Welcome To The Coven - Hiatus

Capítulo 1 - Perdas e um Novo começo


A chuva caia naquele dia. Estava forte. As gotas d'água batiam com firmeza na superfície dos guarda-chuvas que protegiam as pessoas presentes ali. O vento levava os respingos de água até os rostos tristes, um deles era o de Violet.

A garota olhava firmemente para um ponto fixo. Ignorava seu rosto molhado pelas gotículas de água que insistiam em bater em sua face e seu cabelo que permanecia a incomodando e atrapalhando sua visão, a obrigando sempre a afastá-lo e colocar algumas mechas atrás da orelha. Talvez aquelas coisas a incomodassem em outros dias, mas não hoje. Não agora. Na verdade, nada mais importava naquele momento. Na verdade, Violet se questionava se algo teria alguma importância ou algum sentido depois do que havia acontecido.

A jovem garota deixa uma lágrima cair pelo seu rosto. Estava se esforçando para não cair aos prantos ali mesmo, não queria chorar mais. Já havia derramado tantas lágrimas, não queria que isso ocorresse de novo.

Uma segunda lágrima desliza pela sua face.

Rapidamente ela a enxuga, passando a palma da mão pelo rosto.

Aquilo estava sendo tão difícil, tão doloroso e insuportável. Sabia que aquele dia chegaria. Afinal, esse dia chega para todo mundo. Mas ela não imaginava que seria tão rápido assim. Não imaginava que a mulher da sua vida fosse lhe deixar tão rapidamente e logo de uma forma tão triste.

Não conseguia pensar em como seria sua vida sem sua melhor amiga, sem sua mãe.

Violet fecha os olhos por um momento, tentando absorver aquilo tudo. Tentando de algum modo imaginar em como seguir sua vida. Em meio aos seus pensamentos, a garota sente um leve toque sobre seu ombro esquerdo.

Ela abre os olhos e segue o olhar na mesma direção do toque. Era ela, sua avó. Ela permanecia tão quieta que Violet por um momento havia se esquecido de sua presença.

A jovem olha nos olhos da mais velha, eles transmitiam tristeza e ao mesmo tempo compaixão. Ela sabia o quanto aquilo tudo também doía para sua avó. Afinal, era sua filha que estava ali... sendo enterrada.

A garota volta o olhar para seu ponto fixo, para o caixão onde sua mãe estava. Violet deposita sua mão direita por cima da mão de sua vó que por sua vez deixa de apoiar sua mão no ombro da neta e passa a segurar a mão dela fortemente.

A neta se sente agradecia pelo gesto dela e retribui, repetindo a ação.

Sem avó ali, ela não saberia o que fazer perante aquilo tudo. Estaria perdida em meio aquela situação.

Ainda encarando o caixão que agora estava mais perto do fundo, Violet pensa no momento em que aquilo tudo ocorrera.

~◇~

Hospital Central de Portland - Um dia antes.

A garota apertava fortemente as mãos da mãe. Ela encarava aquele rosto abatido e fraco enquanto uma das mãos de Olívia Green se libertava do aperto firme de Violet e acariciava o rosto da filha.

— Está tudo bem querida. Tudo vai ficar bem.

"Como ela pode dizer isso em uma situação dessas?" Pensa Violet.

— Não quero que vá embora. — Declara a jovem tirando uma das mãos que segurava a mão de sua mãe, colocando a palma por cima da mão que acariciava seu rosto.

— Eu sei filha, eu sei. Mas infelizmente tenho que ir. — Fala Olivia serenamente. — E sua vó estará com você.

— Como consegue ficar tão calma? — Pergunta a menina, os olhos já marejados.

— Estou tranquila filha. Eu ficarei bem, preciso descansar.

— Mas eu preciso da senhora. — Diz Violet, as lágrimas caindo livremente pelo rosto.

Olívia então deixa de segurar a mão da filha e passa a segurar o rosto da mesma com as duas mãos, enxugando com os polegares as lágrimas que escorriam pela jovem face.

— Você precisa ser forte meu amor. Sei que dói muito agora, mas... — Olivia pausa um pouco, respira fundo. Precisava falar devagar, pois o simples ato de conversar a deixava cansada, principalmente nos últimos dias. Ela retoma a fala.

— Mas isso vai passar. Você vai se recuperar e vai viver sua vida. — Diz ela, as mãos ainda segurando o rosto da única filha.

