Vidas Trocadas

Capítulo 17.


POV Liza

Tenho evitado Mike desde aquela hora, agora, estávamos todos nos preparando pra entrarmos no ônibus. Queria ligar para Mel, precisava falar com ela, eu não tinha o direito de ter feito aquilo com o namorado dela. Com certeza ela vai me odiar e querer sua vida de volta. Sem nem ao menos, descobrirmos o lance de nossos pais.

Chloe vinha até mim, com uma cara não muito boa.

— Como assim! Como assim, você brigou com o Mike? Mel, ele pode ser um dinossauro, mas é um pedaço de mal caminho! — Falava enquanto agitava as mãos, e entrava junto a mim, ao ônibus.

Nos sentamos junto, e só ai tive coragem de encara-la.

— Não brigamos. Tivemos uma conversa. E resolvemos dar um tempo. — Respondo, colocando a cabeça na janela.

— Oi? Você sabe que “tempo” na língua dos namorados é terminar, né? Ta louca Mel. Você não vive sem aquele banana, e não adianta falar que não se apaixona. Isso já ta velho. — Fala me olhando indignada.

— Chloe, por favor, cuide de sua vida. Cuide do seu namorinho com o professor, e me deixe em paz. — Peço, voltando a colocar a cabeça na janela. Fecho os olhos, e acabo pegando no sono.

* * *

Acordo com alguém me balançando. Percebo que se trata de Nina.

— Vem, chegamos. Você dormiu hem. — Fala, me ajudando a levantar.

Descemos do ônibus e já estávamos na escola. Devia ser umas 20:00 e vários pais estavam buscando seus filhos. Chloe se encontrava encostada na pilastra, provavelmente esperando seus pais.

— Ela ta brava? — Pergunto para Nina, que logo tratou de me responder.

— O que você acha Mel? Você ta diferente. Não é mais aquela Mel que conhecemos anos atrás. Não é aquela Mel que enfrenta os problemas de frente, e não ignorando. Você nunca demonstra fraqueza, e agora ta parecendo uma menininha de 15 anos. O que ta havendo com você? Todos percebemos. — Por um momento fico sem resposta, ela está certa. Eu não sou a Melody, nunca vou ser.

— Eu não queria que isso acontecesse, sério mesmo. Me desculpe se estou fazendo errado. — Respondo, recebendo um olhar incrédulo.

— A Melody Willson que eu conheço, nunca pede desculpas. — Fala, se afastando. Minha boca se abre em um perfeito “O”. Nunca imaginei que Mel tivessem amigos tão fieis que descobrissem quando algo estivesse errado. Sou tirada de meus pensamentos, com a buzina do carro de mamãe. Mas, claro, era Tony quem estava dirigindo. Vou até o carro, e me sento no banco da frente.

— Como foi o acampamento amorinha? — Pergunta com seu típico sorriso aconchegante.

— Briguei com Mike, não sei... Terminamos de uma maneira tão estranha, nos declarando. — Respondo indiferente, recebendo um olhar dele.

— Não reclamou do “amorinha”? Essa é novidade. — Fala, soltando uma risadinha.

Suspiro e observo a estrada. Talvez eu apenas esteja cansada de ser a Melody. É muito mais difícil do que pareceu, se não fôssemos tão diferentes.

Chegamos em menos de 20 minutos, e eu logo adentrei a casa. Resolvi perguntar pro mamãe.

— E mamãe? — Me viro para Tony, que já estava na porta.

— Está meditando. É melhor não incomoda-la. Sabe, como ela fica né? — Responde, indo direto pra cozinha.

Sim, eu sei, mas pela primeira vez vou tomar uma atitude digna de Melody. Paro em frente a porta branca, que dar acesso ao “canto de meditação” de mamãe. Penso em bater, mas isso iria irrita-la. Então, entro de surpresa mesmo.

Ela estava em um canto, olhando um álbum de fotos, que imediatamente reconheci como o meu álbum, de natal. Me lembro, de que quando tinha uns 4 anos, no natal, ele resolveu tirar várias fotos minhas, e coloca-las em clima de natal. Mas o que ta fazendo com ela?

— Mãe? — Chamo, a assustando, e fazendo-a fechar o álbum logo em seguida.

— O que você quer Melody? — Pergunta friamente.

— Saber que álbum é esse.

— Oras, é seu álbum. Não se lembra?

Como ela pode ter a cara de pau de mentir?

— Nossa, porque eu não lembro de ter feito um álbum de natal. — Falo, pegando o álbum de sua mão. Com certeza era o meu, ainda lembro da antiga decoração da casa.

— Você era muito pequena, não deve se lembrar. Agora, por que veio me encher o saco? Não deveria estar dormindo? Amanhã tem aula. — Pergunta, pegando novamente o álbum pra si.

— Olha, se fazendo de mãe responsável. Eu só vim, porque de certa forma senti saudades. Mas, pelo visto você prefere ser insensível como sempre. Boa noite mamãe. — Respondo saindo do quarto.

Entro em meu quarto, e já disco o número de Mel. Preciso conversar com ela, seriamente.

