Saber o momento de parar. Saber o momento de dar espaço. E saber a hora de seguir em frente.

Tem coisas que exigem muito da nossa capacidade. Decisões são uma dessas coisas.

Você cobra uma resposta de si mesmo, e você não para até ter certeza de que aquela é a decisão certa.

Falhar é a última coisa que desejamos.

*

-Olha... Eu... Me desculpe. - eu digo tentando amenizar a tensão da situação, mas o cara não para de chorar! Isso só dificulta.

-Desculpa?! Sakura você está de brincadeira, não é? - ele para de chorar por um momento, ele muda seu estado emocional muito rápido! Não consigo acompanhar, ele está com raiva agora? - Como você termina com uma pessoa e pede desculpa? Está arrependida? - ele fala quase espumando de raiva.

-Não! - eu falo e me repreendo no mesmo instante por nem sequer fingir hesitação. Ele fica surpreso e furioso, não o culpo.

-Então, por quê? - ele fala com os olhos arregalados, ver ele daquele jeito é extremamente cômico.

-Ah! Eu não sei! Achei que você iria parar de chorar! - eu falo correspondendo a raiva dele. - Deu certo! - eu digo contendo uma risada. Seria muito estúpido da minha parte começar a dar risada em pleno término de relacionamento.

-Olha, quer saber? Todos esses anos foram um erro! - ele diz dando as costas e indo embora. Primeiramente eu fico confusa.

Depois de me recompor do choque e tentar entender exatamente o que aconteceu, eu chego a conclusão de que não vale a pena. Relacionamentos fadados ao fracasso não podem ter sucesso.

Eu pego meu celular e digito um número já familiar para mim.

-Alô? - escuto a voz rouca do outro lado da linha.

-Sasuke? - chamo enquanto ando pela rua em direção ao meu carro, ele está um pouco distante, pois não queria ainda me sentir obrigada a dar carona para o meu... ex-namorado?

-Sakura! - ele exclama em reconhecimento. - Como...

-Seu celular não tem identificador de chamadas? Me poupe. - eu interrompo indignada.

-Eu estou bem obrigada. - ele diz com sarcasmo. - E para a sua informação eu estava distraído e ocupado. -ele diz com o mesmo tom brincalhão de sempre.

-Que seja. - eu digo olhando para os dois lados da rua me certificando de que posso atravessar. Talvez eu tenha exagerado na distância quando estacionei o carro.

-E aí? Como foi? - ele pergunta como sempre interessado. Preciso admitir que se fosse a situação inversa eu já teria perdido o interesse a anos.

-Ele chorou. Depois ficou bravo. Depois... Eu não sei. Parecia que ele queria pisar em mim, mas eu não tenho como ter certeza já que só saiu um pouco de sangue dos olhos. - eu digo com um tom mesclando ironia e irritação.

-Quanto tempo esse durou? - ele fala dando uma risada e eu sinto todo meu rosto ficar vermelho.

-Dois dias, mas ele disse que "todos esses anos foram um erro". Então talvez eu tenha perdido algo. - eu digo rindo enquanto tento imitar a voz do cara.

-Então você namorou outro biruta? - Sasuke pergunta se divertindo com a situação, o que me deixa mais irritada.

-Correção. Outro biruta que utilizou o mesmo discurso de superação que ele usou com a última namorada. - eu digo atravessando mais uma rua enquanto me condeno cada vez mais por ter estacionado tão longe.

-Qual era o nome dele mesmo? - Sasuke pergunta já prevendo a resposta.

-Não deu tempo de decorar. - eu digo um pouco envergonhada, também, não é para menos.

-Precisa parar de achar que namoros são brincadeiras, Sakura. - ele diz em um tom sério e calmo, como quem adverte uma criança aprendendo sobre a vida.

-Eu vou parar. Quando eu encontrar a pessoa certa. - eu falo tentando não levar muito aquilo na seriedade, mas eu sei que ele está certo. - Até lá, eu vou procurar! - eu digo enquanto jogo um dos meus braços para o ar, atraindo o olhar de algumas pessoas na rua.

