Vizinhos

Crianças perigosas


P.O.V Da Sam

Nunca me senti tão... Tão enganada. Como aquele Topetudo foi capaz de me enganar, fingindo ser gay? Como eu não desconfiei de nadica de nada?

— Você já é um cara morto, pode apostar. - Apontei para ele, furiosa.

— Olha, eu posso explicar... - Sorriu sem jeito. Que descarado.

— Você me depilou. Puta merda! Eu abri as pernas para você! Seu... Seu safado! - Avancei nele.

O covarde correu e se escondeu atrás do amigo. Jade começou a rir.

— Quêm mandou ser tonta, loira? A culpa é toda sua! - A cretina jogou na minha cara.

— Ei, eu não me aproveitei de você. - Se defendeu.

— Pode bater nele, eu deixo. - Beck saiu da frente e empurrou o Freddie para cima de mim.

O safado gritou amedrontado e saiu correndo em direção à porta.

— Me dá o seu short. - Pedi para a West. - E você, a sua camisa. - Olhei para o outro moreno.

O covarde abriu a porta e correu.

Vesti o short por baixo do lençol, coloquei a camisa apressada. Peguei um taco de Baseball que estava encostado na parede, perto da porta.

— PODE CORRER MAS VOCÊ NÃO VAI ESCAPAR! - Berrei assim que corri porta afora.

Minutos depois...

— EU VOU TE PEGAR SEU PERVERTIDO DE UMA FIGA! - Pulei por cima de uma cerca baixa.

O cretino estava correndo pelos jardins vizinhos.

— AI MERDA! - Gritei irada quando fui atingida por uma bolada.

— CORRAM A LOIRA DIABÓLICA VAI NOS PEGAR! - Um garotinho moreno gritou.

Um grupo de crianças correram em disparada se espalhando. Ignorei e voltei a correr.

Mais lá na frente, uma senhorinha estava batendo no moreno com uma bengala. Pulei por cima de outra cerca.

— SEGURA ELE VOVÓ! - Gritei.

Fui molhada por irrigadores que foram acionados. Praguejei.

O sem vergonha escapou de tomar mais algumas bengaladas e correu, atravessou a rua. Fiz o mesmo. Eu já estava ficando ofegante.

O idiota tropeçou e caiu numa calçada. Apertei o taco. Eu ia arrebentar ele.

— PEGUEM ELA! FOI ELA QUEM FUROU A NOSSA BOLA SEMANA PASSADA! - Ouvi um grito furioso.

Parei um pouquinho para respirar. O moreno estava sentado na calçada, tão cansado quanto eu.

Quando olhei para trás, acabei me deparando com um bando de pirralhos. Eles tinham pistolinhas de água, estilingues e cordas

— Ôh, ôh... - Ofeguei.

[...]

P.O.V Do Freddie

— Me soltem! Eu não tenho nada a ver com isso. Nem conheço vocês. - Protestei.

— Você é namorado dela, mané! - Um garotinho me acertou um chute na perna direita.

— Ele não... Ah, ele é meu namorado sim. Descontem nele. Qual é? Sou uma garota! A mãe de vocês não ensinou...

— Calada! - O mais alto dos pirralhos amarrou um pano vermelho na boca da loira.

Estávamos sentados na calçada, amarrados e amordaçados. Também me calaram e nos vendaram.

— Você roubou meu skate novinho. - Um deles usou a pistolinha de água, molhando o rosto da Sam.

— E o meu iô-iô que acende. - Outro molhou ela também.

— Ela roubou meu sorvete! Você paga por isso. - Um nanico bateu em mim, descontando a raiva.

Olhei para a loira chocado. Ela era um verdadeira ladra de guloseimas e brinquedos. Mais acusações vieram. Ela recebia esguinchos de água e eu as pancadas.

— Agora vamos levar eles para a casa abandonada? - O líder da gangue mirim sugeriu empolgados.

Sam tentava escapar das cordas. Tentei fazer o mesmo. Eles tinham dois carrinhos de rolimã. Nos rebocaram para cima dos carrinhos. Jamais admitiria em voz alta, mas fiquei com medo...

