Vida Difícil

Capítulo 17- Pra Quê?


Capítulo 17 Pra quê?


Que burrice! O que eu ainda estava fazendo ali?

E se o Nando aparece e de novo me pega de papo furado com ele.

Levantei e o encarei esperando alguma reação de sua parte. Como não houve desatei a falar.

–Não pense que porque estou aqui com a maior das boas intenções que você pode dizer o que pensa pra mim...

Uma risada colossal ecoou pelo pátio me assustando.

–Que foi qual é o motivo da graça? –Perguntei desconfiada.

–Você é uma comédia sabia?

–Não, não sabia. Pode me explicar a piada, por favor?

–Desde quando... Você decide o que eu devo falar ou não? – Seu tom era arrogante.

–Essa é a graça? –Tentei parecer a mais indiferente possível, mas ele não tem noção do quanto me assusta com esse seu tom. Ou será que sabe e usa isso contra mim?

–É. Não tenho mais nada com você e mesmo assim insiste em mandar em mim. Você é hilariante. –Riu com o mesmo tom...

–É mesmo né?! Pensei em vão, que você fosse um caso a ser pensado ou ao menos perdoado. Sabe, estou me perguntando se ainda merece meu respeito. Não... Mas eu sou muito idiota mesmo... Quê que eu ainda estou fazendo aqui?

Dei-lhe as costas e sai pisando duro. Não consegui me aguentar, o nó na garganta parecia querer arrancar meus olhos; Chorei.

Não é aceitável que um cara me faça sentir tão pra baixo. Caramba ele conseguiu, de verdade, me deixar não só irritada como também triste.

Andando e ouvindo o ranger de meu All-star, meus pensamentos e meus soluços contínuos, desliguei-me. Sem perceber diminui o ritmo que até então era frenético.

– Flávia! –Ouvi ao longe.

Não parei, era um som muito baixo, poderia ser de meus pensamentos que às vezes me confundem.

–Flávia! Hei, calma aí! –Disse ele pegando meu braço.

–Vo-você está chorando? –Acho que ele não estava esperando me ver naquele estado, pois a expressão de seu rosto, que começava a inchar, era de extrema surpresa. –Essa não foi minha intenção. Desculpa esse idiota que aqui está implorando seu perdão?

–Para de encenar. –Ele riu. –Será que até em momentos sérios você não consegue ser menos idiota?

–Desculpa. É sério agora, não queria te magoar desse jeito. –Falou enquanto limpava as lágrimas que ainda insistiam em escorrer. – Não quero que pense que além de idiota eu seja insensível. –Riu novamente.

–Ta bom. Já chega! Desculpa não aceita.

–Quê?

–É isso mesmo. –Confirmei me soltando de sua mão que ainda segurava meu braço.

–Poxa, Fla.

–Pra que tentar ser sua amiga? Já vi que não dá você me trata muito mal sabia? Não gosto disso.

–Tudo bem, não vou discutir. Não quero ser apenas seu amigo, não quero que aceite minhas desculpas com esse propósito!Será que não percebe que gosto tanto de você a ponto de tentar provocar ciúmes para que volte a me querer?

–Quê? Como assim? –Eu nem cogitei pensar por esse lado... Parece maluquice, que plano sem pé nem cabeça. Se ele já me tinha pra que provocar ciúmes em mim?

–É eu só peguei a Amanda porque pensei que você não estivesse mais a fim de mim.

–Deixa de mentira, você terminou comigo e ainda por e-mail. Achei que havia terminado daquele jeito porque não queria falar diretamente comigo; aliás, que não tinha coragem suficiente pra isso. Sabe, eu agora sei o tipo de garoto que você é!

Parei e esperei que ele falasse algo. Estava tentando fazer aquele seu joguinho que eu tanto odeio.

–É mesmo? Me diz aí que tipo de garoto eu sou?

–Você é daqueles que precisam ter todas as garotas possíveis aos seus pés pra se exibir pros amigos e se sentir o pegador não é? Não foi assim comigo? Você não saiu por aí se gabando porque me "pegou"? –Joguei um verde... Será que vou colher maduro?

–Deixa de bobeira garota. O que aconteceu com você? Ultimamente está tão amargurada... Calma aí... Você está assim por causa daquele e-mail? Que eu te mandei? –Seu rosto ficou sério; pensativo como se estivesse chegando àquela conclusão agora.

–Ha! Fala sério Luis, deixa de se fazer de desentendido! Eu tenho como provar, caso você esteja duvidando da minha sanidade mental.

–Não, que isso... Eu ainda... Ainda te amo. Não, eu nunca pensei em terminar. –Acho que ele não me ouviu... Pois continuou na sua linha de raciocínio.

Essa declaração meio que abalou minhas estruturas, pernas, que bambearam internamente. Até que me caiu a ficha... Mas não por completa.

–Então me traiu, o que é pior.

–Eu já te expliquei...

