Warriors

Capítulo 1 - Peter


Meus dedos corriam pelas alças da mochila, enquanto eu remexia meu pé dentro do sapato, tentando arrumar minha meia. Os corredores do colégio estavam destruídos; por ser o último dia de aula, Flash Thompson & Cia. havia jogado confete e mil e outros lixos pelos corredores.

Uma menina com cabelos ruivos e sedosos, e uma pele bronzeada por conta das praias na Califórnia se aproxima de mim. Ela estava usando uma mini-saia xadrez e um casaco azul surrado, com alguns desenhos de canetas perto das mangas. Ela me empurra com seu ombro, enquanto abraça ainda mais seus livros, para nenhum babaca da 2a Série tentar derrubá-los.

— E aí, Peter? - diz ela, exibindo seus dentes brilhantes enquanto covinhas se formavam em suas bochechas.

— Oi, MJ.

— O que você vai fazer nas férias? - questiona, enquanto observa minha camiseta do Darth Vader suja de sopa e outras gororobas - E o que aconteceu com a sua camiseta? Não foi a que o Harry te deu?

— Flash derrubou a bandeja dele em cima de mim sem querer - digo fazendo aspas com meus dedos quando pronuncio “sem querer”.

— Que idiota… Mas então, voltando ao assunto, a Mila Hardy vai dar uma festa na casa dos pais dela, e ela me disse que eu poderia convidar quem eu quisesse. E eu convido você.

Por um momento, sinto um arrepio na minha espinha. Paro, perto de um armário com adesivos do Justin Bieber e ajeito meus óculos.

— Qual é Peter! - exclama MJ, agora marcando a superfície de seu fichário com as unhas - Você nunca vai em nenhuma das festas que eu te convido! Nem parece que você é meu melhor amigo!

Parecia que toda vez que Mary Jane dizia “melhor amigo” ela queria me lembrar que eu estava na friendzone, e nunca ultrapassaria essa linha.

— OK, eu vou. Mas você vai ter que fazer minha licão de…

Nem consigo terminar minha frase, quando o sonho-de-toda-garota (segundo MJ) passa por mim, esbarrando seu ombro em minhas mãos, e automaticamente, fazendo com que meus livros caíssem. Esse era Tony Stark. Ele tinha um cabelo bonito (enquanto o meu parecia uma moita morrom), pele lizinha (enquanto a minha era coberta de queimaduras de Sol, e marcas de cravos e espinhas que eu tentava tirar) e é musculoso. Bom, eu também sou musculoso, mas não jogo o Oceano Indíco inteiro em cima da minha camiseta durante a aula de Educação Física apenas para mostrar o contorno do meu peitoral.

— E aí MJ - diz ele, se apoiando num dos armários que estava atrás dela e colocando sua carona quadrada na frente dela.

— O-oi, Tony - balbuciava MJ, arrumando a mecha de sua franja, que frequentemente caía sobre seu rosto.

— Você vai na festa da Mila Hardy, essa noite?

— S-sim… E o Peter vai comigo! - anunciou ela me puxando para o lado.

Meu rosto fica vermelho rapidamente enquanto arrumo novamente meu óculos.

— Ah… Bacana - diz ele, agora fazendo uma careta.

Ele estava usando um casaco do time de Futebol da escola, que era vermelho e dourado, com um símbolo de um sapo gigante nas costas e no peito. Ele me empurra para o lado, pega Mary Jane pela cinturo e lhe rouba um beijo.

Depois ele me olha com aqueles olhos penetrantes, como se dissesse: “Demorou, perdeu, Parker”.

Então ele sai rapidamente, quando viu que outros jogadores do time estavam vindo pelo corredor. MJ passa seus dedos nos lábios, que agora estavam com o batom vermelho borrado ao redor de sua boca.

— B-bom, eu te vejo na festa, certo? OK, tchau.

Nem tive tempo de responder. Com toda certeza ela estava com vergonha pelo o que acontecera, tanto que ela saiu correndo, fincando suas unhas mais ainda no seu fichário de estampas floridas.

Fico parado por um tempo no mesmo lugar, até esperar a escola esvaziar. Depois disso, puxo minha mochila preta surrada para cima e passo pela porta da escola. Tinha apenas uma garota nas escadas. Ela tinha um cabelo loiro, olhos claros, lábios rubros, e vestia uma camiseta de Star Trek por baixo de uma jaqueta surrada e velha da Levis. Os seue jeans também estavam velhos e surrados, beirando a cor branca e azul claro. Ela era muito bonita, parecia um anjo. Essa era uma das raras vezes que eu achava alguém mais bonita que Mary Jane. Ela estava sentada lendo um livro (se não me engano era do Isaac Asimov, “Eu, Robô”), enquanto procurava com uma de suas mãos livres sua garrafa de água.

