POV Aria

Era madrugada quando chegamos na Academia. Mamãe foi rapidamente reconhecida e logo nos colocavam para dentro das cozinhas para comermos. Lúcia veio nos receber com abraços; ela e mamãe eram amigas de muito tempo e ela era a chefe das cozinhas. Logo estávamos sentados e comendo. Eu, como sempre, ataquei a comida e terminei primeiro. Fiquei então a olhar para os lados sem ter o que fazer até que vi, na porta, meu avô entrando.

–-É o vovô – digo a minha mãe e a Tommy e me levanto.

–-Olá minha pequena – diz meu avô quando me aproximo abraçando-o.

–-Já sou grande vovô – digo fingindo estar ofendida e ele ri junto comigo; minha mãe chaga logo depois.

Os dois se abraçam, mas eu noto o sorriso do meu avô diminuir. Percebo que Tommy notou a mesma coisa porque colocou a mão sobre o meu ombro, como ele costuma fazer quando acha que vem coisa ruim pela frente e quer evitar que eu faça algo desnecessário. Quando eles se separam vejo os dois se encarando como se conversassem, o que é até provável de estarem fazendo.

–-O que houve? – pergunta minha mãe já preocupada.

–-Não sei – responde meu avô Eliot com um suspiro; Tommy parece relaxar e tira a mão do meu ombro – Mas que as coisa não estão bem, isso não estão mesmo.

–-Pai; o que está acontecendo aqui na Academia? – pergunta minha mãe rolando os olhos para a resposta do meu avô.

–-O verdadeiro caos na minha opinião – diz ele se sentando numa mesa próxima, vejo minha mãe rolar os olhos de novo, mas dessa vez ela deu um pequeno sorriso e se sentou ao lado do meu avô; Tommy e eu ficamos do lado deles – Cada dia os treinos são mais acelerados. Cada dia que passa faltam mais soldados e sobram mais famílias com alguma perda – falou meu avô

–-Sabíamos que uma guerra que durasse tanto tempo traria esse tipo de consequência – minha mãe falou num tom sério, mas eu notei que isso a deixava irritada.

Até eu entendia que ela odiava não poder fazer nada, mesmo fazendo muito mais do que muita gente. Isso me fazia ficar ainda mais irritada por ela continuar insistindo em não me ensinar a lutar. Era ilógico já que ela mesma tentava fazer mais, então porque me impedir de ajudar?? Eu entendo que provavelmente ela queria me proteger, mas não seria mais fácil ela me proteger me ensinando a ser como ela??? Lutar como ela seria a melhor proteção que ela podia me dar. Claro que já tinha tentado esses argumentos. Claro que nenhum deles a convenceu. Voltei a prestar atenção quando um soldado do portão entrou correndo.

–-Mestre Eliot!! – ele chamou ofegante parando em frente ao meu avô e a minha mão fazendo uma reverencia – Mestre Eliot, chegou uma mensagem para o senhor.

–-Então diga logo a mensagem – falou meu avô já irritado com a interrupção.

O soldado estendeu um pergaminho selado e fez outra reverencia. Encarei o pergaminho por cima do ombro de minha mãe e vi o selo real, um lobo impresso sobre cera cinza que selava a mensagem. Vi meu avô abrir a mensagem, minha mãe ficou em silencio esperando e eu e Tommy também.

POV Narradora

A mensagem com o selo real que Eliot recebeu era uma mensagem da própria rainha. Aparentemente e por não estar identificada por fora dava-se a entender que ela a havia enviado por outros meios pelos quais não poderiam descobrir a mensagem até que a mesma chegasse ao seu destino.

–-Vamos até o meu dormitório – disse Eliot com uma expressão muito séria – Traga as crianças também, vamos todos.

–-Pai, o que é a mensagem? – perguntou Sarah nervosa.

–-Vamos – insistiu ele se levantando.