–Não quero saber. Se você pensava que eu não estava mais afim da “gente”, porque não me perguntou, como um bom namorado faria? Não... Mas o inteligente decidiu que deveria fazer do jeito mais complicado, aliás, do jeito mais galinha. Luis me diz pra que serve a famosa DR?

–Fala sério Flávia, não to a fim de discutir com você. Todo mundo erra. Só quero saber desse tal e-mail que "eu" te mandei.

–Se quiser procura na sua caixa de saída, porque eu não quero lê-lo novamente.

–Pow, foi tão ruim assim? Caramba, o que deve estar escrito lá?

Estranho, mas por um minuto acreditei que ele não tivesse mandado o e-mail. Sua expressão era confusa.

–Garoto como você me irrita. Como pode ser tão falso? –Virei-me indo em direção ao corredor que dava acesso as escadas na intenção de ver meu lindo.

Mal me movi e novamente sua mão segurava meu braço. Virei o rosto, com a rapidez do movimento, meus cabelos impediram minha visão.

–Me solta! –Falei ofegante.

Senti que ele fazia mais pressão em meu braço e isso me incomodou.

–Você está me machucando. –Reclamei.

Ele me puxou e fui de encontro a seu corpo que amorteceu o impacto sem muita dificuldade. Tirou meu cabelo que o impedia de ver meu rosto e propôs:

–Me beija que eu te deixo em paz.

A raiva sempre embaça minha visão, mas eu estava tão perto que não teve como ignorar o sangue seco em várias partes de seu rosto muito machucado e inchado. Ainda hipnotizada não conseguia pensar em outra coisa que não fosse seus ferimentos, sua respiração ofegante e seus olhos que pareciam mais verde do que de costume.

–Aceita?

–Aceitar o quê? –Sacudi a cabeça na intenção de fazer sumir os pensamentos.

–Dá pra me ouvir pelo menos por alguns minutos? –Reclamou ele, soltando meu braço e levando as mãos ao meu rosto. –Eu te propus um trato. Você me beija e eu te deixo em paz.

–Eu te beijar? Eu nun... – Ele me surpreendeu com um beijo ardente. Eu me senti protegida, única, como nunca me senti enquanto estávamos namorando. Soltando-me de seus lábios, implorei ofegante:

–Me solta!

– Eu tenho certeza de que você não quer isso. –Falou ele com presunção, deslizando a mão direita pra minha nuca, agarrando meus cabelos, e puxando-me novamente para seus lábios.

De imediato não tinha forças para soltar-me de seu aperto, já que seu braço esquerdo envolvia a minha cintura.

–Se não soltar... –Não consegui pensar em uma boa chantagem...

–O que você vai fazer?

–Vou gritar!E bem alto pra inspetora, e todo mundo ouvir!–Enquanto ele falava tratei de fazer meu tico e teco funcionarem e acho que mandei bem. Se eu gritar o que eu tenho a perder? Só tenho a ganhar... Além de uma suspensão é claro...

–Ta bom... –Sua voz estava cheia de confiança e sua expressão debochada, ressurgiu.

–Você por acaso está duvidando de mim, Luis? Espero que não...

– Gritar não vai te ajudar em nada!

–Mas também não atrapalha. Vai ajudar a me livrar de você agora, o resto cuido depois...

Falei o "resto” me referindo à suspensão e a bronca da diretora.

Sem mais nem menos o idiota começou a rir.

–Qual é a graça?

Provavelmente ria da minha burrice. Só fui pensar na possibilidade dede que a confusão fosse chamar a atenção de muita gente quando lembrei do Nando.

Como a esperança é a ultima que morre, a minha era que ele não tivesse o mesmo raciocínio que eu.

Acho que a careta que fiz denunciou alguma parte do meu desconforto.

–Se quiser gritar tudo bem, mas você não acha que o namoradinho vai ficar sabendo do barraco? Porque eu não vou deixar barato, também vou fazer meu show à parte.

Ai, mas aquilo me irritou tanto que meu sangue ferveu e subiu a cabeça com tanta rapidez que explodi.

VOCE É UM VIADO! –Gritei o mais alto possível. Luis se assustou com meu ataque de nervos e involuntariamente me soltou perplexo. Demorei a entender que estava livre.

Quando cai na real, corri sem olhar pra trás.

Não assim não dá tá muito complicado pra mim, nem vejo meus amigos, por causa dessas confusões que na maioria das vezes acontecem no intervalo o único momento em que posso vê-los.

Corri, corri.

Enquanto corria sem direção, o sinal bateu. Não sabia que sinal era até ver todos saindo de suas salas. Não, não podia ser. O Intervalo! Já? Caramba perdi três aulas!

Que merda vou ser reprovada por faltas!

Estou profundamente indignada com essa ideia! Não! Repetir o ano nunca.

Eu tenho que tomar uma decisão...

Mas qual?

Já sei! Boa!

Vou agora mesmo contar pro Nando o que acabei de decidir... Daqui por diante as coisas irão mudar... Se pra melhor ou pior eu não sei, mas que mudarão disso eu não tenho dúvida!



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