— Mas se eu não conseguir? — Pergunta ela em meio ao choro. — Mãe, eu não consigo. Não consigo. — Diz Violet balançando a cabeça negativamente.

A mãe da garota afasta as mãos e logo depois abre os braços de forma lenta e calma. Violet não espera nem um segundo e abraça a sua mãe.

— Eu te amo, mãe. — Diz ela em meio ao pranto.

— Também te amo, filha. — Diz Olívia, cada vez mais cansada e sonolenta.

A garota abraça sua mãe da maneira mais forte e gentil que podia naquele momento. Não queria machucá-la, mas também queria que soubesse o quanto ela faria falta e o quanto ela a amava. E Olivia parecia saber disso, pois retribui o abraço da mesma maneira.

Ainda abraçada á sua mãe, Violet olha para o lado, se deparando com sua vó observando a cena. Olivia faz o mesmo. A mãe da menina dá um leve sorriso para a vó de Violet e logo depois aberta a filha contra o peito o mais forte que conseguia naquele momento. A menina aproveita aquilo.

Após um tempo as duas se libertam do abraço. Violet encara a mãe mais uma vez, levando a mão direita até o rosto pálido e frágil da mulher. Olivia leva a mão até o rosto, segurando a mão da filha. Ela fecha os olhos, um leve sorriso presente em seus lábios. A jovem observa a face de Olívia, até que aos poucos a mão da mais velha se afrouxa, deslizando lentamente para longe da mão da filha.

— Mãe? Mãe? — A preocupação e medo presente na voz da menina. — Mãe, por favor, acorda. Mãe!

Violet inclina-se para frente,colocando as mãos por cima dos ombros de Olívia.

— Mãe, por favor!

O monitor cardíaco para de emitir o clássico som. A garota olha para a vó, que já se aproximava, voltando a olhar para o corpo de sua mãe logo depois. A menina abraça Olívia, as lágrimas derramando-se livremente pelo seu rosto.

~◇~

Logo depois daquilo os médicos chegaram ao quarto em que Olívia Green estava. Tentaram reanimá-la, sem sucesso.

Violet sai dos seus devaneios quando percebe que o caixão de sua mãe já havia alcançado o fundo. Algumas pessoas, que a garota nem conhecia bem, jogam algumas flores antes que a terra fosse jogada sobre o caixão. Violet faz o mesmo, se despedindo mentalmente de sua mãe.

~◇~

Violet permanecia deitada em sua cama. Encarava o teto do seu cômodo favorito da casa. Casa que crescera junto com Olívia. Estava lá desde os dez anos de idade. Muitas lembranças presentes ali. A garota olha para o lado, encara as malas que havia feito na noite anterior. Não eram muitas, Violet não costumava ter tantas roupas assim.

"Não precisa fazer isso Violet, podemos comprar roupas novas assim como outras coisas pra você quando chegarmos lá. Não é necessário você se dá ao trabalho."

As palavras da sua vó vem a sua mente enquanto ela ainda observava suas bagagens depositadas ali, no quanto do quarto. Talvez ela estivesse certa, não era necessário levar aquilo. Mas Violet era teimosa, não queria largar seus pertences. Não estava pronta para abandonar tantas lembranças, pelo menos não todas.

A jovem vira o rosto e volta a encarar o teto. Dá um suspiro rápido, passando a mão pelo colchão descoberto, pois em meio aos seus pertences ela incluiu seus lençóis de cama favoritos para também levar. Ela fecha os olhos.

Um filme passa pela sua cabeça. Suas memórias de infância percorrem sua mente. Coisas que a garota guardava desde o momento que tinha chegado ali voltam com tudo. Parecia que seu cérebro queria que ela recordasse de todos os momentos passados ali, que recordasse uma última vez. Violet aproveitava aquilo, aproveitava todas aquelas cenas que passavam diante dos seus olhos.

— Violet? Querida, está acordada?

Uma voz bem familiar trás a garota para a realidade. Ela abre os olhos e vira o rosto.

Sua vó estava lá, parada na entrada do quarto a olhando.

— Oi vó. — Diz ela.

— O táxi chegou querida. — Informa ela. — Está na hora.

Violet se levanta, ficando sentada por um momento. Depois em um movimento rápido, sai da cama e anda em direção as malas. Sua vó faz o mesmo, se agachando um pouco para pegar uma bagagem da neta.

— Não vó, pode deixar que eu levo todas. Não se preocupe. — Protesta a menina impedindo que a mais velha pegue a alça de uma de suas malas.

