We!

Sherlock&Molly


7 – 8 anos

Sempre disseram para Molly Hooper que aquele menino do final da rua era esquisito. Na maior parte da conversa dos adultos que ela conseguiu ouvir, ela só pode escutar preocupações e especulações sobre aquele garoto. Uns diziam que ele devia ter algum tipo de desvio de personalidade ou mental, seja lá o que fosse isso; outros diziam que ele tinha sido mal criado mesmo. Nenhuns dos pais gostavam ou deixam seus filhos interagirem com o garoto do fim da rua. E o pai de Molly não era exceção: ele dizia sempre dizia que não era para ela se misturar com ele, que aquele garoto era problema.

Mas Molly não conseguia entender por que.

Esse particular menino de que todos sempre falavam e olhava torto era uma das pessoas mais incríveis com quem Molly já conversou. Esse menino de cabelos cacheados e olhos estranhos, ora eram verdes ora eram azuis (Molly ainda não sabia como isso era possível), era extremamente interessante e intrigante. Ele era misterioso, mas muito legal, pelo menos era o que ela achava. E o mais importante de tudo, o que a convenceu de que ele era uma pessoa diferente, em um bom sentido: ele não achava seu interesse por bichos mortos tão estranho quanto as outras pessoas.

“É legal fazer experimentos com eles” foi o que ele disse quando a viu cutucando com um passarinho morto com um graveto. Ele deu um sorriso torto e se agachou do lado dela, “Eu já descobri várias coisas estudando eles.” Molly não conseguiu desviar o olhar daquelas írises multicolor, e até hoje ela achava difícil não se perder nelas. Ela segurou a respiração e ficou imóvel. Ela não devia estar falando com ele, se sua mãe visse era uma semana sem ir ao parque! Mas ainda sim... “Você não fala?” ele perguntou curioso.

“É claro que eu falo!” ela respondeu brava de imediato e ele exibiu um sorriso de satisfação por conseguir faze-la falar.

“Sherlock” ele se sentou voltando os olhos para o bicho estirado no chão, parecendo agora mais interessado no animal morto do que na menina ao seu lado.

Depois de um tempo em silêncio, olhando aquele menino, que agora tinha um nome – e que nome estranho! –, ela respondeu “Molly”

“Eu sei.”

“Como você sabe?” Molly perguntou curiosa e isso fez com que Sherlock voltasse a atenção para ela com as sobrancelhas arqueadas com um pequeno sorriso superior.

“Do mesmo jeito que eu sei que você gosta de coisas mortas”

“Hã? O-qu-qu...” ela gaguejou nervosa, soltando o graveto e arregalando os olhos de medo. Ela sabia que as pessoas não podiam gostar de ‘coisas mortas’; foi o que sua mãe disse quando a pegou olhando fascinada para um inseto morto: isso era errado, não era comum, e muito menos coisa de garota!

“Não precisa mentir.” Sherlock disse tranquilo, pegando o graveto que ela tinha soltado e o usando para trazer o corpo mais perto, “Eu também gosto”

Foi nesse momento que Molly percebeu que Sherlock não era comum, e por isso as pessoas não gostassem muito dele. Mas ela gostava! Talvez ela não fosse comum também.

De uma hora para outra Sherlock Holmes era seu melhor amigo. Mesmo que ela não pudesse contar para os seus pais ou para qualquer outro adulto sobre, por que, por algum motivo, isso era errado. Mas Sherlock era o resumo das suas tardes. Molly era amiga do garoto estranho do final da rua e ele era especial para ela.

Sempre que sua mãe a deixava ir brincar na rua ela sabia que iria encontrar Sherlock encostado em uma pequena mureta, no parque, escondida da vista de todos. Ele sempre estava ali, sempre que ela podia sair ela sabia que ele estaria ali! E Molly já havia se perguntado se ele também ficava ali quando ela não podia sair.

Molly amava a companhia de Sherlock. Eles sempre conversavam, e o garoto tinha mania de falar muitas coisas em uma velocidade incrível. Só que isso não a incomodava. Molly sempre aprendia algo novo em todo encontro, era sempre uma palavra nova ou uma informação que nenhum adulto iria lhe dizer.

“Estou te dizendo, o mundo todo é simplesmente governado assim!” suas pernas balançavam no alto da arvore e Molly o olhava lá de baixo, “Provavelmente Mycroft entende mais disso do que eu, mas eu sei um pouco.”

“Quem é Mycroft?”

“Meu irmão.” Ele falou com desdém e Molly não pode deixar de notar um pouco de tristeza nos olhos dele.

“Então...” ela disse depois de um tempo quebrando o breve silêncio, “esse negócio de nome estranho é de família?”

Molly pode ouvir o riso abafado dele enquanto pulava da árvore, “Muito engraçadinho” Sherlock zombou “Bobona!”

Sherlock só tinha 8 anos, mais entendia tudo e todos. Ele sabia todos os segredos que os outros escondiam de Molly, e todos os segredos que ela escondia dele. Ele sabia que os pais dela não a deixavam ficar com ele, e ele ainda sabia que Molly era corajosa ao bastante para ficar com ele.

O mundo antes de Sherlock era enigmático e às vezes estranho muitas vezes Molly não entendi as coisas. Mas Sherlock sempre sabia todas as respostas para suas perguntas, às vezes até sabia suas perguntas antes mesmo dela ter a chance de perguntar. Molly não achava isso estranho (estranho era o mundo a sua volta), ela se acostumou com Sherlock daquele jeito e por algum motivo ela adorava isso.

Tudo que queria ele conseguia. Sherlock sabia como convencer qualquer outra criança a fazer algo para ele, e ela já havia o visto enrolar adultos umas 3 vezes. Talvez por isso ninguém gostasse dele: o menino era esperto! E ele se esforçava ao máximo para fazer de Molly uma garota esperta.

Sherlock por sua vez não se sentia inconfortável perto dela, Molly podia notar isso. Sherlock era um excelente garoto, excêntrico talvez, mas era uma boa pessoa.

“Posso te chamar de Sherl?” a menina perguntou com a maior inocência, falar o nome dele era um pouco complicado, e é uma coisa normal dar apelidos para os amigos, não?

Ele a olhou um pouco bravo e respondeu em um tom provocativo “Só se eu puder te chamar de Molls.” Sherlock se sentiu satisfeito com a resposta, tinha mostrado para a menina o quanto apelidos eram ridículos.

Bem, isso o que eu achava, até ela responder tão inocente quanto a pergunta anterior parecendo até um pouco feliz, “Você pode.”

“Não.” Ele respondeu seco e com uma cara fechada, “Nunca me chame de Sherl.”

Depois dessa conversa Molly só foi chamar Sherlock por esse apelido aos 13 anos. Ela achou hilária a reação dele e desde então o chamava assim quando queria irrita-lo.

Sherlock ás vezes parecia triste por alguns segundos, quando achava que ninguém estava vendo, quando achava que Molly não estava por perto. E mesmo sendo nova, Molly podia ver que por mais que Sherlock dissesse que não se importava com que os outros falavam dele, aquilo o afetava de alguma forma. Ela odiava isso! Sherlock era uma boa pessoa, era um bom amigo, ele só era diferente. Isso não era motivo para as pessoas o tratarem mal ou o excluírem.

“Eles não gostam de você” Molly disse uma vez enquanto eles olhavam as outras crianças brincando no parque. Sherlock esteve particularmente quieto naquele dia, não havia falado uma palavra nova nem insultado alguém. Ele só estava parado na mureta como sempre, esperando por Molly, e quando ela chegou ele só caminhou com ela.

“Eu sei” Sherlock respondeu impassível.

“Por que Sherlock?”

Ele demorou a responder, seus olhos procuravam uma melhor resposta. Era como se ele observasse uma pintura para poder explicar o seu significado bonito para Molly, mas não tinha nenhuma outra resposta do que aquela, “Por que eu não sou como eu deveria ser.”

Sherlock sabia que aquela reposta doía mais em Molly do que nele; ele sabia o quanto ela queria que as pessoas gostassem dele como ela gostava e que as pessoas o entendessem. Ele sempre tentava ser menos ‘ele’ com ela, isto é, menos realista e pessimista, mas naquele particular dia Sherlock não sentia vontade nenhuma em agradar Molly.

Essa era a verdade e ele já havia se conformado com isso.

“E isso é ruim? Não ser como você deveria ser?”

“Isso é ameaçador para eles.” Ele respondeu seco.

“Eu não tenho medo de você” ela respondeu de imediato em uma desesperada necessidade de informa-lo disso.

“Eu sei.” Foi a primeira vez que Sherlock a olhou com um sorriso no canto dos lábios naquele dia. Molly com certeza não era como os outros e ele sabia disso. Ela era especial. Ela podia não o entender por completo e nem conseguir o acompanhar em seus pensamentos rápidos, mas ela gostava dele de verdade. E Sherlock, mesmo não tendo muita experiência de vida ou algo parecido, sabia que isso era raro, ainda mais para uma pessoa como ele.

