Vossa Majestade

A Intimação Lazuli


Depois da confusão no último mês o que Evie mais precisava era da calmaria, trabalhar muitas vezes mais naqueles últimos dias tinha servido para ocupar a mente e afastar os sentimentos, talvez fosse isso que ela precisava no fim das contas, ter Doug de volta era como retomar um pouco do passado, quando os problemas não pareciam afetá-la, quando ela não vivia com a cabeça cheia e tendo que tapar buracos mentais ou sorrir quando não queria nem estar no recinto, para ficar melhor ainda só se Mal estivesse com ela, mas diferente do namorado a garota de cabelos roxos tinha partido para nunca mais voltar, o coração de Evie doía, mas ela tinha que se acostumar com aquilo, tinha que aceitar que de fato não teria sua Mal por perto.

Doug a sentia diferente, quando olhava nos olhos de Evie ou tocava seu rosto ele percebia que esses dias tinham a mudado de uma forma que ele não conseguia assimilar por completo, então não possuía uma opinião formada sobre o que achava sobre ela, mas como tudo sobre aquela garota ele iria tentar ao máximo acompanhar a mudança e ficar ao seu lado, desde que a conheceu ele soube que gostava dela, que Evie era mais do que um rostinho bonito, ela era talentosa, gentil, inteligente, a garota perfeita e havia dias que ele simplesmente não sabia como ela tinha decidido dar bola justamente pra um cara como ele, tinham caras mais interessantes no reino, ele até riu mentalmente pensando que se não fosse pela existência de Mal poderia ter sido Ben o cara que conquistou o coração dela, a Evie que veio da ilha queria um príncipe não é? Mas essa garota tinha mudado, era algo ridículo de pensar, eles estavam juntos agora, não havia o que cogitar.

— Pela força desse abraço você estava com saudades, eu acho. — Doug rio olhando para ela.

— Muita saudade, parecia que esses dias não iam passar nunca. — Evie dramatizou colocando a mão no rosto. — Já estava quase indo na casa dos seus pais te buscar a força.

— É, eu sei que você não vive sem mim, mas foram só uns dias e eu estou ótimo agora. — O rapaz deu uma volta à frente dela de braços abertos. — Viu?

— É bom mesmo, como foi a recuperação da perna?

— Foi perfeito, minha mãe me fez ir a sessões de fisioterapia duas vezes só dia. — Doug levou a mão só rosto. — E me prometer que não iria, nunca mais, andar de moto sozinho.

— E ela não está errada. — Evie sorriu se apoiando agora na bancada. — Se importa se eu continuar desenhando? Eu tenho muitas entregas.

— Alguma vez recusei a oportunidade de te admirar trabalhando? — Ele falou todo bobo.

Não era surpresa pra ninguém que Doug era completamente apaixonado por Evie, o olhar dele dizia tudo, o jeito que ele ficava perto dela, que falava dela, ele era completamente caidinho por aquela garota e se considerava o cara mais sortudo do mundo só pelo fato dela dar bola pra ele, de não ligar para ele não ser o príncipe perfeito, ou de fato ser um príncipe, Evie gostava do que ele era, isso era perfeito.

Eles passaram horas ali, na maior parte conversando enquanto ela desenhava, Evie nem mesmo viu o tempo passar, quando deu por si já tinha feito os vestidos para o aniversário da Fada Madrinha alguns meses ainda a frente, tudo como Jane havia encomendado, a garota foi bem categórica nos detalhes. Quando Evie finalizou já caía a tarde, Doug entreteu-se na última hora com um livro sobre história de alguns reinos que compunham Auradon e nem mesmo percebeu que ela tinha acabado. Depois daquilo eles saíram pra passear, se divertir juntos, jantaram a luz de velas na residência de Evie e até dormiram abraçados, mais apaixonados que nunca, só querendo que aqueles momentos fossem eternos.

Quando acordou na manhã seguinte Evie estava sozinha na cama, temendo que não tinha tudo passado de um sonho ela recobrou a consciência finalmente só ver o bilhete dele sobre a sua escrivaninha, dizia que a veria para o almoço, que teve que sair cedo para uma reunião, mas que tinha deixado o café pronto e Dizzy estava na cozinha, o barulho no cômodo do andar debaixo fez Evie se trocar para encontrar a jovem amiga, veria Doug em outro momento. No entanto, a figura encontrada beliscando entre o café deixado para ela não se tratava da neta da Lady Tremaine e sim de Uma.

— Eu tenho quase certeza que esse café da manhã é pra mim. — Evie assustou Uma com as palavras. — Mas pode comer, tem pra nós duas, o que faz aqui tão cedo?

— Vi o Doug quando chegava e ele saía, estava apressado, não sabia que ele tinha voltado e vocês estavam juntos de novo. — Uma fazia aquela cara olhando para garota azulada.

— Nós nunca deixamos de estar juntos, ele só estava se recuperando da perna quebrada. — Evie passava geleia de morango em uma torrada.

— Depois de você e o Ben pra cima e pra baixo e o Doug longe … — O silêncio de Uma veio acompanhado de um suspiro, como se esperasse uma confissão.

— O Ben é meu amigo e noivo da Mal, que pessoa você acha que eu sou?

— A Mal tá morta, você e o Ben estão vivos. — Uma rodou o balcão parando próxima a Evie. — E sentem algo um pelo outro.

— Você não está esquecendo do Doug? — Evie gesticulou falando baixo. — Nem sei porque estamos discutindo isso, foi o que veio fazer aqui? Falar bobagens?