Todos os três o acompanharam. Minutos de caminhada pelos corredores da Academia depois estavam os quatro Hawkey’s no quarto de Eliot no alojamento. Ele trancou a porta e indicou a cama para os três se sentarem. Sentaram-se com Aria no meio e Eliot sentou-se em frente a eles numa cadeira que tinha estado encostada junto a uma mesa na parede.

–-É uma mensagem da Rainha Regente – disse Eliot seriamente – Ela pede-me para achar você e então pedir-lhe que vá o mais rápido possível até a Cidade Real.

–-Partimos em meia-hora – diz Sarah se levantando – Não tiramos nada dos cavalos. Chegaremos lá em dois dias ou menos.

–-Aria e eu vamos preparar os cavalos – diz Tommy se levantando também, Aria também se levanta.

A garota ainda para antes de sair atrás do irmão, ela queria ficar e ouvir a parte séria da conversa. No entanto ao olhar para a mãe e o avô que se encaravam de maneira séria ela entende que não adiantaria nada ela tentar ficar, pois eles não permitiriam. Assim que as crianças saíram Eliot se levantou e começou a andar de um lado para o outro no quarto.

–-É algo sério, não é? – ele pergunta a Sarah enquanto caminhava até um dos cantos do aposento.

–-Sim, provavelmente é muito sério. Para Elizabeth ter me chamado algo não pode estar nada certo.

–-Nunca me disse que tinha se tornado tão próxima da Rainha Regente no tempo que passou na Capital do Reino – comenta Eliot parando no meio do quarto e encarando a filha.

–-O que quer dizer com isso? – Sarah fica confusa com a frase do pai.

–-A Rainha Elizabeth está pedindo a sua presença; se fosse uma mensagem a qualquer outra pessoa ela teria, provavelmente, exigido a presença de tal. É uma troca simples de palavras, mas que muda muito o contexto da coisa toda – fala Eliot.

–-Pai, achei que desse aulas de esgrima e não de retórica – fala Sarah rolando os olhos – Digamos que Elizabeth e eu nos demos muito bem, já que, acredito eu, pensamos de uma forma muito semelhante.

–-Entendo. O que pretende fazer? – questiona Eliot seriamente quando a filha chega em frente a porta.

–-Resolver seja lá qual for o problema que tenha levado Elizabeth a me chamar – responde ela.

–-E depois?

–-Depois vamos ver o que acontece – diz Sarah suspirando e saindo de lá deixando Eliot pensativo.

... ... ... ... ...

Era quase meio dia quando Sarah e os filhos deixaram a Academia e seguiram pela Estrada Real. O dia ainda não havia amanhecido quando os três chegaram em um portão lateral da Capital do Reino. Os três entraram sem chamar atenção e seguiram diretamente para o Castelo Real onde Sarah apresentou a mensagem e foi levada por um dos guardas diretamente até Elizabeth que estava em seu escritório dentro da biblioteca.

–-Não pensei que chegaria tão rápido – disse a Rainha se levantando e saindo de trás de uma grande mesa de madeira; ela encara os dois guardas que estavam lá dentro e manda-os sair.

Assim que os soldados saem Elizabeth se aproxima de Sarah e as duas se cumprimentam com um abraço. Depois de dar um sorriso a Tommy e Aria a rainha volta ao seu lado da grande mesa e indica uma das duas cadeiras a frente de Sarah. A Hawkey se senta, mas os filhos continuam em pé se posicionando logo atrás da cadeira da mãe.

–-Qual é o problema, Elizabeth? – pergunta Sarah seriamente.

A Rainha Regente então pega de dentro de uma gaveta dois rolos de papel, eram duas mensagens, uma bem pequena que ela deixa a sua frente e outra bem maior que estende a Sarah.