[...]

P.O.V Do Beck

— Já se passaram 2 horas. Será que a Sam matou o Freddie, se livrou do cadáver e fugiu? - Perguntei, preocupado.

— Matar? Ela não matou, eu acho... - A morena estava fazendo café.

— Acha? - Eu já estava ficando aflito. Jade deu de ombros. - Olha, relaxa, eles devem estar por aí... Talvez ele esteja no hospital e ela na cadeia... - Brincou.

— Isso é sério? Você não está nem um pouquinho preocupada? - Indaguei, incrédulo.

— Você acha mesmo que aconteceu alguma coisa grave? - Me olhou séria.

— Não sei. Eles já deviam ter voltado, né? - Suspirei.

— É... Pior que sim. Será que... - Ela prendeu o riso.

— O quê? - Perguntei.

— Será que eles estão se pegando? - Fez alguns gestos.

— Talvez, sei lá... - Eu não fazia ideia.

[...]

P.O.V Da Jade

Anoiteceu e nada dos nossos amigos aparecerem. Eles não estavam com os celulares. Fiquei preocupada. E se tivesse acontecido alguma coisa ruim mesmo?

— Eu vou sair. Sei lá, andar pelo bairro. - Me levantei.

— Vou com você. Quer um casaco emprestado? - Perguntou.

— Quero. - Respondi. Ele correu até o quarto para pegar um casaco.

Minutos depois...

— Dona Maggie disse que viu eles sendo levados por crianças. Será que é verdade? - Olhei para Beck.

— Ela deve ter uns 70 anos. A pobrezinha deve estar caducando. - Riu.

— As crianças do bairro são perigosas, não duvido nada... - Comentei.

— Perigosas? - Gargalhou.

— Isso mesmo. Tem um grupinho que apronta muito. Eles são especialistas em amarrar bombinhas nos rabos dos gatos e explodir latas de lixo. Uma vez incendiaram a casa da árvore da Cat. São verdadeiros pestinhas. - Contei a ele que enguliu em seco.

— Não brinca! - Me encarou pasmo.

— Eu tô falando sério! - Afirmei.

— Tive uma ideia. Que tal chamarmos o Robbie, o Sinjin, as Vega e a Cat para ajudar a gente nas buscas? As meninas gostam do Freddie. Robbie é a fim da Sam. O Sinjin faria tudo por mim. - Expliquei.

— Boa ideia. - Concordou.

[...]

P.O.V Da Sam

— Isso é tudo culpa sua! - Freddie jogou na minha cara. - Ladra que rouba crianças! - Acusou.

— Olha, quando eu me soltar daqui, vou arrebentar tua cara, seu nerd pervertido! - Ameacei.

Estávamos no porão de uma casa abandonada. Pelo menos haviam tirado a nossa mordaça e venda. Eu não conseguia ver nada. Estava com sede, com fome, tremendo de frio e espirrando por conta da poeira.

— Isso, porra! - Consegui me soltar das cordas.

Aqueles moleques eram bom em dar nó.

— Aonde você está, medroso? - Perguntei tateando as paredes.

O lugar estava um breu. Tombei em algo.

— Ai meu... Puta merda. Dor do caralho! - Exclamou.

— AAAAAAAAAAAAHHH! - Gritei sentindo algo peludo no meu braço direito, eu ainda estava em cima do Freddie. - Que porra é essa? - Senti um calafrio.

— O quê, sua doida? - Perguntou.

— Tem um troço peludo no meu braço. - Falei, enojada. - Que horror! Se mexeu! - Choraminguei.

— Não se mexa. Deve ser uma daquelas aranhas...

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH! - Gritei quando a coisa peluda começou a percorrer meu braço pinicando minha pele.

[...]

P.O.V Do Freddie

— ME ESPERA! - Saímos do porão às cegas, nem sei como chegamos no corredor escuro.

Sam estava à minha frente. Disparei atrás dela.

