Vapor

2. Sobre aceitar conselhos de um bêbado




CAPÍTULO 2

sobre aceitar conselhos de um bêbado



alissa fontes



— Sim mãe, está indo tudo bem, minhas notas estão boas e Marina é uma colega de quarto adorável. — Alissa conversava com sua mãe no telefone enquanto caminhava em direção à república.

Desde o primeiro semestre sua mãe sempre lhe fazia ligações para poder garantir que a filha estivesse bem. Normalmente sua avó também ligava, e ela só não mandava biscoitos de aveia e mel para a neta por conta da distância entre São Paulo e Sydney.

— Tudo bem filha, eu acredito em você. Mas você sabe como eu fico preocupada.

Eu sei que você tem medo que Victor deixe de pagar a minha hospedagem, Alissa guardou as palavras para si sentindo sua boca amargar. Victor era o seu pai, um jornalista muito famoso assim como sua mãe Alessandra. Seus dois pais eram brasileiros, a única diferença era que enquanto Alessandra era paulistana e filha de nordestinos, Victor era filho de um australiano com uma carioca. Eles eram um casal perfeito de jornalistas que se conheceram na faculdade, acontece que quando Alissa tinha seus onze anos seus pais resolveram se separar e bem foi aí que tudo começou a desandar.

— Como eu disse, está tudo bem. A semana de provas começa na semana que vem, mas assim que acabar eu vou visitar você e o Phill, prometo. Ah, e irei levar a Marina junto, é claro.

Alissa pode jurar ouvir sua mãe sorrir do outro lado da linha, Alessandra parecia gostar muito de Marina.

A garota entrou no pequeno apartamento e despediu-se de sua mãe finalizando a ligação. Era um apartamento bem pequeno com uma cozinha americana minúscula, um quarto onde Marina e Alissa dormiam um banheiro e uma pequena área de serviço.

Deixou seus sapatos na entrada e suspirou, aquele dia tinha sido extremamente cansativo e embora tudo o que ela mais quisesse no momento fosse dormir, ela tinha que começar a estudar para as provas da semana seguinte. A garota prendeu seus longos cachos em um rabo de cavalo, arregaçou as mangas de sua camiseta cinza e começou a preparar café.

Ainda eram seis horas da tarde, a essa hora Marina provavelmente estaria assistindo os treinos dos meninos ou estaria em uma academia próxima malhando. Alissa invejava esse lado saudável da amiga, sempre praticando esportes e conversando com praticamente todas as pessoas da universidade. Mas de alguma forma, ela sabia que não podia se dar o mesmo luxo que Marina. Sua amiga mexicana tinha pais que podiam pagar sua mensalidade. Alissa por sua vez, tinha conquistado uma bolsa na faculdade, a única coisa que seu pai pagava era a sua estadia no campus.

Ali ligou a televisão e não se surpreendeu por estar passando clipes da banda Arctic Monkeys. Inicialmente a garota nunca deu muita atenção para esse tipo de banda até que Marina a arrastou para o show de uma banda cover dentro do campus. Lembrava-se da garota apontando cada um dos membros e dizendo quem era e quais cursos faziam, e de como todos eles ali eram fãs de Arctic Monkeys assim como ela.

“... Ah e por último esse moreno tocando baixo que você com certeza já deve ter visto pelo campus é Calum Hood, terceiro ano de Direito…”.

Alissa se lembrava de claramente ver os olhos castanhos do garoto se fecharem lentamente enquanto ele cantava a mesma música que tocava na televisão naquele momento, era a primeira vez que ela via alguém cantar com tanta emoção que nem ele.

Era óbvio que Alissa o via pelo campus, Calum andava por aí sempre rodeado de garotas ou dos seus amigos de alta classe. Existiam boatos de que durante o ensino médio ele era insuportável e se achava superior aos outros. Bem, Alissa não duvidava disso.

A garota se debruçou na bancada da cozinha enquanto Do I Wanna Know tocava suavemente. Querendo ou não ela tinha adorado ouvir o cover da banda do garoto.

— ALISSA FONTES! — Marina entrou gritando pelo apartamento, a menina estava com seus longos cabelos colorido de loiro nas pontas presos em um rabo cavalo que balançava conforme ela corria em direção da amiga. A garota ergueu sua mão enquanto pulava aflita.

— O que foi? — Alissa ergueu o rosto surpresa e então percebeu que havia um anel no dedo anelar de Marina. Um sorriso apareceu instantaneamente em seu rosto. Mesmo que ela achasse Harry um babaca, não pode evitar ficar feliz pela amiga — Finalmente!

A mexicana tinha um sorriso de orelha a orelha, e só o seu sorriso brilhante foi o suficiente para que o stress de Alissa passasse.

— Eu te falei que Harry ia te pedir em namoro em algum momento!

— Você acredita que ele parou o meu treino para me pedir em namoro? Ele pediu desculpas pelo encontro que ele furou… — Marin disparou a tagarelar animada revisando toda a história que ela e Harry tiveram, desde quando ela conheceu Ford até o atual momento.

