Verdades Trancafiadas

As coisas só pioram a cada momento


As semanas que se passaram foram horríveis. Bom, horríveis somente para o trio, pois Giulia estava adorando tudo o que acontecera.

Alessa não parava de trabalhar. Passava horas e horas no escritório de arquitetura, e só voltava para casa tarde da noite, e muitas vezes acabou dormindo lá mesmo no escritório, sendo liberada pelo chefe pela manhã para ir descansar em casa. Mas o que Alessa fazia era voltar para casa, tomar banho e voltar ao trabalho. Ela sempre ficava após o fechamento do escritório, e todos os seus colegas de trabalho a olhavam com dó. Eles sabiam que ela estava infeliz. Alessa já estava com enormes e escuras olheiras, seu cabelo vivia bagunçado e estava sempre com uma expressão sonolenta. Até pudera, afinal, ela tinha perdido muitas noites de sono trabalhando e pensando em Diego. Mesmo ela tentando distrair a cabeça com todo esse trabalho, tudo simplesmente a lembrava dele. Fosse um cliente da empresa que tinha o mesmo nome, alguém cantarolando alguma música da banda, nuvens que pareciam formar corações ou até mesmo uma caneca roxa que se encontrava na mesa de algum colega.

Frederico era o faxineiro noturno do escritório, e sempre fazia companhia a Alessa enquanto ela trabalha depois de seu turno. Ele conversava com ela, e tentava entender o porquê de sua decisão. Vez ou outra até tentava dar uns conselhos, mas ele não era muito bom nisso. Com uma estatura mediana e uma barba sempre malfeita, Frederico era uma figura um tanto quanto engraçada, que nunca fora casado, apesar de estar nos seus quarentas e poucos anos. Então ele não entendia muito sobre amor, afinal em sua vida ele só conquistara desilusões amorosas. Mas o importante era que ele fazia Alessa rir, com suas bizarrices e histórias sobre sua infância.

Diego não estava muito melhor do que Alessa. Infeliz, passava o dia enfurnado no quarto e só comia porque D. Elisa o obrigava. Também era obrigado por Giulia a sair com ela, para qualquer lugar, seja para coisas relacionadas com o bebê ou outro assunto. A desculpa dela era que eles precisavam passar mais tempos juntos, pois Diego teria que se acostumar, já que não ia ser muito diferente depois do nascimento da criança. Todos nós sabemos que Giulia só queria momentos juntos com ele para tentar fazer com que ele se apaixonasse por ela novamente. Mas essa parte não ia muito bem. Diego não conseguia tirar Alessa da cabeça e, os únicos momentos em que ela ficava um pouco de lado eram nos momentos em que o bebê estava envolvido.

Giulia mantinha as esperanças de que seu plano daria certo, e estava bem feliz porque não via mais Alessa pó perto.

Pois é, Alessa se afastara totalmente dos Fainello. Como eu disse, seu foco estava totalmente voltado para o trabalho, e ela só voltava para casa a noite. Às vezes encontrava Luca esperando por ela do lado de fora de sua casa, procurando saber se ela estava bem. É claro que ela não estava bem, apesar de falar o contrário. Então as visitas de Luca se resumiam a abraços dele e lágrimas dela.

Aliás, Luca não estava muito melhor. Sofria também porque ele conviva com a dor de Diego e Alessa, e apesar de não estar triste com a separação, Diego e Alessa eram duas pessoas muito amadas, e ninguém gosta de ver quem a gente ama sofrendo não é meso? Ele passou a ser como um mensageiro: levava notícias de Alessa para Diego e dele também para Alessa. Os dois sempre perguntavam muito um do outro, mas eram muito orgulhosos para irem conversar pessoalmente. Alessa com a desculpa de que Diego deveria ficar com a mãe de seu filho e Diego dizia que talvez Alessa estivesse certa. Ele parecia ter desistido, mas ninguém nunca desiste totalmente. Mesmo que você queira, sempre vai ter aquela vozinha lá no fundo da sua cabeça dizendo para você tentar pelo menos mais uma vez.

