Era a segunda noite em que me deitava sabendo que em menos de alguns minutos eu estaria andando de um lado para o outro no quarto. Não ousei dizer para Draco, mas aquele lugar me dava arrepios. Poucos móveis no quarto mas os que tinham eram desgastados, as cores escuras da parede dava a entender que o ambiente era bem menor do que parecia, o único aspecto positivo, era a prateleira cheia de livros.

Sai de baixo da coberta e assim que toquei meus pés no chão estremeci, procurei pela pantufa que costumava usar e a encontrei do lado do meu malão, assim que eu calcei, uma sensação reconfortante me deu coragem para levantar da cama. Com passos curtos mas apressado cheguei até a estante, passei a mão em cada livro até puxar um para mim, ele era diferente dos demais, e assim que abri, o cheiro de mofo me enjoou profundamente estava preste a guardar de volta na estante quando uma carta caiu no chão, o papel estava amarelado mas com aspecto conservado, a caligrafia devia ser uma das mais lindas que já vi, não consegui evitar de ler

"Caro Snape

Sei que não nos falamos mais depois da nossa discussão sobre a Lilian, mas eu quero te pedir um último favor. A lilian corre perigo e creio eu que você sabe muito bem o que estou me referindo, prometo que vou tentar protegê-la, desde que você cuide da minha pequena Any, por favor Severo, me compreenda que ela não tem nada haver com a briga que está por acontecer, não confio mais em ninguém aqui e o Tom já começou a duvidar da minha lealdade. Eu não tenho mais nenhum minuto sem que a Belatriz me persiga. Quando a semana acabar, pretendo fugir com a Any, mas por enquanto eu preciso que você faça esse favor para mim.

Carinhosamente, Karine Burke."

Percebi que estava tremendo quando deixei que ela caísse novamente no chão. Minha vida não passava de uma mentira minuciosamente planejada. Minha mãe era uma farsa pela qual eu amei por um bom tempo, meu padrinho cúmplice, essa carta não fazia nenhum sentido para mim; novamente aquele poder dentro de mim se agitou, lembrei das aulas com meu padrinho para eu controlar aquilo.

Mantenha sua mente vazia

Aquela voz ecoou pela minha cabeça, tentei evitar de pensar sobre o bebe que crescia dentro de mim, dos planos que meu pai tinha para mim, sobre meu padrinho e a carta que tinha acabado de ler, olhei novamente o papel amarelado sobre o piso de madeira escura.

Respira

Respira

Respira

Ordenei para que eu mesma tomasse conta da situação, mas eu não conseguia, perdi as forças nas minhas pernas e cai sentada no chão, as lágrimas delicadas escorria pelo meu rosto, as paredes pareciam estar diminuindo, cada vez elas estavam mais e mais próximas, e naquele instante eu me dei conta que não estava respirando... eu estava tentando, mas as paredes estava tão perto de mim, eu estava presa, em todos os sentidos, e esse era um dos motivos que eu não poderia negar quem eu era, pois estava presa ao meu destino, mas, tinha que haver uma chance de fugir disso.

O poder dançava sobre minha pele, eu não conseguia mais.

Primeiro a escuridão me envolveu com um abraço carinhoso, e as memórias invadiram novamente, isso não poderia estar acontecendo, de novo, tentei lutar contra mas minhas ações eram involuntária, meu cabelo solto grudava sobre a minha pele, meu olhar estava fixo naquela carta e desejei com todas as minhas forças que elas nunca existisse, e então chamas incendiaram o pequeno espaço onde ela estava.

Conseguia escutar alguém me chamando, bem no fundo, alguém me trazendo para a realidade, era como se uma mão me puxasse de águas profundas.

Um floco de neve caiu sobre meu cabelo descolorido, peguei delicadamente mas ele derreteu sobre o calor de minha mão, e finalmente aos poucos a escuridão foi se tornando apenas sombras sob o luar, liberando o brilho profundo das estrelas sobre o céu escuro e aquele cheiro que me fazia sentir em casa, e eu soube que Draco estava do meu lado, observei pela última vez às cinzas do papel.

