– Tony, eu não fazia ideia de quão perturbadora era essa história! Agora entendo porque o senhor Armstrong está tão alterado! – disse, esclarecido.

– Ele não é naturalmente assim, Schmidt. Era bem mais simpático e ajeitado. Agora ele parece tão pálido e acabado. – respondeu-me.

– Também, não é de se admirar com um caso assim. E vocês sabem quem enviou a cabeça da menina na caixa?

– Não. Não tinha remetente, mas foi à coisa mais sinistra que vi em toda a minha vida. Pra ser sincero eu nem tenho dormido direito.

– Eu também não estaria dormindo se estivesse aqui. Mas me diga, eu estive pensando... Você não me disse que a causa da morte foi identificada como um tiro no peito da vítima?

­ - Sim.

– Então o Dr. Hopper não é o verdadeiro assassino. Bem, pelo menos não pela causa confessa.

– Mesmo assim ele permanecerá preso pelo crime de estupro. Quem está de saída é o senhor Silver. – fez cara de nojo – Até eu que trabalho aqui na delegacia não me conformo com a justiça desse país. Como podem deixá-lo livre!?

– E por que vão soltá-lo se ele batia na esposa?

– Porque o advogado dele alegou falta de provas, já que não temos testemunhas oculares vivas ou declaradas lúcidas, e a esposa nunca chegou fazer uma denúncia verdadeira. E seu corpo, incendiado, tornou impossível de verificar as lesões. Logo, ele foi solto hoje pela manhã.

– Isso é um absurdo! Então temos um criminoso possivelmente assassino à solta!? Essa história está sem pé nem cabeça, Tony. Estava pensando em morar aqui e tentar manter esse emprego, mas não mais!

– Sim. Mortes aqui só aconteciam por velhice ou doença. E agora esse caso. É de tirar os parafusos de qualquer um. Sabia que outra mulher morreu possivelmente com a Clara?

– O quê? Quem? Não soube de nada, você não me disse.

– Nathalia Candido, se não me engano. Morreu dando à luz a sua primeira filha.

– Haha! – não consegui controlar o riso – Desculpe por rir. Que antiético. Mas convenhamos, você falou de uma maneira como se ela tivesse a ver com o caso. Pensei que era outro dado valioso...

– Tudo bem, sua risada não sairá daqui – riu de volta – Mas voltando, realmente, nossa vizinhança é muito pacata. Cada vez que algum fato novo é descoberto e cai na mídia, a cidade inteira se comove e enlouquece. Mas não vá contando que você conseguirá esse emprego. É temporário. E pelo estado do senhor Nielman, logo logo ele estará aqui.

– Isso é outra coisa sem sentido. Como que ele se intoxicou com essa tal fumaça? E por que essa Mary Curtis foi visitá-lo aquele dia? Você não me falou de nenhum relacionamento entre os dois.

– É verdade! Não tinha parado para pensar nisso. Eu não cheguei a perguntá-la. Estava muito focado no caso aquele dia: eu é que iria ser o estenotipista.

Vozes abafadas são ouvidas ao fundo: milhares de perguntas aleatórias. Despeço-me rapidamente de Tony com uma pequena reverência e ponho-me a posto em minha mesa temporária. Tento pensar em como seria bom sair do inferno que é a capital em que vivo e me mudar para essa cidade de clima interiorano, mas antes que possa concluir a linha de raciocínio a porta se abre. O senhor Armstrong entra, com uma cara de quem não dorme há dias, com as mãos nos ombros de um menino, este com o rosto todo machucado. Arranhões?

– O senhor gostaria de alguma coisa, senhor... ai minha nossa! O que aconteceu com seu rosto!? – Tony ficou perplexo, a ponto de se perder em sua fala. Ele estava espantado com os ferimentos que enquadravam o rosto do menino.

– Nada. Não aconteceu nada. Nada. – o menino tremia levemente, encarando o vazio, como se estivesse apavorado com tudo ao ser redor. Ou desistido de viver

– Isto não é da sua conta, Tony! Traga apenas uma água para nós. E rápido!

“Há necessidade de ser tão grosso com o rapaz? Ele estava apenas preocupado com o garoto.” – penso comigo mesmo.