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15 – 16 / 16 - 17 anos

Para Molly só existia uma coisa melhor do que ir para escola, ainda mesmo quando era dia de aula de biologia: era ir andando para a escola com Sherlock.

Aos 15 anos Molly era considerada propriamente o que muitos chamavam de ‘nerd’: ela gostava de ir para a escola e aprender a cada dia alguma coisa nova. Claro que, como qualquer outro adolescente revoltado, havia momentos em que Molly queria que certos professores calassem a boca. Porém ela sentia certo prazer em ir para escola. Provavelmente Sherlock foi o grande responsável por essa sua sede por conhecimento.

Sherlock por sua vez não suportava nenhum dia de aula e ele adorava deixar isso bem claro para todos: Molly, seus pais, os professores, o direto e qualquer outra pessoa que o perguntasse. Ele achava desnecessárias as informações que tentavam passar para ele, até as de química, por que ele já sabia qualquer experimento infantil que o professor quisesse ensinar!

Holmes foi suspenso diversas vezes. Ameaçado de ser expulso por indisciplina pelo menos 3 vezes. Seus pais não ficavam 1 mês sem ter que ir conversar com o diretor, e eles se perguntavam se não era melhor Sherlock ter seu ensino feito em casa. Só que o garoto concordava com Molly: não havia nada melhor no dia do que caminhar com ela para a escola. Por isso ele não podia abrir mão da escola.

De segunda a sexta Sherlock estava em frente à cassa de Molly, na calçada do outro lado da rua esperando pela garota. Os pais de Molly uma hora descobriram sobre a amizade dela com o ‘menino estranho’, e por mais que eles não achassem que ele fosse boa companhia para sua filha, eles acabaram aceitando sem muita briga. Contudo Sherlock não deixava de esperar por Molly há uma distancia da porta da casa dela.

Todos os dias de semana era a mesma coisa: Molly saia de casa e sua mãe a acompanhava até a porta. A senhora Hooper lhe dava um beijo na testa e a desejava um bom dia, Molly dizia adeus e ai contente ao encontro de Sherlock do outro lado da rua. O garoto por sua vez sempre estava lá minutos antes dela sair, observando a cena toda, e ás vezes dava um sorriso sem jeito para a mãe de Molly quando ela ficava o encarando demais.

Ele não tinha medo da mãe dela ou do pai. Também não fazia questão em ter algum contato com eles ou frequentar a casa de Molly. Mas Sherlock sabia que Molly se importava, ela ficava muito chateada quando seus pais implicavam com ela sobre a amizade com deles, e por isso ele fazia o máximo que podia só para agradar Molly.

“E se eu não sair de casa?” ela perguntou sem perder o ritmo dos passos.

“Como assim?” ele a olhou confuso.

“Meu pai me perguntou hoje o que você faria se eu não fosse à aula um dia. Se você iria ficar parado ali o resto do dia.”

“Claro que não! Eu voltaria para casa...” ela virou o rosto para lhe fazer uma cara de reprovação e Sherlock não segurou o riso, “Eu não iria para aula se é isso que você estava pesando!”. Molly não pode deixar de rir com a total sinceridade dele.

“Foi exatamente isso que eu respondi a ele.” Molly disse por fim e eles continuaram caminhando em direção ao colégio. Só que ambos agora exibiam um sorriso bobo.

No colégio eles mal se viam. Além de estar em séries diferentes a escola era separada em duas alas: meninos e meninas. Quase todo dia ela ouvia Sherlock reclamando e criticando esse sistema idiota da escola.

“Se duas pessoas quiserem fazer algo não vão ser alas diferentes que vão os impedir!” Sherlock sempre se exaltava quando criticava alguma coisa que achava absurda ou que sabia estar errada (ele sempre se perguntava por que as pessoas não o escutavam. O mundo seria muito mais correto). “Para falar a verdade separar só fazem os adolescentes querem fazer lago ainda mais. É um fato cientifico que os adolescentes entre 15-19 tendem a desafiar...” e assim começava toda explicação baseada em fatos, estatísticas e explicações sobre o comportamento humano que Molly era obrigada a escutar. Ela não se irritava com aquilo, para falar a verdade, ela achava engraçado.

Seu amigo sabia tudo sobre as pessoas na teoria. Mas só na teoria.

E ele estava certo! Quando duas pessoas queriam fazer algo, elas faziam. Ainda mais se uma dessas pessoas fosse Sherlock Holmes. Sem muito esforço ele elaborou algo bem simples para se comunicarem durante os intervalos das aulas, ele até tinha um plano que possibilitava eles se verem, mas Molly achava isso muito arriscado. Enfim, havia um ponto em que ambos tinham acesso em horários intercalados, e ali, escondido da vista de todos, Sherlock conseguiu fazer uma falha na parede de tijolos, o que permitia com que bilhetes ficassem escondidos.

Era assim todos os dias. Ela sempre tinha intervalos antes dele, e a primeira coisa que fazia era sair da sala com um bilhete já pronto para esconder no local onde ele a ensinará. A maior parte dos bilhetes eram coisas fúteis, Molly sempre abordava assuntos triviais, como: “Aprendi como fazer uma casa de passarinho na aula de Trabalhos Manuais. Não é tão chato quanto parece - MH” “Como você está? Alguma coisa interessante na sua aula? - MH” “Eu ouvi algumas pessoas comentando sobre você. - MH” “Não gosto muito do professor de álgebra - MH”

E Molly estava acostumada com um tipo único de resposta dele: “Entediado - SH”. Algumas vezes ele se dava ao trabalho de responder as perguntas dela da forma mais descente que ele conseguia, mas na maior parte das vezes ela só recebia essa única palavra. Ela se perguntava por que eles continuavam trocando mensagens se ele tendia a ser tão monossilábico. Mas Molly sabia que essa era única forma de manter Sherlock na escola.

Infelizmente eles não podiam voltar juntos, o horário dele não batia com o dela e ele tinha que ficar mais tempo na escola. Por mais que Sherlock insistisse em matar a ultima aula para poder acompanhá-la, com a desculpa de que ele não prestava atenção em nenhuma aula mesmo, Molly o obrigava a ficar. E por incrível que pareça ele ficava, em sua mente era como se ele estivesse respeitando o desejo dela, por mais que não entendesse por que ele queria respeitar o desejo dela.

A adolescência, para Molly, em suma não era tão chata quanto para Sherlock.

Eles eram completamente diferentes. Enquanto ela tinha um lado tão otimista e fofo de ver a vida e tudo, Sherlock mantinha seu pensamento no fatalismo da sociedade e como tudo e todos eram falsos. Sherlock gostava das coisas obscuras e estranhas, coisas que geralmente as pessoas têm medo, e algumas até Molly tinha medo.

O jeito introvertido e misterioso dele só aumentou com o tempo. Ele aos 17 anos sabia ler uma pessoa como se lesse uma folha de papel, e tinha mania de prestar atenção em tudo a sua volta em silêncio. Seu temperamento abusado de infância só piorou: Sherlock agora se intrometia na vida de qualquer um que ele quisesse e sabia de tudo em segundos . Grande parte das pessoas que sabiam quem era Sherlock Holmes o odiava, mas não tinha uma que não admitia a sua genialidade precoce.

Só havia uma pessoa que gostava daquele garoto chato e abusado por completo: Molly.

Molly, ao contrário de seu melhor amigo, era uma pessoa quieta. Muitas pessoas mal sabiam quem era Molly Hooper, mas quem a conhecia sabia como ela era a menina dos olhos de seus pais. Ela era mais extrovertida que Sherlock, conversava com as pessoas com uma paciência que poderia ser invejada pelo amigo, isso se ele desejasse ser paciente. Molly na escola não tinha as melhores notas, mas com certeza se esforçava, e tudo mundo podia notar isso.

Molly Hooper sabia que seu futuro dependia de sua adolescência: ela queria ser médica e tinha que se esforçar para isso. Sherlock Holmes sabia que sua adolescência só era um momento chato e desnecessário que ele tinha que enfrentar até ser adulto e poder fazer o que ele quisesse; ele nunca iria seguir uma profissão entediante e comum que todos queriam seguir.

Mas mesmo sendo tão diferentes os dois se davam muito bem. Os dois passavam horas conversando sobre qualquer coisa no telhado da casa de Molly. Sempre que ela tinha tempo, por que Sherlock estava sempre disponível (ele não se importava em estudar ou em nada trivial da vida de um adolescente), ele pulava o muro do quintal da casa dela e subia na árvore perto da sua janela. O combinado entre eles eram três batidas no vidro, e então Molly aparecia para vê-lo e ambos ficavam na parte plana do telhado conversando.

Algumas vezes Sherlock contava para Molly sobre suas ultimas descobertas, ou sobre alguma aventura em que ele me meteu para descobrir algo. Ele até chegou a contar sobre como ele já havia ajuda a polícia inglesa uma vez, e quando Molly sugeriu isso como profissão ele chegou a ficar ofendido, “A polícia inglesa é idiota e estúpida. Nunca me compare a eles.”.

