-Um lobisomem?

-É. Ou um cachorro... Um pulguento... Ou o que você achar melhor.

Eu só podia atrair essas coisas. Primeiro, namoro um lobisomem por cinco anos. Agora era um vampiro. O que mais estava faltando?

-E eu nunca soube?

-É o que parece.

-Ville, como eu sou lerda!

-Não é não, amor... Talvez desprovida de percepção... Mas você não é lerda. Os humanos não percebem as coisas assim... Num piscar de olhos. É preciso tempo.

-Mas eu nunca nem desconfiei!

-Sem problemas. Agora você sabe e é isso que importa.

E me beijou. Senti-me melhor por alguns segundos, mas logo depois me lembrei de que eu não passava de uma humana boba e normal. Eu não teria mesmo a capacidade de descobrir nada disso.

-Ville... Eu quero ser como você.

-Como assim?

-Uma vampira. Quero ser como você.

Ele beijou minha testa. Parou para refletir. Deu uma risadinha divertida e barulhenta. Ficou calado por alguns segundos e resmungou:

-Ficou maluca?

-Não. Eu falo sério.

Sua expressão mudou. Agora ele me encarou de forma séria. Eu não estava gostando nada disso. Era terrível olhar para ele e saber que eu estragara tudo.

-Você não estragou nada. Só não sabe o que está dizendo.

-Eu sei o que estou dizendo!

-Nós vamos brigar se o assunto for esse.

-Então você prefere que eu morra?

-Prefiro. Prefiro que morra me amando.

-Ville... Eu sempre vou te amar.

-Talvez não quando eu te transformar.

-O problema é esse? O amor que vou sentir?

-É. – Resmungou ele.

-Não entendo.

-Não vai ser a mesma coisa se você for transformada.

Silêncio. Estávamos deitados no sofá. Ele me abraçou mais forte e fui capaz de sentir a frieza de seu corpo.

-O que vai acontecer comigo?

-Não vai se sentir como eu me sinto.

-E como se sente? – Perguntei curiosa.

-Não consigo explicar. Só posso sentir. E além de bom, isso é muito... Mas muito estranho.

-Eu não...

-Não tente entender. – Interrompeu-me ele.

-Eu bem que queria.

Depois de todo esse tempo de seriedade ele sorriu. Um sorriso tão lindo... Quebrou todos os meus ossos.

-Talvez, algum dia eu te conte.

-Tomara que não demore. – Eu disse.

Permanecemos abraçados e em silêncio por algum tempo. Foi quando me lembrei daquela história do lobisomem.

-Ele era um lobo mesmo? – Perguntei.

-Era. Nojento... Desprezível... Imundo...

-Por que o odeia tanto? – Perguntei-lhe rindo.

-Porque, além de vampiros odiarem os lobisomens... Ele namorou você por cinco anos. O cheiro dele está aqui. E odeio o cheiro dele. Eu odeio a cara dele. Eu odeio tudo nele.

Morri de rir com isso.

-Ele não é tão ruim assim...

-Não o elogie, por favor. É ofensivo pra mim, saber que aquele verme consegue não ser “tão ruim”.

Ele estava mesmo falando sério quanto a chamá-lo daquela forma. Mas eu não via o Ben assim... Só não queria mais manter contato com ele. Afinal, cinco anos perdidos...

Repentinamente, Ville xingou.

-Eu tenho que ir, amor.

Gritei, choraminguei, esperneei... Ele não podia fazer isso comigo! Tinha acabado de chegar!

-NÃO! VOCÊ NÃO VAI!

-Mas eu vou voltar... – Divertiu-se ele.

-Não quero saber! Não pode ir agora!

-Estou com sede! Não vou matar você!

-Pode chupar meu sangue! Aproveite e me transforme de uma vez.

-Não vou nem comentar...

-Ville... Não vai embora não... Fica...

Isso não o convenceu. Ele apenas prometeu que voltaria à tarde.

-Eu tenho que ir. Se não, a coisa vai sair feia.

-Ta...

Eu estava quase chorando. Não queria perdê-lo outra vez. Nem um pedacinho dele. Nem um fio de cabelo. Muito menos um milímetro!

Antes de sair, ele sorriu e disse:

-O pior de tudo, é saber que você está triste porque eu estou indo embora. Não porque eu estou indo matar alguém.

Eu nem tinha pensado nisso!

-Ah... Tente não ser muito violento!

Ele deu uma risadinha engraçada e saiu.