Unstoppable

Chapter III — Punishment and Mode Asno Alazão


"I ain't living with the ghost
No future living in the past
I've seen that hate has done to hop
Tomorrow wasn't built to last
I ain't living with the ghost
How can I scream, I'm scared to breathe
I wrote each word, you gave the toast
But we were fire and gasoline
I ain't living with the ghost"

Bon Jovi - Living With The Ghost

A tinta da caneta marcava os dedos da mulher sentada em frente a janela de seu escritório, ao mesmo tempo em que acariciava as folhas grossas em suas mãos. A leve brisa que decorava o entardecer de Eze chocava-se com seu rosto a fazendo dar um leve sorriso ao encarar mais uma de suas cartas. Seria a terceira vez naquele mês que escrevia algo que não pretendia enviar, pois simplesmente não sabia o que realmente dizer.

Queria que as palavras fluíssem como aquela brisa, assim como um rio precisa seguir seu fluxo mesmo com pedras em seu caminho. No entanto, tinha certa rocha bloqueando todo o percurso de seus pensamentos e desejos, e não seria fácil retirá-la, pois estava ali por uma razão; uma razão importante demais para poder simplesmente ignorar. E tal bloqueio corria mais quente que ferro fundido pelo seu sistema nervoso.

Era sua própria queimadura por simplesmente ser quem é.

Levantou-se da poltrona avermelhada, amassando a folha cheia de rabiscos e rascunhos e jogou no lixo. Colocou o resto das folhas e a caneta de ouro em cima da mesa, assim pegando as fotos recém-tiradas de seus filhos, passando seu dedo levemente pelo papel e, desse modo, afogou-se em pensamentos.

“Já tinha passado tempo suficiente desde que os viu, mas era viciante o fato de que toda vez parecia como se fosse a primeira. Talvez isso seria uma consequência de ter ido embora para poder perseguir seus próprios instintos e princípios. Ela nunca fora egoísta quando o assunto era sua família, tudo que andava planejando era para conseguir o melhor para eles, mesmo que isso significasse não ser uma família de verdade. Por outro lado, não podia negar que havia um lado de si que não concordava com seu modo de viver e que preferia estar passando pelos altos e baixos juntos.

Ao fitar eles apoiada no batente da janela percebia que o mundo era mais injusto do que imaginava, mas se prendia à imagem dos dois sorrindo e brincando como se fossem as criaturas mais puras e doces às quais já teve a oportunidade de conhecer.

Mas sacrifícios tinham que ser feitos para fazer tudo valer a pena.

— Mãe? — O murmúrio da garotinha acordou de seus devaneios, os olhos castanhos esverdeados totalmente abertos sem nenhum requisito de sono.

— Oi, querida — Respondeu com ternura, aproximando-se da cama e sentando do lado dela coberta pelos lençóis brancos — Não deveria estar dormindo?

— Não consigo dormir — A mesma respondeu aconchegando-se ao lado da mãe que começou a mexer nos cabelos castanhos da menor — Mas, mamãe, por que você está aqui?

Era um mal necessário.

— Filha, a mamãe vai ter que partir — Encarou os olhinhos cintilantes da pequena — Dessa vez vai ser por um longo tempo, querida.

A menina abraçou a mãe o mais forte o possível com a vontade de poder para aquele momento para sempre.

— Quero que você saiba que eu te amo e sempre vou estar do seu lado, mesmo não estando fisicamente. Estarei bem aqui dentro do seu coraçãozinho e o do seu irmão, nunca se esqueça disso.

A maior sentiu seu peito ficar úmido enquanto a pequena dava fungadas abafadas, não houve tempo maior ao sentir também seus olhos começarem a encher.

— Não chore, meu amor — Afastou a pequena de seu corpo, acariciando as bochechas dela para poder limpar as lágrimas — Você é uma garotinha muito forte e maravilhosa, vocês dois vão conquistar tudo o que quiserem um dia. Eu sei disso.

Após um silêncio cheio de sentimentos de ambos lados, Alaska se acalmou e voltou a se deitar olhando profundamente para a mulher ao seu lado.

— Pode me contar uma última história? — Questionou com a voz pouco rouca.

Elle pressionou os olhos tentando não deixarem às lágrimas escaparem, então abriu um sorriso e assentiu.

