Volta ao Mundo

A Chegada de Lyra e Wilbur


A noite tinha começado "perfeita", com a maior tempestade. Mas ninguém estava ligando, exceto, talvez, por aquelas duas figuras que se aproximavam do grande castelo à sua frente.

"Eu disse que deveríamos ter ficado no aeroporto!"Gritou o garoto, para se fazer ouvir acima do barulho da tempestade.

"Estamos chegando!"A garota, pouco mais à frente, gritou de volta."Fica tranquilo que você não vai derreter!

"Essa floresta já assusta sem a tempestade."Ele resmungou.

Finalmente alcançaram a segurança do hotel. Embrulhados nas capas de chuva e pingando água pra todo lado, ambos se dirigiram até o balcão.

"Dois quartos, não sei ainda quanto vamos ficar então deixe em aberto a conta."

O zumbi atrás do balcão resmungou algo e a menina sorriu.

"É Willows. Marisa Willows."

O zumbi resmungou mais alguma coisa e atirou duas chaves para ela.

"Valeu. E é bom que ninguém mais saiba disso por enquanto. Obrigada. Ah, e veja se alguém me arranja um copo de sangue zero urgente."

A menina voltou-se para o companheiro.

"Escute aqui, cara, nada de bancar o baderneiro quando eu não estiver por perto, não cause nenhum problema que vá cair na minha conta depois, não arrume nenhuma briga e comporte-se. Agora pra cima tomar um banho e guardar suas coisas. Elevadores ali, seu quarto é um andar abaixo do meu, se precisar eu vou estar no 173."

"Encontro você lá assim que me livrar dessas roupas molhadas."

Quem olhasse para o sorriso que o CondeDráculatinha em seu rosto, seu tom de voz despreocupado e sua atitude animada, seria incapaz de perceber o quanto ele estava nervoso. Haveria uma inspeção a qualquer hora e tudo tinha que estar perfeito.

Já tinha checado tudo duas vezes, e isso porque a noite mal começara, mas uma coisa ainda o perturbava.Johnny.

Johnny, na verdade Jonathan, era o namorado de sua filha, Mavis. Mas havia um problema, Jonathan era humano, e a entrada de humanos no hotel era suposta a ser proibida. Era a primeira inspeção depois da chegada do humano e o conde não sabia o que fazer.

O mais certo seria disfaça-lo, ou esconde-lo até o inspetor ir embora. MasDráculahavia considerado, por várias vezes desde que recebera o aviso sobre a inspeção, em tentar dizer a verdade e explicar a situação, mas não tinha certeza do que aconteceria. Os monstros ali dentro tinham aceitado bem a coisa toda, mas e os outros fora dali?

Se apenas resolvessem mandar o humano embora, bem, aquilo seria ruim para Mavis. Eles não eram apenas namorados, eram o tchan um do outro.Dráculajá tinha passado por aquilo uma vez e sabia o quanto isso era mal.

Ou talvez eles optassem por fechar o hotel, o que seria ainda pior.

Talvez fosse melhor manter as coisas o mais normalmente possível, ia falar comJohnny, ele iria entender e provavelmente colaborar. Principalmente porque as últimas inspeções tivessem corrido apenas 98% bem, devido a Lyra, ou melhor, a falta dela.

Lyra era uma vampira, antiga residente do hotel. Ela fora abandonada ali ainda bebê e o conde cuidara dela. Lyra e Mavis eram curiosas sobre o mundo fora do hotel mas, diferente de Mavis, Lyra achava que não havia algo que a prendesse ali e, quando fizera quarenta e sete, os dois tinham brigado e Lyra fora embora. Jamais houve notícias dela, masDráculatinha fortes esperanças em seu retorno e, manter o quarto reservado para ela tinha sido alvo de algumas discussões com os monstros do sindicato. A cada ano era uma mentira para encobrir a ausência dela, mas um dia eles iam descobrir. Um diaDráculateria que aceitar que Lyra não ia voltar. Se ela estava viva, estava feliz em algum lugar e tinha se esquecido deles.

Dráculaparou em frente ao quarto da filha e ia bater na porta, mas parou no meio do gesto, alarmado.

"Ela não está."Falou a cabeça empalhada na porta.

Mas não fora isso que chamara sua atenção. O que estava ouvindo eram risos? Ou melhor, os risos vinham de onde ele pensava que vinham?

Encaminhou-se para a porta ao lado e esperou. Sim, vozes e risos vinham de dentro do quarto, que era suposto a estar vazio. Uma era a voz de um garoto e a outra de uma menina, ambas desconhecidas, embora uma lhe parecesse um pouco familiar.

Sem ao menos bater, ele abriu a porta e levou um grande susto quando se deu conta de quem e o que eram as pessoas ali.

Mavis finalmente fechou a mochila e olhou em volta. Pegara tudo? Aparentemente sim. A viajem só seria no noite seguinte, mas ela estava tão ansiosa. Seria a primeira vez que seu pai a deixaria sair do hotel, sua primeira chance de conhecer lugares e pessoas novas. Talvez sua primeira chance de descobrir o porque fora deixada sozinha ali. Pôs a mochila sobre sua cama e saiu do quarto. Estava a caminho do quarto de Jonathan quando encontrou seu pai. Ele tinha um sorriso bem maior que o habitual, principalmente considerando que era dia de inspeção. O que havia de errado?