Ela sempre ria e gostava das historias dele. Molly aproveitava para contar sobre o seu dia, sobre as pessoas com quem conversava e sobre os seus problemas familiares. Sherlock nunca dava opinião sobre esses assuntos, mas ouvia com toda atenção do mundo, pois sabia que Molly queria conversar com alguém, e ele queria ser esse alguém.

Ela se sentia feliz pelo amigo se mostrar interessado pela sua vida, mas lhe chateava um pouco com o fato dele não querer compartilhar a sua vida com ela.

Molly talvez fosse a pessoa que mais soubesse dos problemas que Sherlock tinha com a sua família, e ainda assim ela sabia muito pouco. A relação dele com os pais e o irmão era complicada, e mesmo ela não sabendo o porquê disso, Molly sabia que não era crise normal de pais com filhos adolescentes. Algumas vezes Sherlock deixava escapar comentários sobre os problemas que ele tinha em casa, mas Molly nunca conseguiu formar uma teoria solida sobre.

De um modo relativo as coisas eram boas para eles. A vida passava sem muito incidentes, tirando as loucuras que Sherlock fazia, e eles cresciam juntos, a cada dia contando com a amizade de outro. Mas há calmaria antes da tempestade!

Tudo era bom, até as coisas começarem a desmoronar.

“Eu não estou muito bem, Sherlock - MH” Foi o que dizia bilhete que Sherlock encontrou um naquele dia. Nada tinha sido diferente até então. Molly e ele caminharam para a escola juntos comentando sobre como a palavrar ‘gostar’ era muito relativa, e ele tinha certeza que Molly até chegou a insinuar algo para ele, mas como sempre, com aquele jeito indiferente de ser, Sherlock havia ignorado tal comentário e eles continuaram a caminhada com as conversas habituais.

Era o primeiro intervalo de aula de Sherlock. A aula de inglês havia o esgotado e a primeira coisa que ele fez ao botar o pé para fora da sala de aula foi correr para o muro onde estaria escondido o bilhete de Molly. Por mais que ele soubesse que nele estaria contida uma frase bem comum e desnecessária sobre o dia dela Sherlock sentia prazer em saber esses pequenos pensamentos que ela resolvia compartilhar.

Tudo estava comum, até aquele bilhete.

A respiração de Sherlock sumiu por um momento e a sua mão vacilou ao segurar o papel. Antes que ele pudesse pensar em algo, Holmes saiu em disparada ao prédio onde Molly estudava. Ele só conseguia pensar em encontra-la e nem se preocupou em se esconder de qualquer disciplinaria que pudesse o encontrar andando onde ele não podia estar.

Não demorou muito para que ele a encontrasse sentada em um banco perto da secretaria. Os olhos delas se arregalaram quando ela o notou ali, mas antes que pudesse protestar Sherlock se ajoelhou em sua frente, segurou o seu rosto em suas mãos e falou um pouco desesperado.

“Molly, o que aconteceu? O que você está sentindo?”

“Sherlock se te pegarem aqui nós dois estamos perdidos!” ela respondeu assustada, tentando desvencilhar seu rosto das mãos dele para ver se havia alguém no corredor.

“Se concentra na minha pergunta! O que aconteceu?” ele segurou seu rosto mais forte e começou a observar cada detalhe. Os olhos de Molly estavam fundos, ela estava um pouco fria, pelo seu hálito provavelmente ela tinha vomitado e sua pressão deveria estar bem baixa, “Você está pálida.”

“Eu não sei Sherlock, mas você não devia ter vindo aqui. Você vai se meter em confusão!”

“Eu realmente não me importo com isso agora, eu só...”

No mesmo instante no final do corredor apontou uma disciplinar e Molly não pode evitar olhar assustada quando a mulher gritou, “O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?!”

“Ignore ela! Me diz o que você está sentindo? Quer que eu te leve embora?”

“Não precisa Sherlock, eles já chamaram meus pais.” Ele nem tinha se dado ao trabalho de olhar a mulher que tinha sumido no corredor para provavelmente chamar alguém, mas Molly estava agora mais preocupada com ele do que com ela, “Acho melhor você ir embora antes que ela volte.”

“Eu não vou te deixar! Você está muito pálida Molly, alguma cosia está errada. Eu preciso saber o que é” Sherlock estava preocupado demais com a garota a sua frente para perceber duas mulheres se aproximando dele. Isso até uma pegá-lo pelo braço, forçando-o a levantar e a outra puxar a sua orelha, “HEY! Isso dói!”

Ele tentou puxar um pouco, mas sabia que se ele fizesse força demais as coisas poderiam ficar piores para ele e para ela. “MOLLY!” Sherlock gritou enquanto elas o afastavam da menina pelo corredor e ele via uma terceira moça aproximar dela, “Me solta!” Sherlock protestava arduamente. Ele podia ver o olhar dela preocupado sobre ele de longe, “MOLLY!” ele tentou gritar mais uma vez antes de sumir do corredor, “EU VOU À SUA CASA ASSIM QUE SAIR DAQUI!”

Logo os pais de Molly chegaram para busca-la, e Sherlock já tinha sido encaminhado para a diretoria. Lá ele esperou quase o período de aula todo até que seu irmão o fosse buscar. Sherlock ficou um pouco surpreso ao ver Mycroft no lugar dos pais, mas esse não lhe dirigiu a palavra em nenhum momento. Ele apenas falou com o diretor levou Sherlock para casa, deixando-o sobre os cuidados dos pais.

Enquanto Molly descasava em seu quarto, imaginando que horas Sherlock iria bater em sua janela, ele estava em casa ouvindo o que seus pais falavam. Ele sempre respeitou seus pais, por que ele achasse que eles não o entendiam. Mas única pessoa da família que lhe dava realmente raiva era Mycroft, que sempre ficava sentado ouvindo toda a lição de moral que os pais deles falavam, e só abria a boca para acrescentar mais defeitos de Sherlock.

A verdade era que seu irmão sabia e conhecia muito ele, até mais do que Sherlock desejava.

A noite caiu rápido, Molly nem viu o dia passar e só notou o céu escuro lá fora quando ouviu três batidas na janela. Era ele!

“Eu disse que vinha.” Sherlock disse com um sorriso largo e estendeu sua mão para ajuda-la sair pela janela para se sentarem juntos no telhado.

“Você tem que parar com essa mania de subir nas coisas! Uma hora você pode cair.” ela riu enquanto se ajeitava do lado dele, abraçando as pernas e apoiando o queixo em cima dos joelhos.

“E quem disse que eu não quero cair?” ele se sentou do mesmo jeito, rindo mais do que ela até que recebeu um tapa forte no ombro por causa da frase.

“Não brinque com essas coisas Sherlock.”

“Só estou dizendo que cair deve ser como voar por alguns segundos.” Sherlock continuou a provocando com um sorriso grande nos lábios e ela não conseguia evitar o próprio sorriso. Ele gostava demais daquele sorriso, “O que não é tão louco de se pensar, faz sentido.”

Eles ficaram por um tempo quietos enquanto olhavam o céu. Não havia nada de bonito na imensidão azul aquela noite: as estrelas tinham sido escondidas, a lua parecia quase apagada e só havia escuridão de fora a fora. Molly pensou por um momento que nem o universo estava colaborando com a situação, mas ela não queria que Sherlock notasse isso.

“Espera, você só saiu agora do colégio?!” Ela perguntou tentando continuar a alegria.

“Não” ele balançou a cabeça rindo, mas logo aquele sorriso se desfez ao lembrar por que ele não tinha ido mais cedo visitar Molly “Meus pais me seguraram até agora...” ele estava mais sério, encarando a escuridão acima deles, “eles ficaram falando e falando como sempre.”

“Quer conversa sobre?”

“Na verdade não.” Sherlock soltou um longo suspiro e voltou os olhos para ela “Quero saber como você está.”

“Um pouco melhor.” Molly forçou um sorriso para ele. Ela realmente estava melhor, mas ainda sim não estava bem. Algo estava errado, mas ela não queria pensar demais sobre.

“Você prece melhor. Alguém descobriu o que você tinha?”

“Ainda não, devo ir ao médico amanhã.”

“Quer dizer que eu estou liberado da escola amanhã” Sherlock brincou e ela empurrou o ombro dele fazendo o rir por um momento, “Eu poderia descobrir o que você tem se você me falasse os sintomas.”

“Se formou em medicina, Dr. Holmes?” Molly o olhou de canto provocando.

“Você sabe que eu sou mais inteligente do que qualquer homem de jaleco branco.”

“E talvez apaixonado pela própria imagem mais do que Narciso.”

“Quem é Narciso?” Sherlock perguntou curioso e ela o olhou surpresa

“Você não... Ah! Esqueci, só coisa importante, não é?” ela apontou para cabeça dele e Sherlock concordou com a cabeça. É... Sherlock não devia perder tempo com a mitologia grega ou não tinha espaço em sua mente para guardar tal história.

