Luan e eu saímos do consultório em total silencio.

Shelby e Daniel estavam nos esperando do lado de fora do hospital.

—Graças a Deus! Esta tudo bem? – Shelby me abraçou.

—Sim. – sorri – e com o bebê também.

—Amiga! – ela arregalou os olhos.

—Ele já sabe.

—Sabe do que? – Daniel perguntou.

—Malu esta gravida. – Luan respondeu.

—Caramba! – Daniel ficou surpreso e depois sorriu. – parabéns seus lindinhos!

Luan sorriu. Mas percebi que ele ainda estava processando tudo aquilo. Com certeza sua ficha estava caindo. Ele se sentiria obrigado a cuidar de mim e do meu bebê. Droga. Eu tinha que dizer logo que poderia me virar sozinha. Não precisava que ele se sentisse preso a mim.

Mal via a hora de chegarmos ao apartamento para que eu pudesse explicar tudo a ele.

Pedimos um taxi e fomos para o hotel.

Luan abriu a porta pra mim e eu agradeci com um sorriso. Eu estava tão ansiosa e nervosa quanto o dia em que fui para Yale.

Coloquei um short e uma camiseta, não queria que nada nos distraísse, nem um decote.

Ele tirou a camisa e se sentou na cama. Ver aquele abdômen definido me fez querer agarra-lo, mas eu não podia, tinha que me controlar, precisava conversar com ele.

—Luan. – minha voz era baixa.

—O que?

—Precisamos conversar.

—É. Eu sei.

—Eu entendo que você esteja bravo ou algo do tipo.

—Por que não me contou?

—Ah... – suspirei e me sentei ao seu lado. – não queria que você se sentisse preso a mim.

—Preso a você? Você acha que é sacrifício ficar com você?

—Não é isso! É que depois do que eu fiz, você não me merecia e ainda não merece.

—Malu me escuta! Eu te amo e me arrependi de ter terminado com você, eu pensei muito e aproveitaria essa viagem para tentar concertar as coisas entre nós. Você não percebeu que estava me aproximando de você de novo?

—Sim. Eu percebi...

—Então. Droga!

—Eu sinto muito, eu estava com medo...

—Não acredito que não ia me contar.

—Luan... – senti meus olhos arderem.

—Eu teria ficado tão feliz quanto fiquei hoje. Saber que tem um pedacinho de mim dentro de você é a melhor coisa!

Fiquei sem palavras. Eu me sentia mais culpada do que nunca.

—Eu não sei o que falar. – uma lagrima escorreu dos meus olhos.

—Não chora. – ele a limpou com o polegar. – não gosto de te ver chorando.

Como ele ainda podia se importar assim comigo?

—Você não percebe o quanto é complicado estar comigo?

—Eu gosto de coisas difíceis, acho que você já percebeu isso.

Cravei meus olhos nos deles, eu precisava beija-lo, precisava sentir o gosto da sua boca.

—Eu te amo... – sussurrei indo em direção ao seus lábios. – me desculpa – falei entre beijos.

—Não tenho nada pra te desculpar meu amor. – ele colocou as mãos em minha barriga. – farei de vocês os mais felizes.

Sorri e estava pronta pra me atirar nos braços dele quando começaram a bater na porta do apartamento.

—Ah cai fora! – Luan gritou.

—Abre logo isso! – reconheci aquela voz.

—É meu pai. – falei.

—O que ele quer aqui?

—Eu não faço ideia.

Luan vestiu a camisa e foi abrir a porta. Meu coração gelou, seja la o que meu pai queria, não era nada bom.

—Você não conseguiu o dinheiro! – ele foi furioso até mim.

—Não teve como! – me levantei. – quando descobriram que eu era sua filha não quiseram jogar comigo.

—Por que não os mandaram para o inferno?

—Da pra se acalmar?

—Não! Os capangas do Julian estão atrás de mim, o prazo era até hoje!

—Para de gritar antes que eu te de um soco! – Luan surtou.

—Ah cala sua boca! – ele me segurou pelos braços. – preciso desse dinheiro. Agora!

—Não tenho. – eu estava começando a ficar com medo.

—Mentira.

—Solta ela seu imbecil! – Luan o puxou e o empurrou.

—Esta bem. – meu pai começou a rir.

Em questão de segundos ele foi até a cômoda e pegou minha bolsa.

Ele saiu como uma abelha do apartamento. Gritei pra que ele parasse, mas ele corria tão rápido que foi quase impossível alcança-lo.

—Miserável. – Luan gritou descendo as escadas atrás dele.

Eu corria como uma lesma atrás.

Meu pai entrou no carro dele e saiu apressadamente.

—Vou atrás dele. – Luan me disse. – suas coisas, estão todas naquela bolsa.

—É perigoso. – peguei sua mão. – nem temos carro.

—Vou ser obrigado a arrumar um.

—O que você vai fazer?

Ele parou um táxi e tirou o motorista a força de la.

Eu não podia o deixar ir sozinho. Seria perigoso demais e eu queria estar segura de que Luan ficaria bem.

—Você não pode ir amor. – Luan disse quando entrei no carro.

—Vamos enfrentar isso juntos.

—Saia daí! Eu vou chamar a policia! – o motorista gritava.

Luan acelerou e começamos a perseguir meu pai.

Meu pai estava em alta velocidade, assim como Luan.

Meu coração estava acelerado, eu não podia passar nervoso. Mas aquilo era loucura.

Os carros buzinavam quando desviamos deles. Ir à contra mão, virar as esquinas quase atropelando as pessoas, isso tudo era errado! Todos poderiam se dar mal.

—Isso é insano. – comecei a tremer. – deveríamos ter chamado a policia ao invés de perseguirmos ele.

—Não pensei nisso na hora.

—Nós roubamos um carro!

—Na verdade pegamos emprestado por um tempo.

—Eu estou com medo.

—Fique calma. Vamos alcançar seu pai e o entregar para a polícia. Me diz se você se sentir mal.

—Ah meu Deus! – gritei quando quase batemos em um caminhão. - Eu sou a menor das preocupações agora.

—Fica calma meu anjo! Você não pode se estressar.

—Eu juro que estou tentando.

Não tinha como me acalmar. As ruas estavam movimentadas e meu pai e Luan correndo como loucos, aonde pararia tudo isso?

Ouvi o barulho de sirenes. Olhei pra trás e vários carros policiais estavam indo logo atrás de nós.

—Estamos ferrados. – falei.

Saímos de Las Vegas. Tinha certeza que nem meu pai sabia pra onde estava indo.

Ele tinha que se tocar que não teria como fugir.

—Parem os carros agora! – ouvi dos altos falantes.

—Acho melhor paramos Luan.

—Nem louco, seu pai não pode se livrar pra sempre.

—Isso não vai acabar bem, eu estou com um mau pressentimento.

Estávamos perto do carro do meu pai.

De repente apareceu uma curva. Ouvi os barulhos dos pineis quando Luan brecou após ver o carro do meu pai capotando.

Desci do carro o mais rápido possível.

Os policias pararam logo atrás e fizeram o mesmo.

—Espera amor! – Luan me segurou impedindo que eu corresse até meu pai.

O carro dele estava despedaçado.

Eu não amava meu pai, mas não desejava sua morte.

Comecei a chorar sem nem perceber. O abraço de Luan não foi o suficiente pra me confortar, eu precisava saber se meu pai estava bem.

—Vai ficar tudo bem. – Luan sussurrou.

Eu sabia que não ficaria nada bem. Talvez meu pai nem estivesse mais vivo. Queria que ele pagasse por todo mal que fez, mas não com sua própria vida.