"Papai, está tudo bem?

"Claro morceguinha. Por que não estaria?"

"E dia de inspeção e você está tão... Estranho."

"Tenho uma surpresa pra você, princesinha."

"Surpresa? Mas meu aniversário já passou!"

"Eu sei, mas aconteceu uma coisa inacreditável! Venha comigo!"

Dráculacomeçou a puxar a filha pelo corredor em direção ao elevador.

"Tem certeza que está tudo bem?"Perguntou a jovem vampira."Eu vou sair amanhã e tenho muita coisa para arrumar."

"Sobre a viajem, minha ratinha, talvez você mude de ideia depois da surpresa."

"Por que? Não vai mais me deixar ir?"

"Claro que sim, docinho de mofo. Mas talvez você prefira esperar um pouco mais."

"Por que?"

"Feche os olhos e venha comigo. Tenho certeza de que você vai gostar."

Mavis obedeceu, mas estava começando a ficar muito preocupada.

Ele só a soltou quando chegaram à piscina.

"Pronto, Mavis!"

A jovem vampira abriu os olhos e olhou em volta. Não havia nada nem ninguém que parecesse diferente ali. Exceto por uma dupla aparentemente humana na piscina.

O menino, ou pelo menos ela supunha que fosse, tinha cabelos negros e estava de costas para ela. Aparentemente, os dois, junto com seus tios Frank, Wayne, Murray e Griffin, jogavam algum tipo de jogo, pois tinha uma rede de teia-de-aranha estendida ao longo da piscina e algo redondo e branco era jogado de um lado para o outro.

A menina estava do outro lado da piscina. Tinha olhos verdes e cabelos loiros e ela sorria de forma animada, deixando à mostra suas presas, pequenas mas mortais.

Mavis entendeu o que deixara seu pai tão animado. Se bem que a bagunça era pra causar o efeito contrário. Aquela era Lyra Willows.

Lyra era como a irmã adotiva mais nova de Mavis. Tudo o que a jovem vampira sabia, era que ela tinha sido encontrada na floresta em uma noite chuvosa. Lyra era alguns anos mais nova que Mavis e, quando a jovemDráculafizera 52 e Lyra tinha apenas 47, a mais nova tivera uma grande discussão com o "Tio", como ela chamavaDráculae fora embora do hotel. O motivo da discussão? Assim como Mavis, Lyra era louca para sair dali, mas, ao contrário de Mavis, Lyra não via nada que a prendesse ali. Ela queria descobrir de onde viera, mesmo que sua família estivesse mesmo morta, comoDráculalhe dissera. E apesar deles terem se tornado sua nova família e o hotel sua nova casa, Lyra não queria se sentir presa e dependente.

Ninguém nunca mais tivera notícias dela, até aquele momento.

Assim que viu Mavis, Lyra se esqueceu do jogo e abandonou a piscina, seu amigo a seguiu.

"May!"Ela gritou animada, envolvendo a "irmã" em um abraço apertado e molhado."Como 'cê tá?"

"Molhada." RespondeuMavis rindo.

"Desculpa."Lyra se afastou."É que faz tanto tempo!"

"Faz mesmo. Pensamos que você estava..."

"Morta."A mais nova riu."Eu sei. Desculpa eu não ter dado notícias, mas estava tão..."Ela não encontrou uma palavra para completar sua frase então apenas sorriu."O mundo é tão maravilhoso Mavy! E os humanos... Não vou dizer que alguns não sejam perigosos, mas a maioria são legais.

"É, agora eu sei."

"Eu percebi. O pessoal nem surtou quando viu Wilbur."Lyra fez sinal na direção do amigo.

"Mas se você não sabia disso, por que trouxe um humano pra cá?"

"Gosto de arriscar coisas novas. E também por que Wilbur é muito teimoso e me seguiu. Vai me contar o porque de toda essa mudança?"

"Vai ser uma surpresa."

"Vamos maninha, não seja má! Brincadeirinha, adoro surpresas. Quer jogar com a gente?"

"Eu não sei o que é isso, não sei jogar e certamente não estou vestida para entrar na piscina."

"Está com medo de jogar contra mim?"Lyra a provocou.

"Não tem problema, a gente dá um empurrãozinho."Falou Griffin, antes de empurrar as duas na piscina.

As duas emergiram rindo animadas.

"Grif!"Gritou Lyra falsamente zangada.

"Desculpem meninas, eu não resisti."

"Eu vou desculpar sim. Mas só depois da minha vingança!"Ela gritou, quando Wilbur jogou uma arma-de-água para ela.

O tiro foi perfeito, mas o homem invisível tinha percebido a movimentação do menino antes e desviou. O jato d'água acertou o condeDráculaem cheio na testa.

