Viraha

As vezes babaca...


(Quarto de Claire — 9:29 — Domingo)

— Que tipo de trato?

— Um que você me diz onde conseguir uma coisa e como sem ser visto e eu não faço nada que poderia lhe machucar fisicamente ou... — Ele abaixou o volume e fechou a cara em uma expressão nada amigável. — Mentalmente.

— Está bem... Mas que tipo de coisa você quer?

— Bom é fácil, uma joia, talvez você saiba onde a encontrar, ela se chama "Gufra"....

Aquela Joia...

Claire ficou pensando nessa joia quase a semana toda, desde que o roubo acontecera seu pai parecia estar cada dia mais deprimido, ela não havia ido falar com ele ainda e Joseph parecia sempre estar tentando se aproximar, mas nunca conseguia.

Ela ficou imaginando se Joseph estava falando com Arturo ou se a família estava mesmo se despedaçando cada vez mais, agora em um de seus momentos mais críticos. Ela se preocupava se tudo isso não seria culpa da sua arrogância nos últimos dias, tinha medo de ter cutucado em uma ferida que já estava aberta no coração de seu pai, ou então de Joseph ter entendido aquela discussão como uma negação de seu pedido de desculpas.

Mas o pior de tudo era a joia, ela se culpava por te la entregado tão fácil e que talvez ela tivesse um valor sentimental muito maior do que Claire podia sequer imaginar.

Com certeza que era de sua mãe, mas algo dizia que não era apenas por ter pertencido a rainha sumida e sim algo mais, algo que seu pai jamais a revelaria.

Batidas na porta...

— Sim?

Claire se virou e se deparou com o rosto de Joseph.

— Oi

Ele coçou a cabeça um pouco envergonhado, talvez ele não tivesse entendido errado as palavras de Claire, talvez apenas estivesse pensando numa maneira melhor de resolver aquilo tudo.

— Oi...

— Am... — Ele começou a fazer alguns sons estranhos, pensando em alguma coisa. — Como você tá?

— Bom. — Ela se ajeitou na cama. — Eu to bem e você?

— Ahh Bem...

Ele olhou o quarto parecendo um pouco surpreso.

— O que foi?

— Nada é só que. — Ele deu uma pausa e olhou para o chão depois para ela. — Faz algum tempo que eu não venho aqui.

— É... — Ela o olhou, ele parecia triste pelo que acabara de falar. — Vem.

— O que?

— Senta aqui. — Ela apontou para uma parte da cama vazia. — Não veio aqui para ficar bisbilhotando o meu quarto né?

E eles riram juntos. Ele sentiu o conforto do sorriso dela ao mesmo que ela sentiu o dele. O tempo podia ter ferido o coração de uma forma tão profunda, entretanto eles tinham essa conexão tão grande... Mal pareciam estar 5 anos mais velhos, as lembranças logo retornariam aos poucos e ela quase esquecera que ele a tinha machucado.

Depois de um longo tempo eles se encontraram deitados rindo como antigamente, fora tudo tão rápido, muito fácil para ser real...

— Claire?

— Sim?

— Você sabe o porquê de nosso pai estar tão estranho ultimamente.

Algo em Claire remexeu seu estômago, ela lembrou da jóia, da briga, aos poucos retornando os problemas a sua cabeça.

— Não sei bem, mas... — Ela parou pensando se realmente estava apta a se abrir com ele. — Você sabe?

— Esta escondendo algo?

— Não, você está?

— É muito fácil perceber suas mentiras sabia? — Ela revirou os olhos. — Se não esconde nada, me diga onde estava na quarta-feira.

— No castelo.

Ele se levantou a olhando nos olhos.

— Serio mesmo? Eu não te encontrei.

— Encontrou sim, nós até conversamos.

— Eu digo depois disso.

— Continuei aqui.

— Você não fugiu do castelo né?

— Amm não?

— Claire!

— Não aconteceu nada! foi rápido! Eu juro!

— Você estava louca ou o que?

— Joseph olhe para mim eu estou inteira, certo?

— Mas podia não estar!

— Vai dizer que você nunca fez isso?

— Não sozinho sem nenhuma arma ou treinamento!

— A qual é Joseph!

— Quantas vezes isso já aconteceu?

— Essa foi a primeira...

Ela desviou o olhar.

— Claire! Quantas? Diga logo!

— Eu já perdi a conta.

— Meu deus. — Ele esfregou as mãos no rosto e depois elas puxaram os fios de cabelo o deixando todo bagunçado. — Como pude deixar isso acontecer....

— Joseph pare, você nem estava aqui quando tudo isso começou.

— É pior ainda saber disso, a culpa foi minha por ter me afastado.

— Olha, a gente não tava tentando resolver isso?

Ele a olhou triste.

— Me desculpe...

— Não quero que seja assim, isso não foi um erro só seu.

— Se eu não a tivesse deixado...

Claire agarrou as mãos dele e o encarou bem profundamente em seus olhos.

— Joseph pare! Não fique se culpando ai sozinho. Todos nós erramos em algum momento, não é como se fôssemos perfeitos. — Ela respirou fundo e sentou na cama. — A jóia.

— Jóia?