Amelie fica ereta e encara a neta.

— Violet querida, eu posso ser velha mas acho que aguento carregar uma mala. — Diz ela repetindo o movimento e puxando a alça. — Oh Violet, o que colocou dentro disso aqui? — Pergunta ela se referindo ao peso, uma expressão em seu rosto provoca uma risada rápida e leve na neta.

Apesar de não ter muitas roupas, os lençóis de cama da menina com certeza compensariam na questão: peso.

— Tudo bem. — Fala ela vendo sua vó levar uma das bagagens, descendo as escadas logo depois.

A garota repete o gesto e se encaminha para fora do quarto, descendo as escadas, se dirigindo para a porta principal da casa que estava aberta.

O táxi esperava parado em frente a casa, o motorista ajudava a senhora Green a colocar a mala dentro do porta-malas. Violet caminha um pouco até ficar próxima a eles, o rapaz a olha dando um leve sorriso, pegando as malas das mãos da garota para guardar. A menina educadamente retribui o sorriso e segue para o interior da casa para buscar o restante das coisas.

Após um tempo tudo estava devidamente guardado. O taxista já entrava no carro, aguardando-as.

— Bom, vamos indo. — Diz Amelie.

— Eu preciso buscar mais algumas coisas. — Diz a menina já entrando na casa.

Violet sobe as escadas apressadamente indo para seu quarto. Olhando para os lados a garota procurava os itens que faltavam.

— Achei!

Ela caminha até sua estante, pega seu celular e seu headphone azul celeste. Um sorriso de canto surge em seus lábios. Adorava aquele headphone, presente de sua mãe quando a menina fez quinze anos. Olívia sabia que sua filha amava música e aquele seria o presente mais adequado para ela. Sua mãe estava certa, Violet não podia ter adorado mais aquilo.

Ainda encarando o objeto a garota lembra-se do outro item que precisava tirar dali. Olhando para o lado ela acha o que procurava. Segurando o headphone e o celular em uma das mãos, a menina anda até um quanto do quarto, se inclinando e pegando o que estava ali.

— Ai está você. — Diz, encarando seu velho skate preto.

— Vamos Violet, não podemos perder o nosso voo! — Alerta a mais velha falando da porta de entrada da casa.

Escutando sua vó, Violet encara pela última vez seu quarto. Com certeza sentiria muitas saudades. Suspira alto e sai do local, dando uma última olhada para trás antes de descer apressadamente as escadas e sair da casa, encontrando sua vó ali na sua frente.

Um olhar de reprovação surge no rosto da mais velha ao perceber o tal skate na mão da neta. Porém, Amelie disfarça seu descontentamento em relação ao apego que a menina tinha ao objeto. Afinal, sua neta não precisava de um sermão agora.

— Vamos querida, entre no carro.

A senhora Green abre a porta e entra, sentando no banco da frente enquanto Violet deposita seu skate ao seu lado perto de uma bolsa de sua vó no banco do carona.

O motorista liga o carro e segue rumo ao aeroporto.

Á medida que o veículo andava, Violet via a casa onde crescera se afastando aos poucos, ficando cada vez mais distante até se tornar um ponto ao longe.

A menina encostasse-se no banco. Olha para o fone em seu colo e o coloca, conectando-o em seu celular. Ela fecha os olhos, deixando a música lhe acalmar. Precisava daquilo, precisava sentir a paz que só a música lhe trazia, precisava tentar esquecer a perda, o vazio.

~◇~

As pessoas passavam de um lado para o outro no aeroporto, alheias aos problemas da garota que as observava. Ela e sua vó esperavam o próximo voo para Machassusetts. Faltava pouco para embarcarem. Violet estava distraída com seus devaneios e com a música que penetrava em seus ouvidos.

"Atenção passageiros do voo 314 com destino a Machassusetts. Por favor, dirijam-se ao portão de embarque."

Ecoa a voz clássica presente em todos os aeroportos, voz essa que a garota poderia ter ouvido se não estivesse tão área. A senhora Green se levanta da cadeira pegando sua elegante bolsa Channel preta, dirigindo seu olhar para a neta. Notando aquilo, Violet repete o gesto de sua vó e a segue. A menina tira os fones e anda ao lado da mais velha, entrando no avião após passar por toda a clássica burocracia.

Uma vez lá dentro, as duas procuram seus assentos.

— Aqui querida. — Amelie se senta bem no meio em uma fileira com três assentos.