— Não somente, estava tentando mas você dificulta as coisas. — Uma mordiscou um bolinho de recheio azulado enquanto lembrava o real motivo para estar ali. — É sobre a fundação de apoio a crianças carentes na ilha, a Mal geralmente faz o discurso anual, achei que você poderia fazer esse ano.

— Talvez seja a hora de alguém que more efetivamente na ilha fazer. — Grimhilde respondeu arqueando a sobrancelha e sorrindo.

Elas conversaram por muito tempo sobre projetos para a ilha, Evie concentrava toda a saudade que tinha de Mal apoiando coisas que ela gostaria que acontecessem, causas sociais, melhorar a vida de pessoas da ilha, o lugar de onde as duas tinham vindo, a fundação era uma delas, Evie deixaria na mão de Uma o discurso daquele ano, Mal e Ben sempre faziam aquilo juntos e se ela fosse fazer teria que estar lá do lado dele e no momento preferia uma certa distância do rei, pelo menos até sua mente organizar as coisas e com Doug de volta era melhor focar nele.

Falando no filho do Dunga, ele demorou para voltar, mas esteve lá para o almoço, Evie adiantou o que pode no ateliê, no outro dia não pode dar tanta atenção a ele, mesmo no jantar, já que estava cansada demais depois de um dia longo de trabalho, mas agora prometeu estar com ele o máximo de tempo possível, mesmo que soubesse que ele teria suas tarefas, bom … O almoço era apenas com ele, isso ela teria certeza. Os dois se encontraram no restaurante da Tiana, pelo menos uma das filiais em Auradon, longe de Nova Orleans.

— Então, como foi a reunião? — Evie abaixou o cardápio enquanto olhava para o amado. — Você saiu antes que eu acordasse e voltou a uns minutos, aliás … Você não disse com quem era.

— Foi com o rei. — Ele respondeu sorridente.

— Ben? — Evie gelou a simples menção do nome da majestade de Auradon. — O que ele queria?

— Ele está muito preocupado com você, seriamente. — Doug esticou para tocar a mão fria da amada. — Disse que esses dias tem sido difíceis pra você por causa da Mal e ele se sente culpado por te dar sozinha muitas funções que eram dela.

Evie deixou um fraco sorriso escapar, eram dias difíceis sim, perder Mal Bertha daquela forma trágica foi bastante traumático, mas mesmo assim não era o que mais lhe deixava desconfortável e até pelo qual Benjamin Florian era culpado, mexer com seus sentimentos, isso sim a deixava em uma posição complicada. A jovem azulada mexia com o polegar acariciando de volta a mão de Doug pensando no que ele tinha dito.

— E falaram só sobre mim?

— Basicamente. — Ele recolheu a mão voltando a olhar o cardápio. — Ele me ofereceu um cargo de conselheiro ao seu lado, ele disse que você saiu do cargo por ter acumulado muitas funções e me ter lá poderia ser um alívio pra você, fazermos isso juntos, não seria ótimo?

— Bastante, te ter por perto é sempre bom. — Evie forçou um sorriso no rosto e voltou a encarar o seu próprio cardápio.

Eles mudaram logo de assunto e almoçaram juntos, por um tempo a garota de cabelos azuis se esqueceu das pressões e de como se sentia sobre o rei Ben, estar com Doug de fato era muito mais confortante do que parecia, ele não era um príncipe por família, mas era um por coração, a forma como ele estava lá por ela todo o tempo era diferente, mesmo quando era só para ser um amigo, ele era o homem certo pra ela, não tinha o que cogitar sobre isso.

Mas estar com ele por muito tempo foi difícil, Doug tinha outras tarefas, depois de um mês longe da banda e tendo que se desligar dela por causa do seu novo posto ele precisou ir a uma reunião final, mas prometeu a Evie que depois disso seria só dela. Já a garota resolveu voltar aos tormentos anteriores, quando falou com Belle no telefone ela disse que Ben estaria livre entre uma de suas reuniões e que poderia encontrá-lo na sua sala e foi o que a garota fez.

Bateu na porta gentilmente depois de passar pela secretária do lado de fora da porta, para Evie ele sempre estava disponível, todos sabiam disso, assim como para Carlos e Jay e às vezes até para Uma, Ben tentava manter o grupo unido e por dentro dos assuntos da ilha, também era parte do seu reino. Quando viu Evie entrando pela porta ele parou de assinar uns documentos e passou a olhá-la com um sorriso, mas a face séria dela logo o fez minguar.

— Aconteceu alguma coisa? — Ben se aproximou mas Evie pediu-o que permanecesse onde estava com um aceno de mão.

— Porque você fez aquela proposta pro Doug?

— Para ajudar você, vocês juntos poderão fazer mais pelo reino. — Ben tentava explicar.

— Eu já tinha te dito que não seria mais sua conselheira. — Ela insistiu. — O que você quer?

— Quero você por perto, é pedir demais? — Ben se aproximou mesmo que ela sinalizasse que não, ficando perto demais. — Para de me afastar.

— Você enlouqueceu? Quer que o Doug saiba dessa loucura? — Ela se afastou de novo. — Você não pode usar sua posição de rei para ter tudo que quer, eu não sou um objeto.

— Nós dois juntos não é uma loucura, nosso bei…

— Aquele erro você diz. — A face dela estava vermelha. — Me deixa em paz, Ben.

— Desculpa Evie. — Ele se afastou alguns passos. — Eu ainda vou provar pra você que mereço estar com você e te deixar escolher.

— Obrigada Ben. — Ela ainda estava trêmula. — Obrigada.