você precisa me dar um crédito. Não fui para a delegacia quando aconteceu o assassinato no Nick’s. — Tyler defende-se da repreensão do pai.

O mais velho permanece com o olhar sobre o filho.

— E nem perturbei a mamãe indo para o hospital para perguntar sobre o assunto.

— Tyler, — Noah levanta uma das mãos após descruzar os braços. — sei que gosta de tudo isso. — Fala ele, gesticulando um pouco com a mão levantada. O mais velho sabia que tal gosto do filho por investigações e afins se devia, em grande parte, ao seu próprio trabalho. Afinal, ele era o xerife da cidade. — Mas quero que foque na escola e nas coisas mais importantes no momento. — Noah se referia aos poderes do bruxo com a presença de Violet ali.

— Mas pai...

— Tyler.

O garoto se cala.

— Tá bom. Não vou á delegacia. — Diz o mais novo, levantando as mãos por breves segundos.

— Obrigado, filho. Agora, eu realmente preciso ir. Não se atrase e tenha um bom dia na escola. — Noah se vira para voltar a caminhar. — Até mais, filho.

— Até mais, pai.

Tyler vê seu pai saindo do corredor e não demorou para que ele escutasse o barulho da porta da frente se abrindo para se fechar em seguida. O garoto se volta para o interior do quarto, voltando para o cômodo logo depois. Ele precisa terminar de organizar suas coisas e seguir rumo à escola.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.