-Sei...

-Tchau, Sasuke. - digo dando por encerrado o meu relato da semana sobre términos.

-Tchau, Sakura. - ele diz desligando.

Eu paro pra pensar um pouco, já vi várias reações diferentes de pessoas lidando com um término.

Teve um que me disse: "Você é a pior pessoa do mundo! Nunca mais quero te ver!" Enquanto arremessava objetos em mim. Talvez eu seja a pior pessoa do mundo, quem sabe?

Teve um outro garoto que simplesmente disse: "Acho que é melhor assim" Abriu um sorriso discreto e nos despedimos, para nunca mais nos encontrarmos.

Cada um lida com situações a sua maneira.

Eu entro no carro, e a primeira coisa que faço é ligar o rádio. E ao som de uma música muito alta, eu começo a olhar para as pessoas passeando pela rua, enquanto tento não pensar em nada.

É inevitável. Será que eu brinco com o sentimento das pessoas? Eu sou a pior pessoa do mundo? Você fingi que algumas coisas não te afetam, mas no fundo você sabe que vai ficar pensando naquelas palavras por longos anos.

Dou partida no carro enquanto tento esquecer os últimos 10 minutos de conversa, inclusive a ligação para o Sasuke.

Não é como se eu me arrependesse, mas ao contrário do que o Sasuke pensa, para mim não é fácil, eu não faço por estar buscando não me sentir sozinha. Na verdade o que acontece é: eles me conhecem, em poucos dias dizem que se apaixonaram e me pedem em namoro. Eu digo "sim", enquanto só penso que eles estão enganados. Ninguém se apaixona verdadeiramente em três dias. Mas se eu for pensar assim, eles nunca disseram "estou verdadeiramente apaixonado por você", na verdade acho que nem dizem que se apaixonam, é mais um... "Eu acho que gosto de você. Quer namorar comigo?".

Eu passei algum tempo recusando todos os pedidos, mas decidi que era melhor aceitar e depois pedir a separação. Não me lembro da minha linha de raciocínio, mas era algo como: "Não me custa nada, e machuca menos o ego".

Eu me senti horrível nas poucas vezes em que me confecei e não fui correspondida, mas sinceramente, talvez poucos dias de namoro sejam o suficiente para o encanto momentâneo passar.

Uma das poucas coisas que me incomoda no término, talvez a única é o: "Por que você quer terminar?", eu tenho quase cem motivos, mas sempre me sinto incapacitada de dizer qualquer coisa, e a única resposta que consigo dar é "não sei" e continuo enrolando eles com várias desculpas, até que cedam e eu me sinta livre para dizer que "terminamos".

Eu não sofro e espero que eles também não.

Continuo acreditando em uma coisa de quando eu era adolescente, mas com menos afinco do que naquela época.

Meu pensamento era algo como: O mundo é um lugar onde muitas vezes há sofrimento, e você terá uma demonstração disso em todos os lugares. O sofrimento pode ter várias causas. Mas às vezes uma é o suficiente para derrubar alguém. No mundo também há a opressão. Que pode, ou não, ser um fator do sofrimento. Ela se encontra na mesma quantidade que o sofrimento. É difícil você perceber a opressão, mas a forma mais chocante, é ver alguém que não sofre por aquele mal.
Ela pode ser causada por várias coisas ou apenas uma. Mas no mundo há a felicidade. A felicidade desencadeia, mais felicidade. Ela se encontra em grande quantidade no mundo.
Ela é uma coisa simples, que ocorre quando você está alegre e, se mantém nesse estado por algum tempo. O motivo pode ser específico, ou não. Ela pode mudar a vida de várias pessoas.

Eu acreditava que tinha apenas uma coisa que me causava sofrimento, opressão e felicidade. A minha mãe.

Mas as coisas mudam, não? Ela mudou, meus pensamentos mudaram.

Minha relação com meus pais se tornou muito mais harmoniosa depois que minha mãe realizou o tratamento com uma psicóloga. Atualmente eu não vejo muito ela, meus pais se mudaram para outro país, buscando melhorar o desempenho da empresa e facilitar a administração.