Violet por sua vez se senta perto da janela, agradecendo aos céus por isso. Aquele era seu lugar favorito sempre que viajava.

Após todos os passageiros se acomodarem, o avião levanta voo. Logo depois da famosa turbulência passar, todos ficam mais relaxados, procurando se distrair para passar o tempo.

A senhora Green faz o mesmo, tirando um livro da bolsa, começando a ler relaxadamente. Violet volta sua atenção para headphone, colocando-o novamente. A jovem encara o céu azul pela janela, perdida em pensamentos mais uma vez.

Após um breve momento a menina volta à realidade e lentamente vira o rosto para encarar sua vó. Amelie estava distraída na leitura do tal livro. Calada, calma, apenas concentrada em sua atividade atual.

Violet ainda a encarava quando a vó percebe que estava sendo observada pela neta. Ela sorrir para Violet, um sorriso simples e sincero, estendendo sua mão esquerda em direção ao rosto da mais nova, acariciando logo depois.

A garota adorava aquilo. Adorava como sua vó não lhe perturbava com as tagalerices inúteis que a maioria das pessoas falaria em uma situação como aquela na tentativa de querer ajudá-la a passar por aquilo tudo. Adorava o jeito tranquilo e discreto da vó. Adorava o modo tão sutil e ao mesmo tempo eficaz de como ela a consolava. Todas aquelas características a faziam amá-la ainda mais.

Violet repete o mesmo sorriso de Amelie. As duas se encaram por um momento, voltando a suas atividades anteriores em seguida.

A mais nova acomoda-se mais confortavelmente em seu assento, admirando mais uma vez aquele céu azul que estava em frente aos seus olhos. Olhos esses que aos poucos foram fechando-se, embalados pela música que ecoava em seus ouvidos.

~◇~

Após passarem pelo detector de metal e pegarem suas bagagens, Violet e a senhora Green caminham para fora do aeroporto.

— Quem virá nos pegar? — Pergunta a neta a vó. As duas ainda caminhando.

— Lembra-se do Vincent?

Assim que a mais velha faz a pergunta, as duas avistam um carro preto parado próximo onde estavam. Encostado nele estava um jovem homem negro que sorri ao avistar Violet e sua vó.

Vincent, pontual como sempre. — Comenta Amelie, sorrindo enquanto se dirigia ao encontro dele.

— Não podia deixar as duas esperando, não é? — Fala ele sorridente.

A senhora Green dá uma leve risada e logo depois o abraça amigável e calorosamente.

Violet aproximasse dos dois.

Após sair do abraço, Vincent olha para a garota.

— Violet! Nossa, como você cresceu! — Diz ele indo até ela, a abraçando.

Ela retribui.

Saindo do abraço, o rapaz a encara, tinha uma expressão de dúvida em seu rosto.

— Lembra-se de mim, certo? — O silêncio da garota o fazia questionar.

Ela solta um leve riso antes de responder.

— Sim, lembro.

Claro que ela se lembrava de Vincent. Podia não tê-lo visto muitas vezes na sua infância, mas recordava-se claramente dele, o amigo inseparável de sua vó.

— Ótimo. — Fala ele sorrindo. — Vamos, deixe-me ajudá-las com a bagagem. — Diz ele, indo prontamente pegar as malas, as guardando rapidamente no porta-malas de seu carro.

— Pode me dá o skate Violet, acho que cabe mais algo aqui dentro. — Fala ele esticando a mão para pegar o objeto das mãos da menina.

— Oh não. Não tem problema, eu posso levar. — Diz ela lançando um sorriso para ele.

— Tudo bem então. — Ele fecha o porta-malas, olhando para ela e se aproximando logo depois. — Tentei colocar aquela bolsa enorme da sua vó lá dentro, mas não deu muito certo. Vou ter que colocar no banco de trás. — Diz ele em um tom baixo para a garota. Ela sorrir com aquilo e o rapaz faz o mesmo.

— Eu escutei isso Vincent! — Declara Amelie já entrando no carro.

— Eu não disse nada. — Fala o rapaz abrindo a porta do banco do carona e colocando a bolsa da senhora Green lá.

— Ok. Tudo guardado. - Diz ele após aquilo. — Podemos ir.

Violet abre a porta do lado esquerdo no banco do carona, coloca seu skate lá dentro e se senta, fechando a porta em seguida.

Vincent dá partida e segue destino.