Passo por ela, mas depois viro o pescoço e olho para ela.

Ela também me olha, com seus olhos azuis penetrantes. Então, viro meu rosto rapidamente e ele fica totalmente vermelho. Dou um pequeno sorriso, enquanto sigo pela rua estreita que ficava perto da escola.

***

As luzes da rua eram fortes, mas eram muito mal distribuídas por ela, deixando várias partes escuras. Fico olhando as casas, e ouvindo o latido dos cachorros. Eu estava no subúrbio de Manhattan; poderiá ser perigoso, mas o cheiro de comida boa no ar tornava tudo melhor, principalmente o de frango frito.

Dou uma pequena risada.

Lembrei da primeira vez que fui comer na casa de Harry. O mordomo dele trouxe praticamente o cardápio inteiro do McDonald’s, inclusive os mini-frangos empanados.

— Me falaram que eles são feitos de pés de galinhas - eu disse, logo após dar uma mordida no meu Big Mac.

— Que nada! É uma delícia! - dizia ele, enquanto banhava o frango no ketchup. Ele levou-o até a boca e deu uma mordida. Depois disso ele vomitou litros. O frango estava estragado. Depois disso, só me lembro dele vomitando num balde e me xingando de tudo o que tinha de pior no mundo.

Após passar por um fusca amarelo, ouço um barulho metálico vindo do fim da rua. Me viro rapidamente, e levanto uma de minhas sobrancelhas.

— Quem está aí?! - pergunto, já fechando meus punhos.

Ouço outro barulho metálico. Abaixo um pouco minha cabeça em direção ao fusca amarelo, e forço minha visão. Não consigo ver nada.

Deveria ser um gato. E mesmo se não fosse, não deveria ser nada importante. Quando me dou conta, já estava começando a ficar tarde, e eu ainda nem tinha chegado em casa para me trocar e ir para a festa da MJ.

Aperto o passo, quanto mais rápido eu chegar em casa, menos vou me atrasar para a festa, e talvez, MJ não ficasse tão brava comigo por me atrasar.

***

O meu quarto estava cheio de cuecas, e roupas velhas espalhadas pelo chão, e estava com um cheiro de pizza velha. Fecho a porta rapidamente, antes que a Tia May veja, grite comigo e me mande arrumar tudo.

Jogo a minha mochila na cadeira velha que segurava a porta. Me olho no espelho que fica do lado de minha cama. Meu cabelo estava horrível, e tinha um monte de remela nos meus olhos. E como se não adiantasse, ainda tinha uma espinha gigante inflamada bem no meio da minha testa. Droga.

Posiciono meus dois dedos indicadores na testa, e aperto a espinha na minha testa. Com um som de “click”, ela explode, e o pus fica sob o espelho, e minha testa agora estava sangrando, até mesmo parecia que eu tinha levado um tiro na testa. Passo a manga do meu casaco na testa, limpando a superfície.

Tiro minha camiseta, observando a crosta de sujeira que se formou quando Flash jogou sua bandeja de comida em mim. Pego novamente meu casaco, derrubo um pouco de água da minha garrafa e passo no meu corpo.

Coloco uma camiseta do Hard Rock Café, e continuo com o mesmo jeans surrado. Troco de tênis por um All Star Vermelho de cano alto.

Até que eu não estava tão feio como o normal.

Abro a porta do meu quarto e desço as escadas. O cheiro de macarronada toma conta da casa inteira. Droga. Tia May tinha feito jantar, e provavelmente iria me fazer ficar pra comer.

Quando chego no final da escada, coloco minha cabeça para fora, e observo Tia May vestindo um vestido florido, e colocando a macarronada em três pratos. Três pratos?! Para quem era o terceiro? Bom, eu não ia descobrir isso agora, afinal, tenho que ir na festa de MJ e tentar salvar minha vida social.

Passo sorrateiramente pelas portas dos fundos, e amarro meu casaco vermelho na minha cintura.

Corro pela rua, antes que Tia May descubra e dê um grito, como ela costuma fazer.

