Valentine's Day

Capítulo Único - Amor da Minha Vida


Acordou antes do horário habitual, com o maldito galo que pertencia a Teon cantando a plenos pulmões. Por que diabos aquele siciliano tinha um galo? Só se fosse para enlouquece-los! Abriu os olhos devagar, acostumando-se a claridade que despontava com o amanhecer, passou a mão pela cama e descobriu o outro lado frio, vazio.

O que o fez acordar de vez. Onde estava Liebe? Lembrava perfeitamente dela ter ido dormir bem antes dele e puta com ele. É, mal sinal. Estava muito encrencado. Foi um estúpido com ela e sequer recordava a verdadeira razão para isso. Para ser sincero, Cain nunca teve um relacionamento sério e duradouro. Máximo era passar quatro dias nos jardins das ninfas, sendo expulso uma vez pela própria deusa Afrodite.

Arrastou-se para fora da cama, jogou uma água gelada no rosto apenas para tirar um pouco do aspecto cansado e rumou para a cozinha. Lá encontrou seu irmão gêmeo, como poderia dizer... Elétrico? Pilhado? Em estado maníaco? Não, totalmente atentado. Apenas balançou a cabeça negativamente. Seja lá o que fosse, era melhor não se meter, ou sobraria para sua pessoa.

— Um dia desses eu vou fazer galo frito — disse Abel de maneira sombria e maníaca.

— Apenas faça! — resmungou. — Viu Liebe?

— Subiu — respondeu e virou para o irmão. — Nossa, você tá com uma cara de merda!

— E ainda assim sou bem mais bonito que você — rebateu, sentando-se na cadeira. — Que você faz acordado a essa hora?

— Decidi comemorar o Dia dos Namorados — Abel respondeu dando de ombros, como se não fosse nada de mais. Bom, para eles que eram tão antigos, de fato não era, porém conhecendo o gêmeo como conhecia, aprontou alguma coisa com a esposa e agora corria para se redimir, já que Atalanta o colocaria para correr, titã ou não, olimpiano ou não, aquela mulher em estado de cólera assustava até mesmo Urano.

Cain arregalou os olhos, era hoje?

Sua mente começou a maquinar uma ideia, arriscada, mas era melhor que nada. Nunca em toda sua existência gostou tanto de alguém como de Liebe, pela primeira vez na vida se apaixonou e gostava daquele sentimento e foi ele seu maior motivador durante a guerra contra os titãs.

Liebe é uma mulher forte, independente, determinada, que não aceitava não por resposta quando queria algo, divertida, meio louquinha, afinal sagitariana, espírito livre, apaixonada e apaixonante. Por ser ela mesma, não se encaixar em padrões, ser autêntica, que se apaixonou. Ela era muito além do que os olhos podiam ver, sua beleza era como nenhuma outra, pele negra, lábios carnudos, olhos castanhos médios, cabelos cacheados — sua predileção —, seu olhar expressivo; seu corpo o deixava louco e enciumado — geminiano, impossível não ser —, era toda proporcional e natural, seios fartos, quadril e bumbum proporcionais, pernas torneadas. Só de pensar nela sorria.

Por que não usar aquela comemoração para se desculpar com sua amada e fazerem as pazes?

Estalou os dedos, era isso! Levantou derrubando a cadeira e saiu apressado, deixando Abel sem entender muito. Descobriria em algum momento, Cain não conseguia manter segredo algum dele.

(...)

Liebe acordou no meio da madrugada, dormiu muito mal, seu sono foi inquieto, acontecia quando estava zangada. E estava, com Cain, quando o geminiano queria era um verdadeiro idiota, estúpido e burro. Por que foi mesmo que se apaixonou por ele? Ah sim, era lindo, bom de papo, bom de cama, divertido, inteligente e um de seus maiores incentivadores em qualquer coisa que decidisse fazer.

Entretanto, desta vez a briga a afetou mais do que estava disposta a admitir. Tanto que quando despertou durante a madrugada, colocou um roupão, calçou os chinelos e subiu para Aquário.

Sabia que seria recebida a qualquer hora do dia na décima primeira casa, afinal sua dona era uma coruja, principalmente quando o namorado não estava.

— Insônia? — a aquariana perguntou assim que sentiu o cosmo de Liebe adentrando sua morada.

— Pode-se dizer que sim...

— Tem chocolate quente! — exclamou. — Não consigo dormir também, aí eu fico inventando moda em casa.

— Eu sei, te conheço — disse enquanto acompanhava a amiga até a cozinha, por sorte a casa não estava o gelo de sempre. Aquarianos e seu amor pelo frio, quem os entende?

