Depois que Valentinna foi embora, fiquei mais um tempo revisando sobre a vida dos caras, o que mais me chamou a atenção foi que aquele tal de Joey tinha outra banda chamada Murderdolls. Mas Tina disse que não era pra falar mais do que o necessário com ele, então resolvi ter (ou pelo menos tentar) mais interesse pelos outros caras, afinal, teria que passar no mínimo dois meses trabalhando para eles. Tive quase certeza que seriam os meses mais difíceis da minha vida.

Já era tarde quando foi me deitar, por volta das duas da manhã. Fiquei a noite toda buscando mais informações sobre o Slipknot (agora sim, eu já sabia pronunciar o nome da banda certinho, hehehe) e no fim, já estava quase decorando os nomes deles. (Enorme progresso não?)

Fui me deitar com a cabeça cheia de coisas, idéias, possibilidades, invenções, diálogos, opiniões, conceitos e juízos... Minha mente estava atordoada com tantas coisas acontecendo em tão pouco tempo, tinha tanta coisa pra organizar, para rever, para pôr em ordem que eu nem sabia por onde começar, minha vida estava de ponta cabeça e eu não via a hora daquele furacão mental terminar.

Meu sono custou a chegar, durante algum tempinho fiquei mexendo no meu celular, esperando ficar com bastante sono. Os ventos sopravam com volúpia pela janela, soltando uivos e permitindo a entrada de correntes de ar gélido, até que por fim adormeci.

(...)

Noite passada, tive um pesadelos daqueles! Sonhei que estava tudo indo extremamente bem no meu primeiro dia de serviço, até aquele Shawn aparecer um uma faca enorme na mão, me esfaqueou, e depois cortou minha perna esquerda. Acordei assustada e com o travesseiro molhado de suor frio.

Desci as escadas ainda de pijama para tomar meu café da manhã, hoje era domingo, conhecido por mim com “Dia internacional da depressão, nostalgia, tédio e preguiça da Stuky”. Bem, tirando o fato de domingo ser o pior dia da semana, eu tinha muita coisa no que pensar.

O cheiro de torradas, ovos mexidos e bacon invadiu minhas narinas de repente, fazendo meu estomago afundar, eu realmente estava com bastante fome naquela manhã. Apressei meus passos para chegar a cozinha logo, pegar as primeiras panquecas com mel que eu visse na minha frente.

E foi exatamente isso que aconteceu! Devorei umas 6 ou 7 panquecas sem ao menos dar bom dia pra ninguém, a não ser para a Lílian que me entregava mais um copo grande de suco de maracujá ...Depois de ter tomado um café da manhã daqueles, subi arrastando as pantufas do Bob Esponja até o meu quarto. Quando cheguei, afastei as cortinas das janelas, fui até a estante de livros e peguei um livro que eu estava lendo, e por acaso era “Harry Potter e a Ordem da Fênix” (já disse que amo esse bruxinho?) e recomecei a leitura na página 184 onde estava marcada com uma marca página da Hello Kitty.

A leitura estava deixando minhas pálpebras ainda mais pesadas, e acabei adormecendo de novo. E só acordei quando eram por volta das...

_ QUE?SÃO SEIS DA TARDE! Que diabos que... Ah! É mesmo! Suco de maracujá me faz dormir ainda mais. _ exclamei despertei e observei o relógio que estava pendurado na parede defronte para minha cama.

Bem, como tinha perdido a minha manhã e minha tarde de domingo dormindo, não havia como ficar mais feliz. Aquele dia tenebroso havia praticamente desaparecido, e segunda-feira foi exatamente como o domingo...

(...)

Terça-feira. Apenas um dia. Eu estou doente. Celular da Valentinna fora de área. Chuva absurda caindo lá fora. Preciso de mais alguma coisa? NÃO!