– Então Sam. Pequeno Sam. Parece que você não era quem eu pensava que fosse... – disse o senhor Armstrong, sentando em sua cadeira, olhando profundamente para as unhas do garoto – Por que você fez isso?

– Isso. Eu fiz isso. Eu fiz tantas coisas. Desculpe Robert. Não mereço mais chamá-lo de Bob. Por fazer isso. Mas... O que eu fiz? – respondeu. Ele falava de um jeito tão pausado e inexpressivo que me instigou. Apesar de sua aparência apavorante, quase como se estivesse possuído, ele falava de uma maneira muito peculiar. Vazia.

– Você fez muitas coisas, Sam. E preciso que as explique hoje.

– Tudo bem, Robert.

– Você ainda pode me chamar de Bob, Sam. Se assim o quiser. Você não fez nada de errado... – falou como se desse uma brecha para o menino confessar um crime. Mas o verdadeiro crime era o que a vida fizera com ele. Reconheci sua história ao ouvir seu nome: Sam. Era o melhor amigo da primeira vítima.

– Tá.

– Então me responda: por que você se arranhou, Sam?

Eu estava certo. Arranhões.

– Eu não me arranhei propositalmente. Não. Não foi de propósito. Foi um acidente. Não foi de propósito. Eles queriam cortar minhas unhas. De novo. Elas estavam legais. De novo.

– Com legais você quer dizer que elas cresceram e você as afiou, certo?

– Sim. Elas estavam tão legais. Eram minhas unhas. Eu me sentia bem com elas, porque eram minhas. Mas eles me fizeram cortá-las. Eu não queria. O enfermeiro veio cortá-las e eu não deixei. Eu não podia deixar. Elas estavam legais. De novo. E eu me arranhei sem querer. Não foi proposital. – abaixou a cabeça e secou uma lágrima.

– Está tudo bem, Sam. Mas eu preciso que você me diga a verdade. Lembra? Somente a verdade pode ser dita aqui. E nós dois sabemos que não é essa. Então me conta: por que está chorando?

– Não estou chorando. Não estou...

Ele estava claramente chorando.

Tony então apareceu, quebrando aquele clima de clínica psiquiátrica. Deixou um bilhete delicado na mesa do senhor Armstrong, junto com as águas. Novidades no caso? Eu tinha certeza que eram.

– Ah sim Tony. Faça-me um favor antes de sair: ligue de volta para o comando e informe-lhes que quando acabar aqui eu estarei a caminho. Sei onde fica esse poço na floresta.

– Poço na floresta? – Perguntou Sam, como se implorasse por um último abraço antes de ruir.

E foi isso o que ele fez. Ele ruiu.

A dor nos seus olhos era visível. Não era somente psicológica. Ele tapou os ouvidos com as mãos, como se não quisesse ouvir mais nada e cerrou os olhos com sofrimento, como se não quisesse ver mais nada. Ele se jogou no chão de joelhos e começou a martelar a testa no carpete. A testa. Eu entendi o que acontecia: ele estava tentando apagar as memórias, que vieram à tona com as palavras ‘poço na floresta’. Ele sabia de algo.

Paramédicos invadiram a sala atrás de contê-lo. O que foi fácil, para ser sincero. Não foi preciso remédios ou coloca-lo em uma camisa de força. Tudo o que foi necessário foi o senhor Armstrong dizer ‘está tudo bem, Sam’ enquanto levava o copo de água até seus lábios. Três goladas. Vários suspiros fora do ritmo e após uma longa pausa ele voltou a falar.

– Esse lugar. Eu conheço esse lugar. A casa perto do poço na floresta.

– Você já esteve lá, Sam?

– Sim, eu já estive lá.

Ele mudara a maneira de falar. De se impor. O que aconteceu?

– E você sabe o que é aquele lugar exatamente?

– Sim. Eu sei que lugar é aquele. É a antiga casa de Lucy.

– Lucy, a avó de Clara?

– Sim, quando ela era jovem e ainda morava com os pais, uma fazendeira e um lenhador.

Ele parecia uma pessoa normal falando. Um garoto normal de 17 anos, consumido pela dor de perder sua melhor e única amiga. Havia pura dor em sua voz.

– E como você conheceu aquele lugar?

– A Clara me levou até lá.

– Te levou?

