Assinou a última leva de relatórios. Seus olhos distraidamente se voltavam para o relógio várias e várias vezes naquele dia, esperando, mesmo que soubesse que era idiota.

Ele nunca ouviria seu chamado e não iria implorar por isso. Tinha seu orgulho e por isso se manteria em pé em intacto apesar de tudo, no entanto, não conseguia não desviar os olhos para a porta e o relógio, esperando que um milagre acontecesse e visse os cabelos prateados passando pela porta, os olhos vermelhos lhe encarando com, raiva ou curiosidade.

Sua voz perfurando o silencio entediante. Seus maneirismos irritantes ao se sentar e questioná-lo sem qualquer resquício de respeito com qual seus empregados o tratavam.

Deveria saber que não importa o que acontecesse, Zen nunca iria baixar sua cabeça para ele, muito menos acatar todas as suas ordens. Era como um gatinho rebelde, mais interessante até mesmo que sua amada Elizabeth III, oh, muito mais.

Porque ele não era um gatinho de raça nobre, não podia facilmente adestra-lo, amansá-lo a seu bel prazer.

Era o desafio que ele precisava para movimentar sua vida monótona, emoção aos seus dias tediosos enquanto assumia perfeitamente seu teatro de CEO perfeito e sem falhas, mandando e desmandando em seu pessoal.

Assinado o último dos papéis, se virou para sua janela, apreciando a vista tediosa com a qual estava acostumado, sendo cumprimentado por prédios tão cinzentos quanto sua própria vida.

— Por que me chamou, Han? — A voz que ansiava ouvir questionou com irritação.

Virou-se lentamente para a porta, vendo Jaehee com a expressão rubra e tremula, se era por causa da falta de modos, constrangimento por não conter a entrada afoita ou por estar diante de seu ídolo, o homem não sabia dizer. Gesticulou para que saísse com um movimento curto e frio da mão, sorrindo longamente com a visitinha que por mais que o tenha chamado, era inesperada.

Afinal, quem esperava que Hyun Ryu finalmente viria ao seu encontro com apenas um chamado?

Vê-lo diante de si era uma pequena grande vitória, um passo em uma longa caminhada.

— Sente-se, Zen. — Com um floreio apontou para a cadeira a frente de sua mesa. Não deixando nenhuma pista para que o rapaz se preparasse mentalmente para seus planos mais sórdidos.

Seus olhos carmesins se estreitaram, andou com cautela, como se estivesse se aproximando de uma fera que poderia ataca-lo no menor dos descuidos, já suspeitava que algo poderia estar acontecendo de errado, desde que Saeyoung parecia incentivar muito sua vinda, com a boca cheia de batatinhas e mais pacotes em seus braços.

— Deve estar desesperado para ter subornado o Seven. — Desdenhou sentando-se. O ataque era a melhor defesa e estava claramente na defensiva.

Jumin deu uma gargalhada da frase dele, a atmosfera doce como o cheiro do perfume de Zen. Suas mãos formigaram, seu nariz ávido por sentir aquele perfume mais de perto, diretamente daquela pele pálida aparentemente macia e imaculada.

— Não sei do que está falando. — Seus lábios curvavam-se predadores, a língua faminta desenhou uma trilha por onde passavam, acrescendo um brilho natural a sua boca.

Para seu total horror, Zen percebeu que aquele gesto lhe deixou hipnotizado e custou-lhe muito para desviar os olhos da visão.

As mãos precisas abriram a gaveta e pegou um embrulho bem feito, a fita carmesim lembravam certos olhos, enquanto o papel prateado era como seus cabelos, estendeu para o convidado, a suave menção de um sorriso brincando em seus lábios, depois de sua explosão de risos.

— Isso não é uma bomba, é? — Olhou para o embrulho como se fosse lhe morder.

— Claro, eu daria uma bomba para explodir meu prédio comigo junto. — Revirou os olhos. — Pegue logo.

Ainda desconfiado, pegou o pacote em seus dedos trêmulos, desfazendo a fita que escorregou por seus dedos. Teve dificuldade com o embrulho, dado a instabilidade de sua mão, inseguro do que fazer e o que esperar, conhecendo Jumin, poderia se esperar de tudo, inclusive o impossível.

Seus olhos se arregalaram ao se deparar com a caixa requintada de uma confeitaria cara, abriu-a para encontrar os chocolates mais caros que já ouvira falar em todo o país, doce este que apenas em seus sonhos seria capaz de prova-los e agora estava ali em suas mãos.

— Tenho certeza que isso não é um presente dado sem segundas intenções. — Comentou sem fôlego, queria tocá-los, para ter certeza de que eram de fato reais.

— Tenho só um pedido. — Cruzou as pernas debaixo da mesa, seus cotovelos na mesa com as mãos juntas apoiando o queixo.

Seus olhos eram quentes como prata líquida, podia sentir-se queimar apenas de encará-lo.

— E qual seria para ter ido para tão longe? — Fechou a caixa com cuidado.

— Seja meu namorado. — Disse sem rodeios, ainda lhe encarando com aqueles mesmos olhos quentes.

— ... — Quase engasgou, colocou a caixa na mesa para ter certeza de que não a derrubaria por acidente. — Isso... É sério? — Gaguejou tentando se recuperar, seu rosto esquentando a medida que fazia a assimilação.

— Nunca estive tão sério. — Se inclinou na mesa com cuidado. — Eu quero você.

— E... De onde veio isso? — Respirava com dificuldade. Seu coração batendo acelerado. Tentou se afastar, mas parecia preso a um magnetismo quase invisível.