— Droga... — fingiu indignação. — Quer conversar? Quer assistir algum filme? Ou quer tentar dormir?

A cacheada pensou por alguns minutos, seria bom conseguir dormir e longe de Cain conseguiria se acalmar, aplacar um pouco aquele sentimento, aquele estado zangado. Bebeu o chocolate devagar, pegou alguns cookies no pote, depois rumou para o quarto de hóspedes, recebendo um boa noite da outra. Por não ser a primeira tão pouco sendo a última vez que ficava em Aquário, Serenity deixou tudo ao gosto da amiga, não só a decoração, mais roupas de cama, roupas de dia a dia, produtos, tudo, era literalmente um pedacinho só seu. Pegou seu pijama mais confortável, trocou de roupa e se jogou naquela cama maravilhosa.

Bem que Atena poderia equiparar o soldo do seu exército com o dos olimpianos, ou o mais próximo possível. Não que eles ganhassem mal, mas a vida que os guerreiros do Olimpo levavam era puro luxo e conforto.

Se enfiou debaixo da coberta fofa e gostosa, encontrou a melhor posição para se deitar, o sono não demorou tanto a chegar.

Horas mais tarde, Cain saiu sem falar aonde ia para ninguém, não que fosse da conta de alguém. Em sua mente, bolou diversos cenários de como se desculparia com sua namorada, de como redimir seu comportamento babaca com ela, por uma briga a troco de nada a não ser seu estúpido ciúme, lembrou-se do motivo. Liebe chamava a atenção por onde passava, só cego negaria a beleza dela. Deveria confiar nela e em seus sentimentos por ele e não o fez. Agora aturasse.

No fundo, torcia para que ela o perdoasse por mais uma mancada, não sabia como ficaria se ela decidisse pôr fim ao relacionamento deles. Parou de andar naquele momento, o mero pensamento dela o deixar fez crescer em seu peito um medo horrível, nunca mais seria o mesmo. Liebe trazia o melhor de si à tona, um lado que ele sequer sabia que tinha. Porém se aquela fosse a decisão dela em algum momento, só poderia respeitar.

— Cain, você é um imbecil! — Xingou a si mesmo. — Liebe é muito mais do que um dia pedi a vida.

Voltou a andar por Atenas, mas absolutamente nada o agradava, também não conseguia imaginar sua namorada gostando. Ela era uma pessoa até fácil de agradar, e foi exatamente esse detalhe que o fez pensar em um presente que ela amaria com certeza.

Diferente de muitas que conheceu por sua existência, ela tinha gostos similares ao seu, a paixão pelo esporte era uma — Liebe amava futebol assim como ele. Já sabia um dos presentes que daria a ela e não seria em Atenas que conseguiria. Caminhou até um beco qualquer que encontrou, certificou-se que ninguém o seguia ou observava, abriu uma fenda dimensional e foi diretamente a Madrid, a capital espanhola. Faria uma bela surpresa a sua amada.

Acordou no meio da tarde, tomou um banho bem demorado, lavou o cabelo, depois vestiu algo confortável e saiu do quarto. Encontrou um lanche leve na mesa, cortesia de Serenity que também deixou um bilhete avisando que iria sair e voltava mais tarde e o que se sentisse em casa.

Agradeceu que a outra não insistiu em conversar, não estava a fim, queria ficar um pouco quieta, sossegada.

— Mas ela deixou você em casa, foi? — Liebe pegou Lua, a gata da amiga, no colo.

A felina de pelos brancos e olhos quase tão azuis quanto da dona miou em resposta. Era boazinha e muito manhosa, adoradora de um colo como diria a aquariana e muito companheira. Percebendo que Liebe estava triste começou a ronronar.

Enquanto lanchava um bilhete se materializou na mesa, só uma pessoa fazia aquilo. Cain. Pensou por um momento se ignorava ou não, mas sua curiosidade a venceu.

Sei que sou um belo de um idiota... Mas não sei viver sem você, me encontre em Creta no fim do dia, no local de sempre.

Bom, já era algo, ele reconhecer que era um idiota, atenderia o pedido, queria saber como ele se desculparia de fato com ela.

— Vamos ver o que ele vai dizer não é Lua? — perguntou a gatinha que miou em resposta.

— Srta. Liebe? — Uma das servas de gêmeos a chamou.

— Oi.

— Sr. Cain me pediu que entregasse isso. — Mostrou a caixa.

— Pode deixar aí, já vejo, obrigada.