— Tem certeza de que seu poder não a transforma em um Obscuro? — Eu não soube com que intenção ele fez aquela pergunta, mas um discreto sorriso surgiu em meus lábios.

— É só muito poder guardado, fazia dias que eu sentia ele pulsando, mas perdi o controle das minhas emoções — adimiti, com a voz rouca — e antes que me pergunte, eu não quero falar sobre isso.

Draco abriu e boca para protestar mas a fechou, reencostei sobre a parede fria; e pela primeira vez em alguns anos me senti totalmente vazia sem ter totalmente o poder sobre mim, inclinei minha cabeça levemente para o lado e a briza roçou o meu rosto percebi que naquele instante que estava suando frio. Não me importei em fechar os meus olhos, minha respiração que antes ofegante agora não se passava de sons imperceptíveis. Eu não gostaria de conversar sobre isso com ninguém. Fazia muitos anos desde a última vez que me sentia esgotada, enrijeci diante desse pensamento, eu era apenas uma criança disposta a fazer qualquer coisa para me livrar das garras da Bellatrix; meu namorado me envolveu em um abraço, foi quando tomei consciência das minhas lágrimas.

Não percebi o quão rápido passou o tempo até olhar para a janela, como se respondessem a um único chamado as estrelas sumiram do céu, dando lugar ao laranja tangerina e os leves traços de rosa, anunciando o alvorecer.

— Blásio vai passar o dia aqui, tudo bem para você?

Cautela. Era como ele estava agindo, não só para tentar mostrar que eu poderia confiar nele assim como o medo de aquele poder surgir novamente. Dei o melhor sorriso a ele, as poucas palavras que eu gostaria de proferir ao menos foram balbuciadas de forma rápida.

No momento eu precisava de ar fresco, dei uma desculpa qualquer ao Draco e meu coração se partiu em ver ele saindo, ainda hesitando em me deixar sozinha, esperei alguns minutos para deixar o meu quarto, o corredor estava vazio e tão silencioso que era possível escutar o farfalhar em meus passos, não me importei com camiseta larga do Draco que eu usava, ela não escondia a marca no meu antebraço inferior esquerdo; Hierarquicamente falando, a marca era uma dádiva aos escolhidos a dedos, os comensais abaixo de mim, pensavam que era uma injustiça eu ser tão nova e privilegiada ao ponto de merecer uma marca, nunca ouvi isso da boca deles mas o vento sussurrava a mim as mentiras criadas, o que as pessoas deixavam de saber, era exatamente o que eu fiz para ser digna de tal honra, os horrores do meu passado eram cicatrizes invisíveis sobre mim.

Escutei algumas vozes no início do corredor e me obriguei a caminhar casualmente. O rapaz alto ao lado do Draco logo se voltou para mim, os olhos escuros demais para eu tentar decifrar qualquer coisa, a pele morena parecia brilhar a luz do alvorecer, e a expressão arrogante logo deu lugar para um sorriso amigável apareceu em seu rosto; definitivamente bonito, mas eu nunca diria isso a ele, o orgulho dele chegaria aos céus e não desceria mais.

— Any, não imaginei ver você por aqui — provocou ele

— Educado demais, Blásio — comecei, assim que me certifiquei mais uma vez que não tinha alguém atrás de mim — me diz onde vocês vão e eu garanto que vou pela direção oposta.

Pus novamente aquela máscara, tornei minha expressão indecifrável, olhei para o meu namorado que pareceu entender; eram poucas as pessoas que tinha o prazer de descobrir quem eu realmente era por trás da personagem que desde cedo tinha criado para me proteger, e ele não era uma daquelas pessoas.

— Estressadinha Any?

— Não estou para brincadeiras hoje Blasio — um sorriso arrogante surgiu em meu rosto, ele pareceu se divertir pois deu um passo à frente, mas eu senti, uma faísca surgindo dentro de mim, por um momento aquele corredor ficou silencioso demais e eu pude ouvir a respiração dos dois, Blasio arregalou os olhos e eu não contive a gargalhada — foi uma demonstração singela, se você me provocar mais uma vez, não posso prometer que não vou me deliciar a escutar as suas súplicas, pois eu vou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.