— Era uma vez um mundo onde só existiam lagartas de diversos tamanhos; as que dominavam o jardim eram as mais compridas e poderosas, e as outras pequenininhas eram fracas e manipuladas pelas maiores, mesmo que todas elas tivessem o mesmo tom de cinza tingido no corpo. Porém, nesse mesmo jardim existiam as incríveis lagartas coloridas que subestimadas por serem diferentes das outras, eram julgadas e maltratadas, por isso elas sempre se escondiam nas folhas e flores mortas e só saíam para se alimentar à noite quando estavam sozinhas. Entretanto em uma das flores mortas mais distantes do jardim viviam duas lagartinhas mais coloridas que já havia existido — Ao contar percebia a menor sorrir sonolentamente. — Ambas se preparavam para sua metamorfose alheio de todo mau que vivia no exterior, sempre à procura de seus pais que um dia simplesmente havia desaparecido. Mas, de repente, uma das lagartas mais compridas os descobriu e mandou caçá-los para poder ser oferenda dos pássaros que ali voavam. Nesse mesmo momento surgiu uma visita inesperada, uma bela borboleta apareceu voando com as asas mais lindas do mundo. Era a própria mãe deles que tinha ido embora depois de sua metamorfose para poder voar pelo mundo e tentar transformar todos os jardins em uma melhor forma de viver. Porém a mesma sabia que os filhos estavam em perigo ao descobrir que os outros tinham conhecimento de que eles eram diferentes. Então a borboleta, decidida a se redimir com seus filhos e tentar consertar o mundo deles, os levou para um lugar onde eles não tinham que viver com pavor de ser quem são. Desse modo, logo após as duas lagartinhas virarem lindas borboletas, os três saíram juntos em busca do seu próprio felizes para sempre, como uma linda e bela família.

Acariciou mais uma vez o cabelo da menina já adormecida em seus braços antes de dar um beijo em sua testa e dizer:

— Nunca aceite ser menos do que são, vocês são perfeitos para mim e isso basta.

Deu mais uma olhada no rosto angelical de Aly antes de levantar, retirando a carta de seu bolso e sentando na cama ao lado, onde Thomas dormia profundamente. Encarou a foto na mesa de cabeceira, onde mostrava a mesma ajudando Alaska a subir em cima de uma árvore enquanto seu Thommy equilibrava-se de cabeça para baixo apoiado no galho. Sorriu e pôs a carta ao lado da moldura, direcionando-se para o menino ao lado, sentindo seu cheiro e dando um beijo demorado em sua testa antes de se levantar novamente.

Já com um pé em cima do parapeito, virou em direção a eles, agora num sono tranquilo. Pensou mais uma vez em algum jeito de não ter que precisar fazer isso. No entanto, respirou profundamente antes de se jogar da janela do último andar do instituto, sumindo completamente na escuridão antes de sequer chegar ao chão”.

Uma batida na porta a fez lembrar a realidade novamente, e logo a imagem de Raven apareceu. Então colocou as fotos que segurava em seu lugar e se virou para a amiga.

— Temos novas atualizações sobre os gêmeos — A loira diz entregando os arquivos — Parece que Tony finalmente escolheu fazer a coisa certa.

— Algo me diz que isso não vai dar muito certo — Admite folheando brevemente a pasta.

— Bem, é o Tony — Raven diz apoiando-se contra a mesa com o copo de bebida em mãos — Pode dar muito certo, mas a probabilidade de dar errado é maior. Mas, pelo menos, ele tá tentando de verdade depois de oito anos.

— Não é como se ele ganhasse alguma credibilidade comigo desse jeito — Bufa revirando os olhos, dando um gole na bebida da amiga. — Ele nunca se importou de verdade.

— Mas você também nunca deu à ele a oportunidade.

— Tá do lado dele agora? — Indaga ironicamente pelo retruco da loira.

— Só quero o que é melhor para eles, assim como você, Nora — Ela rebate bebendo o último gole e colocando o copo em seu devido lugar — Mas concordo que as coisas serão mais difíceis agora.

— Eu sei. — A morena respira profundamente e cruza os braços. — Me preocupo com Thomas.

— Já não posso dizer qual dos dois ficará pior agora — A loira conclui indo em direção à porta. — Vamos, a Emma está nos esperando no salão oval. Parece que está tudo finalizado para prosseguirmos com o plano.

— Só um segundo.

Elleonora deu mais uma olhada na vista de Eze antes de se recompor, trancou todos os documentos na gaveta e colocou seu paletó saindo apressadamente de seu escritório, despistando a paisagem que antes a confortava.

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É inacreditável — A imagem do senador Stern na pequena televisão — Esse homem tem um poder destrutivo incontrolável nas mãos e não tem a menor ideia do que está fazendo.

A bandeja já estava em mãos quando Tony entrou na ala do avião tentando inutilmente ignorar o que se passava na tela.

