Ira

Peguei um pote de pipoca e comecei a comer em grande quantidade. Ouvi Mammo conversando com Bel enquanto Leva e Gula estavam lutando contra as Precures. A mesma reclamação de sempre como se estivessem, e estão, loucos para que a dupla saia das nossas vidas.

Aff, até quando eles vão ficar aqui?

Provavelmente até o Rei Jikochu se cansar das derrotas deles.

Olhei para ambos os dois.

Devem estar entediados de ficar aqui esperando tudo acontecer como queremos. Se bem que não faz sentido estarmos aqui sem fazer merda nenhuma enquanto os idiotas ainda não conseguiram dar um jeito nas Precures.

Espero que o "Reizinho" esteja planejando alguma coisa para nos jogar de escanteio.

Vocês não se cansam de falar deles? Já basta quando estão aqui.

Percebi um enorme silêncio que emanou e os dois me olharam como se estivessem me observando. Sempre adorei ser o centro das atenções, mas normalmente é quando se trata de ver e ser o causador do sofrimento dos outros.

Mammo foi a primeira a abrir a boca.

Ira, onde você tem ido?

Cuida da sua vida! Não te devo explicações.

Respondi indignado com todos os questionamentos que começam a vir com mais frequência. Parece que agora, só sabem me perguntar isso!

Mas com essa Pysche, até o Rei Jikochu vai querer saber.

De relance, entendi a preocupação deles. Faz algum tempo que deixei de me preocupar com a Psyche e de imaginar como estaria. Como ando ficando muito na casa de Rikka, acabo tirando todas as preocupações daqui enquanto estou lá.

Tenho que dar um jeito antes que me foda por causa disso.

O que tem... Minha Pysche?

Engoli em seco, morrendo de medo da resposta. Mesmo sabendo qual é, algo em mim não acredita e não confia que seja notável.

Não sei o que anda aprontando, mas recomendo a parar antes que o Rei Jikochu perceba a sua Pysche purificada.

Encolhi os ombros. Tentei mostrar o máximo possível que não fui atingido com suas palavras mesmo sabendo que eles perceberiam.

Observei Rikka estudando. Pensei no que Bel me disse mais cedo e senti uma pontada no peito. O que estou fazendo? Devia estar no esconderijo reclamando e enchendo a paciência de Mammo, jogando boliche ou fazendo qualquer merda, mas não, estou aqui com ela de novo como quase todas as noites da semana passada. E... Estou fodido... Enquanto ela segue sua vida, continuo sendo apenas um passa tempo e indo ao fundo do poço por essa garota. Que idiotice!

Me deitei na cama e fiquei observando os movimentos de sua roupa. Quero estar com ela, mas posso morrer por esse desejo doentio. Desde quando virei um merda?

Virei para o outro lado, tentando esquecer de tudo o que podia acontecer. Não quero mais essas preocupações! Não quero mais ter que viver assim. Será que essa mudança é por causa dela?

Parei um pouco os meus pensamentos para reparar nos passos dela vindo até mim e sentir a cama pesar um pouco com seu peso.

— Você está bem?

— Tô, tá tudo ótimo. Agora me deixa e termina logo de estudar.

Evitei qualquer troca de contato com ela. Não sei se tenho raiva dela ou de mim por estar nessa. Com certeza ela vai ir pra longe de mim quando perceber que não está seguro como gosta. Com certeza quem vai ter que se virar sozinho sou eu.

— Ah, é? Então vou ficar aqui mesmo.

Percebi que ela se deitou. Por seus movimentos, não foi difícil entender assim.

Querer estar perto de mim, foi quase como facadas no peito. Quero só pedir para que vá e suma da minha frente, mas por um lado, me perguntei:

Ela... Está fazendo isso mesmo?

Sua mão passou por minhas costas e parou segurando minha camisa, mais ou menos na região do peito. Seu corpo ficou mais próximo de mim e eu só senti minha mente se perturbar mais do que antes como se o silêncio, dessa vez, não fosse suficiente.

Ouvi o doce sussurro da sua voz dizendo:

— Estou aqui, caso precisar.

Resolvi reagir. Segurei sua mão e me virei ficando de frente a ela.

Devo falar, pelo menos por ela querer saber, tenho que dizer!

Chamei por seu nome e ouvi, pela primeira vez na vida, alguém me responder com carinho e compaixão. Isso aqueceu meu peito. Nunca imaginei gostar tanto de ouvir ser chamado pelo meu nome. Ainda mais com olhares tão empáticos e um sorriso tão acolhedor e gentil. E pela primeira vez nesse dia, consegui dar um sorriso e realmente aproveitar seus avanços em mim.

Aproveitei para pegar sua mão e esfrega-la de leve no meu rosto.

— Só você mesmo.

Rikka riu e concordou. Respirei fundo antes de tomar a pergunta para ela. Estou falando que eu estou fodido, mas e ela? Será que está na mesma que a minha?

— Não tem medo das suas amigas te foderem por você estar comigo?

Confesso, meu medo foi maior em perguntar a ela e descobrir tudo do que na resposta. Talvez estivesse perguntando mais pra mim do que pra ela.

— Não. Não acho que elas vão me fazer mal. Talvez fiquem surpresas e até mesmo bravas por um tempo como Raquel, mas nada além disso.

Tinha esquecido que o bicho de pelúcia já fez as pazes com ela e voltaram a conversar e conviver esses dias.

O vazio preencheu meu peito. Diferente de mim, Rikka tem quem esteja com ela mesmo sendo contra.

Com certeza, o mundo de dela é muito diferente do que vivo.

Rikka segurou meu queixo e quase jogou seu rosto contra o meu. Foi tão rápido que só em alguns segundos após entendi que tinha feito isso para me beijar.

Meu rosto queimou. Nunca esperei ela ter a atitude entre nós.

O máximo que consegui fazer foi me afastar, ser parado pela parede e começar a gaguejar tentando responder de alguma forma.

Merda!

— Sabia que você é uma graça?

— Idiota!

Se aproximou de mim para sussurrar quase tocando meus lábios.

Isso deve ser provocação, só pode!

— A idiota que você ama?

— Cala a boca!

A puxei para mais perto do meu corpo e logo, consegui ficar em cima dela.
Peguei o controle total da situação para mim. A beijei várias vezes enquanto senti suas mãos envolver em minhas costas lentamente.

Quando paramos, Rikka sorriu.

— Tinha que ser.

— Quem manda agora sou eu.

Brinquei.

Ela lançou um ar duvidoso em sua voz, o que se tornou ainda mais divertido e desafiador, mas também com um certo medo. Sim, ainda de arriscar demais sem saber o que vou receber em troca.

— Rikka.

— Un?

Pensei um pouco em como falar com ela sobre o assunto ou em pelo menos entender melhor sobre nós dois, mas admito ter desistido. A única resposta que tive a ela foi um belo nada.

Não posso... Não agora.