UnidasPeloSangue

Cap. 14: Perdão

Cheguei a pensar por um momento que teria sonhos tranqüilos ou apenas uma noite sem sonhos, mas com a sorte que tenho logo que tudo escureceu pude escutar uma risada doce.

Uma risada leve, marota, e divertida, tudo ao mesmo tempo, sua risada era aconchegante e magnificamente convidativa, ela era... Linda e... Completamente hipnotizante.

- Não confia em mim? – perguntou a voz dona da risada doce, ela era masculina e agora risonha e não era por menos que pude sentir os pelos do meu braço se arrepiar.

- E por que eu confiaria? – reconheci minha voz risonha.

Foi quando ele soltou sua risada suave e pude sentir seu olhar em meu rosto e aquilo me deixou escapar o rubor para o mesmo.

- A qual é! – continuou ele com sua voz macia. Tudo ao meu redor estava negro, mas eu pude sentir quando ele tocou meu rosto com sua mão fria que ao entrar em contato com minha pele quente pude me sentir arfar. – Feche os olhos Aléxis. – ordenou ele e foi quando pude sentir sua respiração se juntar a minha que meu coração bateu mais forte e meus olhos logo se abriram.

Eu agora fitava o teto do chalé.

“Não confia em mim?” – a voz doce de meus sonhos passou novamente por minha cabeça.

Chateada e confusa, passei os olhos para o grande travesseiro ao lado de minha cama, Atha não estava lá.

“Ela já deve ter saído em uma de suas matinais voltas ao acampamento.” – pensei.

Foi quando por um momento eu suspirei fundo e me permiti olhar o relógio que havia no criado mudo do chalé.

Ele marcava 2 da manhã.

Mais uma vez eu bufei cansada de minha própria perdição.

Fala sério! Por que eu sempre tenho que acordar cedo demais ou tarde demais? Carma idiota! Decida-se logo droga!

Desistindo de qualquer significativa chance de dormir de novo, eu me pus a levantar e logo já estava pronta perante o meu chalé que ainda permanecia adormecido em suas camas.

Antes de sair para onde quer que meus pés pudessem me levar, dei uma ultima olhada no chalé.

Ele parecia em ordem, bem... Mais ou menos já que tanto Luna quando Thalia ainda encontravam-se completamente unidas aos seus cobertores como se suas vidas dependessem disso, mas foi quando me virei para ir embora que pude escutar a voz de Luna murmurar baixo: “Uma aventura, uma aventura vai começar”, foi quando eu pude sorrir.

“Talvez esta viagem nos leve a alguma coisa afinal” – pensei e logo suspirei cansada.

Deixei meus passos me guiarem a qualquer lugar que o conviessem melhor, pois em minha cabeça o sonho ainda me era mais que presente.

“Não confia em mim?” – a voz insistiu novamente em passar por minha cabeça.

“E por que eu confiaria?” – respondeu minha voz risonha.

Novamente e novamente o sonho se repetia em minha cabeça, foi quando eu parei de andar e me pus a observar o lugar ao meu redor: A floresta continha uma pequena camada de neve.

Estava nevando no acampamento

Nunca havia passado um dia de neve no acampamento, e foi com isto que uma sensação energética passou por meu corpo e mais uma vez eu pude sorrir.

Estiquei a mão para o ar – como que em uma tentativa de pegar qualquer quantia possível de neve – e foi quando um floco caiu em minha mão aberta que eu pude sentir os raios de sol novamente invadirem o acampamento e logo o floco em minha mão não existia mais.

“Devo dizer que o Senhor Apolo é muito ciumento, não agüenta nem um minuto de fama de um simples floco de neve?” – pensei, e foi quando pude sentir os raios de sol mais fortes que eu me limitei a rir.

- O Senhor precisa sair mais. – soltei, foi então que pude sentir meus pés arderem com o calor. – Au! – eu reclamei, e logo pude ouvir a risada jovem do Deus preencher minha mente. – Ou menos nunca se sabe. – e me limitei a sorrir antes de caminhar floresta a fora.

Não sabia se encontraria monstros ou não, mas isso pouco me importava, nunca tive medo de monstros e não vai ser agora que vou ter e até que eu não dispensaria dar um belo chute no traseiro de um.

