Viewfinder

Chapter 17. Life goes on


Juro que não sei o porque decidi deixar o Uruha falar comigo.

Ele não merecia minha atenção depois de tudo que havia feito.

Ele chegou meio receoso e se sentou no sofá, me chamando para sentar ao seu lado.

Sentei.

Meio afastado.

Quase um metro de distância dele.

-Eu...Sabe...Poxa, eu não mordo, dá pra chegar mais perto? – ele riu meio amarelo.

-Não, não dá. – virei o rosto.

-...Okkei, tentarei falar dessa distância mesmo...

Ouvi um suspiro pesaroso.

Virei o rosto, o fitando.

-Sabe, Taka, seria idiotice dizer que eu te amo...Se eu te amasse, eu teria ido para a Inglaterra, só pra ficar contigo...Quase fiz isso duas vezes...Mas o medo não deixou, então isso significava que eu não te amava. Amar é não temer o que o destino pode reservar pra ti e pra pessoa que você ama...

O vi corar um pouco.

Eu não sabia que ele conseguia falar todas aquelas coisas de uma forma tão...Formal.

-P-por que...Não falou desde o início, poxa?

-Eu não tive coragem! Sabe, eu tinha vontade sim, de te contar tudo, de te implorar perdão...Mas eu não conseguia! Eu iria te magoar muito!

-Magoou mais fazendo isso. – disse firme.

Ele suspirou e confirmou com a cabeça.

-É...Sabe, eu poderia dizer “Por que você não me falou que vinha?” ...Mas o importaria? Eu continuaria te enganando...E tu não seria feliz comigo...Me senti a escória da humanidade quando tu apareceu na porta da minha casa. Foi um choque...Eu queria te abraçar, te pedir perdão...Mas...Você correu...

-Queria que eu ficasse lá, vendo a cara de bobo do teu namorado enquanto olhava pra mim, se perguntando quem eu era?

-Ele não tem cara de bobo... – ele fez um bico, rindo depois. – Ta, ele tem sim...Ele é inocente nessa, Taka...Ele não sabe de nada. Nem do que falávamos na internet, nem do fizemos antes de você ir embora...

-Mais um que tu enganou, Takashima?

-E-eu ...Não o enganei, eu o privei da verdade. A verdade pode ser dolorosa.

-É, eu sei, sou a prova viva.

Ele me olhou abatido.

Fingi indiferença.

Ele se aproximou.

Eu não podia recuar, iria cair do sofá.

Senti a mão quente dele tocar meu rosto de forma carinhosa.

-Saiba que...Mesmo eu sendo um idiota-covarde, você é e sempre foi a coisa mais importante da minha vida, mais até que o Aoi... – sorriu.

-Então você também não o ama...Você nem me ama e me considera tudo isso...

-Não, não o amo... – suspirou culpado.

-Então por que está com ele? Por que mentiu pra mim? Por que me iludiu, Uruha?! – chorei, não agüentei.

Vi lágrimas escorrem pelo rosto do Kouyou também.

-E-eu me sinto bem ao lado dele...É como uma droga...Me faz esquecer dos meus problemas...E você...Você tava tão longe de mim! – ele soluçou. – Eu não podia te tocar, te abraçar, te beijar! Tem idéia de como eu me senti?!... – aumentara o tom de voz, para depois fazer uma longa pausa. – Aí veio o Aoi, carinhoso e gentil comigo...Sabe, não sou de ferro, Ruki!

-Não estou falando que você deveria se privar, Uruha, estou falando que você poderia fazer uma simples ligação, me contando tudo...Sabe, eu não me decepcionaria...Eu ficaria feliz porque você seria sincero comigo...Seria melhor...Bem melhor do que me enganar durante um ano dizendo que me amava, que estava me esperando...

Ele cobriu o rosto com as mãos, soluçando.

Sequei as lágrimas com a manga da camiseta.

Não sei se ele estava sendo sincero comigo.

Se estava fazendo uma cena pra eu me sentir menos mal.

Ou se estava tentando me reconquistar pra exibir como troféu pro Reita-san, ou para enganar o pobre Aoi.

Fiquei imparcial, era melhor assim.

-Sabe, Ru-chan...Se não quiser me perdoar, eu entendo...Eu realmente entendo, fui um idiota...Mas eu te peço...Tente me perdoar...Eu sei que será difícil...Bem, eu não sei, só você sabe da dor que você sente... – ele soltou uma risadinha sem graça. – Era isso que eu tinha pra te falar...Não vou ficar falando caraminholas para tentar te enrolar ou falar mais do que o necessário...Quero que fique claro que você é muito importante para mim, seja como amante, seja como homem. – sorriu e se levantou do sofá.

Eu o fitei, meio confuso.

Ele sorriu e se abaixou, me abraçando forte.

Retribui o abraço.

-Eu te perdôo, porque mágoa causa câncer... – sussurrei em seu ouvido em meio ao abraço.

Ele se separou do abraço, rindo.

-Okkei...Bom..É melhor eu ir, antes que o Reita me dê um ‘round-house-kick’ digno de Chuck Norris... – ele riu e coçou a cabeça.

Eu ri junto.

Eu imaginei a cena. Era bem engraçada.

-Bai, Uru.

Ele sorriu e foi caminhando até a porta, a abrindo.

-P-posso...Te ligar depois?

Pisquei.

-P-pode...

Ele acenou com a cabeça e saiu.

Soltei a respiração.

Meu deus...

Como meu peito doía.

Demais.

Suspirei e me ergui do sofá.

Reita-san tinha razão.

Bola pra frente, Ruki.