Ele pensa que a armadura do Homem de Ferro é brinquedo — Continuou o homem — Eu estive na audiência que o senhor Stark, de fato, afirmou que aquela armadura não pode existir em nenhum outro lugar, não existe em nenhum outro lugar e nunca existirá em nenhum outro lugar em menos de 5 a 10 anos. E estamos aqui em Mônaco e vemos, ai meu deus, que essa armadura já-

— Sem som — Tony interrompe, ordenando para o visor que ao seu comando, fica mudo — Ele devia me dar uma medalha. Essa é a verdade.

O mesmo senta na poltrona em frente à ruiva, colocando a bandeja em cima da pequena mesa e ajeitando os talheres.

— O que é isso? — Pepper questiona.

— É a sua refeição de bordo — Ele tira a tampa da bandeja relevando o que poderia ser bom aos olhares, porém com um gosto questionável.

— Você fez isso?

— Claro, aonde acha que eu estive nessas três horas? — Responde fazendo a mulher sorrir.

Tony começa a encarar a janela do jato, entrando em contato com os feixes de raios solares, e naquele exato momento o rosto de Alaska veio à mente. Como tudo estava mudando tão rápido, com aqueles sorrisos e olhares meigos, porém logo seus pensamentos vão para os momentos de horas atrás e o misto de sentimentos que enfrentou. Aquele medo e o pavor assim que pôs os olhos na garotinha pelo visor da armadura. À vista disso, desejou nunca mais sentir esse sentimento novamente, como se alfinetassem seu coração e sugassem a sua alma.

— Ela foi irresponsável — Diz ainda fitando a janela, fazendo a ruiva o encarar — Ela poderia ter morrido.

Pepper respira fundo com o riso preso em sua garganta vendo o bilionário à sua frente dar uma de pai preocupado. E mesmo que isso seja hilário para ela, fica feliz ao ver que ele está tornando-se parte daquilo que merece ter, da responsabilidade que sempre fugiu.

— Isso só mostra que ela é igualzinha à você — Ela responde e ironiza — Totalmente responsável.

— Isso não vem ao caso — Ele bufa tirando seu olhar da janela — Ela só tem oito anos, o que uma criança de oito anos foi fazer no meio de uma luta?

— Proteger o pai — Ela rebate, fazendo Tony levantar da poltrona — Como você mesmo disse: ela é uma criança. Não pensa nas consequências e não vai pensar. A única coisa que ela queria fazer era te ajudar.

— Ela se colocou em perigo por causa disso. Não mediu as consequências de seus atos. Ela pode ser uma criança, mas é esperta o suficiente para entender que não devia ter feito aquilo.

— Então era assim que Howard pensava sobre você?

Ao ouvir o nome de seu pai ser mencionado, Tony se silenciou e voltou a se sentar na poltrona do jato. Devaneava-se sobre sua relação limitada com sua família e como sempre desejou que tudo aquilo fosse diferente.

— Eu não quero ser igual ao meu pai, mas eu não sei nada sobre ser um.

Agora era sua chance de mudar tudo que aconteceu. Ser alguém merecedor para a própria família. Ser diferente daquele que o criou e menosprezou.

O silêncio encheu o jato pelo resto da viagem. Já era noite quando atravessou a porta da sala de estar iluminada pela televisão ligada. Alaska de pijamas com pantufas amarelas assistindo o que parecia ser um desenho de uma escola de fadas. Tony senta ao lado dela mantendo uma certa distância até que os olhos curiosos da menina encontram-se com o dele. O bilionário limpa sua garganta antes de procurar por qualquer palavra para ser pronunciada e ele a diz cautelosamente:

— Você não devia ter feio aquilo.

— Não falo nada sem a presença do meu advogado.

Ela abriu um sorriso travesso e diminuiu o volume da televisão enquanto o homem do outro lado do sofá, soltando um pequeno bufo, se ajeita no sofá direcionando -se para a menina.

— Aquilo que você fez é perigoso, e você só é uma criança — Rebateu descontente. Agora a memória de sua conversa com Pepper não passava de um vislumbre — Eu não quero você se metendo em meus assuntos.

— Eu não fiz nada de errado, só quis te ajudar — Ela rebate começando a resmungar — Por que está tão estranho com isso?

— Isso não te interessa, pirralha! — Exclama ao se levantar, com o dedo indicador apontado para o rosto de Aly.

— Se é assim, então eu acho que você não deveria ter me chamado para morar com você!

— Está de castigo! Sem festa e sem oficina nenhuma!

Alaska cruza sua direção com a expressão infantil fria e irritada pelo rumo que a discussão levou.