Sherlock gostava de passar tempo com Molly, ela o entendia e o suportava e não por que era obrigada, mas por que realmente se importava com ele. E em pequenos momentos, como esses, garoto se lembrava de por que tinha permitido a menina entrar em sua vida: ela sempre foi especial e ele não podia perdê-la!

“Eu fiquei preocupado” Sherlock disse depois do silêncio de seus devaneios, olhando profundamente para ela. De alguma forma ele deixou toda sua aflição se demostrar naquela simples frase.

“Eu sei” Molly desviou o olhar, chegando mais perto do garoto e encostando sua cabeça no ombro dele. Tudo que ela sempre pedia para que ele era fosse sincero, mas Molly descobriu nos piores momentos que não suportava o olhar de dor dele quando ele era sincero. E naquela noite ela descobriu que era pior ainda quando esse olhar de dor era por causa dela.

“Eu estou preocupado.” Ele deixou seu rosto se apoiar na cabeça dela.

“Não fique, por favor.” Molly apertou os olhos desejando que tudo isso passasse e que eles só estivessem ali como uma noite qualquer, conversando sobre qualquer coisa boba, “Se você fica preocupado ai eu sei que tenho motivo para ficar.”

Sherlock envolveu seu braço nela e a puxou para mais perto. Eles ficaram ali sozinhos por um bom tempo, falando nada, mas pensando muito. Diversas coisas diferentes passaram pelas cabeças dos dois, mas havia um pedido comum em suas mentes: que tudo ficasse bem.

Mas nem tudo que se deseja é realidade.

O fato era que Molly não estava nem um pouco bem. E tudo indicava que ela não iria ficar bem tão cedo. Nas semanas que se passaram seu quadro foi se agravando. Molly faltou vários dias à escola, começou a visitar vários médicos diferentes e todos eles diziam que era prematuro fazer um diagnóstico sem exames mais complexos. Molly havia perdido o apetite, estava perdendo peso constantemente e tudo começou a ficar mais tenso quando apareceu sangue em seu vômito.

Todo mundo já desconfiava do que Molly tinha, mas Sherlock era o único que acreditava piamente que a menina não tinha nada parecido com essas ideias pessimistas.

O garoto nessa época passou a usar a porta da frente para poder visitar Molly. Ele ia ao quarto dela pelo menos uma vez ao dia, e ficava lhe contando sobre tudo que estava acontecendo lá fora. Sherlock contava que já tinha descoberto o que ia fazer da vida, e que já tinha até começado! Molly amou a ideia de ter um amigo ‘detetive consultor’, mesmo tendo certeza que essa profissão não existia, ela achou a ideia brilhante e ficava cada vez mais maravilhada com os casos que Sherlock contava que já tinha resolvido.

Sherlock realmente impressionou Molly nos messes em que ela teve que ficar em seu quarto em repouso, saindo só para ir a médicos e fazer exames. Ela tinha medo de que ele se afastasse e que sua personalidade pessimista o fizesse virar uma horrível pessoa naquele momento. Mas não, ele aguentou, ele fez o que pode para não se tornar o que der certa forma era inevitável. Sherlock fez o possível para não ser ‘ele’ perto dela e ele estava conseguindo.

Isso até o diagnóstico.

Dentro de 1 mês e meio foi confirmado que Molly Hooper tinha um tumor no estomago. Ao que tudo indicava era benigno, porém a possibilidade de cirurgia era muito ariscada e opção por essa via era algo a ser feito depois de muita discursão e analise dos outros possíveis métodos de tratamento.

As o clima era tenso na casa de Molly, ninguém estava bem. Sua mãe vivia querendo tomar conta dela, como se fosse um bebê, e a garota sabia que sua mãe chorava todas as noites achando que a filha conseguia ouvir. Seu pai continuava firme como sempre, tentando fazer o máximo para não desespera-la, mas toda vez que ela olhava em seus olhos ela podia ver o quanto eles estava se segurando.

Quanto a Sherlock, esse ela não viu desde o diagnóstico. Molly não teve a oportunidade de contar para o amigo sobre os resultados, na verdade ela ficou sabendo por sua mãe que o garoto tinha a procurado no mesmo dia em que eles descobriram sobre o tumor. Ele não pediu para ver Molly, só perguntou sobre o resultado e que quando ouviu ele simplesmente foi embora.

Molly não o culpava por essa reação, para falar a verdade ela meio esperava por isso uma hora ou outra. Sherlock nunca foi uma pessoa que soubesse lidar com seus problemas pessoais, pior ainda com o dos outros. Ele nunca gostou de se relacionar com as pessoas e nunca se esforçou para fazer isso. Sherlock sempre dizia a Molly que conviver e se importar é muito mais complicado do que as pessoas imaginam, e quando ela perguntava como ele poderia saber disso ele desconversava.

Sherlock sempre foi isolado do mundo. Ele era capaz de entender tudo a sua volta, mas sentimento era uma exceção. Molly nunca soube por que, mas o garoto tinha se afastado dessa área há muito tempo atrás.

A verdade era que os filhos dos Holmes aprenderam a não se envolver com as pessoas. Isso nunca foi culpa dos seus pais, eles eram boas pessoas e se esforçaram muito para criar dois garotos que nasceram com uma genialidade e personalidade fora do comum.

Mycroft de certo modo nunca deu tantos problemas. Ele já era tendencioso a não se misturar com as outras pessoas, nunca viu necessidade disso, mas com os pais ele nunca deixou de ser atencioso e respeitoso. O irmão mais velho de Sherlock realmente não sentia vontade de ter amizades ou de manter vínculos com outras pessoas que não fossem seus pais e seu irmão.

Porém Sherlock nem sempre foi igual ao irmão dele.

Sherlock sempre foi mais complicado. Sua inteligência era bem próxima do irmão, e o temperamento quase o mesmo, por isso muitas vezes os dois estavam brigando. O menino mais novo era de longe mais efusivo e revoltado com as coisas do que o mais velho, e sempre se metia em problemas por causa disso. Mas a maior diferença entre os irmãos Holmes era que Sherlock não sabia não ter sentimentos.

Ele não sabia não se envolver. E se envolver, para uma pessoa como Sherlock e Mycroft era uma das coisas mais perigosas que podia acontecer.

Mycroft sabia mais do que ninguém que seu irmão, na infância, era uma bomba relógio já armada. Não demoraria muito para que o mundo dele caísse. E um garoto como seu irmão, por mais que tentasse ser todo racional e frio como ele, estava vulnerável a decepção, por não saber se manter distante.

Ele não sabia observar sem se aproximar demais.

E isso aconteceu quando ele tinha 6 anos. A família Holmes perdeu alguém muito importante, e acima de tudo, Sherlock pela primeira vez perdeu alguém que ele amava. Mycroft soube lidar muito bem com a perda, mas o pequeno Holmes não.

Foi quando o seu irmão mais velho viu como Sherlock respondia a sentimentos mais fortes que ele decidiu que algo tinha que ser feito. Sherlock havia perdido toda sua racionalidade por causa de um sentimento e aquilo ficou perigoso demais aos olhos de Mycroft.

Então por dois anos Sherlock aprendeu a se distanciar do mundo e das pessoas, ele ficou determinado a ser que nem seu irmão: só mente e mais nada!

Isso até ele conhecer a menina de olhos castanhos. Ela mudou tudo.

Mycroft avisou várias vezes que isso não iria terminar bem, mas o jovem Holmes o ignorou todas às vezes. O que começou como um passatempo para Sherlock virou o único sentimento que ele se permitia ter. Ele ainda se controlava e não se entregava por completo àquela amizade, porém com o tempo Molly se tornou a única coisa que lhe prendia a humanidade e a todo mundo social.

Aquilo se tornou grande parte da vida de Sherlock, e Molly não sabia o quanto ele tinha medo de perder isso.

O quanto ele não podia perder isso. Ele não podia perder ela! Isso não poderia acontecer! E por um momento, quando ele realmente notou que ele poderia perder Molly Hooper sua racionalidade pela segunda vez se afastou e o mundo de Sherlock perdeu todo o sentido.

Ninguém ouviu falar de Sherlock por uns 2 meses. Ninguém o tinha visto nas ruas, no colégio ou em qualquer outro lugar. A mãe de Molly achava que ele tinha viajado, mas Molly sabia que ele não tinha exatamente para onde ir, ainda mais quando ficou sabendo que os pais deles ainda estavam na cidade.

O garoto simplesmente desapareceu do mundo, mas esse não era o maior problema de Molly. No momento ela estava focada em sua doença. Não ter Sherlock por perto era triste, mas ela não estava com raiva ou dando muita importância para isso, ela sabia que ele se preocupava e que quando tudo acalmasse ele estaria ali de volta.

Sherlock só precisava de um tempo, Molly falava isso para si mesma.

