Você Pertence a Mim.

Capítulo 19- É difícil dizer adeus...


“Às vezes, a verdade está bem diante de seus olhos e faz tão pouco sentido que você simplesmente não a enxerga. É como observar o reflexo no espelho de um parque de diversões - fica difícil acreditar que a figura distorcida a encará-lo é você.”

– Retirado de Slash, De Slash com Anthony Bozza

Eu revia aquela cena passar milhares de vezes por meu cérebro. Kurt todo ensangüentado, com vários cortes no corpo e um tiro na cabeça, o sangue jorrava por todos os lados e a única coisa que podia fazer era chorar e abraçar aquele que um dia foi meu melhor amigo. Abri os olhos e sentei na cama, a sensação de alívio tomou conta do meu corpo e suspirei, era mais um pesadelo.

Como estava com um vestido branco pude reparar em algumas manchas estranhas e avermelhadas por todo o vestido, principalmente no peito. Olhei para o lençol que também estava sujo do mesmo líquido que manchou meu vestido e por fim olhei minhas mãos com as mesmas manchas. Meus olhos estavam arregalados. Como não pude reconhecer esse líquido avermelhado? Era sangue.

Um tremor passou desde minha coluna até o dedinho do pé. Será que aquele pesadelo era real? Kurt estava realmente... Morto? Perguntava-me, olhando espantada meu reflexo no espelho. Que tipo de monstro havia me tornado? Como pude deixar o ser que mais me importava na face da terra escapar de minhas mãos? Essa Alice eu realmente não conhecia...

Abri a porta do quarto com força, olhei para a decoração das paredes e concluí que me encontrava na casa de Dave. Desci as escadas rapidamente indo para a sala onde encontrei Axl, Izzy, Dave e Rosalie sentados no sofá com certa surpresa em me ver de pé.

- Então é verdade?

Lágrimas começavam a cair novamente.

- Sim.

Dave abaixou os olhos.

- NÃO! Não é possível! Deus, se você realmente existe como pode retirar a única pessoa que me importava nesse mundo?

Ajoelhei no chão colocando minhas mãos sobre meu rosto.

Axl andou até mim me pondo em seu colo e sentou-se mais uma vez no sofá.

- Tente ser forte. Kurt não que te ver chorar porque querendo ou não, ele te amava.

O ruivo limpou minhas lágrimas e voltou a falar.

- Ele pode não estar com você, mas tenho certeza que em qualquer lugar que ele estiver, ele estará te vigiando e te protegendo.

Will me abraçou com força.

- Lilly, achei isto no quarto de Kurt.

Dave me entregou um envelope que dizia “ De: Kurt Para: Lilly”. Uma carta de despedida.

Querida Lilly,

Decidi escrever essa carta de despedida para ti porque lhe devo explicações e desculpas. Primeiramente quero dizer que fui um tolo, idiota e egoísta por ter te deixado ir embora por conta do meu ciúme... Aquela nossa briga a um ano atrás foi um erro meu. O pior de todos os erros que cometi na minha vida foi te fazer sofrer, eu sinto de todo o meu coração.

Por isso quero que siga em frente, não por mim, mas por todos que estão a sua volta e te amam do mesmo jeito que eu amei. Viva a sua vida com toda intensidade possível e seja feliz acima de tudo. Desejo tudo de bom que o mundo possa lhe dar, você merece. Você iluminou meu caminho e me fez feliz nosúltimos anos que passei ao seu lado, foram os melhores de toda a minha vida.

Sempre que sentir minha falta, lembre-se dos nossos momentos juntos e aperte meu colar com força, acredite, eu estarei aonde você for. Por fim, quero esclarecer que a minha morte não foi sua culpa nem de ninguém. Foi uma escolha própria... Já estava cansado desse mundo traiçoeiro, e sem você comigo eu não tinha razão para continuar a viver. Você era única coisa que me mantinha vivo.

E nunca se esqueça,

Eu te amo mais do que tudo, Alice Melanie Madison.

Ass. Kurt C.

Respirei abraçando a carta com tanta força que acabei a amassando. O meu choro sofrido ecoava mais uma vez por aquela casa fazendo-me correr até o colo de William mais uma vez. Não conseguia ser forte como Kurt queria que eu fosse, era muito difícil dizer adeus...

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A noite tinha chegado junto com a hora do enterro de Kurt. Levantei do sofá com os olhos inchados por conta de horas e horas de choro.Acho que não estava preparada para encarar o corpo de Kurt novamente, a visão horrenda de seu rosto angelical coberta por uma expressão empalidecida.

Sentia um buraco inteiro tomar conta do meu corpo, um sentimento que há muito tempo já conhecia... Dor. Uma dor tão intensa que era quase impossível de descrever, perder o seu melhor amigo não era uma coisa muito fácil. Rose se aproximou e num gesto reconfortante abraçou-me como quem embala uma criança desprotegida. Respirei fundo mais uma vez. Como um conto de fadas tão lindo pôde se transformar num grotesco pesadelo?

Como pude perder meu melhor amigo para uma morte sem sentido? Será que se eu estivesse com ele nada disso teria acontecido? Essas perguntas invadiam meu pensamento numa maré intensa de culpa e arrependimento. Como pude deixar uma pessoa tão importante para mim escapar de minhas mãos? A quem estou enganando, eu fui uma completa idiota...

Acariciei a bochecha de Rose e fui até o quarto vestir as roupas para o cortejo de Kurt. Depois de limpar meu rosto e me aprontar desci ao encontro dos outros que me esperavam. Andamos até o carro de Izzy e partimos calados até o local da sepultação. Chegamos à cerimônia surpresos com o clima muito mais triste e pesado do que esperávamos. Era desesperador.

Dona Wendy chorava acariciando o vidro do caixão de seu filho enquanto Dave andava em círculos como quem estava fora de órbita. Olhei aquele lugar assustador cheio de covas e pessoas de preto, porque Kurt havia nos deixado? Olhava para baixo tentando não chorar mais uma vez. Às vezes a vida podia ser bem bandida conosco levando tudo que nos importa. Foi o que aconteceu comigo... Kurt me ajudou e protegeu quando ninguém estava nem aí para mim, eu só era mais uma roqueira maluca que tentava a todo custo viver uma vida com fortes emoções. Mas essa nossa mentalidade autodestrutiva devastou tudo ao nosso redor e sugou pessoas próximas para o mesmo mundo selvagem em que nós vivíamos. Acabamos por destruir um ao outro e acabar com toda nossa vida e com todos nossos sonhos. Kurt era um bom exemplo disso. Passei a mão no seu túmulo, olhando para trás uma última vez para seu corpo desfalecido. Era hora de partir, de seguir em frente.