Ninguém estava bem, exceto por Giulia. Ela estava levando sua gravidez muito bem até. Levava Diego em todas as lojas de grávidas e de bebês que pudesse, para que ele ficasse cada vez mais envolvido com ela. Mas ela não estava tão bem antes, pois ela não fazia ideia de como ia conseguir a barriga falsa. Estava meio desesperada, com medo, e isso não era de seu feitio.

Mas um dia, passeando com Diego em uma dessas lojas, a solução para os problemas dela apareceu. Ela andava na sessão de roupas para grávidas, enquanto Diego estava encantado com as roupinhas de bebê do outro lado da loja.

- Nossa, as roupas de grávida são realmente bregas. Não tem nada sexy... – Giulia passava pelas manequins com cara de desprezo – Mas, como que eu vou vestir essas roupas se eu não tenho nenhuma barriga? – Giulia ficou pensativa – Espera... Se precisa de barriga para as roupas não ficarem tão largas... Como que vestem essas roupas nos manequins? – Giulia começou a apalpar a barriga de um manequim que vestia um macacão jeans com uma blusa amarela – Tem alguma coisa almofadada por debaixo dessa roupa. Espera... Será que é... – Giulia levantou a blusa do manequim e encontrou presa a sua cintura o que ela vinha procurando há tanto tempo: uma barriga falsa! Giulia não pensou duas vezes. Olhou para os dois lados para ver se tinha alguém e ao perceber que estava sozinha, abriu o fecho que existia na parte detrás da barriga falsa e rapidamente a colocou dentro de sua bolsa. Ainda bem que ela decidira usar uma bolsa grande naquele dia.

- Giulia olha isso aqui que coisa mais linda! – Diego chegara perto de Giulia e segurava uma blusinha cor de rosa com a bandeira da Itália estampada. Como vocês podem perceber, ele ficava realmente bobo quando se tratava de crianças e principalmente quando se tratava de seu possível filho.

***

- O senhor me chamou? – Alessa entrou na sala de seu chefe.

- Por favor, sente-se. – Ele indicou a cadeira em frente a sua mesa. Apesar de não parecer, Fernando era uma pessoa legal. Acontece que em seu trabalho ele era bastante sério e exigente, sem falar que suas feições o fazia parecer arrogante. Com um nariz empinado e óculos que o faziam parecer um intelectual que se achava acima de todos. Mas ele não era assim, Alessa até gostava bastante dele. Bastava você conversar durante alguns minutos para você mudar de opinião sobre Fernando. – Você sabe por que eu te chamei aqui?

- Não faço nem ideia. – respondeu Alessa sentando-se na cadeira.

- Alessandra, como você já sabe, eu não sou homem de ficar enrolando, por isso vou direto ao ponto. – Sua expressão era bastante séria e Alessa estava começando a ficar com medo.

- Sim senhor.

- Como todos nós sabemos, você tem se dedicado ao trabalho muito mais do que o normal nessas últimas semanas, e isso chamou muito a minha atenção. Você sempre foi uma de minhas melhor profissionais, disso não tenha dúvida. E quando eu achava que você não poderia ser melhor, você me surpreende e me mostra que seu potencial é muito maior do que eu imaginava.

- Obrigada senhor – Alessa sorriu timidamente.

- Você sabe qual é o nosso cliente mais importante não sabe?

- Sim, claro que sei. Richard Designer, a melhor construtora do Canadá. – Alessa falava com admiração.

- Exatamente. Muitas vezes a Richard Designer encomendou de nós grandes projetos. Há uns dias atrás, o presidente da empresa me ligou, e me disse que eles estavam envolvidos em um projeto enorme, maior do que qualquer outro que eles já tiveram, e eles estavam precisando de um profissional nosso para ficar a disposição deles lá, no Canadá, durante dois anos ou mais. Eu não sabia quem eu iria escolher, mas agora minha decisão já está clara. Depois de muito pensar Alessandra, eu fiz a minha escolha. Eu escolhi você. Aceita?