— Desde que vi Jaehee com a Coordenadora. Apesar de sei que é questão de tempo até que eu perca minha secretária. — Deu de ombros. — Então fiquei pensando... Não no cargo vago, claro — completou antes que Zen abrisse a boca. — Mas no quanto ela parecia livre e feliz e decidi que era bobagem minha deixar as oportunidades passarem sem nem aproveitá-las.

— E quem disse que eu estou interessando em um babaca como você? — Rosnou, se levantando da mesa e batendo suas mãos na mesa. — Não sou qualquer um que pode ser comprado com palavras bonitas e comida cara!

— Não estou te comprando. — Riu calmo e suave. — É um presente para você caso aceite, é apenas algo bobo, claro que eu posso te dar muito mais que apenas chocolates.

— E se eu não quiser? — Rosnou.

“Namorar. Jumin fala como se fosse apenas a aquisição de outro bem ou a compra de um animal de estimação.” Ele não era um objeto! Não podia ser simplesmente comprado. Não era assim que a vida real funcionava!

— E você me negaria assim? Mesmo depois de lhe dizer todos meus sentimentos? — Se levantou e caminhou até o rapaz de cabelos prateados, seu andar era decidido, firme e dotado de tanta autoconfiança como um executivo certo de seus negócios.

— Sentimentos? Não me faça rir! Você só quer comprar os outros, esfregar na minha cara seu dinheiro só porque eu não aceitei seu patrocínio. Não quero seu dinheiro, droga! — Sua voz se elevou enquanto ficava frente a frente à Jumin.

— Essa é uma das qualidades que mais admiro em você, Ryu. — Admitiu, sua mão se estendendo para tocar o rosto quente com seus dedos frios. — Você nunca poderia ser comprado. Não aceita nada se não for conquistado com seu próprio suor, com seu esforço. — Deslizou os dedos pelas bochechas até o pescoço e subindo lentamente.

Zen estava congelado em seu lugar, com os olhos arregalados e a respiração descompassada. Tentou abrir a boca para dizer algo, se defender ou ataca-lo, mas não conseguia, se sentia tímido e ao mesmo tempo inseguro. Afinal, porque Jumin sentiria algo por alguém feio como ele? Não passava de um personagem da mídia, um patinho feio que nunca seria um cisne, o sapo que era maquiado de príncipe. Sua mãe sempre lhe chamava de feio.

Nasceu feio, cresceu feio e escondia sua feiura com sorrisos bonitos.

— Não... — Sua voz tremeu, enquanto segurava com força a mão em seu rosto, inseguro se a afastava ou a mantinha ali. Seu corpo lutando contra sua mente, seu coração versus cérebro.

Se o deixasse fazer o que quisesse, talvez nunca se livrasse das garras de Jumin Han.

Tomado de uma força que não sabia que possuía, se livrou daquele toque de perdição enquanto se virava de costas, seus pensamentos clareando assim que não via-o em sua frente, não precisando lutar contra o que deveria fazer e o queria verdadeiramente.

No entanto, fora a pior decisão que fizera, assim que sentiu-se seguro, sua cintura fora envolvida enquanto o corpo quente o pressionava contra o dele, o rosto em seus ombros, a boca a centímetros de suas orelhas.

— Por que não? — Perguntou com a voz baixa, propositalmente contra a orelha dele. Sentindo a pele se arrepiando e o estremecimento do corpo em seu abraço.

— Não sou idiota. Nem iludido para acreditar que alguém como você teria reais intenções e interesse em alguém feio como eu. — Fechou os olhos com força, sua fachada narcisista rachando e quebrando. Precisou de todo seu esforço para controlar a dor que sentia e não demonstrasse fraqueza na frente dele.

Seu corpo tremia, era impossível esconder seus sentimentos por tanto tempo.

— Idiota. — Jumin resmungou enquanto pressionava seus lábios com cuidado sobre o pescoço pálido. — Eu não me importo com isso, nunca me importei. — Não valeria a pena discutir com quem tinha traumas desde a infância.

Zen era tudo, menos feio. Mas não podia fazer nada se o próprio não se via corretamente.

— N-Não s-se im-impor-ta que eu seja feio demais? — Odiou o tremor de sua voz, a forma como sua respiração vinha descompassada, o tremor em seu corpo. Se Jumin não estivesse segurando-o, seus joelhos já teriam cedido.

— Nenhum pouco. — Os lábios subiram pela pele arrepiada. — Se realmente me importasse, não estaria fazendo isso. — Continuou a caricia subindo e descendo os lábios naquela pele macia, seu nariz sendo presenteado com o mais doce e convidativo dos aromas.

Zen fechou os olhos com força, as lagrimas que reprimia escorrendo livremente pelo rosto, enquanto seus dedos se fechavam com força.

Tentou se concentrar, mas o toque eliminava qualquer tentativa de concentração.

— Me dê esses malditos chocolates então. — Terminou por fim.

Sentiu os lábios em sua pele se curvando em um sorriso antes de se afastarem. O abraço se desfazendo e custou seu autocontrole para que não caísse ali mesmo.

Se sentou assim que o viu de costas indo para sua mesa, não confiava em suas pernas naquele momento.

Jumin pegou a caixa e estendeu novamente para ele, que pegou-a e sem cerimonias começou a degusta-lo. O chocolate derretendo em seus lábios trêmulos.

— Então Saeyoung estava certo esse tempo todo. — Comentou finalmente, sentindo-se aos poucos se recuperando. — Jumin Han é gay.

— Cale a boca. — Resmungou.

A risada gostosa de Zen soou pelo recinto, fazendo com que o CEO mesmo contra sua vontade sorrisse.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.