"Ops. Desculpa tio Drac."Ela murmurou, mas sem conseguir conter o riso. Mavis e Wilbur também estavam rindo. Mas a vampira mais velha percebeu o olhar do pai e disse para a outra.

"Acho que você se deu mal, Ly."

"Por que?"

Um jato de água a teria acertado se ela não tivesse mergulhado a tempo.

"Você está pedindo guerra!"Ela gritou."Saquem suas armas! A batalha começou!"

Em minutos a piscina estava quase vazia, só sobrara o grupo de guerreiros. Lyra e Wilbur tinham um verdadeiro arsenal nas mochilas.

Então alguém teve a coragem de subir até lá, entrou bem no meio do fogo cruzado e acabou completamente molhado.

"O que está acontecendo aqui?"PerguntouJohnny.

"Johnny!"Mavis gritou.

"Venha se juntar a nós!"Chamou Lyra, atirando uma pistola para ele.

O ruivo correu para trás de uma mesa que estava caída por ali antes que fosse atingido novamente e a batalha recomeçou.

A batalha só foi interrompida com a chegada de uma armadura.

"Senhor! Ela chegou!"

Dráculapareceu confuso por alguns segundos, depois se deu conta do que estava acontecendo.

"Essa não! Eu tinha me esquecido completamente da inspeção. Se ela ver essa bagunça..."

"A culpa foi minha, tio Drac. Eu dou um jeito nisso."Lyra se ofereceu.

"Não precisa se preocupar com isso. Arrumadeiras!"

"Não, não, tio Drac. Eu causei essa bagunça e quero fazer algo para compensar. Vá lá em baixo e deixe isso por minha conta. Morar sozinha me ensinou muitas coisas, tudo o que eu preciso é de um pano, um pouco de música e um par de patins."

Um sorriso se formou no rosto do conde.

"Então por que não aproveita e os meninos ficam para te ajudar?"

"Porque aí seríamos três..."

"Quatro."Corrigiu Mavis.

"Que seja. Mas só temos dois pares de patins."

"Não tem problema. Tenho certeza que vocês vão encontrar uma solução. Divirtam-se!"

"É impressão minha ou seu pai quer os humanos longe da observadora?"Perguntou Lyra.

"Acho que sim. O que significa que nós duas vamos ficar fora do caminho também."

"Sem problema. Ela nunca foi muito com a minha cara mesmo."

"Por que?"Johnnyperguntou curioso.

"Nos conhecemos em um acidente."

Mavis riu.

"Lyra a atropelou com uma vassoura."A jovemDráculaexplicou.

"Como quando nós nos conhecemos?"

"Mais ou menos assim. Mas a Lady Bomtempo ficou furiosa, e ainda mais quando meu pai tentou dizer a ela que Lyra só estava tentando se divertir."

"Estava chovendo e eu estava entediada."A loira tentou justificar.

"E quem são vocês a final?"

"Desculpe. Que falta de educação a minha. Sou Lyra Willows, a "irmãzinha" de Mavis. E esse é meu amigo, Wilbur Robinson."

"Você nunca me disse que tinha uma irmã!"

"Lyra não é bem minha irmã. Os pais dela foram assassinados e alguém a escondeu na floresta. Foi Jack quem a encontrou e papai resolveu cuidar dela."

"E você?"

"Sou Jonathan River, mas pode me chamar deJohnny, namorado da Mavis."

"Namorado?! May, você só tem, o que? 118? Puxa, o tempo voa, não!"

"Ele não é só meu namorado. É meu tchan."

"Tá. Fiquei na mesma. Mas o que realmente me surpreende, é seu pai ter permitido isso."

"É uma longa história!"Responderam os dois.

"Um de vocês vai ter que me contar depois. Mas é melhor limparmos isso antes que a dona encrenca chegue."

"E você também é humano?"Johnnyperguntou a Wilbur.

"Ainda era quando chequei hoje de manhã."O moreno riu.

"E onde você esteve todo esse tempo?"Mavis perguntou.

"Por aí. Acho que conheço quase o mundo todo. Até encalhar na casa dos Robinsons e depois vir pra cá. E você,Johnny, o que te trouxe pra cá?"

"Eu também estava viajando e acabei aqui. Foi quando eu conheci a Mavy..."

"E acabou ficando preso aqui."

"Não estou preso."Ele protestou."Na verdade, eu ia levar a Mavy para o Havaí amanhã."

"Mas com vocês aqui, acho que podemos esperar mais um pouco."Completou a vampira com um sorriso.

"Eu já estive no Havaí. Campeã de surf cinco anos seguidos. Depois eu viajei para a Califórnia."

"Campeã de surf!"O ruivo exclamou."Mas os campeonatos acontecem de dia. E o sol?"

"Uma ajudinha da madame Aracnídia. Paris é uma cidade encantadora, embora tenha algumas pessoas e monstros um pouco metidos."

"E você, Wilbur? De onde você é?"

"Estados Unidos."

"Um lugar muito legal na minha opinião. E a família dele é tão maravilhosa que eu até me sinto em casa lá."Murmurou a loira.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.