Ela... Ela é...

Newt estava na sua maleta, rodeado por todas as suas criaturas mágicas, parecia atarefado, muito concentrado nos seus Bowtrukles, especialmente atento a Pick, o seu habitual companheiro de bolso.

— Está tudo bem, Pick, em breve ficarás bom. – Newt acalmava o companheiro.

Pick havia comido demasiados piolhos… E mais uma vez sentia-se mal. Isso acontecia frequentemente, o feiticeiro começava a achar que era uma desculpa para receber mais atenção, aquela criatura sempre fora muito mimada.

Pick refugiou-se no bolso de Newt, afastando-se dos outros Bowtruckles, o magizoologista revirou os olhos e continuou a verificar as criaturas.

Os pixies pareciam calmos, só tinham trocado a gaiola de lugar umas dez vezes hoje. Encontrou o Niffler a tentar roubar parte do relógio de parede, limitou-se a agarrar nele e colocar no seu habitat, não seria a primeira nem a última vez que o fazia. Continuou a sua vistoria pelo resto da sua maleta, até chegar ao habitat final, o do Demiguise.

— Olá, amigo. Onde estás?

Ao reconhecer a voz de Newt, a criatura saiu do seu estado invisível, e pelo a pelo, apareceu aos pés do feiticeiro, esboçando um sorriso acompanhado com os seus olhos enormes.

— Alguma novidade?

Newt entrara no habitat para o limpar, estava sujo e cheio de papéis de quando fez os estudos sobre a criatura protegida na mala. Era dócil, não violenta, mas muito difícil de encontrar… Newt havia feito muitos rabiscos, estudado comportamentos, separou todas as folhas, por ordem, por categoria… E do meio da papelada caiu uma imagem… Não era um Demiguise… Newt agarrou-a… Era um desenho de Tina.

— Tina…

O murmúrio foi de espanto, saudade, confusão… Não via Tina há tanto tempo… Onde estaria ela? Estaria bem? Teria lido o livro dele como lhe prometeu?

Newt correu a mão pelo rabisco, passou os dedos pelo cabelo, pela sua face… E lembrou-se da sua despedida em Nova York. Ela estava tão bela… Os seus olhos brilhavam… O seu cabelo estava rebelde, mas lindo. Lembrava-se do tom da sua voz, da profundidade dos seus olhos… Ele tinha saudades de Tina.

O Demiguise passou por entre os seus braços… Era macio, era sedoso… Como os cabelos dela… Toda ela era intrigante… Diferente dos outros feiticeiros desinteressantes com quem ele evitava falar… Ela era diferente… Achava-a mais parecida a um Ocami, adaptável e seguro, do que a um feiticeiro… Ela era diferente… Ela tinha a teimosia de um hipogrifo e a força de um dragão… E os seus olhos… Eram como os de Salamandras…

O Demiguise olhou para Newt, depois para a foto, e novamente para Newt. O feiticeiro encarou-o.

— Achas que… Ela leu o livro? – Newt interrogou a criatura.

O ser olhou-o profundamente, como se o entendesse, tocou-lhe no ombro, os olhos mudaram de cor. O Demiguise teve uma visão. Newt acompanhou-a. Via Newt a sair de casa, com o papel da sua detenção e proibição de saída do país na mão. Depois, voltou ao normal.

— Tu… Tu tens razão! Eu só saberei se ela leu o livro, se lhe perguntar! Eu vou ter com ela! Aos Estados Unidos!

A exaltação de Newt veio acompanhada de um enorme entusiasmo, pegou nos seus documentos e dirigiu-se para a saída da sua mala.

— Obrigado, Demiguise… - Agradeceu antes de sair.

A criatura voltou à sua vida, esquecendo completamente do momento que acabara de proporcionar a Newt, e sem saber o valor que tivera.

O feiticeiro corria pelas ruas de Londres, em direção ao ministério, corria com um objetivo, ir ter com Tina, mas não queria apenas perguntar sobre o livro. Queria vê-la, queria tocar-lhe, queria estar com ela outra vez. E sobretudo, queria dizer-lhe… Queria dizer-lhe que ela não lhe era indiferente… Queria dizer como ela era linda… E como… Como… Tinha olhos de Salamandra…