–Me empresta o giz de cera verde?

–Por que te emprestaria? - a garota de cabelos longos sentada atrás de mim disse.

–Porque você tem dois desses.

–Não tenho mais, um já acabou.

–O que esta desenhando que é tão verde? - perguntei virando-me na carteira.

–Isto – e com suas pequenas, e gorduchas, mãos levantou a folha de sulfite quase esfregando-a no meu nariz.

–Por que desenhou um brócolis com quatro olhos? - eu nunca gostei de brócolis.

–Não seja petulante! - ela disse agora cruzando os braços irritada. - Não esta na cara que isso é um ET?

“Não”

–Quantos anos você tem? Vinte?

Se bem que acho que nem pessoas de vinte anos usam a palavra “petulante”.

–Na verdade tenho cinco, mas se você quer saber, ouvi a professora dizer que eu deveria estar na segunda série e não aqui no jardim de infância.

–Se sua inteligência se baseia em desenhar brócolis com olhos, eu concordo.

–Idiota – aquela foi a primeira vez que ela me chamou de idiota. Nunca esquecerei do meio sorriso que consegui tirar dela naquela hora.

–Crianças, hora do recreio! - nossa alegre professora ruiva disse. - Vou recolher seus desenhos.

–Não! - exclamou a garota atrás de mim quando a professora fez menção de recolher o brócolis extremamente feio. - Eu quero ficar com ele!

Depois de uma terrível briga, que facilmente geraria a Terceira Guerra Mundial, o desenho foi recolhido e eu devo reconhecer que aquela professora foi realmente muito corajosa. Afinal, nunca ouvi ameaças tão convincentes vindas de uma garota de cinco anos.

–Como aquela professora ousa roubar o desenho que é meu por direito?! - exclamou a pequena e prepotente imperatriz do lado de fora da sala. - Ela realmente acha que pode qualquer coisa apenas por ser moe?

“Sim, ela pode”

–Tenho certeza que posso mais que ela!

“Não, você não pode”

–Ela vai ver só uma coisa – disse perigosamente a garota dos olhos flamejantes. - Juro que vou conseguir aquele desenho de volta!

Eu não tinha nada pra dizer e, não sei por que, sentia que se dissesse o que queria dizer acabaria voltando para casa com um olho a menos. E não, mamãe não me compraria um tapa-olho. De qualquer maneira eu tinha certeza de uma coisa: aquela menina era o tipo de garota que eu não queria como namorada, amiga, irmã, prima, vizinha ou qualquer coisa do tipo. Era o tipo de garota com que eu tomaria cuidado para não ter contato, físico ou visual.

Prometi a mim mesmo que não abriria a boca, mas durante aquele dia eu não a vi brincar com ninguém. Estava encostada a um canto, segurando firmemente um giz de cera verde. Este momento da minha vida eu chamo de: tremenda boca aberta.

Ela sorriu quando lhe perguntei sobre isso, um sorriso que na época achei assustador, muito parecido com o sorriso da garota do exorcista.

–Então... você gosta de aliens?

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E não, eu não perguntei o nome dela.


Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.