Pois é, hoje eu acordei resfriada, mas nada muito grave, já providenciei de tomar um xarope (horrível por sinal) e alguns tipos de chás caseiros que a Lílian preparou para mim, diz ela que eu vou melhorar, mas julgando pelo sabor, eu duvido muito. Fiquei assistindo uns filmes e comendo pipoca , esparramada no sofá. Quando já estava escurecendo, subi correndo para o meu quarto ver se o maldito celular da Valentinna já tinha voltado a funcionar. E por sorte, estava. Disquei seu número e rapidamente ela atendeu...

_Oi Tina.

_Oi meu chuchu. _ela me atendeu, sempre me chama assim.

_Porque você sumiu vaquinha? _perguntei curiosa.

_A bateria do meu celular acabou e eu tinha perdido o carregador.

_Hmm, sei... Tina, to péssima.

_O foi que aconteceu? Foi mordida por um cachorro? Um pônei raivoso te atacou? O que? ME DIZ !!!

_Meu esmalte preto acabou... _zombei da cara dela um pouquinho.

_Menina, sabe que o meu também! _ela parecia ter entendido meu sarcasmo.

_Agora é sério. Peguei um resfriado daqueles.

_Vixe! Seu turno começa amanhã, dá um jeito de ficar boa logo.

_É eu sei! Estou tentando... Já tomei todo quanto há de xarope e chá caseiro, eca!

_Mas é sério, amanhã ás 11:00 da noite, temos um show aqui pertinho, na cidade vizinha daqui. Preciso de você lá antes das 09:00 da noite.

_Você vai comigo também?

_Vou. Mas não se acostume! Porque vai ser só pra garantir que você não será um fiasco total, e se tiver a oportunidade, de arrebentar a cara daquele Jordison também.

_Ah, muito obrigada pelo apoio... _arfei com o que ela disse

_Disponha, querida! _sua voz saiu irritante.

_Então, preciso de sua ajuda também para escolher uma roupa descente.

_Preto!

_Oque? _indaguei com curiosidade.

_Roupas pretas. Maquiagem preta. Acessórios pretos. Tudo que você tiver ai que não faça você parecer uma patricinha.

_Mas eu não sou patricinha!

_Oh, claro que não! _ela disse irônica.

_Eu não sou mesmo! _ dei um grito agudo.

_Foi isso que eu te disse... Vou fazer o seguinte, amanhã mais cedo eu passo ai e te empresto umas roupas bem maneiras minhas. Pode ser?

_Pode. Então boa noite.

_Já vai dormir?

_Claro! Tenho muitas coisas a fazer amanhã...

_Então ta beleza. Tchau.

Desliguei o telefone e fui dormir (de novo)... Na verdade, nesses últimos dias eu só tenho comido e dormido. Ai que beleza! Queria que fosse sempre assim.

(...)

_Stuky... Stuky... STUKY! ACORDA SUA VADIA.

Nada melhor do que acordar com sua melhor amiga te xingando. Ah, que maravilha. Valentinna, um dia eu ainda te mato quando estiver dormindo,pode apostar!

A voz daquela peste ecoou na minha cabeça me despertando naquela quarta-feira... Não sei como ela conseguiu entrar no meu quarto sem se perder na bagunça que aquele lugar estava... Ela sentou do meu lado e me deu bom tarde. Estranhei, por que “ boa tarde” ? PORQUE ERAM 14:17 DA TARDE! Sinceramente, eu preciso parar de dormir muito assim...

Ela estava trazendo uma sacola de roupas dela. Eram muito legais mesmo, a maioria ela mesma tinha rasgado, ou tinham correntes penduradas pelos bolsos. Trouxe também uma pilha de sapatos, a maioria eram sandálias bem altas de plataforma com taxinhas... Depois de um longo tempo analisando cada peça com ajuda dela, optei por usar uma blusa de manga longa preta, com uma sobreposição tipo regata vermelhe por cima. Uma calça bem rasgada (até demais, na minha opinião) e um all star vermelho, não estava a fim de usar salto aquela noite. Parece que a minha preocupação tinha se desvairado da minha cabeça, estava até achando que poderia ser bem divertida aquela noite.