– Não. Ela marcou comigo de nos encontrarmos lá. E me contou o que era.

“Será que ele não percebeu que o menino estava falando diferente?” – penso.

– E você acha que mais alguém sabia daquele lugar?

– Não. Apenas Clara e dona Lucy. E depois eu. Bem, pelo menos até aquela noite.

– Que noite?

– À noite em que Clara morreu. – voltou a chorar, incessantemente, um choro límpido, silencioso, sem soluços ou gemidos. Ainda sim, agonizante de se ver.

– Hm... E por que você diz isso?

– Sabe, muitas pessoas foram lá aquela noite.

– Você sabe que pessoas, Sam?

Longa pausa.

– Vou ser sincero com você. Eu me arranhei propositalmente sim.

“Ou ele claramente não percebeu ou está se fazendo de desentendido.” – Penso outra vez.

– Hm... E você quer me contar sobre isso?

– O único sentimento que pode quebrar o medo é a dor.

– A dor? O que você quer dizer com isso?

– Medo, eu sinto medo. Não estou bem em lugar algum. Me sinto perseguido, vazio e observado; sozinho, desde que Clara se foi. Apenas um monte de nada. E quando eu conto isso os enfermeiros me dopam, para que eu não tenha outro ‘ataque de pânico’. Mas eu não estou louco.

– E onde estão seus pais?

– Minha mãe morreu há alguns anos. E meu pai nunca foi de se manifestar. Pelo menos, não comigo. Eu dividia um apartamento com algumas caras antes de ir para a clínica. Meu pai resolveu emancipar minha maioridade e pagava minhas despesas, mas não morava comigo. Acho que ele não queria filhos. Depois que a mamãe morreu a ONG se tornou a vida dele, então eu sempre ficava por lá ajudando. Não só por ele, também pelos animais. E esse era o máximo da nossa relação pai e filho.

– Ah sim, entendo. – abaixou a guarda – Sabe, você está falando diferente agora. Mas eu prefiro assim, mais comunicativo e claro, apesar da situação.

Até que em fim ele percebeu!

– Eu não. Esse não sou eu, já disse. Eu nunca quis isso pra ela, pra mim ou qualquer um. Viver nesse inferno onde as pessoas não acreditam em você. Ou as que acreditam não podem mais falar, porque foram mortas! – ruiu outra vez.

– Um homem sábio uma vez disse que ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas nós podemos recomeçar do zero, e fazer um novo fim. – estendeu-lhe lenços.

– E como eu posso fazer isso, Robert?

– Nos ajudando a encontrar o culpado. Ou os culpados. Quem fez isso com a Clara e com a sua mãe. Se foi a mesma pessoa, se teve ajuda... Preciso que me conte tudo o que souber, sem medo. Não tenha medo Sam. Eu tenho certeza que o sentimento de poder ter ajudado, quando o crime for resolvido, será maior que todo medo e dor que você tiver ou achar que precisa ter.

– Tá – conteve o choro outra vez.

– Conte-me tudo que você sabe desde o dia em que ela falou com o Dr. Hopper até o evento na casa.

– Tudo bem. – respirou fundo – não sei exatamente como acabou a conversa aquele dia. Sei que ela evitou falar comigo até a noite e que a Dona Lucy fugiu novamente da clinica para se encontrar com a Clara, como ela fazia, e sei que de alguma forma o pai dela, o senhor Silver, descobriu que ela e o Dr. Hopper tinham um caso.

– Continue.

– Naquela noite, a clara foi levar a avó de volta para a clínica e ao voltar para casa seu pai a expulsou, e como era de se esperar, sua mãe não fez nada. Ela foi pra casa de uma garota da escola, Julie. Julie Curtis. Filha de uma amiga da mãe dela. Eu só sei disso porque a Julie me ligou naquela noite.

– E o que ela disse?

– Que a Clara estava prestes a acabar com a sua vida.

– Como?

– Ela ia fugir. Fugir com o Dr. Hopper para outra cidade. E que eu era o único que podia impedi-la. Então nos encontramos naquela noite mesmo. Eu não podia a deixar ir. Não antes de dizer tudo o que eu tinha a dizer.

– Hm... E o que você queria dizer?