E foi exatamente o que aconteceu. Na metade do segundo mês Molly, junto com seus pais, decidiu optar pela operação. Era algo muito arriscado, mas Molly não queria continuar com os tratamentos alternativos e queria de uma vez por todas ficar livre disso. Era uma escolha lógica, Sherlock provavelmente concordaria com isso.

Os médicos não perderam tempo, no final do mês Molly foi operada. Foram às 6 horas mais longas e tensas que a família Hooper passou no hospital. O risco de alguma coisa dar errado era grande e eles esperaram aflitos cada minuto do lado de fora da sala de cirurgia.

Não é preciso nem dizer o tamanho do alivio que os pais dela sentiram quando o médico saiu da sala operatória para dizer que tudo ocorreu perfeitamente bem. Molly logo estava em um quarto de hospital para se recuperar da cirurgia. Tudo estava ok de novo, o pesadelo tinha acabado e tudo voltaria ao normal assim que ela fosse liberada dali.

Ela passou uma semana em observação. Sua mãe estava todos os dias com ela, conversando e lhe fazendo companhia. Alguns amigos do colégio a foram visitar e ela se sentia feliz em ver cada rosto que aparecia para lhe dar carinho e atenção.

Mas o rosto que ela mais queria ver só apareceu no final da semana.

Os cabelos cacheados bagunçados apareceram do outro lado da porta de vidro e os olhos azuis-esverdeados deles imediatamente invadiram o quarto analisando cada detalhe. Um sorriso de ponta a ponta se formou nos lábios de Molly e ele sorriu discretamente de volta. A mãe de Molly notou a presença do menino do lado de fora e pela primeira vez ficou aliviada por ver Sherlock. Sua filha sentia muita falta dele

A mãe de Molly saiu do quarto cumprimentando Sherlock e se sentando em um longo banco do lado de fora. O garoto não demorou nada para entrar no quarto, um pouco tímido, e com medo do que Molly poderia falar.

“Um sobretudo?! Desde quando você usa um sobretudo?” ela estava sentada na cama rindo da roupa que Sherlock decidira usar.

“Agora eu visto, ok!” ele respondeu um pouco aliviado com a reação dela e entrou na brincadeira “Algum critica sobre?”

“Nenhuma....” Molly balançou a cabeça rindo.

Sherlock se aproximou da cama rindo com ela e se sentou em uma cadeira do lado. Quando finalmente as coisas se aclamaram e eles se olharam de verdade os dois pareciam estar realmente voltando à realidade.

“Hey.” Ele disse timidamente com um sorriso triste e segurou a mão dela.

“Hey.” O sorriso dela foi mais alegre.

Com Sherlock agora perto Molly pode notar que ele estava um pouco diferente. Seus olhos pareciam fundos e sem brilho, seus lábios estavam rachados e seu cabelo completamente emaranhado. Molly pode até ver alguns leves machucados na testa e no pescoço, mas ele provavelmente tinha se metido em confusão durante o tempo que ela passou doente. Era o que ele fazia para não ficar entediado, Molly já sabia que isso era normal.

“Como você está?” Sherlock a tirou de seu devaneio

“Melhor.”

“Bom, bom, bom.” Sua voz estava falha em alguns momentos.

“Por que você não veio antes?”

Os olhos de Sherlock fugiram do olhar dela por alguns instantes e ele parecia ponderar a sua resposta. Molly tinha quase certeza de que ele estava pensado em uma mentira, “Não quis irritar seus pais.”

“Eles iram entender. Para falar a verdade minha mãe até perguntou por que você não veio.” Molly falou rindo e olhando para a sua mãe no banco do lado de fora quase dormindo.

“Sério?” Sherlock seguiu o olhar dela e teve segurar o riso, ele não queria rir da mãe de Molly. Logo o olhar dele se voltou para a menina na cama e ele apertou mais a mão dela, se inclinando para mais perto e a fitando por alguns segundos. “Você vai sair daqui, não vai?” a voz dele era triste e temerosa.

“Sim,” Molly tentou o calmar esfregando seu polegar na mão dele, “Está tudo bem agora Sherlock.” Ela deu um sorriu terno tentando o tranquilizar, “Você vai ter que voltar a ir à escola.”

Sherlock respondeu aliviado e pela primeira vez aquela frase saiu de sua boca de forma sincera, “Eu adoraria ir à escola.”

Molly naquele mesmo dia teve alta e Sherlock a acompanhou até em casa. Ele parecia exausto e acabado, mas cada vez mais que ela insistia que ele fosse para casa descansar Sherlock parecia ficar mais possesivo. Ele disse que não sairia do seu lado até ela chegar a casa e dormir, isso se os pais dela os deixassem entrar na casa, se não ele iria para o telhado ficar a observando do lado de fora.

Os pais dela o deixaram entrar e Sherlock ficou até ás 21h com ela.

A vida voltou ao normal uma semana depois. Molly tinha perdido algumas provas, mas suas amigas tinham levado as matérias para ela em todo período em que ela esteve doente, então ela não tinha perdido muita coisa. Ela não queria parar de estudar, por mais que faltasse pouco tempo para as aulas entrarem em recesso.

Molly assim voltou a sua rotina de todos os dias ir para o colégio com Sherlock Holmes.

Porém as coisas pareciam um pouco diferentes. Mal sabia Molly que os problemas não haviam acabado.

Na maior parte da caminhada o garoto ficava quieto. Sherlock era um homem de poucas palavras agora e parecia cada vez mais distante dela. Não havia mais bilhetes no muro da escola, não havia mais três toques na janela no meio da noite e Sherlock parecia constantemente triste e esgotado.

“Quem é aquele garoto com quem você estava conversando na saída?” Ele perguntou enquanto eles caminhavam para a escola.

“Quando?”

“Ontem.” Sherlock estava com a cabeça para baixo concentrado em chutar uma pedra.

“Jim. Ele é do colégio,” Molly respondeu um pouco preocupada, “ele foi me visitar quando eu estava no hospital.”

“Ah!” Sherlock arqueou as sobrancelhas, ele conhecia o menino, “Jim? Diminutivo de James.” Holmes levantou a cabeça e a encarou, “Ele é o que seu?”

“Amigo.” Ela virou o rosto para encara-lo.

“Você tem amigos?”

“Claro que tenho! Você sabe disso.”

“Eu sei das suas amigas.” A voz de Sherlock estava carregada com ironia.

“Você acha que é você é o único menino com quem eu converso?” Molly respondeu rindo, “Eu não sou antissocial!”

“Você é a única menina com quem eu converso.” Ele ficou bravo de repente com a possível insinuação dela, “Para falar a verdade à única pessoa com quem eu converso” ele fugiu o olhar do dela mais uma vez, “E você sabe disso”

“Desculpa Sherlock, não foi o que eu quis dizer.”

“Foi sim.” A voz dele era fria e distante mais uma vez, e sem pensar duas vezes ele apertou o passo e a deixou para trás, “Mas não importa.” Foi a ultima frase que ela pode ouvir.

Na manhã seguinte Sherlock não apareceu do outro lado da rua para acompanha-la. Molly meio que já esperava por isso, ele tinha ficado ofendido com que ela tinha dito, mas ela desejava do fundo do coração que ele tivesse esquecido isso e aparecesse no dia seguinte.

Naquele dia Molly não viu Sherlock em nenhum momento. Ele não tinha ido para a escola, nenhum dos alunos da sala dele pareciam saber de seu paradeiro e ninguém tinha noticias desde o dia anterior. Ela se convenceu mais uma vez que isso era típico do garoto, e que provavelmente ele estava em um daqueles casos em que ele viva se metendo de uns tempos para cá.

Logo ele vai aparecer!

E ele apareceu.

Naquela noite Molly estava em seu quarto estudando álgebra quando ouviu um barulho estranho em sua janela. Parecia que algo duro estava sendo jogado contra o vidro e quando ela se aproximou para averiguar ela viu Sherlock Holmes em pé no seu quintal com um punhado de pequenas pedras na mão.

Ele não vai subir?

Sua pergunta foi logo respondia quando ele apontou para a porta indicando para ela descer. Molly saiu em disparada até a porta que levava ao quintal para encontrar o seu amigo.

“Hey!” Ela disse feliz enquanto abria a porta e ia de encontro a Sherlock. Ele estava de baixo da árvore um pouco escondido na escuridão por causa da falta de luz no quintal, “Senti sua falta hoje, você não apa...” Molly perdeu a fala quando conseguiu ver Sherlock de perto. Ele estava completamente sujo, as roupas, o cabelo o rosto, parecia que ele ter dormido em uma lixeira. Havia olheiras enormes debaixo dos seus olhos e ela podia ver sua boca e seu nariz sujos de sangue, “Você está bem?” ela arregalou os olhos ao ver aquela imagem de Sherlock Holmes e sem pensar duas vezes suas mãos caíram sobre a face dele, correndo os dedos em cada canto do seu rosto de uma forma despertada.

“Estou.” A voz dele era cansada e seu olhar vago.

“Sherlock o que está acontecendo?”