Fitei os céus por incontáveis momentos enquanto minha mente se punha a voar, mas por mais que eu tentasse não podia me concentrar. As palavras às quais eu queria juntar voavam para qualquer lugar longe de minha mente.

Maldito DDA!

Será que é tão difícil juntar palavras bonitas para uma filha de Afrodite?

Pelos deuses!

Em uma tentativa desesperada de calar o mundo ao meu redor eu soquei a arvore mais próxima e foi com isto que eu senti algo cair sobre a minha cabeça e pelo impulso forte eu cai para trás.

- Au! – eu reclamei, foi então que eu me pus a pegar o quer que fosse que houvesse caído sobre minha cabeça, era um pinho. No primeiro momento eu logo me pus a olhar irritada a arvore, foi quando eu suspirei cansada. – Eu mereci. – admiti.

– Náiades – murmurei e logo em seguida bufei.

Ta bom eu não devia ter socado aquela arvore sem motivo, mas como eu ia saber que era uma Náiade? E eu estou nervosa! Me da um desconto!

Levantei-me lentamente e logo estava a caminhar cansada pela floresta do acampamento.

Não prestei atenção a nada em que meus instintos pudessem pedir atenção e quando olhei a frente estava na porta do chalé de Afrodite.

Ergui minha mão – como que para bater na porta, mas não bati. Algo dentro de mim tinha medo. Algo dentro de mim pedia desesperadamente para que eu fosse embora, para que desistisse. Mas algo dentro de mim pedia para que fosse em frente e foi o que fiz. Sem pensar duas vezes eu me pus a girar a maçaneta do chalé de Afrodite e logo adentrei o lugar com o maior silêncio que pude conseguir.

O chalé estava impecável a não ser pelas camas bagunçadas com seus “donos” completamente espalhados nas mesmas.

Procurei Mary com olhos.

Ela dormia encolhida em sua cama, em seu rosto eu vi medo e tristeza além de magoa e olheiras profundas e foi isso que me incentivou a chegar mais perto e ajoelhar-me ao seu lado.

Seus cachos perfeitos não continham o brilho de sempre e aquilo magoou meu coração. Seus olhos azuis cristal descasavam agora e tudo que eu mais almejava era vê-los, ver a linda cor que seus olhos assumiam quando ela sorria somente isto poderia acalmar meu coração turbulento.

Toquei seu rosto e logo ela pareceu reagir, mas ao contrario do que pude pensar, sua expressão de medo cresceu e foi com isto que a beijei na testa – como que para acalmar qualquer medo que seu sonho lhe pudesse proporcionar – foi quando ela sorriu.

Um sorriso tímido que jamais pensei ver sair de uma filha de Afrodite, um sorriso sincero.

A fenda em meu coração pareceu diminuir quando de seus lábios saiu firme: “Eu não temerei... Então não tema também.”.

Não era uma ordem, era um pedido.

“Seja lá com o que ela estiver sonhando parece ser sério, isso se ela estiver sonhando.” – pensei e logo levantei um tanto relutante de seu lado.

A escrivaninha do chalé de Afrodite era totalmente rosa e apenas as canetas variavam entre vermelho e rosa pink.

Não sabia se ela reconheceria minha caligrafia ou não, mas torcia para que sim e foi com este pensamento que peguei a primeira caneta que vi com o “Bloquinho de Anotações” – que na verdade era mais um diário – de Mary e escrevi em sua ultima página as palavras às quais me fugiram mais cedo:

“Mary,

Pensei em milhares e milhares de maneiras de lhe pedir desculpas, pensei em milhares e milhares de maneiras de você me perdoar. Mas o fato é mais que claro:

É difícil para mim juntar alguma coisa que possa penetrar este seu coração de filha de Afrodite, mas eu rezo para que eu consiga e apesar de tudo para que me perdoe, porque... – e por um segundo eu hesitei, porém logo me pus a escrever: Porque sentimentos são fortes e não se deixam quebrar por qualquer coisa, espero que o seu seja tão forte quanto o meu para agüentar as palavras que escutei e ainda escuto ao meu lado.

Mary você é forte, não deixe nunca ninguém lhe dizer o contrario.

Eu confio em você para cuidar do acampamento enquanto eu estiver fora.

De alguém que eu espero que você reconheça.