Alissa deu um sorriso tímido, feliz por ver a amiga alegre, escutando atentamente tudo o que ela falava enquanto terminava de preparar a garrafa de café para que pudesse virar a noite estudando.

— Ei, peraí, pra que tudo isso de café? — Marina parou de tagarelar enquanto olhava Alissa passar o café para a garrafa.

— Semana de provas Mari, vou virar a noite estudando. — era sempre assim, Alissa era terrivelmente estudiosa. As pessoas de sua turma a conheciam por ser a garota que conquistava monitorias com facilidade e sempre conseguia fazer amizade com os melhores professores, os alunos sempre tentavam pagar para conseguir uma cópia de suas anotações.

Marina cruzou os braços com uma expressão ameaçadora que somente ela sabia fazer.

— Alissa Fontes você precisa descansar garota! Não, essa noite a gente vai sair, beber um pouco e relaxar.

— Não, não e não. — ela balançou a cabeça negativamente com veemência. Não tinha tempo para se divertir, Alissa tinha uma bolsa de estudos para dar conta.

— Ah sim senhora, anda. São seis horas você tem duas horas para se arrumar, hoje vai ter uma festa no campus-

— Mas não era o seu irmão que te aconselhou a não ir nas festas do Hood? — Alissa ergueu a sobrancelha, mas Mari apenas deu de ombros.

— Eu não tenho culpa se ele dá as melhores festas.



calum hood



Como de se esperar Calum saiu da aula de Direito Econômico com larica e, bem, Elliot não comprou o lanche para ele.

— Você vai ir comigo para a cafeteria Parker, anda.

Elliot revirou os olhos enquanto seguia o moreno pelos corredores da faculdade.

Naquele dia Cal vestia uma camiseta cinza do The Strokes, uma camisa jeans aberta, calça jeans e um par de tênis pretos. Parker achava impressionante o como um visual simples caia tão bem no amigo e fazia com que ele chamasse atenção de muita gente.

— E a festa de hoje, vai rolar? — Elliot perguntou enquanto os dois saiam do prédio.

Calum assentiu de leve.

— As festas são importantes, porque assim a banda consegue ganhar mais público. E afinal, eu não sou de cancelar festas.

— A Aimee vai estar lá? Você sabe depois de-

A expressão suave de Calum ficou tensa instantaneamente, o garoto parou de andar por alguns momentos. Se tinha uma coisa que ele não queria falar era ela. Tudo o que menos queria fazer era digerir aquele término. Na verdade ele não fazia a mínima ideia do por que Elliot trazia o nome dela a tona se sabia que ele não ia falar sobre.

— Elliot se você for falar me falar da Aimee me dê uma garrafa de tequila antes, não me faça lembrar dela sóbrio. — ele resmungou fechando a expressão enquanto o amigo o olhava com curiosidade.

— Mas o que aconteceu de tão sério assim?

Cal suspirou, se sentindo subitamente ansioso.

Era óbvio que seu relacionamento com Aimee não estava dando certo desde a proposta da banda. E que inferno, ele gostava dela tanto que doía.

— Me pergunte isso mais tarde quando eu estiver bêbado, sim?



[...]



A festa tinha começado a algum tempo, Calum já tinha cumprimentado diversas pessoas. A música tocava tão alto que seus ouvidos doíam e infelizmente ele ainda estava sóbrio.

O garoto não se surpreendeu ao encontrar Aimee chegando à festa ao lado de Elliot, aquilo tinha sido a gota d'água para ele, afinal ele considerava Elliot como a porra de um amigo. Talvez fosse por isso que ele estivesse sentado no chão de um quarto sozinho ao lado de uma garrafa de uísque. Porque não queria causar briga, porque não sabia o que pensar daquela situação.

Eles dois tinha acontecido rápido demais, intenso demais. Aimee cursava medicina e como de se esperar vinha de uma família rica assim como ele. Sua irmã mais velha, Daphne, que cursava biomedicina no mesmo campus, se recusava a ver os dois juntos alegando que ele não era bom o suficiente para ela.

Foram três bons meses, ele pensou dando um gole na garrafa.

A bebida desceu queimando em sua garganta embora ele não se importasse, suas pretensões para aquela noite era beber ao ponto de não lembrar seu próprio nome. Calum não queria estar sóbrio para ver Aimee ao lado de outro cara, ainda mais quando esse cara era um talarico de merda.

Assustou-se ao ouvir algumas batidas na porta. Antes mesmo que ele pudesse fazer alguma coisa, uma garota de pele negra e cabelos castanhos cheios de cachos entrou no quarto segurando outra garota loira nos braços.

— Ah me desculpe por te atrapalhar eu vou procurar outro quarto-

— Está tudo bem. — Calum se levantou sentindo um pouco de tontura. — A sua amiga está bem?

A garota balançou a cabeça negativamente.

