"Decidi recomeçar a história. Entretanto, preferi substituir o ‘era uma vez’ pelo ‘é dessa vez’."(Lucas Aurélio)

De repente abri os olhos, e com a respiração ofegante percebi que era só um pesadelo. Fazia meses que não tinha noites tão agitadas. Esqueci um pouco isso e tentei me concentrei no sol que brilhava. Tomei um susto quando olhei as horas no celular. Já estava na hora de levantar, em poucos instantes precisaria estar na escola. Não queria pensar muito em como seria o dia. Fui direto ao banheiro. O reflexo no espelho era de uma Marina que usurpou meu lugar. A verdadeira Marina se perdeu na estrada, e eu fui ocupando seu lugar aos poucos. Notei como estava com a cara gorda, meu rosto ainda estava inchado pela noite de sono e meu cabelo parecia ter vida própria e apontava para todas as posições possíveis. Depois de um bom banho, onde a água parecia levar todas as lembranças, escolhi uma roupa leve, uma tipica calça jeans e uma bata com costas nadador. Me olhei no espelho mais uma vez, meu cabelo que um dia foi castanho claro, hoje esta mais escuro, quase preto, e agora molhado. Presa no espelho havia uma foto de 2 anos atrás. Definitivamente eu havia ficado mais bonita, mais mulher. Meu corpo já se encaixava perfeitamente nas minhas roupas. Apesar de tudo não sei se sinto tanta saudade daquela Marina presa a uma foto no espelho. Talvez sentisse, mas isso não quer dizer que gostaria de reviver tudo outra vez. Balancei a cabeça tentando esquecer tudo. Hoje o dia seria maravilhoso, disse a mim mesma com uma falsa esperança. Passei um delineador preto como de costume e desci as escadas. Gaby já havia acordado e estava no colo da minha mãe, Eva. Larguei minha mochila e fui pega-la, enchendo-a de beijinhos, dei um beijo estalado na mãe, minha eterna amiga.

- Bom dia, mãe.

Eva respondeu me olhando pensativa. Ja entendi o que rondava aquela cabecinha preocupada.

- Eu estou bem mãe. O dia não vai ser tãofácil, mas é só o primeiro doano. Tudo vai ficar bem, confia em mim.

Falei tentando acalmar ela, enquanto sentava para tomar café com Gaby no colo. O que era um desafio. Ela nao ficava quieta. Minha mãe agora sorria. Aquele sorriso companheiro que só eu sabia o quanto valia.

***

Fui a escola de carro. Minha mãe havia me dado uma carona. Antes de sair ela ainda questionou se era realmente isso que eu queria. Segundo ela, eu poderia dar meia volta e ir pra qualquer canto do mundo.

- Mãe, por favor, eu preciso estudar. E quero que seja aqui. Estou com saudades de minhas amigas... Fica bem. - Dei um beijo nela e sai do carro. Dei tchauzinho pra minha princesa que estavano banco de trás entretida com uma boneca de pano que havia ganhado no aniversario. Esperei o carro sair e me virei pra ver a entrada do colégio com mais atenção. A placa continuava a mesma. Colégio Batista Renascimento. Aquele seria meu ultimo ano. E o nome nunca me pareceu tão sugestivo quanto agora. Respirei fundo, estufando o peito.Coragem, Marina.Busquei ao menos um rosto conhecido, mas havia chegado cedo demais, era preferível ver as pessoas chegarem do que me observarem chegando.Passei pela porta principal e tratei de ir logo identificar qual seria minha sala. Foifácil, no mural principal havia a lista com os nomes e as respectivas salas. Me preparei para entrar e senti uma mão no meu ombro.

- Mari?

Me virei, mesmo não sendo necessário. Sorri ao ver a Kamila. Estava com um corte de cabelo diferente, uma mecha rosa se destacando no cabelo preto, mas com o mesmo estilo divertido que ela sempre teve. Resumindo, minha melhor amiga. Não pensamos duas vezes e nos abraçamos. Como senti falta dela. Enfim eu comecei a me sentir em casa novamente.

- Nossa Mari, como você esta... morena! Eu sabia que conhecia aquele carrão de algum lugar. Percebi você chegando, mas não acreditei. Precisei vim conferir. Senti tanto sua falta.

- Também senti saudade de você. - Assumi, me sentindo aliviada por Kamila continuar a mesma. 1 ano e meio fora pareceu uma eternidade.

Fomos para a sala, que graças a Deus era a mesma. Ela que era um ano escolar mais nova do que eu, hoje estava junto comigo. Tentei explicar que não me adaptei ao 1° ano do novo colegio, e por esse motivo acabei perdendo. Não era uma mentira. Eu realmente não consegui me adaptar a muita coisa de inicio. Naquele dia, não sei como, Mila falou sobre tudo que tinha acontecido nesse tempo que passei fora.

"Porém uma coisa eu faço: esqueço aquilo que fica para trás e avanço para o que está na minha frente."

Filipenses 3:13