“Nada” ele tentou forçar um sorriso, mas a cara que ele fez ficará medonha, “Eu só queria te ver.”

“Alguma coisa está errada. Não me afaste, por favor. Não finja!” Molly suplicou, “Não dessa vez Sherlock.”

Sherlock pareceu ficar assustado e seus olhos estavam marejados. Que merda ele estava fazendo? Por que estava ali? Por que a estava deixando o ver daquele jeito? Seu medo de uma hora para outra virou raiva, “Eu estou bem!” o tom de voz de Sherlock aumentou e ele empurrou Molly com força para que ela se afastasse dele, “Já falei que estou bem.”

Molly estava o olhando assustada. O que tinha errado com Sherlock Holmes? Que merda estava acontecendo e por que ele acabou de empurra-la? Ela não ficou com medo, apesar de ele parecer estar um pouco agressivo. Mas Molly estava mais preocupada com o amigo do que qualquer outra coisa.

Sherlock voltou a fica com medo. Ele não acreditava que tinha acabado de fazer isso com Molly e não sabia mais do que era capaz, “Acho melhor eu ir, está tarde.” O tom de voz dele tinha voltado ao normal e ele resolveu se afastar, levantando a gola do sobretudo e enfiando as mãos no bolso, “Adeus Molly.”

Logo Sherlock tinha desaparecido do quintal e Molly ficou ali, imóvel, tentando entender tudo que tinha acontecido e que estava acontecendo. Lagrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, e mesmo que ela não soubesse o que realmente estava acontecendo ela sentia que aquele ‘Adeus’ era para valer.

Seu coração implorava que sua mente parasse com esse pensamento, mas não havia como se enganar. Naquela noite Molly foi para cama depois de muito choro, e a única cosia que ele pediu quando adormeceu era que Sherlock estivesse amanhã do outro lado da rua.

No dia seguinte Holmes não estava do outro lado da rua, mas isso não quer dizer que Molly não ouviu falar dele. Para falar a verdade era o único nome que ela ouvia no colégio, era a única coisa que as pessoas sabiam falar e logo ela ficou sabendo das novidades: Sherlock Holmes saiu no braço com outro aluno na noite passada, James. Aparentemente ninguém sabia explicar direito o motivo da briga, mas todos sabiam que James tinha dado entrada no hospital na madrugada. Parecia que Sherlock tinha deixado o outro garoto em um estado horrível.

Pela primeira vez em sua vida Molly abandonou a escola no meio do período. Assim que uma das garotas de sua sala lhe contou essa historia Molly não pode fazer outra coisa a não ser correr para casa de Sherlock. Nem ela mesma sabe como ela conseguiu sair do colégio sem ninguém questionar, mas o que importava agora era que ela estava em frente á porta da casa de Sherlock. Seus pulmões eram fogo, sua respiração estava curta e sua mente estava rodando, mas nada disso a fez hesitar em bater na porta.

Não demorou nada para que porta se abrisse e uma mulher de cabelos grisalhos surgisse. Molly já tinha visto a mãe de Sherlock várias vezes, e já teve uma ou duas oportunidades de conversa com ela. A mulher lhe deu um sorriso e Molly perguntou sem rodeios, “Sherlock está em casa, Sra. Holmes?”

“Infelizmente não, Molly” ela tinha a voz mais doce e suave do mundo, era até difícil de acreditar que essa mulher era mãe do garoto problemático de cabelos negros.

“Quando ele volta?”

“Não sei querida.” Por mais que a mulher fosse gentil com Molly, ela sabia que a Sra. Holmes estava mentindo e dava para ver que ela não tinha intenção alguma de lhe falar algo, “Ele saiu com Mycroft.”

“Ah! Ok” Molly disse recuperando a respiração e se acalmando um pouco, “Você pode dizer a ele que eu passei aqui?” a mulher balançou a cabeça positivamente ainda com aquele sorriso calmo e Molly foi embora da residência dos Holmes.

Ela não voltou para o colégio, ela sentia que não tinha cabeça para isso.

Mais duas semanas se passaram sem Sherlock Holmes em sua vida. No colégio o assunto sobre ele quase tinha sumido. Pelo que parece Jim tinha voltado à escola e não havia prestado queixa a policia sobre o ocorrido. O mundo parecia voltar a girar normalmente, mas a preocupação de Molly só aumentava e não havia um dia que ela não passava na casa do amigo para saber se ele estava lá. Só que todo dia a historia se repetia: nenhuma noticia de Sherlock.

As aulas terminaram e agora, mais do que nunca, Molly se sentia perdida. Suas férias sempre se resumiram em um nome, mas a pessoa que carregava esse nome agora era tida como fantasma pela cidade. Sherlock se transformara em um conto e muitos especulavam o que tinha acontecido com o menino. Aparentemente Molly era a única interessa em descobrir o que realmente havia acontecido com ele e ela não parou de visitar os pais deles nas férias.

Isso até o dia em que ela viu Mycroft entrando na casa.

Molly correu o máximo que pode para alcançar o irmão mais velho para conseguir falar com ele antes que ele sumisse para dentro da casa. Ela conseguiu o parar no momento em que ele estava preste a virar a maçaneta da porta para entrar.

“Onde está Sherlock, Mycroft?” o Holmes mais velho ouviu a voz de Molly atrás dele.

“Não aqui, Senhorita Hooper” Ele revirou os olhos e se virou para poder encarar a menina apropriadamente.

“Eu sei que ele não está em casa. Eu quero saber onde ele está!”

“Em um lugar onde ele possa melhorar.” Molly nunca tinha falado antes com Mycroft. Ela sabia quem ele era porque já havia o visto com Sherlock, mas ela sabia muito sobre o homem a sua frente por que Sherlock adorava listar os defeitos sobre o irmão. Ele era meticuloso, vivia sobre dieta, muitas vezes bajulava os pais, ocupava um cargo no governo e acima de tudo, Molly já tinha ouvido falar sobre aquele tom irônico de sua voz.

Ela só não imaginava que fosse tão irritante assim.

“O que ele tem?”

“Você, Senhorita Hooper. Você é o problema e o veneno do meu irmão.” Mycroft disse sem nenhum pudor com um sorriso besta no rosto, “Eu estou intervindo, para o bem dele.”

“Você não tem o direito de fazer isso.” Depois de um momento de choque, ao ouvir o Holmes à sua frente, Molly se revoltou e aumentou seu tom de voz, “Você mal fala com Sherlock, não esteve presente o tempo todo e nunca se importou com ele! Como você poderia sabe o que é melhor para ele?!”

Molly falou tudo àquilo sem pensar, descontando toda sua raiva no homem que se atreverá a falar mal do relacionamento dela com Sherlock. Mas assim que ela terminou a frase ela se arrependeu. O rosto de Mycroft fechou em uma carranca e ele a respondeu de imediato raivoso, ainda tentando mantendo sua elegância.

“Eu me importo demais com meu irmão senhorita Hooper. Eu só não tenho essa necessidade besta de vocês em precisar mostrar ou gritar para os sete ventos.” Mycroft falava em tom de superioridade, “Não existe ninguém nesse mundo mais capaz de saber o que é bom para Sherlock” Molly começou a ficar assustada enquanto Mycroft avançava sobre ela, fazendo-a ficar acuada em um canto, “E você não é.” Ela podia sentir desprezo, “Vocês dois só fazem mal um para o outro. Esse relacionamento sem sentido que vocês criaram iria desmoronar a qualquer momento, só estou o poupando do inevitável fim.”

Molly estava com medo, o irmão de Sherlock parecia estar com raiva por algo que ela tinha feito. Ela não sabia de nada, mas por um momento teve medo de se perguntar o que era. O que poderia ser para deixar Mycroft tão revoltado daquele jeito.

“Senhorita Hooper, você é a parte defeituosa do meu irmão.” A voz dele suavizou um pouco e ele se afastou dela, “Acredite quando eu falo que não é nada pessoal, eu realmente não tenho nada contra você. Mas isso não ia dar certo... já não estava dando.” Molly continuava acuada no canto perto da parede seguindo os movimentos do homem a distancia enquanto lutava contra a enorme vontade de chorar, “Sherlock não é um tipo de pessoa que pode se dar ao luxo de ter um ponto fraco tão grande quanto você.” Ele já havia voltado para porta e agora a olha com pena, “E você é só uma garota normal passando por sua primeira paixão adolescente,” Mycroft sorriu com naturalidade e Molly agora já não conseguia controlar as lágrimas que cismaram de rolar pelo seu rosto, “Sherlock sempre esteve destinado a ser passado na sua historia. Apenas amigos de infância.”

Molly olhava assustada para o homem alto com guarda-chuva na mão que estava preste a sumir pela porta da casa de Sherlock. Ela não sabia o que fazer a cada palavra que sai da boca dele era um ataque e um choque de realidade. Por mais que não quisesse acreditar aquilo parecia ser o fim da linha. Por mais que seu coração gritasse para aquele homem calar a boca, a sua mente já estava entendendo que aquela era o ultima conversa que ela iria ter sobre Sherlock Holmes.