~◇~

Desde que tinha saído do aeroporto, a garota havia focado sua atenção para as paisagens presentes durante aquela pequena viagem. Violet abre o vidro da janela do carro, sentindo o vento batendo em seu rosto. Escuta sua vó e Vincent trocarem algumas palavras, algo que começaram a fazer desde que saíram do aeroporto. A garota dá uma breve olhada em seu celular, tentando se distrair. Precisava fazer algo, já estavam no carro há um tempo considerável. Ela olha para o skate ao seu lado, virando o rosto novamente para a janela aberta depois.

Seu olhar muda. De entediado passa a ficar atento. Uma placa com as palavras: Bem-vindo a Ipswich, localizada do lado direito da estrada, sinaliza que a viagem estava quase no fim.

A garota, agora mais interessada, observa todo o trajeto feito pelo carro. A floresta que cercava a estrada dos dois lados dá lugar á cidade. Ela conhecia aquele local, tinha suas memórias para confirmar aquilo. O veículo locomove-se mais um pouco, indo para um pouco mais longe do centro, ele dobra uma rua. As lembranças da menina são mais uma vez remexidas. Aquelas casas, aquela vizinhança, Violet recordava-se daquilo.

O carro anda mais um pouco, parando em frente a uma casa que a jovem conhecia muito bem.

— Chegamos. — Declara Vincent já saindo do carro para retirar a bagagem.

A próxima a sair foi sua vó, pegando uma mala para ajudar seu amigo.

Violet abre a porta do carro lentamente, saindo depois. Pega seu skate, voltando seu olhar para a grande casa branca a sua frente. A casa de sua vó, que na verdade estava mais para uma mansão enorme.

A menina ficou encarando a propriedade por um tempo até escutar alguém a chamando.

— Violet, ajude o Vincent.

Ela segue o olhar de sua vó e vê o rapaz carregando duas de suas malas nos braços.

— Desculpa. — Fala ela, pegando uma bagagem das mãos dele.

— Não precisa Violet, está tudo sobre controle. — Protesta ele. Protesto esse ignorado pela garota.

— Não se preocupe Vincent, deixe-me ajudá-lo. — Diz ela já com uma mala em mãos.

Amelie olha para os dois por um tempo antes de entra na sua mansão, Violet e Vincent a seguem. O rapaz é o primeiro a entrar no interior da enorme casa, em seguida foi a vez de Violet.

A garota larga sua bagagem no chão, encarando aquele ambiente tão familiar e ao mesmo tempo tão novo para ela. Estava surpresa. Ela agora se via perdida naquele enorme hall de entrada. As paredes brancas, o piso cor de gelo. Duas colunas também brancas presentes em cada lado do Hall e uma pequena escada localizada ao meio que logo depois dava espaço para outras duas enormes distribuídas uma em cada lado, construíam aquele cenário.

— Violet, venha conhecer seu quarto. — Amelie diz tranquilamente, andando ate a escada principal para logo depois subir a escada do lado esquerdo com Vincent ao seu lado.

Violet sai de suas observações e segue os outros, colocando lentamente os pés em cada degrau até atingir o primeiro andar. A garota dá uma breve olhada para baixo, apenas por hábito. Aos poucos eleva o olhar e é quando avista o grande lustre de cristal de sua vó. Sua base circular coberta por pequenos cristais, rodeada por doze velas falsamente acesas apenas para decoração, assim como o corpo do lustre que também era coberto com o mesmo material. O lustre completo era lindo. E estava ali, pendurado bem no meio do Hall. Violet pegou-se pensando como ele deveria ser bem mais bonito quando estivesse acesso. A menina decide parar com sua observação e seguir caminho, andando pelo corredor até seu mais novo quarto. Não demorou muito para que ela achasse o cômodo, já que podia-se ouvir Vincent e sua vó falando lá dentro.

A menina anda até a direção das vozes e para de frente a porta de seu novo quarto, segurando a alça de sua mala com uma mão, o skate em outra, seu headphone pendurado em seu pescoço e seu celular guardado no bolso esquerdo da calça.

— Entre Violet. — Pede sua vó. Ela obedece.

— Bom, eu vou descer. Preciso de um copo d'água. — Fala Vincent para as duas após depositar as malas no chão.

— Obrigada Vincent. Estarei com você daqui a pouco. — Fala Amelie.

O rapaz assenti.

— Espere que goste do seu novo quarto Violet. Sua vó empenhou-se bastante nele. — Fala ele com um sorriso no rosto, fazendo a senhora Green sorrir também.