***

A casa de Mila Hardy era grande; possuía um quintal com piscina e um jardim gigante. O barulho de gritaria misturado com música eletrônica e cheiro de álcool e fumaça de cigarro forma uma atmosfera tipica de festas escolares.

Logo quando piso no jardim que ficava a frente da casa, sinto uma camisinha grudar na sola do meu sapato. Droga.

— Peter! Hey!

Levantei meu rosto enquanto ajeitava meu óculos. Era MJ. Ela estava com um shorts minúsculo, com uma meia-calça preta rasgada, e com uma camiseta rosa que tinha um buraco acima dos seios e atrás, nas costas. Ela estava com lápis preto no contorno dos olhos, e usava uma tiara preta e branca, e um salto alto roxo escuro.

— Oi, MJ…

— Porquê você demorou tanto? A festa já começou há um século! Da próxima vez eu nem te convido!

Eu nem queria ter vindo”, penso mentalmente. Ela praticamente me obrigou a vir.

— Eu tive que sair de fininho, sabe. Tia May tinha acabado de fazer o jantar, e caso ela me visse, iria me obrigar a fic…

— Ai, tá bom, não importa. Agora vem cá, vou te apresentar um pessoal - disse ela, revirando os olhos e me puxando pelos ombros até a piscina.

— Esse é Will Snyder - disse ela, apontando para um garoto ruivo que estava com uma camisa listrada, e quando nos viu, levantou seu copo (provavelmente com alguma bebida, pois de longe dava para sentir o cheiro azedo de vodka) - aquela é a JJ - falou MJ, dessa vez apontando o dedo para uma garota com cabelos escuros, lábios vermelhos e rosto pálido. Ela estava vestindo uma jaqueta roxo-escuro e um jeans escuro com uma bota alta preta. Quando nossos olhos se encontraram, era simplesmente virou o rosto e saiu andando pela festa - o de cabelo de ovo e com cara de bolacha é o Clarêncio, e aquela é a Danvers.

Quando olho para a tal de Danvers, logo percebo que ela que era a garota que eu tinha visto na escada da escola. Ela usava um vestido amarelo com desenhos de gatinhos, uma sandália prateada e nenhuma maquiagem.

— Peter! Acorda! - MJ diz, dando um tapa na minha nuca.

— Er… Mary Jane, que horas são?

— 23:40

— Já se passaram uma hora e dez minutos?! Tenho que voltar pra casa agora!

Passo correndo por todo mundo, enquanto ouço várias pessoas me xingando. Estou a menos de um metro de chegar na calçada, quando Flash Thompson entra na minha frente.

— Pera aí, Parker! Já vai embora? Chamou a mamãezinha pra vir te buscar.

Ele e todos começam a dar risada da minha cara, e quando vejo, eu e ele somos o centro das atenções.

— Sai da frente, Thompson - digo, empurrando Flash para o lado.

— Abaixa a bola aí, otário! - diz ele, agora me empurrando contra o chão.

Me levanto rapidamente, passando as mãos para tirar a grama do meu corpo. Fecho meus punhos e repito:

— Sai. Da. Frente. Thompson. Agora.

— Quem você pensa que…

Levanto meu punho, e estou prestes a socar a cara dele. Porém, a menina loira da escada da escola entra na minha frente e segura meu punho.

Impossível.

Ninguém consegue segurar um soco do Homem-Aranha. Eu sou o Homem-Aranha!

Ela me encara com seus gigantes olhos azúis, enquanto amassa meu punho com sua mão.

— Carol! - Diz JJ, a garota com cabelos negros e pele pálida.

JJ empurra a mão de Carol para o lado, enquanto a puxa para a rua. Provavelmente iriam embora. Ela também deveria ser forte, afinal, ela conseguiu impedir a menina que me impediu. Ambas me intrigavam.

Carol vira seu rosto, e consigo ler em seus olhos:

Covarde.

Ela estava certa.

Eu tinha poderes. Tinha sido picado por uma aranha radioativa, e Flash não tinha nenhum poder (além de ser um super-babaca). Mas, como ela sabia que eu tinha poderes? Será que ela sabia que eu tinha? Será que ela e sua amiga estranha também tinham poderes? O que significa JJ?

Me dou conta que todos estavam em silêncio, e olhando para mim com os olhos esbugalhados (inclusive Flash). O único barulho que ouço e da mão de Mary Jane a bater no próprio rosto.

