Verdades Trancafiadas

As pessoas sempre se vão


Luca chegou à casa de Alessa e a encontrou sentada no sofá aos prantos, inconsolável. É claro que ele ficou preocupado e queria saber o que tinha acontecido, mas ele já aprendera em outras ocasiões que quando Alessa estava naquele estado, ela não seria capaz de explicar nada, e o melhor a se fazer era sentar do seu lado e abraçá-la, até que ela se acalmasse. Luca sentou ao seu lado a abraçou-a, mas, para sua surpresa, assim que ele o fez Alessa falou. O que era bem estranho, pois costumava demorar bastante tempo para que ela soltasse sua primeira palavra. Luca se lembrava da última vez que encontrara Alessa naquele estado. Tinha demorado horas para poder falar.

Flashback:

- Eu vim o mais rápido que eu pude assim que você me ligou – Luca foi falando isso enquanto abria a porta da casa de Alessa. Ela estava caída no chão da sala, arrasada. Chorava alto. Soluçava. Luca nunca a vira naquele estado. Era de dar dó. Ele a pegou nos braços e a levou para seu quarto. A deitou na cama e a cobriu com seu cobertor. Então se ajoelhou, de modo que seu rosto ficasse na altura do rosto de Alessa. Ela continuava chorando, mas já estava mais calma. Luca fazia cafuné na cabeça dela e, à medida que ela ia olhando nos olhos de Luca, seu choro ia diminuindo. Alessa nunca soubera explicar, mas o olhar de Luca a acalmava. Após muito tempo em silêncio, Alessa falou:

- Obrigada Luca.

- De nada minha linda. – e deu um sorriso.

- Você não vai querer saber o que aconteceu?

- Eu irei esperar você decidir a hora certa para me contar. Eu não tenho pressa, eu só quero te ver bem.

- Obrigada Luca – e deu um beijo em sua testa – Mas não é justo de minha parte guardar isso só para mim. Você também tem que saber. – Alessa se sentou na cama e Luca sentou-se ao seu lado. – Você sabe que mamãe foi diagnosticada com câncer há mais ou menos um ano né?

Não tinha como se esquecer daquele dia. D. Helena tinha ido parar no hospital e lá tinha sido diagnosticada com câncer no pulmão. Tinha ficado internada desde aquele dia, pois o câncer já estava numa fase agressiva. Foi o pior aniversario de Alessa. Sua comemoração do 22º aniversário passou em branco. Não tinha como comemorar depois daquilo. Então, tudo começou a ficar difícil para Alessa. Sustentando a casa sozinha e pagando o hospital para sua mãe. Trabalhando horas e horas a mais para conseguir uma renda extra e o temo que sobrava ela utilizava para ir visitar sua mãe. Alessa já não tinha mais tempo para si mesma. Luca lembrava daquilo tudo e ficava sem palavras. Tinha sido uma fase dura para ele também. Ver Alessa e D. Helena, que era praticamente uma tia para ele sofrendo era difícil.

- Lembro. – assentiu Luca já com um nó na garganta. Ele estava pressentindo que coisa boa não estava por vir.

- Bom, o pessoal do hospital me ligou hoje à tarde e bem... A minha mãe não resistiu.

- Não, não me fala isso, por favor. – Luca começou a chorar.

Não, eu não posso chorar. Eu estou aqui para ajudar Alessa, eu tenho que ser forte!

Quase que como lendo o pensamento de Luca, Alessa falou:

- Calma Luca, eu também posso te ajudar, você não tem que ser forte o tempo todo. Não tem que ser você o tempo todo a pessoa quem ajuda. Na amizade a gente se revesa, tá tudo bem. – falando isso, Alessa abraçou Luca, e ela também começou a chorar.

Após um tempo abraçados, Alessa continuou a falar:

- Bom, quando eles me ligaram, eu fui direto para o hospital e eles só confirmaram. Eu não estava acreditando. Voltei para casa, nem sei como eu conseguia dirigir. Aí eu te liguei. Eu também liguei para o Diego, mas ele não atendeu. Ele está com ela não está?

- Sim.

Alessa deu um suspiro.

- É eu acho que eu não sou tão importante quanto ela.

- Alessa não fala assim.

- Você sabe que é verdade. Bom, será que você pode me ajudar a acertar as coisas do velório e tudo mais? Eu não tenho cabeça para isso.

- Claro.

Depois de tudo, Luca tinha ido para casa. Começara a explicar a sua mãe o acontecido quando Diego chegou em casa.

- Nossa porque essa cara? Alguém morreu? – Diego perguntou, brincando.

- Sim. – Luca respondeu dando um olhar assustador para Diego – Tia Helena.

- O que? E por que Alessa não me falou?

- Bom ela tentou, mas você estava ocupado demais com a Giulia para dar atenção à Alessa. Será que custa tanto atender a droga do telefone?

- Eu não sabia que era algo importante.

- Não importa se era algo importante ou não. Você nunca dá atenção à Alessa desde que você está saindo com a Giulia. Qual é o teu problema garoto?

- Escuta aqui eu...

- Parem vocês dois! – falou D. Elisa, entrando no meio dos dois, que a essa altura já estava de pé e quase partindo pra briga – Diego vá atrás de Alessa, veja como ela está.

- Certo mãe.

Fim do Flashback.

- Diego vai se casar e eu vou para Londres.

- O que? Será que eu não posso deixar vocês dois sozinhos durante um instante que vocês só pioram as coisas?

E Alessa explicou tudo o que aconteceu.

- Mas Alessa, como você vai fazer em Londres?

Alessa não tinha pensando direito nisso. Tinha tomado a decisão de cabeça quente.

Luca tem razão. Tudo bem, eu sei falar inglês. Mas e emprego? Será que eu vou conseguir um emprego lá? E será que as casas lá são caras? Meu Deus por que eu não pensei nisso antes?

- Luca eu não sei se iria dar certo eu ir para Londres.

- Então fique.

- Mas eu não posso ser a madrinha do casamento do Diego!

- Tá e você acha que ir para Londres iria acabar com o problema? Fugir dos problemas nunca é a solução. Dificuldades existem para serem superadas.

Luca estava certo. Ele sempre sabia o que dizer. Alessa sorriu.

- Você tem razão.

- E quando é que eu não tenho razão?

- Quando você diz que sorvete de morango é melhor do que sorvete de chocolate.

- E eu estou errado?

- Completamente.

Os dois sorriram.

- Então, eu acho que eu tenho que pedir desculpas ao Diego. Mas não hoje. Já chega de emoções por hoje.

- É verdade. Melhor você ir descansar. – Luca deu um beijo na testa dela – Tchau Alessa.