— Tá bom então, pai — Ela diz seca indo para escada e parando ali, fitando-o quieto no meio da sala, e então continua antes de seguir seu caminho — Mas não importa o que você diga. Eu sempre vou dar o meu melhor para ajudar quem eu amo, mesmo que para isso eu tenha que ficar de castigo para sempre.

Após a garota sair da sala, Tony bufa e pega um copo de uísque do carrinho ali perto. Não estava tão irritado assim, mas também não queria facilitar as coisas; fazer o papel de pai o deixava estressado e mentalmente abalado. Tentava esconder seus verdadeiros sentimentos ao olhar aquele mesmo rosto angelical idêntico da mulher que um dia foi o seu mundo.

Dispersou seus pensamentos dando o último gole no frasco e partindo para a oficina, decidido a descobrir quem era aquele bastardo dos chicotes elétricos.

Já tinha entardecido e o mesmo se encontrava na mesma posição de antes, dentro de um de seus veículos, repassando todos os visores com informações e cenas do que aconteceu em Mônaco, junto à pesquisas que o tal Ivan Danko e seu pai tinha em comum com Howard e as empresas Stark.

— E a Alaska? Alguma informação sobre ela, JARVIS?

Levou alguns segundos antes que uma tela azul com um enorme X aparecesse no visor e logo a interface se pronunciou:

— Não há nenhuma informação sobre a Srta. Stark em Mônaco, senhor.

O bilionário relaxou em seu banco pressionando as mãos no volante do carro desligado. E momentos depois a porta de sua oficina fora destrancada e a voz de Rhodes ser ouvida pelo cômodo todo.

— Tony, precisa ir lá em cima dar um jeito nessa situação — O filantropo bufa em resposta a ele — Escuta. Eu falei com a Guarda Nacional no telefone o dia inteiro, tentando convencê-los a não mandarem os tanques pra sua casa para arrebentarem os portões e pegarem isso! — Ele aponta para a armadura — Eles vão pegar as armaduras, Tony! Eles se cansaram da brincadeira.

Tony volta a fitar o visor devaneando-se em pensamentos, abafando a voz de seu amigo.

— Você disse que ninguém mais possuiria essa tecnologia em menos de vinte anos, sabe o que aconteceu? Apareceu alguém com ela ontem — Ele continua — Não é mais uma teoria... Tá me escutando?

O olhar vago de seu amigo o responde.

— Tudo bem? — Ele indaga fazendo Tony chegar sair do carro e responder:

— Vem cá.

Rhodes viu seu amigo se apoiar no carro e correu para ajudá-lo antes de seu baque, colocou o mesmo apoiado em seus ombros enquanto ele respirava rapidamente.

— Você tá bem?

— Tô, tenho que chegar à minha mesa — Ele responde entre um suspiro e outro — Tá vendo a caixa de charutos? É paládio.

Tony senta na cadeira com dificuldade enquanto o piloto abre a caixa com o paládio. Ele tira seu reator que gira automaticamente e logo começa a fazer um ruído e sair fumaça.

— Sabe, Rhodes, você é um bom amigo — Ele resmunga fazendo-o dar um leve sorriso, mas logo fecha a cara.

— Era para estar saindo fumaça assim? — Rhodes questiona apontando para o reator nas mãos de seu amigo.

— Não, é resíduo de nêutron. É da parede do reator — Responde entregando para ele que retira o pequeno dispositivo completamente queimado.

— Nossa, você tinha isso no seu corpo? — O bilionário vira seu rosto ao ser questionado e Rhodes pode ver leves veias pretas correndo pelo seu pescoço — Posso saber o que aconteceu com o seu pescoço, Tony?

— Ralei no asfalto — Ele logo trata de responder e assente levemente.

— Sei — O piloto resmungou em resposta e revirou os olhos entregando o reator já com um novo paládio.

— Obrigado — Ele agradeceu colocando o reator de volta em seu peito.

Após alguns momentos de silêncio, Tony questiona o piloto:

— Tá olhando o que?

— Você — Ele responde — Quer fazer esse ato heroico solitário, mas é desnecessário. Você não tem que fazer isso sozinho.

— Olha eu queria acreditar nisso. Eu queria muito. Mas tem que confiar em mim — O filantropo interrompe — Ao contrário do que as pessoas pensam, eu sei exatamente o que estou fazendo. Eu tenho algo pelo que lutar agora.

