Vampire Heart
Capítulo 21
Em meus sonhos, Ville reclamou pelo fato de eu ter descoberto como bloqueá-lo. Ele não aceitou isso muito bem. Nem eu. Então expliquei como aconteceu e ele pareceu se acalmar. Depois disso, o fiz prometer que ele me contaria toda a história no dia seguinte, independentemente da hora. Porém, quando acordei, ele já não estava mais lá. Que raiva senti. Que raiva!
Enfim era sexta feira. Fui no Volks para a lojinha e lá fiquei até o horário do almoço. Depois zanzei pelas ruas e nenhum sinal do meu vampiro. O que ele estava aprontando agora? Eu não resistiria mais viver sem ele. Nem com a Tia Sara ele estava... Tentei me acalmar (em vão) e voltei para a lojinha. Ele não podia me deixar.
Para o meu alívio e deleite, ele estava em meu quarto quando voltei. Gritei seu nome e pulei em cima dele, como de costume. O beijei apaixonadamente e disse que ele deveria me esclarecer coisas. Ele nada disse em resposta; eu já estava começando a ficar nervosa, pois ele não parecia feliz.
-Jessy... – disse-me ele com uma voz um tanto melancólica – Preciso voltar.
-Não precisa não. – respondi.
-Meu amor... Eu preciso voltar. Estou em perigo aqui. E você também estará se estiver ao meu lado.
Ah, NÃO! Ele não ia começar com isso de me deixar outra vez, ia?
-Jessy... Por favor, tente compreender! Isso é perigoso!
-Perigoso é você não me contar agora mesmo o que está acontecendo!
Ele não sorria. Ele não me apunhalava com sentimentos de ira. Era pior: estava triste. A imagem de Ville quando estava triste assemelhava-se a um anjo chorando.
Sentou-se em minha cama e mirou o infinito por alguns segundos. Depois, com uma expressão cheia de mágoa, enviou-me uma mensagem mental que dizia que ele precisava se concentrar. Esperei pacientemente e a me auto-flagelar por saber que a culpa daquela tristeza era minha.
Foi aí que uma imagem apareceu em cabeça. Era um homem alto e louro, muito louro. Seus olhos eram de um mel intenso e vestia roupas que pareciam ser caras. Sem mencionar que sua figura majestosa era de uma beleza irrevogável. Apenas Ville passaria aquilo.
-Quem é ele? – perguntei um pouco agitada.
-Vladimir Mikhail Nicolai.
-AH! Então esse é o Vlad!
Deus, como ele era lindo!
A tristeza de Ville foi substituída por indignação.
-Ah, agora virou Vlad, é?
Não pude evitar rir de sua reação.
-Não gostei disso. Ainda mais porque ele é um inimigo, Jess!
Deus, como aquele outro anjo poderia ser um inimigo?
-Ele não é um ajo, é um vampiro nojento assim como eu! Não existe lugar para nós no coração de Deus, portanto pare de mencionar o Seu nome!
Silêncio. Não soube o que dizer... Então perguntei:
-Qual é o problema do Vlad, Ville? Por que ele é perigoso?
-Ele quer me matar.
-Por quê?
-Porque coisas ruins aconteceram no passado.
-Por quê?
-Porque eu traí sua confiança e paguei caro por isso, mas aparentemente nada foi o suficiente para ele.
Irritei-me. Além de reconhecer a semelhança que eu tinha com uma criança curiosa de 5 anos de idade.
-Quer fazer o favor de ser mais específico?
-Eu estive lá, Jessy. Na Segunda Guerra Mundial. Foi quando nos encontramos pela primeira vez.
Às vezes eu me esquecia o quanto Ville era velho. Segunda Guerra Mundial? Como assim?
-Estive lá na Finlândia, Jessy. E na Alemanha. Eu vi Hitler mutilar corpos de judeus; cheguei até a falar com o Führer. Era um homem doentio, porém inteligente em demasia e dono das palavras. Você simplesmente acreditava no que ele lhe dizia. Ou pelo menos quase tudo.
Hitler em pessoa?
-Mas enfim... Vlad não era alemão. Ele era um comunista que conheci na batalha da Linha de Mannerheim. Por acaso já ouviu falar?