(...)

_Anda logo Stuky! Ou se não vamos nos atrasar... _berrou Tina comigo lá do andar de baixo.

_Já estou indo, só estou terminando de passar a maquiagem! _ gritei de volta, lá do banheiro do meu quarto, terminando de passar minha maquiagem.

Depois que estava prontinha, desci correndo as escadas, passando os dedos sobre meu cabelo que ainda estava molhado. Quando cheguei lá em baixo, parei de frente para Valentinna para ela analisar como eu estava.

_E ai, como estou? _perguntei, saltitando e dando uma voltinha.

Valentinna deu um acesso de risos! Por acaso está escrito ‘otária’ na minha testa?

_O que tem de errado? _perguntei, bem brava com ela. Seu ataque de risos não cessou enquanto eu não dei um puxão de cabelo bem forte nela.

_V- você está... HAHAHAHA, ta hilária!!! _respondeu, apertando as costelas de tanto rir.

_Mas, como assim? _ fiquei encabulada.

-É que eu nunca te vi usando uma roupa assim, fica tão diferente em você.

_Ah! Vem logo.

Por mais estranho e improvável que pareça, eu estava ansiosa para isso começar logo, até porque quanto mais cedo começasse, mais cedo terminaria.

Saímos de casa, demos tchau para todos da casa, inclusive meu pai, que resmungou algo do tipo “ Juízo, vocês duas” mas não dei muita atenção e saí saltitando para o lado de fora. Quando chegamos do lado de fora, meu coração quase saltou pela boca.

_Meu pai me emprestou. _disse Tina, vendo a minha cara de espanto, e retirando umas chaves do bolso e destrancando aquela maravilha de carro que estava estacionado na minha calçada.

Eu nunca tinha visto um carro como aquele, um conversível vermelho, com lugar apenas para duas pessoas, mas mesmo assim era incrível.

_Vai ficar ai babando, ou vai entrar aqui? _perguntou, dando partida no carro, fazendo o motor roncar bem alto. Não tive reação alguma a não ser entrar logo no carro.

Andamos por uma estrada vazia por no máximo umas meia hora. Eu tinha certeza que chegaria atrasada no meu primeiro dia de trabalho, e minhas esperanças começaram e se dissolver. Tina disse que não havia problema algum, os caras não se importam e também que eles se atrasam mais ainda. Minha tranqüilidade voltou a surgir.

Passamos por uma longa fila de pessoas paradas, vestidas com camisetas da banda e tudo mais, Tina disse “Estamos chegando”, mas eu nem prestei atenção. Tinham centenas de pessoas cantando entusiasmadas, trechos das canções da banda. Faziam um coro de voz, muito bem ensaiado por sinal...

_É aqui. _disse Valentinna, retirando as chaves do carro e apanhando sua bolsa dentro do porta luvas do meu lado.

Meu coração estava novamente saltando pela minha garganta, e minhas pernas estavam moles.

_NÃO! VAMOS VOLTAR! TINAAAA, EU QUERO SAIR.._ me desesperei dentro do carro, minha ansiedade tinha sumido com a mesma velocidade que ela havia chegado.

_Não! Fica quietinha ai. Amiga, você já chegou até aqui e vai desistir agora? _disse ela segurando minhas mãos, enquanto meus olhos marejavam de pavor.

Não respondi a pergunta que ela me fez, apenas limpei meu rosto com a manga da blusa e sorri fracamente, mas meu coração parecia estar sendo esmagado pelo pavor e pânico.

Saímos do carro e fomos caminhando até um quarto instalado bem perto Dalí, mais parecia um trailer, ou coisa assim, mas era de costas para um palco enorme que estava começando a se encher de funcionários que checavam iluminação e outras coisas.