Eu sou médica, mas entendo um pouco dos assuntos que eles tratam, em função de cursos antigos.

Enfim, eu percebi que eu não precisava me prender ao pensamento de que meu estado emocional e minhas ações dependiam diretamente da minha mãe. Eu culpava ela e nunca tentei ajudá-la, não que ela estivesse certa na maneira como me tratava, mas eu só fui entender isso mais para frente. Meu estado emocional e minhas ações dependem de mim. Dependem do ambiente que eu crio ao meu redor.

Eu costumava criar ambientes horríveis. Eu era ótima nisso (modéstia à parte), mas quando entendi que isso era errado, busquei parar.

Tive ajuda de várias pessoas. Uma delas é o meu ex-marido, o Sasuke.

Ele ainda me ajuda, mas indiretamente.

Quando nos casamos tinhamos pouco mais de 18 anos, e sinceramente acho que foi o maior erro que cometemos: o tempo.

Legalmente quando nos casamos eu passei a administração de TODAS as minhas partes na empresa dos meus pais para ele. No divórcio, que foi cerca de alguns meses depois do casamento, eu não as exigi de volta. Ele nunca se aproveitou delas, e eu nunca fiz questão, então as deixei com ele. Estão em boas mãos, atualmente ele administra as partes da empresa dos pais dele e as dos meus pais.

O casamento era um pouco insuportável. Esse tipo de compromisso vem com grandes responsabilidades que nem eu, nem ele, estávamos preparados para encarar.

Algumas pessoas falam que para pessoas que diziam estar morrendo de amores, nós desistimos fácil. Mas a verdade é que eu não voltaria atrás. Foi uma experiência incrível, não mudaria nada, mas a separação foi o necessário para nossa saúde mental.

Nosso relacionamento atualmente é bom, ele é um grande amigo, mas no começo ficava um clima que me fazia querer me mudar para outro país.

Às vezes me pego pensando "Por que raios eu ligo para meu ex-marido para conversar sobre meus relacionamentos fracassados?!". A verdade é que eu não sei. Mas é algo que me faz bem, e é uma das formas que ele achou de continuar me ajudando, mesmo que sem querer.

-Sakura! Como vai hoje? - o atendente da doceria me pergunta.

-De carro como sempre. - digo fazendo ele rir, enquanto procuro meu bolo preferido.

-Se estiver procurando o de sempre, sinto te dizer que acabaram de levar o último. - ele diz e eu me sinto frustrada no mesmo instante.

-Hum... - digo enquanto coloco meus óculos de sol. Está frio, o Sol está presente, não ao ponto de eu precisar de óculos, mas eu preciso esconder a minha insatisfação de alguma forma. Não só a insatisfação pelo bolo.

-Não quer nenhum outro...

-Não, obrigada. - digo interrompendo enquanto ando até a saída. - Tenha um bom dia. - me despeço sem encará-lo.

Decido caminhar ao longo de um lago próximo, sem me importar com horários, rumos ou compromissos. Estou de folga, não preciso ir até o hospital atender nenhum paciente. Não me importo com meu carro, dou um jeito depois.

Passo por um rapaz e uma moça recém-casados, tirando fotos após o casamento, me lembro da cerimônia que fiz para o meu casamento. Ela foi extremamente grandiosa.

Eu cruzo com um homem que sorri e acena com a cabeça para mim, eu retribuo o gesto sem pensar muito.

Como se um raio me atingisse eu me recordo dele. Já namoramos, "Acho que é melhor assim", ele foi o mais compreensivo. Momentos me vem a cabeça e é impulsionada por eles que eu corro atrás dele, segurando seu braço. Esse gesto me lembra de uma antiga amiga da escola com a qual perdi o contato.

-Me lembro de você! - digo quando ele se vira para mim surpreso.

-Eu também me lembro de você. - ele diz com calma, enquanto eu ainda estou agitada pela breve corrida que realizei ao seu encontro. - Como anda a vida, Sakura? - ele pergunta se virando para mim.