Empurro Flash para o lado, e passo pela rua. Sabia que iria chegar em casa tarde, mas pelo menos iria chegar vivo, não morto pelas amigas estranhas-gatas.

***

Abro a porta de casa e a fecho com força, fazendo com que os detalhes de vidro quebram.

— Peter? É você? - diz Tia May, aparecendo na frente do corredor - Tem uma pessoa na cozinha querendo falar com você.

Ela estava com uma cara pálida, parecia que tinha visto o fantasma do Tio Ben.

Eu sabia que ela tinha visto que eu quebrara o vidro da porta, mas mesmo assim ela nem tinha berrado ou gritado comigo. Algo muito estranho estava acontecendo.

Passo por Tia May e vou até a cozinha.

Haviam três pratos (aqueles que Tia May tinha posto algum tempo antes). Um deles estava cheio de macarronada (provavelmente o meu), outro estava pela metade, e um estava limpinho. Sem sequer uma marca de molho de tomate.

Um homem negro, e alto estava sentando na frente do prato vazio.

— Peter Parker? - pergunta ele, com sua voz grave, grossa e rude.

— Quem pergunta? - respondo com a voz falha e fraca. Obviamente eu teria medo de alguém que vez a Invencível Tia May ficar com medo.

— Nick Fury. Diretor da Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão. Também conhecida como S.H.I.E.L.D.; Sr. Parker, eu tenho um assunto para falar com você.

— Sobre?

— Eu preciso da sua ajuda. Nós precisamos da sua ajuda.

— Eu não sei do que eu poderia lhes ajudar, afinal, sou só um estudante…

— Sabemos que você é o Homem-Aranha.

O que?! Como assim?! Isso é possível?! Ninguém sabe que sou o Homem-Aranha, nem mesmo MJ!

— Do que você precisa? - digo, ainda abalado e com a voz mais falha ainda.

— O Dr. Hank Pym, presidente das Empresas Pym acabou criando uma Inteligência Artificial. Ultron. Nós devemos derrotá-lo antes que ele destrua o mundo.

— Pera aí, uma coisa de cada vez. Primeiro, Inteligência Artificial é difícil de se fazer, e você não precisa de mim para destruir algo que nem fisíco é. Segundo, nós quem?

— Ultron consegue manifestar sua energia em máquinas robóticas, desde celulares até sistemas que podem mandar bombas nucleares para a Rússia. Ele pode controlar um exército, Sr. Parker.

— Você ainda não respondeu minha outra pergunta: nós quem?!

— Você e outros heróis, claro.

— Tá de brincadeira com a minha cara né? Nós não estamos num filme de super-heróis, Diretor Fury. Estamos na realdade, e “grupos” de super-heróis não existem na nossa realidade. Nem sei se existem mais heróis além de mim…

— Claro que existem. Eles só precisam ser descobertos.

— Tá, e como você pretende “descobrir” eles?

— Vamos abrir uma academia, claro.

— Pera aí! Aqui não é nenhum tipo de Monster High! - exclamo, até mesmo um pouco alto de mais.

— Nós vamos treiná-los, e vocês serão nossa força tarefa. Qualquer problema que tivermos vocês irão resolver.

— E o que te faz pensar que “nós” iremos fazer para vocês?

— O governo irá pagar vocês, e suas famílias serão recebidas. Vocês também terão toda tecnologia ao dispor de vocês.

— Você está tentando fazer com que eu arrisque minha vida por uma miséria de dinheiro?

— São U$20.000.000 mensais, Sr. Parker. Além de toda a assistência que daremos a sua família.

Tia May estava com dívidas. Iríamos perder a casa caso ela não quitasse todas. Tia May era a melhor pessoa desse mundo, e merecia algo melhor do que morar numa casa caindo aos pedaços com um sobrinho rabugento que não ganha nenhum tostão.

— Certo… Eu vou.

— Ótimo. Daqui alguns instantes um carro chegara aqui para nos levar até o aeroporto.

— Onde é essa tal de academia que vocês fizeram?

— Noruega.

— Ótimo. Agora vamos para o meio do nada. Até parece que eu vou para Hogwarts! - digo, enquanto o Diretor Fury dava um gole no suco de morango que estava ao lado de seu ex-prato de macarronada.

Então, arrumo minhas malas, dou um beijo e um abraço na Tia May (que não queria me deixar ir de forma alguma), e vou para o aeroporto.

Academia da S.H.I.E.L.D., aí vou eu!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.