— Meu braço está pinicando. - Ela reclamava alto.

— Para aí. - Acabei me chocando com ela. Caímos.

— Ai, ai, ai, você me esmagou... - Choramingou.

— Desculpa. - Rolei saindo de cima dela atordoado.

Minutos depois...

— Aonde estamos? - Perguntei quando saimos daquela casa medonha.

A rua era mal iluminada. Vimos um grupo de pessoas com lanternas. Sam fungou e eu a abracei. Estavam um pouco longe.

— Não tenha medo... - Apertei ela contra meu peito.

— Credo! Você está fedendo! - Me empurrou, se soltando.

— E você está grudenta. Tem teia de aranha no seu cabelo. - Avisei.

— SAM! - Ouvimos uma voz masculina.

— FREDDIE! - Alguém me chamou, a voz era feminina.

— São eles! - Sam pulou alegre. - JADE! - Gritou e correu para a galera que se aproximava.

[...]

— Eram 50 crianças. Elas estavam com tochas e com arco e flecha. Nos amarraram com correntes. Colocaram a gente dentro de um barril bem grande e nos rolaram até aqui. Elas espancaram o Freddie. Puxaram o meu cabelo. Mas eu consegui me soltar. Botei elas para correr. Soltei o Freddie. Carreguei o pobrezinho para fora do casa abandonada e vocês nos encontraram. Foi isso! - Sam narrava a história para a galera. Claro que ela distorceu tudo.

Sinjin, Robbie e Cat acreditaram, ficaram horrorizados. Jade revirou os olhos. Beck prendeu o riso. As irmãs gatas cochicharam entre si.

— Que interessante. - A amiga dela cutucou o Oliver e ele concordou.

— Minha nossa! Elas eram canibais? - A ruivinha perguntou com medo.

— Eram sim. Cuidado! Elas gostam de gente ruiva que amam doces e unicórnios. - Sam assustou ainda mais a garota.

Cat soltou um gritinho agudo e despencou aos pés do Robbie.

— Ela sempre desmaia quando fica nervosa ou muito assustada. - Ele riu nervoso.

— Você está bem? - Trina correu para cima de mim e se pendurou no meu pescoço. - Os pestinhas machucaram você? - Me apertou contra aqueles seios enormes.

— Quer que eu te carregue? Você deve estar exausta, né? - Robbie abraçou a Sam.

Beck não conseguiu mais segurar a risada.

— Sai pra lá, ôh, esquisito! - Derrubou Robbie.

— Pobrezinho, foi muito torturado? - Trina não desgrudava, ela passou a mão por minhas costas.

A loira soltou um palavrão e saiu andando na frente.

Tori começou a rir, ela estava perto. Muito perto do Beck. E Sinjin tentava fazer a ruiva recobrar a consciência dando tapinhas nela.

— Espera, boneca! - Robbie correu atrás da loira raivosa.

— Eu posso cuidar de você lá em casa. Vamos? - A Vega mais velha continuou dando em cima de mim.

— Não. Não vai rolar... Eu estou gostando de outra garota. - Falei.

— De quêm? - Me largou, me olhando enciumada. Me deu até medo.

— Não é da sua conta! - Afirmei.

— CANALHA! - A garota surtou e me deu tapa. - Vamos, maninha? - Puxou a outra morena.

— Porra! Mano, tu é sortudo, hein? Duas gatas te disputando. - Meu amigo riu.

— Olha quem fala, tem duas garotas te disputando também. - Acusei. - Sei que está louco para levar as duas para a cama. - Sorri malicioso.

— Como é que é? - Jade virou para ele irritada.

— Mentira! A Tori nem faz meu tipo. - Se defendeu.

— Era o que o André dizia... - Dizendo isso, foi embora. Era outra raivosinha.

— Valeu. Valeu mesmo, Benson! - O Oliver me deu as costas com raiva.

— Me ajuda a carregar ela? - Sinjin apontou para a ruivinha que ainda estava desacordada.

— Desculpa aí. Tô muito cansado, colega. - Falei me mandando dali.