A.”

Dobrei o papel na metade e o pus em baixo do travesseiro de Mary, ela se mexeu desconfortável, mas logo se acomodou. Virei meus olhos novamente para ela antes de ir embora.

Ela descansava calmamente em sua cama.

- Me perdoe. – foi tudo que pude dizer antes de abandonar seu chalé.

Em minha cabeça as palavras de meu bilhete ainda giravam.

Ela aceitaria minha desculpa? Teria ela lido até o final? Teria ela encontrado o bilhete?? E se ela não o encontrasse??? Teria ela lido antes de eu ir embora??? Eu espero que não... Como eu olharia na cara dela se isso acontecesse???

“Tenho que parar de pensar nisso” – pensei. Tenho que me manter calma e... Ah, Deuses! Isso é impossível!

Sentei-me encostada à primeira árvore que encontrei e logo cerrei meus olhos.

Por um segundo o mundo pareceu parar quando eu fiz isso, pude ouvir a respiração tranqüila de todos em suas camas e o leve suspiro do vento ao encontrar meu rosto, com isto eu sorri levemente e logo me pus a levantar.

Não sabia se o refeitório estava pronto ou não, mas algo no vento me dizia que sim e foi quando eu cheguei ao refeitório que pude confirmar suas mesas cheias de comidas para todo o acampamento.

O relógio no refeitório marcava 4 da manhã.

Bocejei cansada e logo estava a pegar entre maças e uvas, joguei um grande cacho de uva ao fogo e murmurei:

- “Papai... Ajude-me.”.

Mesmo ao sentar à mesa de Zeus e ao acabar com a comida em meu prato o peso em meu coração não pareceu diminuir. O sonho ainda circulava em minha mente inquieto e era exatamente isso que eu queria esquecer.

Ao chegar a grande colina tudo que eu fiz foi sentar encostada ao grande pinheiro. Os pensamentos em minha cabeça pareceram parar quando o ar da colina preencheu meu pulmão.

Sorri com a necessitada falta do ar da colina.

Mas algo em minha mente ainda parecia pesar, foi quando eu cerrei meus olhos e suspirei cansada.

- Por que para mim é tudo tão difícil? – murmurei baixo enquanto me encolhia no grande pinheiro, abraçando minhas pernas.

- Agora você deu pra falar sozinha? – perguntou a voz risonha de Thyler acima de mim.

Lentamente eu levantei meu rosto de entre meus joelhos que ainda encontravam-se encolhidos junto ao meu peito no grande pinheiro, Thyler encontrava-se em pé a minha frente.

- Thyler? – perguntei ainda grogue. – É você?

- É claro que sou eu. – soltou ele e com essa eu tive que rir quando ele apenas sorriu simpático.

- Não consegue dormir? – perguntei.

- Não. – ele respondeu e logo sentava ao meu lado encarando os céus enquanto eu apenas o olhava. – E por que veio até colina?

- Por eu sabia que ia encontrar você. – e logo seus olhos estavam nos meus, eu não sei por que, mas por um breve momento eu apenas o olhei até que apenas sorri e logo me pus a fitar novamente os céus.

- E você? – ele perguntou. – Por que está acordada há essa hora?

- Sonhos. – foi tudo que eu disse e logo ele entendeu, nós ficamos um tempo apenas olhando os céus, mas algo dentro de mim agora parecia diferente. Algo dentro de mim não deixava de sorrir pelo simples fato de estar perto dele foi quando eu apenas perguntei: – Você se despediu da Mel?

- Fiz isso ontem. – disse ele.

- E como ela reagiu? – perguntei curiosa.

- Ela não está feliz. – e pude ver em seus olhos vacilar tristeza. – Ela anda conversando bastante com a filha de Afrodite.

- Quer dizer a Mary? – eu perguntei e foi quando novamente a ferida em meu peito pareceu abrir.

- Sim, essa mesma. – disse ele. – Ela é uma boa pessoa, mas estou preocupado.

- Mary nunca faria nenhum mal a ela. – me apressei em dizer me virando para encarar seus olhos que ainda me fitavam preocupados.

- Não é com isto que me preocupo, mas enfim – e logo seu sorriso pareceu esconder de minha mente qualquer pergunta que parecia estar para se formar –, Travor me prometeu cuidar dela, sendo assim eu me sinto melhor.