“Você fez bem para meu irmão até certo ponto Hooper, mas agora é hora de eu interferir. Antes que as coisas saiam mais do controle.” Mycroft finalmente terminou entrando na casa e sumindo. Foi a primeira e a ultima vez que Molly conversou com ele, “Não se preocupe, você vai esquecer.”

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Ela estava sozinha agora, com aquela ultima frase ecoando em sua cabeça e sua boca balbuciou para si mesma algo parecido com, “Nem se eu quisesse”

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25 – 26 anos

2 anos de Sixth Form mais 6 anos de faculdade levaram Molly para o lugar onde ela estava: Hospital St. Bartholomew. Ela tinha se formado em medicina realizando seu sonho, e agora trabalhava para um dos hospitais mais famosos de Londres.

Ela estava mais do que feliz com a sua vida.

Nesses 8 anos que se passaram a vida de Molly havia mudado muito.

No começo ela realmente se apegou a memória de Sherlock, era como se quisesses provar para Mycroft que ela nunca iria esquecer o irmão dele, mesmo sabendo que ninguém da família Holmes estava vendo isso. Molly nos primeiro 2 anos ainda tinha esperanças de acordar um dia e ver Sherlock do outro lado da rua, com o sorriso torto, esperando-a para ir para a escola.

No começo tudo foi difícil para Molly, pois ela simplesmente recusava a ideia de deixar Sherlock desaparecer de sua mente e de seu coração. Ela não queria matar a esperança de um dia reencontrá-lo e poder dizer certas coisas que agora ela sabia que deveriam ter sido ditas a muito tempo. Nos primeiros 2 anos Molly descobriu que era totalmente e completamente apaixonada por Sherlock Holmes, que ela amava esse garoto mais do que qualquer coisa.

Mas também demorou esse tempo para ela notar que essa descoberta foi feita tarde demais.

No ano seguinte Molly entrou para a faculdade de medicina com bolsa. Apesar de sua vida estar tão afundada em drama ela não permitiu que tudo isso levasse embora seu sonho de fazer medicina. Molly se esforçou bastante e aos 18 anos estava em Cambridge começado uma nova.

Começando a sua vida!

A faculdade foi uma experiência excelente para ela, pois pela primeira vez em tanto tempo nem tudo ao seu redor lhe lembrava de Holmes. Ela estava em uma nova cidade, com novas pessoas e com um novo proposito para seguir. A faculdade definitivamente foi algo maravilhoso para a vida de Molly Hooper.

Nesses seis anos seguintes Molly conheceu muita gente, viveu muita coisa e aprendeu muito sobre o que ela queria para a vida. Ela fez uma amizade valiosa com sua colega de quarto, Mary Morstan, e ela foi a única em seis anos que ouviu o nome de Sherlock Holmes sair da boa de Molly. Com o tempo, e com ajuda da amizade, Molly foi superando o amigo de infância e abrindo espaço no coração para novas pessoas.

John Watson foi o segundo a fazer parte da nova vida de Molly. Ele já estudava na faculdade quando Molly entrou e foi seu monitor no segundo período. Não precisou de muito para que Molly ficasse amiga do garoto e que o apresenta-se para a amiga. Depois disso John nunca mais saiu da sua vida, e aparentemente do seu quarto! Mary e John pareciam não conseguir se desgrudar um do outro.

Ela também teve seus momentos de paixão na faculdade. Molly saiu com alguns garotos, chegou até a namorar 3, dois veteranos e um calouro, mas nada que realmente a fizesse pensar em algo sério e duradouro.

A essa altura da historia Molly não desejava mais procurar Sherlock, ela finalmente tinha se conformado com a história e só se lembrava dele quando voltava para casa no Natal. Mas mesmo assim ela não conseguia achar nada parecido com o que ela sentiu com ele em outro garoto. Molly queria alguém que a fizesse sentir viva como ela se sentia ao lado de Holmes, alguém que realmente se importava com ela e sacrificava tudo só por um sorriso dela.

Mary sempre a lembrava que na verdade ela não teve absolutamente nada com esse garoto de que tanto ela idealizava, e sua amiga estava certa. Mary não falava isso de maldade, Molly sabia disso, a garota só estava preocupada com os sentimentos de Molly e tinha medo de que ela nunca mais se abrisse de verdade para outra pessoa.

Molly não contou isso para ninguém, mas ela também tinha esse medo.

As cosias correram bem pelos anos de faculdade. Molly se formou junto com Mary, mas acabou indo trabalhar onde John trabalhava. Ela decidirá se especializar em patologia e agora exercia um cargo no necrotério do Hospital St. Bartholomew.

Seus pais haviam juntando dinheiro e de presente de formatura deram a ela um apartamento no centro de Londres. Não era nada demais, mas era exatamente o que ela queria: um pequeno lugar onde ela pudesse começar a vida e se sentir em casa. Molly logo arranjou um gato chamado Tobby, e ás sextas ela sempre saia do trabalho para ir a um pub com Mary e John.

Molly havia criado uma rotina, costumes e o mais importante a sua vida. Era o sonho se tornando realidade.

Tudo estava indo exatamente como o planejado, até uma sexta em que Molly estava saindo do trabalho para ir encontrar Mary e John. Era um dia nublado em Londres e o inverno estava começando a invadir o clima. Molly estava de um lado da rua esperando o sinal fechar para poder atravessar quando, distraída em suas pensamentos, viu de relance um homem alto de cabelos negros cacheados e bagunçados, com um sobretudo longo e um cachecol azul, a olhar com um sorriso torto do outro lado da rua.

Por um momento o coração de Molly parou. A respiração sumiu e seus olhos arregalaram. Era ele?

Antes que Molly pudesse pesar mais um ônibus atravessou a sua visão e assim que ele passou a imagem que ela achou ter visto já havia sumido. Logo quando sinal abriu Molly atravessou rápido olhando para os lados e tentado ver se enxergava o homem de novo.

Mas não havia mais nada lá.

Ainda um pouco atordoada com os recentes acontecimentos e com a provável peça que sua mente lhe pregou, Molly chegou um pouco absorta no pub e foi de encontro aos amigos. Ambos perguntaram se estava tudo bem, falaram que ela parecia meio assustada e distraída, mas Molly os tranquilizou falando que não era nada.

“Eu conheci um amigo seu hoje.” John falou mudando de assunto.

“Jura! Não acho que tenho muitos amigos aqui no centro de Londres.” Molly respondeu curiosa bebendo sua cerveja, “Qual era o nome?”

“Sherlock Holmes.” Mary no mesmo momento engasgou com a própria bebida enquanto Molly ficava pasma ao ouvir aquele nome. John não sabia da historia dela e ele ficou assustado com a reação das duas mulheres, “O que? Algum ex-namorado ruim?” John brincou, mas nenhuma delas riu.

“Onde você conheceu?” Mary perguntou cuidadosamente, olhando sempre para a reação da amiga.

“No hospital. Ele perguntou de você para uma das enfermeiras e logo já falaram para ele falar comigo.” Ele respondeu tranquilamente olhando para Molly, “Por que essas caras? Eu não deveria ter falado com ele?”

“Não John, está tudo bem.” ela tentou ficar calma.

Mas não estava tudo bem, Molly e Mary sabiam disso. Imediatamente Molly resolveu voltar para casa, ela não estava com cabeça para ficar naquele lugar cheio de pessoas que com muita bebida por perto: aquela combinação poderia dar muito errada. Mary ofereceu caminhar com ela até em casa, mas Molly recusou, ela queria ficar sozinha, tinha que pensar sobre Sherlock Holmes.

Ela logo chegou ao seu refúgio e assim que colocou os pés para dentro de casa as inevitáveis lágrimas começaram a cair. Sherlock Holmes em Londres? Procurando-a? O que diabos estava acontecendo? Por que ele tinha que voltar justo agora quando tudo estava ficando tão normal de novo.

Esse fantasma iria lhe assombrar para o resto da vida?

Molly entrou pela casa aos prantos, se livrando de todas as roupas pesadas de frio e as jogando no sofá, pensando em que rumo sua vida ia tomar agora. Ela se jogou em uma das poltronas e apertou o rosto contra as mãos tentado segurar as lágrimas que caiam do seu rosto.

“Sempre detestei quando você chorava.” Um barítono forte tomou conta do apartamento e Molly teve medo de tirar as mãos do rosto. A voz lembrava muito a dele, só que agora mais grossa.

Depois de algum tempo ela teve coragem de olhar a sala e viu a figura do homem que ela havia visto mais cedo parado a poucos metros de distancia. Agora ela podia ver os olhos, e esses, se ainda existia dúvida para Molly, entregavam a sua identidade.

Azul-esverdeado. Só havia uma pessoa que ela conhecia com um olho desse tipo.

“Olá Molly.” Ele falou mais uma vez se aproximando.