-Estranha. - eu digo em tom de brincadeira. Ele não parecia perguntar por educação, aparentava real interesse. - E a sua?

-Surpreendente. - ele diz abrindo um pequeno sorriso. - Podemos conversar? - ele pergunta me surpreendendo, me lembro de como ele sempre fora calmo, sem pressa para apreciar as coisas da vida.

-Claro! - eu digo perante a perspectiva de ter companhia. Nos dirigimos para um banco próximo ao lago.

-Continua o mesmo furacão de anos atrás. - ele diz depois de um tempo em silêncio. Aquela frase não é dita como uma crítica, é mais uma constatação, já que é verdade. - Ainda gosta de bolos? - ele pergunta mostrando que mesmo com poucos dias de convívio ele ainda se lembra de vários fatos sobre mim.

-Sim. Acabei de passar na confeitaria. - eu digo. - E você? Ainda gosta de desenhar? - falo depois de alguns segundos tentando me lembrar de algum fato sobre ele. Foi realmente difícil, levando em consideração o número de "relacionamentos" em que estive de alguns anos para cá.

-Sim. Eu me formei e estou trabalhando em uma exposição para uma galeria perto daqui. - ele fala com um pouco de orgulho em sua voz, e não é para menos.

-Sério?! Que incrível! Eu lembro que você desenhava realmente bem. - digo enquanto observo o casal ainda em sua seção de fotos na beira do lago. - Acho que um dia vou passar por lá...

-Vou estar esperando ansiosamente. - ele fala. Eu volto minha atenção para seu rosto, ele exibe um sorriso discreto, mas encantador.

-Lembro que você parecia sempre estar feliz. - eu digo, é mais o ato de "pensar alto".

-A vida é muito bela para eu ficar triste. - ele diz me encarando, conseguindo arrancar um sorriso do meu rosto. Com poucos minutos de conversa já me sinto bem melhor. Ele sempre teve esse efeito em mim. De repente não consigo me lembrar de nenhum motivo para eu pedir o fim do nosso relacionamento naquela época.

-É... - eu digo parando um pouco para pensar. - Você ainda é inacreditável.

-E você ainda é imprevisível? - ele lança a pergunta me fazendo rir.

-Acho que sim. - falo desviando meu olhar.

-Quero conversar outras vezes com você - ele diz me surpreendendo. Olho para ele e percebo que ele está encarando o mesmo casal que eu a poucos instantes. Ele sempre foi direto, não existiam joguinhos, ou enrolação.

-Eu também. - digo sendo sincera pela primeira vez em alguns anos.

-Isso é uma promessa? - ele me encara sério.

-Sim, é uma promessa. - eu digo sorrindo.

-Ótimo. - ele fala voltando a sorrir.

-Mas... Eu posso perguntar uma coisa? - digo e ele balança a cabeça em afirmação. - Qual é o seu nome? - falo envergonhada, ele deixa uma risada sonora escapar de seus lábios.

-Sabia que iria perguntar isso...

*

Nunca uma pessoa irá chegar a um ponto na vida onde ela poderá dizer que aprendeu tudo.

Sempre podemos nos aprimorar, sempre podemos buscar mais coisas. Sempre.

Mudanças acontecem, quer você queira ou não. Às vezes elas são boas, às vezes ruins e às vezes nunca se sabe.

Sempre terei a quem recorrer. Porque esse foi o ambiente que eu criei.

Várias coisas, pessoas, pensamentos vão continuar aqui para sempre. Outros não.

De uma coisa eu sei. Não é fácil derrubar pessoas que tem um bom apoio, boa companhia.

Não permita que os outros te destruam, isso só acontece se você deixar e não buscar ajuda. Não deixe chegar ao ponto de você não suportar mais. Sempre terá alguém disposto a te ajudar.

Precisamos buscar momentos bons, novas experiências, resistir as provações. Precisamos aproveitar a vida.

E por enquanto, eu aproveito o que está... Ao meu lado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.