A garota olha para ele e sorri levemente.

— Obrigada Vincent.

Ele assenti com a cabeça e sai do quarto.

Um silêncio rápido toma o cômodo até que Amelie pronuncia- se.

— Então, o que achou? — Pergunta ela, andando um pouco pelo quarto, parando logo depois. A postura ereta, elegante, as mãos para frente, unidas.

Violet anda um pouco e coloca a mala que carregava em cima da cama, assim como faz com seu skate,dando uma pequena volta pelo cômodo com o olhar.

A primeira coisa que a garota nota é a grande janela presente ao lado direito do local. As cortinas brancas balançavam suavemente ao sabor do vento. O tecido leve e fino dava um ar tranquilo ao local. Logo abaixo da janela Violet percebe um sofá presente. O tecido roxo se destacava facilmente com o branco da cortinas.

A garota prossegue com o olhar e agora encarava uma estante de tamanho considerável localizada no final do quarto. Ela era preta e bem no meio dela estava uma TV de tamanho médio que cabia perfeitamente lá. Um pouco afastada da estante estava uma porta branca semi aberta, ali ficava o banheiro.

No lado esquerdo uma escrivaninha também preta, com um notebook novo da mesma cor, pronto para ser usado.

— Sei que é uma menina estudiosa, por isso comprei. — Informa a mais velha, olhando para a escrivaninha e o notebook.

Violet sorri e volta seu olhar para a cama. Os dois travesseiros brancos por cima do edredom roxo. Ao lado direito da cama estava um guarda-roupa branco. A garota pensa em tudo aquilo, em como sua vó teve todo aquele cuidado, todo o trabalho para montar aquele quarto. Ela volta seu olhar para o tecido roxo do edredom, passando a mão por ele.

— Eu sei que essas cores são as suas favoritas, então procurei encher o quarto com elas. — Comenta a senhora Green.

Ela encara sua vó.

— Vincent está certo. A senhora caprichou nesse quarto. — Fala a menina dando um sorrindo para ela.

— Oh querida, que bom que gostou. — A senhora Green vai até a neta e a abraçando — Só quero que você se sinta em casa. — A menina retribui o gesto da mais velha, uma maneira de agradecer tudo aquilo. Amelie se afasta para encará-la, as mãos retirando os fios de cabelos espalhados pelo rosto da mais nova. — Como nos velhos tempos.

Violet assenti, encarando os olhos verdes de sua querida vó. A senhora Green dá um leve beijo na testa de sua única neta e encaminha- se para a porta.

— Vou deixar que desfaça as malas em paz. Qualquer coisa estarei com Vincent na cozinha.

A garota confirma com a cabeça, vendo sua vó sair dali.

Violet suspira, encarando seu novo quarto. Seu mais novo futuro cômodo favorito da casa. Ela olha para a cama, a mala e o skate sobre ela.

— Você vai ter que sair daqui. — Comenta ela, retirando o skate de onde estava e depositando próximo a escrivaninha.

Ela volta-se para a cama, encara a mala por um momento antes de abri-la. A garota vai retirando suas roupas, as dobrando e depositando em cima da cama. Blusas, camisas, calças jeans, poucos vestidos e algumas outras peças. Isso era o que estava contido na primeira mala.

Violet caminha até seu novo guarda-roupa e o abre. Vai até a cama e pega seus vestidos, coloca-os nos cabines brancos. Ela faz o mesmo com suas camisas, blusas e calças jeans.

A garota dá uma breve olhada naquilo indo para a segunda mala depositada no chão. Ela a coloca em cima da cama e repete o processo. Agora seus pijamas favoritos, suas toalhas e peças íntimas precisavam ser guardados. E é isso que a menina faz.

A parte mais difícil seria a próxima etapa. Guardar seus lençóis de cama prediletos. Violet caminha até a terceira bagagem e com um pouco mais de esforço a leva para perto do guardar roupa, a abrindo em seguida. Ela retira seus lençóis e vai os guardando em seus devidos lugares.

Violet suspira. Tinha terminado grande parte da tarefa. Ela olha para trás, mas duas malas precisavam ser desfeitas. Ela vai até a quarta mala e também a leva para perto do guarda-roupa, abrindo-a depois. Estava na hora de guardar seus calçados favoritos, o que no caso não eram muitos. Após completar tal tarefa, ela vira-se para trás. Um sorriso brota em seus lábios em seguida. Perto da porta, próxima a escrivaninha, estava a quinta e última mala.