–-Isso chegou a mim há três meses. Com o selo de Maincrafss e assinada pela Princesa Judith, filha do Rei Jefferson. É ela quem comanda o tudo desde que o pai adoeceu a 8 anos – dizia Elizabeth enquanto Sarah começava a abrir e a ler a longa carta – Em resumo, ela diz ai que quer me dar a chance de rendição antes de seu exército devastar as tropas do Reino; claro que tudo isso com grande doses de retórica e enfeites numa narrativa cansativa e irritante. Obviamente eu enviei uma resposta escrita da mesma forma recusando esse absurdo.

–-Ainda não entendi o motivo de ter me entregado essa mensagem se a resumiu para mim – disse a Hawkey estendendo de volta o papel.

Elizabeth recusa fazendo sinal para que ela continuasse com aquilo e entrega a Sarah a pequena mensagem escrita num papel sem identificação nem selo algum. Sarah pegou aquilo e leu. Eram apenas duas linhas com duas frases sem nenhum sentido.

E ai estaremos novamente com a brisa que trata o fim do sol

Prossiga com a carruagem levando o que desejo

–-Provavelmente é um código – falou Sarah – Conseguiram decifrar a mensagem?

–-Não tenho muitos trabalhando nisso, esse bilhete é algo que esta sendo escondido de todos no momento – respondeu Elizabeth – Isso foi interceptado pelos guardas com um velho carroceiro que trazia lã para dentro da cidade. Ele parecia nervoso e com uma atitude suspeita. Prenderam-no e ele admitiu que um homem o havia parado na estrada alguns quilômetros antes da cidade e dado a ele 5 moedas de prata dizendo para levar esse papel no bolso até a praça central. Segundo o senhor, o homem disse que alguém pegaria o papel do bolso direito dele e deixaria no lugar moedas de ouro como recompensa.

–-O que fizeram com o velho?? – perguntou Sarah.

–-Está preso numa cela isolada onde apenas dois guardas de minha confiança tem acesso – responde Elizabeth – Mas não foi por isso que lhe mostrei essas cartas.

–-Não entendo. Qual a relação entre as duas? – Sarah fala confusa – Porque se queria apenas minha ajuda com a mensagem não precisaria ter me mostrado a carta.

–-Olhe atentamente para a caligrafia, Hawkey – disse a Rainha apoiando os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos e colocando o queixo sobre as mãos.

Segundos depois de encarar ambas as cartas uma ao lado da outra Sarah arregala os olhos e encara Elizabeth com uma expressão indecifrável.

–-Parecem idênticas – murmura ela com os olhos cinzas confusos – As letras, a forma como são escritas....... Eu posso jurar que foram escrita pela mesma pessoa – ela completa num tom mais alto.

–-Foi a mesma impressão que eu tive ao ler ambos – concorda Elizabeth – Se foram mesmo escritas pela mesma pessoa isso pode vir a se tornar algo muito perigoso e complicado.

–-Se a mensagem era pra alguém aqui na cidade isso também significa que há informantes ou traidores muito mais perto do que deveriam ter chegado – diz Sarah colocando as cartas sobre a mesa.

–-Traidores tão perto do trono sempre existiram Sarah – diz a Rainha se levantando e indo até uma das janelas – O que me preocupa é que eles possam ter se tornado também informantes.

–-Isso tem relação com o fato de ter me chamado até aqui não tem? – questionou a Hawkey.

–-Estou enfrentando sérios problemas de oposição com o conselho devido a minha “falta de conhecimento militar” – disse Elizabeth com desdém ao se referir ao conselho; ela então se vira e encara Sarah com um olhar sério – Quero que seja a minha conselheira nesse assunto – disse ela e Sarah entendeu a ordem por trás do pedido – Sendo formada na Academia não poderiam discutir seu conhecimento. Tendo ainda os feitos que tens eles seriam questionados se duvidassem de você. E eu não confio tanto em mais ninguém para assumir isso.

–-Presumo que já tenhas feito tudo o que fosse necessário para isso não é? – perguntou a Hawkey com um discreto sorriso.

–-Isso significa que você aceita? – Elizabeth devolveu com uma expressão divertida.

–-Não há como negar um pedido da Rainha Regente – disse Sarah se levantando.