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O ruído das pessoas passeando pela casa com a música abafada pelas palavras sujas ditas por eles atravessavam qualquer parede e passagem de ar. Alaska tentava se concentrar em sua revista em quadrinhos mesmo que qualquer outra coisa chamasse sua atenção, enquanto MARCUS coletava os brinquedos e papéis amassados jogados pelo quarto. Já trajava seu pijama com as pantufas do Stich com um pacote de batatinhas ao seu lado quando sentiu sua respiração pesar junto com um arrepio em seu pescoço, e assim o saco de batatinhas voou batendo no lustre acima junto com os papéis amassados, sujando ainda mais o cômodo.

E quando menos pôde esperar, algo choca contra o corpo pequeno de Aly, que sentindo a grande pressão afasta o corpo de si mesma e fica em pé, tirando as migalhas de salgadinhos de seu pijama.

— Você precisa melhorar onde você pousa, Tommy — Reclama cruzando os seus braços, mas logo desfazendo quando a imagem de seu irmão com belo olho roxo é percebida — Com quem foi dessa vez?

— Um novato qualquer — Ele responde levantando-se do chão, reparando o novo quarto de sua gêmea — Quarto legal, hein.

Alaska ignora ao perceber o sarcasmo e o questiona:

— Então finalmente conseguiu?

Tommy ao ver que o que ela realmente quis dizer, dá de ombros:

— Eu meio que não consegui, pedi ajuda à Jean. Mas qualquer tentativa é experiência.

A garota assente jogando-se na cama ao lado do irmão, enquanto a presença dele finalmente é percebida pelo android.

Olá, senhor Torta de Limão! Seja bem-vindo! — MARCUS cumprimenta se aproximando envolvendo seus braços mecânicos em volta do corpo do menino.

— Obrigado, MARCUS — O garotinho agradece rindo bagunçando seus cabelos — Vejo que está melhor do que nunca.

O androide o ignora ao inspecionar seu rosto, fazendo-o levantar a cabeça. Apontou seu dedo indicador em direção ao olho de Thomas gerando uma camada de spray que segundos depois diminuiu a área arroxeada.

Tommy levanta assim que o tutor se afasta, prestando atenção na música no volume máximo.

— Por que você está aqui? Não devia estar na festa de aniversário dele? — Ele indaga voltando sua atenção para a garota.

— Aparentemente, estou de “castigo” — Ela responde ajeitando-se na cama e sinalizando as aspas com seus dedos pequenos.

A risada do garoto pôde ser ouvida pelo cômodo todo, o mesmo achava hilário e irônico que Aly tinha feito algo ruim, pois ela nunca ficava de castigo. Nunca.

— Então estamos mais parecidos do que nunca, não é?

— Somos gêmeos, cabeça de vento — Aly retruca fazendo-o rir mais ainda, ela respira fundo e continua — Não entendo o que ele acha o que eu fiz de errado sendo que salvei a vida dele.

O pequeno show de Thomas logo se dissipou e ele voltou a sentar ao lado da garota.

— Talvez seja por isso, Tony não deve suportar dividir a fama de herói dele — Ele rebate e revira os olhos.

— Mas você tá aqui, na casa dele e na festa dele — Alaska o encara.

— Isso não significa nada, eu vim aqui para brincar com você.

— Tem certeza disso, Tommy? — Ela indaga numa tentativa falha de arquear uma sobrancelha — Do mesmo jeito, a gente não pode sair do quarto, ele trancou a porta.

— A gente não precisa de chave.

— É com senha agora. Parece que ele confia demais na tecnologia.

Tommy levanta e vai em direção a porta com sua irmã ao seu alcance. Eles agacham-se em frente a fechadura e olham para trás quando o androide começa a dizer:

Senhor Torta de Limão e senhorita Camundongo, a saída de vocês não foi autorizada.

O garoto deu um leve riso e respondeu ao seu tutor:

— Relaxa, lata-velha. A gente volta logo.

— Não, espera aí — Alaska o encarou e o bateu de leve. — MARCUS, você não precisa autorizar nossa saída se vier com a gente.

Então está tudo bem — Ele logo respondeu se aproximando dos irmãos que voltaram a encarar a tranca.

Aly pode sentir o olhar de seu gêmeo sobre si que esperava alguma ação da garota, a mesma percebendo o que ele quer dizer começa a negar com a cabeça com os olhos arregalados.

— Não dá — Ela responde tentando tirar os fios de cabelos que ficaram presos em seu rosto — JARVIS vai saber, precisamos desativá-lo.

Depois de alguns segundos em silêncio, ambos dizem em uníssono:

— Modo soneca.

Tommy tira a placa das costas do tutor androide e começa a digitar rapidamente na tela azul, enquanto Alaska tentava escutar pela porta se a área estava livre. O robô se reinicia após um rápido apagão de algumas luzes da casa e logo a porta do quarto da garotinha fora destrancando.