— Steice é uma caloura, ela nunca bebeu tanto assim antes. — disse rapidamente enquanto deitava a menina quase que desacordada na cama — Céus, eu preciso arranjar algo para ela comer-

— Não. — Cal interrompeu fazendo a castanha o olhar com as suas belas sobrancelhas arqueadas, ele não pode evitar pensar no quão bonita ela era — Veja, dar glicose para ela só vai piorar o estado dela. Sua amiga precisa beber água e vomitar um pouco, logo ela vai ficar bem.

— Eu deveria aceitar conselhos de um cara bêbado?

Por mais incrível que parecesse Calum riu tombando a cabeça para trás, o tom de voz dela era como música aos seus ouvidos.

— Eu não estou tão bêbado assim e, aliás, eu tenho experiência nesse tipo de coisa. É pegar ou largar.

Ela pareceu ficar irritada com a forma confiante em que ele falou, mas devido à situação acabou cedendo afinal ele era o organizador da festa e conhecia aquela casa melhor que qualquer outra pessoa ali.

— Tem água em cima da cabeceira da cama, enquanto eu pego você tenta deixar ela acordada.

— Ok. — ela murmurou indo em direção da amiga levantar sua cabeça.

Cal suspirou, sentindo que a festa não estava se saindo como ele esperava, e se levantou para pegar água para a garota bêbada. Por um momento ele se sentiu curioso sobre a garota de cabelos cheios de cachos, nunca tinha a visto na universidade.

— Você estuda aqui? — ele tentou perguntar casualmente embora ela estivesse irritada demais para manter uma conversa com ele.

Hood teve que conter o riso quando viu o olhar furioso da garota, como se o culpasse pelo estado físico da amiga.

— Sim, — ela respondeu depois de um tempo — estou no terceiro período de psicologia.

O garoto a ofereceu o copo de água enquanto a observava curioso. Ele estava na faculdade já fazia alguns anos e nunca tinha visto a menina, talvez ela não fosse muito festeira…

— E o seu nome é?

Ela fechou os olhos como de contasse mentalmente até três enquanto segurava o rosto de Steice.

— Alissa Fontes.

Calum abriu sua boca rapidamente, ele já tinha ouvido falar dela. A garota de psicologia que quase nunca ia para as festas do campus, melhor amiga de Harry Ford e dos Gonzalez.

— Agora será que você poderia me ajudar a levar ela para um banheiro? Acho que Steice vai vomitar.

Ele hesitou como se não quisesse sujar sua jaqueta de couro, mesmo assim cedeu e segurou a garota enquanto a levava para o banheiro do quarto. Cal a ajudou pacientemente a ficar em uma posição onde o vômito não faria com que ela engasgasse.

— Você sempre cuida pessoas bêbadas nas suas festas? — Alissa perguntou de braços cruzados enquanto se apoiava na porta, aos poucos ela baixava sua armadura de durona e simplesmente o olhava com curiosidade.

Ele sorriu de forma ladina.

— Não, na verdade eu procuro ser a pessoa que fica bêbada.

Ela conteve a vontade de revirar os olhos, parecia algo mesmo que um idiota como ele responderia.

Hood se surpreendeu por ter passado mais tempo que o normal a observando, aquela garota, Alissa Fontes, era muito linda. Desde seus cachos volumosos até as curvas de seu corpo que eram evidenciadas pelo cropped vinho que ela usava. Isso sem falar no arqueado perfeito de suas sobrancelhas que mostravam a sua irritação e só a deixava mais linda.

Desviou o olhar dela para a menina que vomitava.

— Alissa me desculpe, de verdade. — a garota choramingou enquanto voltava ao seu estado normal.

— Está tudo bem Steice. — Alissa resmungou enquanto ajudava a menina, ainda que cambaleante, a levantar. — O que eu faço com ela agora?

Hood passou sua mão por seus fios negros.

— Ela tem que continuar se hidratando, talvez vomite de novo. Só não a deixe dormir de barriga pra cima. Tenho que ir. — resmungou saindo do quarto deixando a garrafa para trás, sabendo que a esse momento os membros da banda o procuravam pela casa. — Foi legal te conhecer, Alissa da psicologia.

— Uma pena que eu não posso dizer o mesmo, Calum Hood. — um sorriso sarcástico apareceu no rosto dela.

Calum parou com a mão na maçaneta, prestes a sair do quarto. Mesmo assim algo nele queria resistir e ficar ali, conversando com aquela estranha. Todavia ele tinha que ir achar a banda, logo ele e os meninos iriam tocar. Não podia ficar ali.

— É sempre um prazer lhe agradar Srta. Fontes. — piscou, a deixando sozinha no quarto.

O moreno teve que atravessar uma multidão de pessoas para finalmente poder encontrar com seus amigos.

— Finalmente. — Luke Hemmings, o vocalista, comentou quando o garoto apareceu com uma garrafa de vodca pura na mão.

— Nós vamos tocar agora?

— Sim, vá se preparar. — Michael Clifford piscou enquanto arrumava sua guitarra.