A serva se retirou. Colocou Lua na outra cadeira e pegou a caixa, era sofisticada. Isabel Sanchís. Um nome de peso no mundo da moda, principalmente na Espanha. Retirou a tampa, com cuidado tirou o que havia dentro, um vestido. Era divino, e a cor realçava a de sua pele. Safado. O que ele estava aprontando?

Olhou a hora, era melhor começar a se arrumar. Terminou o lanche e voltou para o quarto.

Tudo estava perfeitamente decorado, a mesa na varanda com vista para o mar, principalmente ao pôr do sol. Os presentes no lugar, só esperava que ela desse as caras, estava nervoso. Teve que tomar dois banhos, tamanho era seu nervoso.

Passou em Madrid, Valência e uma outra cidade que agora não recordava o nome, procurando presentes para ela, e achou um inesperado, apesar de nunca ter demonstrado nada naquele sentido, não significava que estava fora de cogitação.

Sentiu o cosmo dela e de Abel — devia um favor enorme ao gêmeo —, colocou em posição, esperando. Ouviu o som dos saltos dela. Seu coração batia como um louco no peito, queria desculpar-se logo para poder agarrá-la, ficar abraçado nela, sentindo seu calor, seu cheiro.

— Me chamou, estou aqui. — Ela usava o vestido que encontrou em Valência, sentiu seu queixo cair, Liebe que já era linda ficou deslumbrante, teria que lutar muito para ser merecedor dela. — Sei que sou linda.

Cain sorriu, adorava o fato dela ter plena ciência que era linda, melhor era reforçar isso.

— E muito gostosa! — A devorou com os olhos. — Puta merda, Liebe!

— O que?

— Tinha que ser tão linda assim?

Liebe bufou, às vezes Cain era tão infantil, mas tinha bom gosto.

— Fazer o que? A natureza caprichou — disse.

Ele não pode discordar, porque seria um crime. Foi até ela, pegou sua mão e beijou.

— Me perdoe, sou um babaca. — Pediu sinceramente.

Vendo isso refletido nos olhos dele, amoleceu um pouco e o puxou pela gravata e o beijou com vontade. Cain que de bobo só a cara, correspondeu ao beijo com a mesma ânsia.

— Controle esse ciúme, Cain.

— Vou trabalhar nisso — falou. — Que bom que gostou do vestido.

— Paga de sonso, mas presta atenção no que digo.

Sorriu arrogante.

— E como forma de provar isso... — Puxou uma outra sacola, sem identificação e entrou a ela.

Liebe pegou, apoiou na cadeira e puxou o que tinha dentro. A nova camisa de Sérgio Ramos, olhou para ele e sorriu.

— Ainda não acabou — ele disse.

Ela o olhou incrédula. Não?

Cain entregou uma caixa cumprida de veludo. Liebe sentiu seu coração acelerar com a possibilidade do que poderia ter ali, abriu com cuidado. Dentro havia dois ingressos para assistir a final da UEFA, não pôde conter o gritinho de felicidade. Pegou os ingressos, viu que estavam marcados para os melhores assentos do estádio.

— Não acredito!!! — exclamou. — É sério?

Ele apenas assentiu, esperou ela se acalmar um pouco e tirou do bolso, se ajoelhou diante dela. A mais nova simplesmente congelou no lugar, sentiu o coração falhar duas batidas. O que estava acontecendo?

— Nunca na vida pensei que conheceria alguém como você, Lib — começou. — Virou minha cabeça, minha vida e meu coração de cabeça para baixo.

Ela estava emocionada, seu olhar fixo no dele, só aguardando ele terminar.

— Não pensava que era possível amar alguém como amo você... Sei que piso na bola às vezes, mas hoje não me imagino vivendo sem te ter ao meu lado — respirou fundo, era agora ou nunca. — Liebe Stefano, você aceita ser minha esposa?

Liebe marejou, esquecendo-se da briga deles, esquecendo-se do mundo ao redor deles, naquele preciso momento, só existiam eles. Cain não era um homem perfeito, tinha seus defeitos e também suas qualidades e isso fazia parte de quem ele era. Agora ele estava ali, ajoelhado diante de sua pessoa, pedindo para que fosse sua esposa, não tinha como recursar um pedido daqueles.

— Aceito! — respondeu por fim.

Cain colocou o anel em seu dedo, seus olhos também marejados, a encheu de beijos. Não poderia estar mais feliz.

— E amor... — sussurrou em seu ouvido. — Feliz Dia dos Namorados.

Ela sorriu, boba, aquele foi o melhor Dia dos Namorados que teve em toda vida.

— Feliz Dia dos Namorados. — O beijou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.