— Pronto — Tommy diz colocando a placa do tutor no lugar.

— Vamos — Aly diz logo após de ver ninguém no corredor.

Os dois caminham silenciosamente enquanto o tutor tentava acompanhá-los com seus passos pesados. Desceram as escadas rapidamente, aproveitando que todo mundo estava ocupado babando pela armadura de Tony, e misturam-se pela multidão.

Thomas pega na mão de Alaska a guiando por todo aquele povo até chegarem na escada que dá para a oficina.

— Gosto do jeito como você pensa — Ela sussurrou em seu ouvido, abafada pelas milhares de vozes e a música alta — Mas, tá maluco?! Não podemos!

O irmão a olhou mais uma vez com um meio sorriso no rosto e disse:

— Você já tá de castigo mesmo, mana!

— Boboca — Ela resmunga e revira os olhos — Tá bom, vamos logo!

Atravessaram a porta de vidro já destrancada com o androide em seu alcance. A menina se sentou no sofá de couro enquanto seu irmão passeava pela oficina, olhando cada detalhe, pesquisa e equipamento, passando os dedos pelas armaduras nos pedestais até que o mesmo para e senta à mesa em que Aly usa para fazer seus próprios projetos. Ele olha e vasculha pelos papéis jogados e pelos planos estruturais até que o mesmo para e observa um dos rascunhos e então, a chama.

Alaska se aproxima do menino que encarava um pequeno detalhe do papel.

— Isso aqui tá errado — Ele aponta — Isso vai acabar forçando demais a ventilação e vai neutralizar os fios de carga negativa que deviam passar por fora. Desse jeito ele não vai conseguir reconhecer as atualizações e a placa vai ser fraca demais para conseguir se sustentar com uma nova fonte de energia.

— Como... — Aly começa a dizer, mas o garoto a interrompe.

— Como a parede do reator do Tony — Ele olha para irmã — Eu já sabia.

A menina o encarou profundamente, cabisbaixa e segurando o choro. Thomas pensa no quanto deve ser difícil para ela mas, mesmo assim, não consegue entender o porquê dela se sentir assim. Então coloca a folha de volta em seu devido lugar e se levanta, atraindo a atenção da garota ao seu lado, e num modo de tentar deixá-la mais descontraída, a empurra.

Alaska cai a metros de distância do irmão, com força o suficiente para quebrar o pescoço ou uma perna, entretanto ela se levanta com o sorriso travesso nos lábios e começa a persegui-lo, desviando de equipamentos caros e do tutor que tentava entrar na frente deles para detê-los. Cadeiras, copos, bancos e mesas haviam sidos jogados em todos os cantos, não havia nada mais em seu devido lugar, e então Tommy vendo que ia ser puxado pela camisa, teletransportou-se para cima de um equipamento de fundição, assim fazendo Alaska tropeçar em uma das cadeiras e chocar-se com o mesmo instrumento.

E pela segunda vez naquele dia, o corpo do menino atingiu o de sua irmã juntamente com os escombros do equipamento ao mesmo tempo em que paredes grossas prateadas começaram a fechar todo o cômodo, escondendo qualquer vestígio da iluminação da luz do luar. Uma sirene começa a soar e a voz de JARVIS pôde ser ouvida por eles:

Alerta! Iniciando contenção de grau beta.

Thomas se levanta com sua gêmea e o androide se aproxima deles. A luz vermelha freneticamente piscando e um barulho metálico soprou seus instintos, e logo as armaduras que antes estavam inertes em seus pedestais agora estavam com todas as suas armas miradas no único indivíduo desconhecido.

— CORRE!

A menina o puxa pelo braço para se esconder atrás de uma mesa mais distante da oficina. Os dois ofegantes abaixaram a cabeça quando começaram os tiros, Thomas esconde o pequeno corpo de Aly com seu próprio e grita para o androide parado mesas à frente com todas as armaduras apontadas para si.

— MARCUS! ATIVAR MODO ASNO ALAZÃO!

À este comando, as luzes LED piscaram em vermelho vivo da pequena e reluzente lataria, e então ela cresceu cinco vezes o seu tamanho, com enormes armas saltadas de suas costas e braços, apontadas para todas as armaduras do Homem de Ferro na sala.

O garotinho ao ver que Alaska o encarava procurando explicações, indagou:

— Que foi?

— Sério mesmo que você escolheu logo esse nome? — Arqueia as sobrancelhas enquanto vê o mesmo balançar os ombros.

— Tem graça e charme na medida certa.

Até que se ouve o primeiro disparo.