“O que você está fazendo aqui?” Molly não sabia muito bem o que sentir, seu coração estava muito confuso entre saudade, amor e raiva. O que mais se sobressaiu naquele momento foi a raiva, “8 anos e só agora você resolve aparecer?” ela levantou da poltrona, cobrindo a distancia que tinha entre eles e o olhou de perto, “Um pouco tarde não acha?”

“Desculpa.” ele a encarava triste e machucado pelas lágrimas dela. Ele realmente odiava quando ela chorava, pior ainda quando era por ele.

“Fora.” ela disse apertando seus olhos e respirando fundo.

“O que?”

“Você não vai aparecer aqui do nada e me dizer ‘desculpa’. Você não tem o direito de fazer isso.” Ela voltou a olhar aqueles olhos perfeitos com que ela sonhava quase toda noite, “Você simplesmente não pode fazer isso.”

“Eu não a lugar algum Molly” ele respondeu de uma forma simples. “Não dessa vez.”

Por que aquele homem estava ali? O que ele queria fazer? O que ele queria dela? Ela agora reparará na altura de diferença entre eles e em como Sherlock tinha crescido. Ele pouco lembrava aquele menino que da ultima vez que Molly viu estava sujo, cansado, assustado e confuso. Aquele garoto que lhe disse adeus e lhe partiu o coração em dois.

O garoto que Molly amou a vida toda estava ali na forma de homem a olhando fixamente, e Molly só conseguiu perguntar uma coisa entre as lagrimas, “Por que?” Sherlock a olhou confuso, “Por que você fez isso comigo Sherlock?”

Ele por um momento ficou triste e parecia não saber como a responder. Holmes se afastou um pouco, dando as costas para Molly, “Foi tão bom assim brincar comigo? Foi tão fácil para você partir e me deixar?”

“CLARO QUE NÃO!” Sherlock gritou em uma explosão se voltando mais uma vez para ela, com o rosto molhado por algumas lagrimas. “Você realmente achou por todos esse 8 anos que eu te deixei por puro capricho meu?” ele respondeu com a mesma raiva de Moll.y

“Por que então você me deixou?!”

“POR QUE EU NÃO ERA BOM O SUFICIENTE!” aquelas palavras a assustaram e Sherlock se aproximou de novo perigosamente de Molly, “Eu nunca vou ser Molly!” ele pegou a mão dela, “Você não sabe o que sua doença causou em mim. Eu não sei lidar com perda Molly. Eu sou uma pessoa autodestrutiva e desde de sempre minha única missão foi aprender a não me envolver.” Molly segurava a respiração e seu coração estava mil com o simples contato de Sherlock, “Mas você foi a minha exceção. Por mais que Mycroft dissesse que isso iria terminar mal, que eu acabaria destruindo a você a mim mesmo eu não me importava. Quando eu estava com você eu podia ser eu e ainda me importar.” Os olhos de Sherlock estavam marejados e ele soltou a mão de Molly e escondeu seu rosto para que ela não o visse fraco mais uma vez.

Era incrível Molly mudava completamente seu ser em pouquíssimo tempo. Era impressionante como ele não conseguia não ser sincero com a menina à sua frente, como ela conseguiu quebrar qualquer barreira que ele construía com aquele simples olhar.

“Não foi sua culpa Molly e também não foi para te machucar que eu me afastei.” Sherlock deu uma longa pausa para respirar e tomar coragem, “Eu fui internado pelo meu irmão na reabilitação depois daquela noite na sua casa. Eu comecei a usar drogas com 14 anos, você nunca notou por que eu nunca iria permitir que você visse isso.” Molly o olhava agora assustada. Drogas? Sherlock Holmes, o gênio de 14 anos usava drogas? E ela nunca tinha percebido isso?

“Eu só usava para aliviar meu tédio. Era de uma forma recreativa e apenas Mycroft sabia disso, por isso ele pegava tanto no meu pé.” Sherlock riu por um momento lembrando-se de todas as coisas que ele xingava o irmão na adolescência, “Mas quando você ficou doente eu não sabia o que fazer. Eu não podia te perder Molly, eu não suportaria essa dor, e não me permitir importar para sentir essa dor mais uma vez! Eu sentia que não havia mais sentido as coisas, e o que eu mais queria fazer era poder conversar com você e te falar tudo isso.” Molly via o homem a sua frente se transformar no mesmo garoto de 17 anos que a havia deixado no quintal de sua casa: Sherlock estava confuso, assustado, com medo e desesperado.

Os olhos deles imploravam por perdão e ele sabia que o que tinha feito era algo quase imperdoável. Mas ele precisava que a mesma menina que o ficou olhando decepcionada a 8 anos atrás lhe abraçasse e lhe disse que tudo estava ok. Que tudo iria voltar ao normal.

Depois de 8 anos ele notou que tudo que ele mais queria era que as coisas voltassem ao normal.

“Só que eu não podia, por que era você o problema. Nos dois meses que eu sumi enquanto você se tratava era por que eu estava praticamente vivendo a mercê de drogas, não havia um dia que eu não usava, e eu praticamente sumi de casa e de toda a sociedade.” Sherlock riu um pouco nervoso, “Até hoje me lembro de que o meu irmão me deu um esporro quando ele me encontrou na rua. Engraçado é que a única frase que única frase que minha mente confusa conseguiu captar foi: ‘Molly está bem’. Aquela frase me fez levantar e aceitar a ajuda do meu irmão para eu poder ter o mínimo de força para te visitar no hospital.” Molly a essa altura já tinha parado de chorar, agora em sua mente vinha todas as cenas que ela se lembrava de Sherlock estranho e tudo isso que ele estava dizendo fazia sentido. Era isso que tinha mudado nele depois de toda aquela confusão, “Eu realmente tentei melhorar, mas depois daquele choque a minha cabeça nunca mais parou de pensar em como eu poderia perder você à qualquer momento. Era a única coisa que eu pensava quando eu te via, e aquilo estava tirando a minha sanidade Molly.”

“Eu não conseguir parar com as drogas. E naquela noite em que eu te deixei eu notei que eu não iria nunca ser capaz de parar quanto eu me importasse. Eu notei o quanto eu estava te machucando e me destruindo” Sherlock voltou a se aproximar de Molly e ele não via medo nem raiva nos olhos dela, apenas sofrimento, “Eu praticamente acabei com um garoto só por que eu poderia te perder para ele. Isso não era saudável, isso não era eu. foi então quando eu finalmente procurei Mycroft, ele era o único que podia me ajudar. Ele era p único que podia me ensinar a não me importar e voltar a ter a minha sanidade.”

“E você conseguiu?” Molly conseguiu falar a pesar de sua garganta parecer estar entalada, “É por isso que você voltou? Depois de 8 anos você consegue não se importar comigo?”

Sherlock permaneceu em silêncio, ele tinha medo de responder aquilo e Molly estava ficando cada vez mais irritada. Ela não acreditava que todo esse tempo ele não a procurou e a contou o que aconteceu, que ele não procurou a ajuda dela. Nada disso era desculpa por esses 8 anos! Nada disso tirava o fato de que Sherlock Holmes a deixou e que agora e que nesses 8 anos ele não se importou com ela.

“Fora.” Molly respirou fundo levando uma das mãos a testa tentando manter a paciência, “Por favor Sherlock me deixe sozinha.” Molly o deu as costas para o deixar sozinho na sala, mas antes que ele pudesse seguir para o seu quarto a mão dele a puxou pelo braço com força e a trouxe para si em um beijo apaixonado.

Em primeiro momento Molly ficou assustada, ela realmente não esperava isso. Mas logo o gosto de tabaco e chá dos lábios deles a tomou por completo. Ela praticamente esperou 20 anos para sentir esse gosto e aquilo era inexplicável. Molly afundou os dedos nos cabelo dele e o trouxe mais para si em um beijo desesperador, ela precisava dele mais do que sabia e mais do que queria admitir.

“Eu nunca consegui não me importar com você.” Sherlock disse quebrando o beijo, mantendo os seus lábios roçando nos dela e segurando seu rosto em suas mãos, “Foi para isso que eu vim. Para te falar e admitir para mim mesmo que eu nunca vou aprender a te esquecer ou te ignorar.” Ele depositava alguns beijos em seu rosto e em seu lábios em desespero, como se não acreditasse naquele momento, “Você criou algo dentro de mim que vai existir para sempre Molly. Eu não posso fugir disso, e cansei de tentar.” Sherlock afastou seu rosto para poder olhar nos fundos dos olhos dela, “Eu te amo Molly Hooper”

A única reposta que Molly encontrou para isso foi puxa-lo para um segundo beijo. Ela não podia acreditar naquilo, era realmente Sherlock Holmes em seus braços mais uma vez. Era a pessoa que ela amou a vida toda ali, beijando-a e finalmente se entregando por inteiro. Era Sherlock correspondendo pela primeira vez ao seu amor.

E naquele momento Molly percebeu que aquilo sim era seu sonho se realizando.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.