– Que eu a amava. – abaixou a cabeça – Mas não da mesma forma como ela me amava. Entende? Diferentes formas de amor. Nossa, como eu a amava! E ainda amo – sorriu, como se lembrasse de bons momentos, o que foi um tanto macabro, já que seus olhos queimavam de tão vermelhos e sua face nadava no rastro das lagrimas.

– Continue.

– Bem, então eu fui. Nós conversamos durante um bom tempo, mas ela não queria falar sobre o que estava acontecendo, então não insisti. Mas antes dela voltar eu precisava. Eu precisava dizer o que eu sentia. Mas não consegui.

– E então?

– Eu a beijei. Eu não sei o que ela achou daquilo, mas, acho que foi algo bom. Porque ficamos um bom tempo nos beijando. Foi mágico. Eu me sentina nas nuvens, como quando meus colegas de quarto me deixaram ficar com o ‘Bag’.

– O cachorro que foi deixado na porta da ONG do seu pai...?

– Sim. E minha nossa, ela também estava tão feliz. Eu nunca tinha a visto daquela maneira. – sorriu – Ela me disse que não ia mais fugir. Não com ele. Disse que me levaria até o local onde ela encontrava sua avó. Era a única coisa na vida dela que eu faltava conhecer. A casa na floresta, perto do poço. Isso no dia seguinte, e bem, eu fui, à tardinha...

– Prossiga.

Sam então começou a corar. Todos sabíamos o que viria a seguir, mas de qualquer forma precisava ser dito. Entretanto, de repente ele começou a rir. Gargalhar.

– Do que tanto ri?

– Chapeuzinho vermelho.

– O conto? O que tem?

– Minha mãe me contava toda noite antes de falecer. Essa mesma história. Chapeuzinho vermelho. E de repente, eu me vi no meio dela.

– Como assim?

– Clara estava com seu casaco de capuz vermelho, andando floresta adentro, carregando uma sexta de piquenique, rumo à casa de sua avó. Tudo bem que ela estava acompanhada, mas eu ainda vejo muitas semelhanças.

– E no que isso é relevante?

– Na história da chapeuzinho vermelho há um lobo. E quando eles chegam à casa da vovó não é ela quem os recebe. É o ser feroz. É a morte a sua espera. Sabia que no conto original da chapeuzinho o lobo antes de comê-la, ele... transa com ela? – seu olhar, hipnótico, tornou-se angustiante de encarar. Era macabro. Psicótico.

– Aonde você quer chegar?

– Eu estava com Clara. Mas éramos um só. Nós estávamos juntos agora, e eu nunca tinha estado mais feliz, até o Dr. Hopper aparecer.

– E o que aconteceu?

– Ele a acusou de traição e a xingou de coisas que eu nem mesmo sabia o que eram. Eu nunca aguentei a pressão, ou momentos caóticos. Então, quando ele a agarrou a força e tentava tirar sua roupa enquanto ela se debatia... eu... eu tentei socá-lo e acabei o aranhando, mas não foi o suficiente. – sua voz caiu gradualmente de tom – Quando dei por mim, estava caindo no chão.

– Ele te agrediu?

– Sim. Ele me nocauteou com alguma coisa. Não sei como.

– Tudo bem sem, apenas me diga, você se lembra de algo depois disso? Eu preciso saber. Você se lembra?

A maneira apressada e desesperada como ele perguntou deixava claro a sua loucura. Essa era a verdade. O envolvimento profundo e emocional com esse caso estava enlouquecendo o senhor Armstrong. Por isso ele não comida nem se vestia direito, e de uma hora pra outra ficara agressivo e descontrolado, segundo o Tony. Um homem que batia na própria esposa, pedofilia, estupro, agressão a menor, duas vitimas... Uma cabeça em uma caixa. Não era de se espantar. Ele estava louco por respostas, e aparentemente, o único disposto a dá-las era esse garoto. Isso, se ele se lembrasse...

– Eu não sei... Eu estava muito confuso... Eu não me lembro...

– VOCÊ TEM QUE SE LEMBRAR, SAM! VOCÊ TEM QUE SE LEMBRAR! – exclamou, enterrando os punhos na mesa.

– Desculpe Robert, desculpe! – Sam voltara a chorar, dessa vez com direito a gritos, soluços e tudo mais. Ele sabia que o senhor Armstrong precisava de respostas, e queria ajudar, e tudo o que fez foi desapontá-lo.