— Gufra, foi a jóia que o ladrão queria, a única coisa que ele queria na verdade.

— Ele disse isso?

— Sim.

— E ele disse o porquê?

Ela lembrou daquele voto de confiança que ele deu a ela antes de começarem tudo aquilo, fora apenas mais uma mentira em sua vida.

— Não. — Ela fez uma pausa, mas logo perguntou. — Você sabe o que aquela jóia significa para o nosso pai?

Ele pensou um pouco.

— Não exatamente, eu sei que quando nossa mãe foi embora ela a deixou com ele, eu nunca soube exatamente o porquê, era muito pequeno, mas de uma coisa eu sei, ele a amava Claire...

Um sentimento triste invadiu ela, se lembrou das ultimas palavras ditas a Arturo, aquilo com certeza tocou algo profundo dentro dele.

— Você acha que aquela jóia era alguma coisa realmente importante?

— Eu não sei, mas ele com certeza depositava muito sentimento nela, talvez ele a visse como uma forma de se sentir próximo dela outra vez. — Uma lagrima se formou nos olhos de Claire. — Olha, não sei o que houve entre vocês, mas de uma coisa eu sei, ele não está feliz com essa briga, ele nunca fica sabe.

— É, eu sei...

Claire se deitou e tentou pensar em alguma forma de se desculpar com seu pai, mas ela não sabia se ele realmente iria perdoa la, talvez nunca mais a olharia de outro jeito depois que ela deixou um pedaço da alma de sua mãe se ir tão facilmente.

(Porto da cidade — 17:51 — Domingo)

Ele esperava com a passagem em mãos para que abrissem as portas daquele navio, aí seria um caminho sem volta.

Leo passou a semana toda vagando pela cidade, sempre procurando um lugar que não havia ido antes, ele queria esclarecer os pensamentos. O conselho de Claire o fez refletir bastante, mas ele em todo aquele momento não havia pensado na raiva que passara e no porquê daquela missão que tornara seu objetivo, a razão de seu viver.

Há tempos que Leo não fazia algo que o levasse a regredir sua jornada e aquela menina simplesmente em questão de uma noite o deixara na maior encruzilhada de sua vida, ele não iria estender sua mão, ninguem estendeu a ele e isso foi o que fez ele chegar onde está agora.

Ele olhava acidade agora começando a acender suas luzes, era uma das cidades mais belas que já conhecera, uma das que permaneceu por mais tempo depois de alguns problemas com o dinheiro.

Em meio as pessoas que andavam por ali ele avistou aqueles cabelos longos e ruivos aos quais eram impossíveis de esquecer.

— Diana!

Assim que ela o viu pareceu se tornar a pessoa mais impaciente do planeta.

— O que você quer?

— A qual é Diana, não se faça de difícil.

Ela olhou para o lado, mas antes que ele voltasse a falar ela voltou seu olhar a ele.

— Não gosto quando me chama assim.

— Pelo seu nome?

— Sim, gostava mais quando me chamava apenas de Ana.

— Mas Ana não combina com você.

— Sabe Leo, você não é a melhor pessoa para dizer isso.

— Bom, no meu ponto de vista eu sou o melhor para dizer isso.

— Os tempos mudaram sabia, não somos mais os mesmos, lembra? Eu mudei, então não venha se pagar de sabe tudo para cima de mim. — Ele ficou um pouco mais serio depois do que ela havia dito, seria difícil para ele convencer a ela que tinham uma boa amizade antes de tudo isso. — Parece que você já decidiu então, não é mesmo?

Ele olhou para o navio parado atras de si e os vários passageiros esperando para que liberassem a entrada.

— Sim...

— Então quer dizer que você desistiu daquela menina? Ou melhor, ela desistiu de você porque finalmente percebeu que você é um babaca.

Ele a olhou com uma expressão de tédio e sarcasmo.

— Não Diana, isso não é uma questão de desistência, acontece que eu superei tudo sozinho, se eu consegui ela consegue também.

— Sozinho? Então transar comigo não fez parte da sua recuperação?Você realmente fez tudo porque você quis? Parece que alguém está sendo hipócrita.

— Você esteve lá, mas.

— Não sabia que para você ajudar precisava ser muito mais do que uma amiga que sempre esteve quando você precisou.

Ela se virou e começou a ir embora. Foi aí que Leo percebeu o porquê da raiva de Diana, ele nunca lembrava dela, apenas se lembrou quando estava abalado, aquilo realmente clareou muitas coisas em sua mente.

(Praça central da cidade — 19:00 — Domingo)

— Estamos encerrados, sem mais inscriçõ...

— Esperem! — Leo gritou enquanto corria.

— Senhor já fechamos as inscrições.

— Mas, por favor...

— Sinto muito, você teve uma semana.

— Não! Senhor você não está entendendo, eu preciso muito disso.

O guarda bufou.

— Está bem, mas seja rápido!

E por fim Leo Ribeiro se tornara o ultimo nome da lista, diversas pessoas se inscreveram, o castelo teria que ser muito seletivo, pois a quantidade de concorrentes seria imensa, assim como Leo teria que se destacar mais do que imaginava, aquilo estava predestinado para levá-lo ao limite.