Ela caminha até a bagagem, se ajoelha e a abre ali mesmo. Os olhinhos de Violet brilham. Ali estavam seus mimos, seus vícios. Livros, dvds com suas séries e filmes favoritos e é claro, sua coleção preciosa de HQs.

A garota olha para a estante e depois torna a observar seus objetos preciosos. Agora um pouco mais animada, a menina coloca o headphone pegando alguns livros indo os guardar em sua nova estante. Empolgada ela vai retirando cada coisa presente dentro da mala as distribuindo organizadamente no local. Livros de um lado, dvds no outro e um espaço acima da TV ela coloca suas preciosas HQs.

Balançando a cabeça ao som da música, Violet analisava sua arrumação. Um sorriso discreto surge no rosto dela, tinha gostado do resultado.

— Ainda falta alguma coisa. — Comenta ela ainda encarando seu feito. — Os pôsteres!

Ela caminha até a bagagem e procura o que faltava. Não demora muito para achar. Lá estavam eles, dentro de uma pasta transparente. Guardados caprichosamente por ela. A menina abre a pasta e retira dali um pôster de tamanho mediano. Violet encara por um tempo a imagem de Tony Stark dentro de sua famosa armadura antes de olhar para as paredes roxas de seu quarto. A garota franze o cenho. Queria muito pendurar seus amados pôsteres ali, mas também não desejava estragar a pintura, o trabalho que sua vó tivera para organizar aquele espaço, o tempo gasto. Não podia correr o risco de arruinar aquilo tudo ao pendurar um pôster.

A menina então resolve guardar aquilo. Talvez mais tarde ou em algum momento ela pudesse pedir ao Vincent que a ajudasse. Não precisava ser agora. Violet vai até a primeira gaveta do guarda-roupa e deposita a pasta lá dentro. Vai até a cama e só então percebe que as duas malas ainda estavam ali, assim como as outras três estavam espalhadas no chão. A menina vai até a primeira mala e a leva para o maleiro a guardando ali. Ela repete isso com as outras quatro malas.

Violet dá um rápido suspiro, finalmente tinha acabado. Ela anda até sua cama, a encara por um tempo e depois pela primeira vez deita nela. O lençol macio faz Violet relaxar, assim como a música que tocava em seus ouvidos. A música, ela sempre distraía e acalmava a jovem garota.

Encarando o teto branco, Violet deixa-se embalar pela melodia. Ela fecha os olhos, sentindo cada som presente na canção. Aos poucos sua consciência é tomada pelo sono.

~◇~

Violet? Violet?

A garota escuta a voz distante.

Violet querida, acorde.

Ela abre os olhos, sua visão se acostumando com o ambiente. A garota olha para o lado, sua vó estava ali, sentada, a encarando com um leve sorriso.

— Veja só quem finamente acordou. — Diz Amelie sorrindo.

Violet se senta na cama.

— Quanto tempo eu dormi? — Pergunta ela, tirando os fones agora pendurados em seu pescoço, olhando para a janela. Já era noite.

— Digamos que por um bom tempo. — Fala a senhora Green enquanto colocava algumas mechas do cabelo castanho claro quase dourado de sua neta atrás da orelha. — Eu estava com o Vincent lá na cozinha enquanto você organizava seu quarto. Como o tempo passou e você não desceu, tive que verificar se estava viva. — Diz a vó da menina, dando um leve riso.

Violet ri de volta.

— É. Eu acho que exagerei um pouco. — Diz ela. — Então, o Vincent já foi embora?

— O Vincent? Ah não, ele vai ficar para o jantar. — Responde Amelie acariciando o rosto da neta, se levantando logo depois.

— Vou estar lá embaixo lhe aguardando. Não demore. — Fala ela saindo do cômodo.

Violet sai da cama, vai até seu guarda roupa, pega uma toalha e se dirigi até o banheiro.

Ela acende a luz. O banheiro pessoal da garota era totalmente branco. De frente para a ela havia uma pequena pia com um espelho na parte de cima. Do lado direito havia o box e próximo a ele o vaso sanitário. A única coisa que se destacava naquele ambiente era um jarro com uma pequena orquídea rosa artificial localizada no lado direito da pia. Violet pega a planta, olha em volta. Sua vó com certeza tinha caprichado ali. Na verdade ela caprichada em tudo que fazia. Sempre foi assim.

A garota coloca a planta em seu lugar e pendura a toalha próxima ao box, despindo-se e entrando no mesmo.