Todos se levantaram para contar o senhor Armstrong, mas nenhum realmente foi até ele. Tony até chegou a entrar na sala preocupado.

– Desculpe Sam, eu é que peço desculpas. Você não fez nada de errado, mas olha para mim – retribuiu o choro, com as mãos sobre as orelhas de Sam, puxando sua cabeça em sua direção – eu preciso de respostas. E eu sei, eu sei que se você tentar você vai se lembrar. Por favor...

Aquelas palavras foram decisivas. Por favor. Era como se na primeira vez, em que ‘poço na floresta’ fez ele se lembrar. Então esbravejou, enquanto chorava incessantemente:

– Ela estava chorando. Ela estava chorando muito. Ela implorava. Ela clamava por ajuda. ‘Por favor, por favor!’ ela dizia – disse, desesperado, tremendo.

– Quem disse isso Sam?

– Ela gritava. Era a voz de Clara. Eu olhei para os lados e vi o Dr. Hopper dormindo no chão. Como ele não acordava com os gritos? Ele estava morto? – continuou falando sem pausas, como se não ouvisse a pergunta do senhor Armstrong.

– Calma, Sam! Está tudo bem! - tentou contê-lo, sem resultados.

– Então eu corri. Eu corri para fora daquela casa. Corri na direção dos gritos e lá estavam eles! Gritando uns com os outros. E ele segura a Clara pelos braços, com tanta raiva. Ele queria invadir a casa. Eu sei. E ela não conseguia impedi-lo! – os médicos se levantaram, já se preparando para tranquilizá-lo, com injeções e a camisa de força.

– Quem estava tentando invadir, Sam!? Fala comigo. Quem? Me responda!

– Bag. Não o Bag! Ele chutou o Bag porque ele não parava de latir, que raiva, que ódio eu sentia daquele homem. Eu precisava chegar até ele. Eu precisava ajudar Clara! NÃO!

Um grito de dor. Antes mesmo da agulhada que veio em seguida. Calmaria imediata.

– Não! Não, por favor, Sam! Por que vocês fizeram isso! Ele ia me responder! Ele tem as repostas! Não durma Sam, eu preciso saber o que aconteceu. Quem matou a clara!

– Senhor Nielman? Eu não te conheço de algum lugar?

– Não é o senhor Nielman, Sam. É o senhor Armstrong. Por favor, me diga, o que aconteceu depois? – implorava, dessa vez, mais baixo.

– Senhor Nielman... Fala pra mãe da Julie sair de perto da senhora Silver. Ela tem uma arma. Ela vai, ela vai... Atirou.

E dormiu. O clima ali era de tudo, menos uma delegacia. Ninguém entendia nada e todos estavam com os ânimos exaltados. O que acabara de acontecer?

Eu então corro para os arquivos e começo a procurar a fixa dessa tal de Mary. Ninguém parece se importar, já que todos estão preocupados com Sam e o senhor Armstrong. Menos Tony.

Enquanto eu vasculho nos armários, Tony surge por trás de mim com um molho de chaves e começa a abrir as gavetas da minha escrivaninha temporária. Não tenho tempo para perguntar o que ele está fazendo. Eu preciso encontrar a fixa dessa mulher.

– Eu Tony, essa aqui, Mary Elizabeth Curtis, é a mulher de quem o garoto estava falando? – mostro a foto no canto superior na fixa, que enfim, eu encontrei.

– Não se faça de sonso, Schmidt. Eu sei que você sabe que é ela. Vocês tinham um caso, não é mesmo?

– Eu, do que você está falando?

Ele então tira um porta-retrato de uma das gavetas da escrivaninha. Lá está ela: Mary. Agora entendo o porque de suas suposições mas, ele está errado.

– Mas eu não conheço essa mulher Tony. Eu juro!

– Mas se não foi você quem colocou essa foto aqui... Quem foi que...

As peças que faltavam foram encaixadas e as pontas soltas atadas. Ele nem precisa concluir. Ele entendeu. Eu entendi. Afinal, a escrivaninha não era minha. E naquele momento tudo fez sentido. E rapidamente, sem orquestrar porquês, eu sei o que aconteceu. E pela cara de Tony também. O caso havia sido solucionado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.