Pesquisei no fundo de minha memória e nada da tal linha se revelar.
-Não importa. – ele disse – A Linha era desprovida de meios de batalha e mesmo assim foi um empecilho àqueles soviéticos que tentaram tomar a Finlândia. Eu não estava lá para batalhar. Eu estava lá, para encontrar a mim mesmo; saber se meu o lugar era realmente em campos de batalha.
“Obviamente não era, pois após esse confronto, nunca mais voltei a chegar perto de um combate aberto. Os corpos eram mutilados e sua carne ficava exposta de maneira nojenta... A putrefação em meio ao gelo e... Era terrível. O pior era minha sede ao ver tudo aquilo e a sentir o aroma do sangue.
“Certo dia, não lutei. Eu simplesmente andei em meio à batalha, escapando com facilidade das bombas e das armas dos soviéticos. Após várias horas de confronto, eles começaram a se retirar e eu os segui. Alguns soldados iam ficando para trás, pois já era tarde demais para que seus ferimentos fossem curados. Vladimir era um deles. E em seus olhos eu vi a decepção e a desgraça da derrota. Vi que ele não queria desistir de viver. Vi que ele não queria abandonar sua pátria.
“Então eu o transformei. E ele se tornou o que é hoje. No início foi apenas para satisfazer minha solidão. No entanto, com o tempo eu conheci outros vampiros e deixei Vladimir para trás. Ele me odiou durante anos. E para completar, matei a companheira dele. A única mulher que já amou em sua existência.”
Choque.
-Satisfeita comigo agora? – perguntou-me impaciente.
-Bastante. Eu só não sabia que você esteve num campo de batalha, Ville! Me conta mais sobre isso!
-Jess! Você percebe o quanto é perturbada? Eu acabei de confessar vários crimes terríveis e você só...
Ele se interrompeu e começou a rir mais descontraidamente.
-Você não se cansa de me surpreender, não é?
-De maneira nenhuma!
E o beijei. Não me importava com as coisas horríveis que ele havia feito no passado. Desde que estivesse comigo, me impedindo de cometer suicídio e ao mesmo tempo me matando com seu sorriso, já estava tudo ótimo!
Ele riu ao ouvir meus pensamentos e começou a pensar alto por si mesmo. Talvez ele tenha feito de propósito, mas não me bloqueou dessa vez.
Talvez, com ela seja diferente. Talvez com ela não aconteça o mesmo que aconteceu à mim. Mas como posso saber...?
Nada perguntei. Eu sabia que ele não iria me contar.
-Enfim... – concluiu ele – Eu tenho de voltar à Moscou para destruí-lo. Mas devo passar pela Inglaterra primeiro e matar um feiticeira que está ao lado dele. Nada disso vai ser bonito, Jess. E se não o fizer, serei eu a “morrer”.
-Eu vou com você assim mesmo. Eu não ligo.
-Jessy... Você está perdendo a pouca noção de perigo que tem! Não posso te levar. Eu nunca iria me perdoar se algo lhe acontecesse.
-Mas...
-Sem “mas”! Não! E por favor, não me implore isso, Jessy! Pense em meu sofrimento ao menos uma vez...
-Ville... Você me prometeu que algum dia iríamos até lá.
-Eu sei, mas...
-Então! Eu não vou te atrapalhar... Eu... Por favor! Se não ficarei aqui... e indefesa!
-Não estará indefesa! Mogli irá te ajudar com certeza. Ele sempre está por perto. – disse ele com certo escárnio.
-Mogli?
-É. O menino lobo.
Como ri daquela piada idiota. Ben transformara-se em Mogli, o menino lobo!
Após minutos de risada, continuei:
-Mas ele não serve para me defender! Ele não serve para nada! Ville... Eu preciso de você! Somente você!
-Jess... Por favor... Não faça isso... Não faça...
Mas já estava feito. Eu já havia convencido a ele de que eu teria de ir junto.
****
Dois dias se passaram desde a conversa sobre viagens.
Nosso primeiro problema foi enfrentar logo ele: Ben – ou Mogli – veio a descobrir que estávamos de partida e resolveu checar. Ele apareceu perto das 18 horas enquanto ainda não estava escuro. E para nosso infortúnio, aquela era uma noite de lua cheia.
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