~◇~

Saindo do banho, Violet abre seu guarda roupa pegando as primeiras peças que vê: Uma blusa de moletom cinza de mangas longas e uma calça jeans preta. Ela troca-se e calça seu par de tênis all star preto. Penteado os cabelos rapidamente, ela sai do seu quarto e caminha pelo corredor. Ao chegar perto da escada o conhecido lustre chama-lhe a atenção novamente. Estava aceso, iluminando o local.

A garota desce a escada. Parando no final dela para admirar a grande janela localizava bem no meio. As cortinas feitas com um tecido fino e branco, semelhantes as do seu quarto davam mais beleza a janela. Violet se aproxima e observa por mais um tempo. Ela toca no tecido macio da cortina, dando uma olhada no que acontecia no lado de fora logo depois.

— Senhorita Green?

A menina é surpreendida, virando-se rapidamente para a direção da voz.

— Desculpe senhorita, mas a sua vó está lhe esperando. — Diz uma mulher alta, loira e bem afeiçoada.

Violet desce rapidamente a escada principal e vai até ela.

A loira sorri.

— Sua vó falou tanto de você. É mais bonita pessoalmente, eu diria. — Diz ela sorrindo. — Meu nome é Elizabeth. — A mulher estende a mão. — Sou a governanta da casa.

A garota aperta a mão dela e sorri.

— Muito prazer Elizabeth. Não sabia que minha vó tinha uma governanta.

A mais velha sorri mais uma vez.

— Bom, fui contrata quando você não estava aqui. Faz um tempo.

Violet assenti, simpática.

— Se está aqui há muito tempo minha vó deve gostar de você. — Afirma a menina sendo sincera.

Elizabeth por sua vez ri um pouco.

— Bem, vamos logo. Sua vó não pode esperar mais.

A governanta pede que ela a siga e logo as duas estavam andando pelos corredores da mansão. Aquele lugar era enorme. Como faria para não se perder por ali? Até o simples fato de se levantar a noite para beber algo se tornaria a tarefa mais complicada do mundo naquele lugar.

As duas dobram um corredor e chegam à sala de jantar.

— Violet, finalmente chegou. Venha, sente-se aqui ao meu lado. — Fala Amelie, apontando para a cadeira ao seu lado.

A menina escuta sua vó e faz o que ela pede. A sala de jantar era pequena comparada aos outros cômodos da mansão.

— Vejo que conheceu a Elizabeth. Ela não é muito legal, mas cozinha bem. — Fala Vincent, colocando a mão ao lado do rosto, fingindo está contando um segredo sobre a governanta.

— Oh fique quieto Vincent! — Diz a loira dando uma leve tapa no ombro do rapaz que sorri com a atitude dela.

Violet não evita e também sorri com aquilo.

— Bom, me deem licença, eu estarei na cozinha para verificar se tudo está em ordem. — Declara a governanta.

— Tudo bem Elizabeth. Obrigada. — Agradece a senhora Green.

Elizabeth se retira.

— Bom, agora que Violet está aqui, podemos jantar. — Fala a mais velha sorrindo para a menina.

~◇~

Sentada no sofá na janela de seu quarto, Violet observava a noite. Com a cabeça encostada no vidro, ela sentia a brisa suave vir de encontro ao seu rosto. A garota fecha os olhos. Novamente os pensamentos tomam sua mente.

Até agora ela estava indo bem. Tudo ia bem. Não havia chorado desde que tinha chegado e até deu alguns risos e sorrisos verdadeiros. Talvez morar com sua vó fosse a melhor solução para superar a dor. Sem contar que Violet a amava muito e isso com certeza contava bastante.

Talvez aquele ambiente novo fosse o local ideal para lhe proporcionar novas e boas lembranças. Bons e novos momentos. Não que as antigas memórias não fossem importantes ou boas, mas a menina precisava de algo novo. Algo que não lhe recordasse ela. Não queria esquecê-la, nunca, jamais. Violet apenas queria sarar a ferida, queria que seus olhos não lacrimejassem quando visse uma foto ou quando alguém falasse de sua mãe. Não queria sentir o vazio e a dor que insistiam ficar ali, em seu peito.

Violet abre os olhos. Olha para a rua. Estava deserta.

Ela decide sair dali e ir para cama. Deveria encerrar aqueles pensamentos. A garota não queria mais sofrer com a perda. Violet apenas desejava um novo começo.