Starling, ou Star City, como passou a ser chamada, permanecia com seu costumeiro céu cinza. Os topos de seus prédios imponentes riscavam o alto, todos marcados por nomes que comandavam aquela cidade. E daquela posição, a mulher conseguia vê-los perfeitamente, inclusive podendo listar todos em ordem alfabética, se quisesse. Mas não era necessário. Os nomes ainda estavam naquele caderno. Naquele maldito caderno.

O vento soprou consideravelmente forte, bagunçando os seus curtos cabelos castanhos, os jogando sobre seu rosto oval delicado. Suas bochechas, antes rosadas, assumiam um tom pálido, e estava completamente consciente de que sua aparência era doentia. Com um movimento doloroso, a mulher moveu seu corpo de forma que não escorregasse, gemendo de dor com o gesto. O sangue já escapava por seus dedos, sujando sua blusa clara e seu sobretudo. Um sorriso irônico escapou de seus lábios, um pensamento pessimista lhe ocorrendo. Nada mal morrer em um cemitério, não? Questionava-se se todos aqueles que se colocavam no caminho dessas pessoas tinham o mesmo fim. Quantos já teriam perdido suas vidas nas mãos do crime, esse enraizado em cada canto da cidade? Lembrava do tempo em que todos temiam o misterioso escondido atrás de um capuz. Se pronunciasse seu nome, poucos afirmariam lembrar. Ele havia sumido há anos, isso se fosse sortudo o suficiente para ainda estar vivo. Mas naquela situação, o que era a sorte? Ele já tinha uma longa lista de inimigos, um dia o protetor teria que cair, e quando esse dia chegou, ninguém estava realmente preparado para o que significava ser lançado à própria sorte.

Olhando daquela posição elevada, o chão ao seu redor manchado com seu sangue, ela entendeu. Aquele era um ideal impossível. O egoísmo das pessoas nunca desapareceria, todos olhariam apenas para si até que isso os destruísse. Todos aqueles homens, com poder suficiente para impor medo, conseguiriam tudo o que quisesse, e seriam poucos os que teriam coragem de se colocarem contra isso, até que tivessem o mesmo fim que a mulher e todas as pessoas antes dela. Todas tiveram essa visão antes de partirem? Chegaram a mesma conclusão enquanto sua vida se esvaia?

—-- ɸ ---

O seu funeral estava vazio. Foram poucas as flores lançadas sobre o caixão, este cedido pelo governo. Ninguém sequer chorou. As pessoas que ocupavam os bancos eram meros curiosos, ou a imprensa ansiando uma nova notícia para o dia seguinte. Alguns policiais comovidos também compareceram, mas a cerimônia não durou sequer meia hora. Todos já estavam do lado de fora quando a explosão destruiu os restos mortais de Melissa Acker. As pessoas corriam apressadas para longe da pequena estrutura da igreja, enquanto outras se arriscavam a aproximar-se para observar as chamas. Policiais andavam inquietos de um lado para o outro enquanto a imprensa tirava suas preciosas fotos.

Não era necessário se preocupar com o autor de algo tão brutal. Nada seria feito com relação a ele. O crime financiava a polícia. Depois que o fogo cessasse, as pessoas iriam para suas casas, trancariam as portas e veriam mais uma vez o noticiário trazendo a miséria daquela cidade. Isso por que Starling agora carregava a escuridão de Gotham.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.