Dei de cara com uma parta branca com a placa prateada escrita Slipknot com letras legíveis, Tina apanhou um molho de chaves dentro da bolsa, retirou uma única chave vermelha e enfiou no buraco da maçaneta. Fechei meus olhos,como se estivesse prestes a cair de um edifício de vários andares, quando ouvi o “clanque’ da porta se abrir, meu estômago pareceu se arrastar pelo chão. Fui abrindo os olhos bem lentamente, com as entranhas ainda revirando, e com as mão tremendo monstruosamente. Tina soltou um gemido de tristeza e foi entrando.

_Ah! Eles ainda não chegaram... _ela de repente parecia inexplicavelmente mais triste.

Por outro lado, fiquei mil vezes mais feliz do que alguns segundos atrás, pelo menos não havia ninguém que eu não conheci ali naquele lugar.

_Não devem demorar muito. _eu disse, tentando consolá-la, mas eu não queriam que eles chegassem nunca.

_É! Tem razão. Que beber alguma coisa ? _perguntou, indo em direção a um frigobar que tinha perto de um armário no canto da sala.

_Um suco, por favor. _respondi, me sentando um sofá de couro preto que havia.

Mais um ataque de risos! Ela tinha essa mania irritante de rir de tudo que eu falava, mas dessa vez, juro que não teve graça o que eu disse.

_Querida, serve uma cervejinha? _perguntou, ainda rindo da minha cara.

_Ah! Então não, obrigada.

TOC! TOC!

O som de batidas na porta ecoou pela sala (mais uma vez, eu comecei a tremer da cabeça aos pés) e Valentinna saiu correndo, na velocidade da luz para antender.

_Ahhh! Que saudade! Meu Deus , você está ótimo Jim. _escutei Tina gritar da porta, com certeza um deles havia chegado. (e eu não parava de tremer ainda sentada no sofá)

_Val! Porque não me ligou? Você também está ótima, aliás, está linda! _ escutei uma voz diferente, era calma e aveludada, parecia tão familiar.

_Entra logo, preciso te apresentar uma pessoa.

Pronto! Me fudi. É agora que eu morro. Batman, pode vir me buscar no batmóvel e me levar para o céu porque parece que a minha alma já subiu.

Meu estomago estava se revirando tanto, que parecia estar a beira de um colapso. Aquele homem de cabelos castanho escuro, longos e ondulados veio andando em minha direção, com Tina bem atrás, esbanjando um sorriso que ia de orelha a orelha.

_Olá!_disse ele educadamente, apertando minha mão direita com um cumprimento tradicional.

-O- Olí, quer dizer.. Olá. _gaguejei e disse tudo embolado, também apertei sua mão.

_Mais uma fã? _perguntou, ainda segurando minha mão.

_ Na verdade, Jim, ela te odiava até ontem _respondeu Valentinna, apertando o ombro do rapaz.

_Eu, eu não odiava! _disse apressada, não queria que ele tivesse uma má impressão de mim._ Só não gostava daquela máscara.

-Sério? Poxa, sempre achei que a minha fosse a mais bonitinha. _disse, sorrindo abertamente.

_Jim, essa é minha amiga Jenny Sturzeneker... Jenny, este é o meu Jim. _Tina teve o trabalho de nos apresentar.

-Ei, você é filha do Arthur Sturzeneker? Nosso empresário? _perguntou aquele moço de cabelos bem cuidados.

-É, sou sim. _respondi, corando as bochechas.

_Prazer, James Root.

_Jenny, mas pode me chamar de Stuky.

-Aceita alguma bebida, princesinha? _perguntou, indo em direção ao mesmo frigobar que Tina tinha ido, minutos antes dele chegar.

_Ela não bebe Jim, mas me dá uma cerveja ai. –disse Tina, praticamente esparramada no sofá.

_Pega! _ele jogou uma lata de cerveja que saiu voando pelo ar até pousar nas mãos de Valentinna.

_Valeu! _respondeu, logo depois abrindo a lata, fazendo um barulhinho agradável.

TOC! TOC!

Mais uma vez, estava chegando alguém...

(CONTINUA...)