POV Mel

Sim, eu sobrevivi ao ataque de Lori. Pasamos o dia todo naquele inferno que ela chama de loja. Sério, não aguento isso não. Amanhã irei começar as aulas. Lindo! Só que não. Segundo Lori, terei aulas ás Segundas e Sextas. Perfeito! Nem aqui nem na China.

Se eu sobreviver as essas aulas frufru, Maias, podem vir. Aguento o fim do mundo.

Nunca imaginei que ter uma madrasta é tão insuportável. Sempre zoei as princesas da Disney, com suas madrastas. E agora, estou vivendo o inferno.

Mary consegue ser pior que minha mãe e o Capeta juntos. É, eu sei, impossível. Mas é a verdade. Dar vontade de dar umas voadoras naquela cara de panqueca amassada dela. E o pior de tudo, é que papai defende.

Estava em meu quarto, desenhando. Sim, eu desenho. Quando se é filha de uma estilista talentosa, e cresceu em meio a vários desenhos, é quase impossível não adquirir esse talento. Mas, só desenho quando estou realmente inspirada. Ou quando por um milagre de Deus, eu consigo um lugar calmo e silencioso para desenhar. Geralmente me expresso nos meus desenhos, é a forma que eu tenho de me comunicar, por mais que Chloe seja a única que já tenha visto algum desenho meu.

Meu celular toca, me tirando da concentração. Era Liza.

— Fala xerox mal feito. — Digo, assim que atendo.

— Mel, precisamos conversar. E não vai dar por telefone. — Falava apreensiva, parecia nervosa.

— O que? Não podemos nos encontrar. Podem nos ver.

— De noite? Num lugar reservado? Pense né Melody. Me encontre naquele mesmo café de antes, eu preciso conversar com você.

— Ok, já estou saindo. Só não seja retardada. Até daqui a pouco. — Acabo concordando, já que era melhor não discutir. Levanto, e pego alguma roupa. Prendo o cabelo e saio do quarto.

Papai estava cozinhando, sim, descobrir que papai cozinha. E muito bem, por sinal. Pena que não irei apreciar o jantar.

— Pai, Lori me chamou pra um café, estou indo. — Falo, enquanto passava pela cozinha.

— Ok querida, volte cedo, amanhã tem aula. — Avisa, e eu aceno com a mão. É tão simples conversar com ele. Pego o carro, e vou em direção ao tal café.

* * *

Liza, já estava sentada em uma das mesas. Parecia que estava em uma missão de espionagem, toda de preto, óculos escuro, chapéu e tudo. Meu deus.... Que exagero.

Vou até ela, e me sento em sua frente.

— Ta fugindo de quem? FBI? — Pergunto brincando. No fundo, estava feliz por ve-la novamente.

— Rá rá. Que engraçado. Vim previnida. — Responde séria demais. Ela estava estranha, nervosa talvez.

— O que foi? Quem morreu? — Pergunto, com o máximo de seriedade possível.

— Bom, primeiro: Preciso te contar uma coisa estranha que aconteceu com a mamãe. — Responde, me deixando curiosa, logo depois, ela começa a contar.

Não conseguia falar nada, só ficar de boca aberta. Como assim, minha mãe tem um álbum de fotos da Liza?

— Okay, isso foi estranho. — Falo bebendo mais um pouco de meu café.

— Muito estranho. E agora você deve investigar, e ver se papai tem algum seu. Eles podem saber das nossas existências, e se for isso, é mais grave do que pensamos. — Fala, pensativa e com jeito nerd de sempre.

— Então, era só isso? — Pergunto, já querendo sair dali logo.

Não sei por que, mas senti que ela hesitou por um momento.

— Ér.... Não... Eu não sei se devo te contar. — Responde, angustiada. Ergo as sobrancelhas confusa.

— Pode falar, eu não mordo não. O que você fez? Matou um cachorrinho?

— O Mike se declarou pra você, e eu terminei com ele.

Não tem palavra que descreva o que eu sentir nesse momento. Não sei se era raiva, ciumes, surpresa ou amor. Nunca imaginei que Mike sentia algo sério por mim. E quando finalmente ele fala, ela simplesmente termina com ele?

— O que? Por que? Eu só quero saber por que você terminou com ele, é inveja? É por que eu tenho alguém que goste de mim, e você fica no seu amor platônico? — Pergunto, visivelmente irritada.

Ela estava chorando, mas nem isso fazia minha raiva ir embora.

— Não... É por que, eu estou gostando dele. Essa semana foi incrível, eu tive o melhor namorado que poderia ter. E sim, eu me sinto horrível por está sentindo isso, por que eu sei que você gosta dele. Se faz de durona, mas você gosta dele. E sabe por que eu sei? Porque eu vivenciei isso. Porque eu estive na sua pele. E vi o quanto se amam. É impossível não se apaixonar quando convive com uma pessoa maravilhosa por 1 semana, 24 horas por dia. Quando beija aquela pessoa, e recebe toda a atenção. Me desculpe, eu realmente não queria.

Eu ouvia tudo indignada. Ela não tinha o direito de fazer isso comigo. Enxugo as lágrimas e me levanto.

— Então, você não aprendeu nada sendo eu. Eu não me faço de santa, eu não fujo das responsabilidades, eu não espero ser perdoada, e eu, principalmente, não peço desculpas.