— Tommy — Ela pediu sua atenção, abaixando ainda mais atrás da mesa com a voz abafada pelos disparos — JARVIS está acordado, você precisa ir até aquele computador — Aponta para o computador mais próximo — e desativar o comando de segurança.

Ele a olha após a mesma terminar de falar, abaixando-se para desviar de um disparo de íon mirado em sua cabeça. Encara a mesa do computador a três metros de distância e bufa.

— Ué, por que você não vai?

— Por que, por acaso, não sou eu quem eles querem a cabeça numa bandeja — Alaska responde com uma leve entonação de sarcasmo em sua voz que faz o irmão voltar a dar uma rápida olhada na batalha de androides a metros atrás deles.

— É um grande buraco na história eles não saberem que eu sou.

— Foi você que decidiu apagar tudo sobre você nos arquivos de dados do papai — A mesma bufa por saber exatamente o que ele queria fazer — Só vai logo, torta de limão. Eu te dou cobertura.

Ele sorri após a fala da irmã e a responde:

— Quero cobertura de chantilly.

— Com uma cereja no topo — Completa quando o mesmo caminha discretamente para a mesa do computador.

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A bebedeira não fazia o efeito que Tony desejava, nada estava suficientemente turvo e enjoativo, e ressentia que se sentasse por um segundo naquela armadura pesada ficaria sóbrio novamente. Ele empurrou algumas daquelas mulheres que insistiam em tentar chamar sua atenção para poder passar pela multidão, pegou uma taça de qualquer coisa que tinha naquela bandeja que o garçom segurava e endireitou os óculos escuros em seu rosto.

Algumas cenas de seu desentendimento com a tão querida pirralha passavam em sua mente. Quem ela pensava que era? Não era nenhuma heroína, nem sequer tinha passado pela puberdade ainda. Ele continuou a repensar em todas as cartas que estavam na mesa, qualquer possibilidade, qualquer carta na manga, mas não conseguiu arranjar nenhum sentido pelo que tinha acontecido. Sua conversa com Pepper, no final, não havia adiantado coisa alguma. Sua única desculpa era culpar os péssimos genes parentais que continham em seu corpo e mente somente pelo fato de ter nascido como um Stark.

Mas, afinal, como ele poderia ter tanta certeza de que ele era o culpado da história?

Seus pensamentos foram interrompidos com um súbito apagão; as luzes coloridas agora apagadas e as caixas de som desligadas formais mais que o suficiente para aflorar seus nervos e deixar todos sobressaltados.

— JARVIS?

Após não haver nenhuma resposta, Tony sobe em cima de uma cadeira e anuncia alto o suficiente para todos os convidados e funcionários da festa ouvirem:

— Podem relaxar, pessoal. Alguém só esqueceu de pagar a conta de luz — Mal terminou de anunciar quando a cadeira em seus pés se desfez totalmente com o peso da armadura sobre si, resultando num mar de risadas pelo bilionário caído no chão — Eu já deveria ter esperado por isso.

Logo que a multidão começou a se acalmar, o filantropo dentro da armadura de titânio e ouro analisou a varredura do modo de vigilância da inteligência artificial, constatando em diversos pontos de exclamação em vermelho vivo que transmitiam um corte de imagens nas câmeras de segurança do corredor do quarto de Alaska. E então, soltou um bufo quando a tela preta de prompt de comando do software de controle apareceu em sua visão, assim identificando um código incomum.

E no mesmo momento em que deletou a inusitada codificação, a voz de JARVIS pôde enfim ser ouvida, abafada pelo som dos convidados comemorando pelo retorno da luz.

Senhor, um indivíduo não identificado invadiu a oficina com a senhorita Stark.

Tony respirou fundo antes de reclamar para si mesmo:

— Era só o que me faltava.

Com passos largos e carregados, forçou a passagem entre o amontoado de pessoas dançando e bebendo menos tensas. Deste modo, com o álcool esvaindo-se do corpo, desce as escadas para o andar inferior de sua mansão reparando nas paredes grossas de titânio e aço fundido onde antes só continham as paredes de vidro. Ele aperta o passo e se dirige para a tranca da porta para digitar a senha no teclado, desarmando o modo de defesa da oficina.

As paredes metálicas começam a subir ao mesmo tempo em que seu queixo caía, totalmente incrédulo com a visão de sua, antes (mais ou menos) organizada, oficina.

Havia peças de seus projetos por todos os cantos, mesas e cadeiras fora de seus lugares e seus esquemas, ferramentas e equipamentos eram o recheio do bolo daquele caos. Não conseguiu ficar mais surpreso mesmo quando viu um amontoado de algumas de suas armaduras em chamas em um canto do cômodo.

No entanto, não soube o que sentir nem dizer quando notou MARCUS inerte no meio da oficina sem sua perna direita, somente com metade de seu braço e com seu tronco chamuscado com buracos de tiro.

— Aly, tem mais um!

Antes mesmo que pudesse raciocinar, algo violeta se chocou contra a armadura fazendo-o ir ao chão.

— Ei! Era o Tony! — Alaska exclama e retruca, correndo em direção ao homem ajudando-o a levantar e voltando a se pronunciar antes que seu pai pudesse dizer algo — Oi, pai! Que bom ver o senhor por aqui! — Com os olhos cheios de euforia e com o cabelo em uma condição caótica, larga no chão a perna de seu tutor que faltava que antes estava em suas mãos — Você nem vai acreditar! Meio que a sua festa de aniversário saiu um pouco fora do controle...

— Meio? — O bilionário indagou incrédulo se ajeitando e tirando os óculos de seu rosto — Alaska! Você acha mesmo que saiu um pouco fora de controle? Olha só para tudo isso — Ele aponta para a anarquia que estava sua oficina. — Saiu completamente fora de controle, está tudo um caos. Nem dá para saber para começo de conversa se existia algum controle por aqui.

— Okay, talvez só um pouquinho a mais que só meio — Ela olha em volta antes de fitar seu pai com uma careta — Mas não foi culpa nossa.

O garoto, que até então somente observava a discussão entre eles, finalmente se pronunciou apontando seu dedo indicador para o filantropo — Exato. A culpa foi dele.

Tony abriu a boca para poder retrucar, mas as palavras faltaram quando fitou os olhos dos dois e finalmente percebeu que foi idiota o suficiente para só ter percebido agora que o menino desconhecido era a mesma pessoa que tinha recusado todos os seus convites e qualquer meio de comunicação entre eles. Thomas estava tão grande desde a última vez que pôde vê-lo, e estava tão parecido com ele.

Quando percebeu a situação um pouco quanto constrangedora que tinha se formado, fechou a boca e tratou de voltar para a realidade.

— Pois bem, meus convidados estão me esperando — Ponderou-se e tentou dar continuidade — Vocês vão voltar para o quarto e pensar no que fizeram!

Enquanto os gêmeos passavam por ele, pensou se aquilo fora o bastante. Sabia que não era a melhor forma de repreendê-los, no entanto não queria lidar com aquilo agora. Não queria lidar com nada agora.

Eles subiram as escadas e Tony os pegou pelo braço, tentando de alguma maneira escondê-los do público e os arrastando o mais rápido o possível do térreo. E antes que pudessem subir as escadas para os quartos. Algo cintilante e loiro entrou em seu caminho.

— O filantropo Tony Stark com duas crianças em sua maravilhosa casa? — Ela diz dando um gole em sua taça tentando inutilmente olhar para eles escondidos atrás do bilionário — Isso é matéria de primeira página.

— Christine Everhart, não é mesmo? A repórter que fica igual uma barata tonta atrás de todos para pegar uma notícia decente, parece que dormir com seu chefe não foi o suficiente, né? — Ele zombou e puxou mais as os gêmeos para si — Licença que você tá ocupando todo o espaço. E a minha paciência também.

Assim que voltaram para o quarto de Aly, Tony os empurrou para dentro e fechou a porta, ativando o modo cão de guarda e reconfigurando o sistema de segurança, e então, deu uma última olhada na porta antes de descer as escadas de volta à festa.

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Thomas se jogou na cama bufando alto ao mesmo tempo em que Alaska sentava no puff roxo lançando seus braços ao redor de suas pernas murmurando alguma coisa para si.

— Ainda tem batatinha? — Ele indaga quando percebe o pacote jogado num canto do quarto.

— Dentro da minha mochila — Ela responde apontando para a mesa.

E então, ouvindo o barulho dos salgadinhos sendo triturados na boca do garoto e das respirações pesadas da menina, a voz do Tony pode ser ouvida através do piso acompanhado dos gritos de seus convidados e do salve de palmas.

— Alguém tá dando um belo de um show lá embaixo — Tommy comenta lambendo seus dedos.

— Ele tava fedendo a álcool — Ela relembra e pontua — Deve estar completamente bêbado agora.

E antes que pudesse sequer imaginar o que acontecia lá embaixo algo prateado atravessou o quarto, fazendo um buraco enorme no chão e no teto. Alaska olhou para o irmão no outro lado do quarto e comentou:

— Parece que a coisa ficou feia.

— Tommy, a coisa já estava feia.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.