Seu sorriso queria acalmar meu coração, mas algo dentro de mim pareceu negar e foi quando novamente eu fitei os céus que os pensamentos em minha mente pareceram querer voar.

- Eu não devia ter escolhido você. – soltei.

- O que? – perguntou ele surpreso. – Como assim?

- Você é o líder do chalé, não devia ter complicado mais sua vida. – Thyler riu. – Ei! – o cutuquei. – Eu estou falando sério!

- Não seja ridícula. – ele soltou como um suspiro. – Tendo você me escolhido ou não, eu iria de qualquer jeito.

E eu disse algo inteligente como:

- Hã?

- Aléxis – e novamente seus olhos penetrantes estavam nos meus –, se você não tivesse me escolhido, eu estaria do seu lado de qualquer jeito, teria fugido se necessário.

- Você é louco. – Thyler riu novamente enquanto minha cabeça queria poder voltar a funcionar, mas a intensidade de seus olhos a fez parar. – Você tem responsabilidades sabia? – tentei soar como um aviso quando meu coração bateu forte e seus olhos fitaram os céus.

- Eu não ligo. – Thyler disse simplesmente. Seus olhos se desviaram dos céus por um minuto e logo estavam nos meus. – Não abandonaria você, mesmo se não me quisesse.

E eu apenas o olhava prendendo o suspiro que se formou em minha garganta.

- Não tem como não querer você por perto. – Não me reconheci ao dizer. – Especialmente quando não se tem em o que bater. – completei risonha.

- Ei! – ele protestou. – Isso era antes, agora eu sei lutar muita bem para sua informação. – e logo eu me pus a rir.

- Certo, certo.... – soltei. – Isso é o que a gente vai ver. – e logo eu me pus a levantar, não carregava nenhum presente do papai, mas não precisava. Antes de tudo isso sempre resolvi meus problemas na mão e não seria hoje que teria problemas com isso. – Vamos lá. – chamei. – A não ser que tenha medo. – completei como um desafio.

- Eu? – perguntou ele irônico. – Um filho de Apolo. Com medo?

- Vamos lá mini-sol! – eu o incentivei. – Vai ser rápido, eu prometo. – e eu tentei ser sincera.

- Mini-Sol? – e novamente Thyler se pôs a rir. – E você devia ser o que? Mini-raio?

- Não – eu lhe expliquei –, somente Aléxis para você – e agora ele me olhava surpreso enquanto novamente se pôs a rir com seu sorriso simpático –, agora, você precisa de um apelido. – disse.

- Nossa quanta imaginação. – ele soltou irônico, porém risonho.

- Ei! – protestei. – Não é fácil fazer um apelido ta bom?

- Cabeça de alga saiu bem fácil para Annabeth. – disse ele.

- Ela é uma filha de Atena! – rebati. – Ai não vale.

- Beleza então agora eu sou o mini-sol? – perguntou ele risonho, foi quando eu bufei ainda sorrindo.

- Você é o Thyler até eu arrumar algo melhor. – e novamente ele riu foi então que novamente eu me pus a fita-lo. – Então vamos lá?

E por poucos segundos Thyler apenas me olhou, foi quando mais uma vez ele sorriu e seus olhos procuraram os meus quando ele apenas disse:

- Claro. – e avançou em minha direção invertendo entre chutes e socos. Thyler era ágil, mas em minha mente era como se conhecesse cada um de seus golpes, logo eu desviava fácil.

- Precisa treinar mais. – eu lhe incentivei. – Não consegue nem me acertar. – dizia traquinas.

- E quem disse que é isso que eu quero? – eu não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, porém antes que pudesse pensar em algo ele me mandou uma rasteira por baixo que eu simplesmente pulei e foi quando eu pude sentir a minha cabeça latejar com o impacto contra um galho que eu soltei:

- Au! – e logo eu estava a acariciar freneticamente o local dolorido. – Essa doeu. – reclamei.

- Eu nunca tinha dito que queria te acertar. – Thyler me ofereceu a mão com um sorriso de lado que agora habitava em seus lábios.

- Há-Há. – soltei irônica e logo estava a aceitar sua mão, foi quando uma idéia percorreu minha mente.

Com sua mão eu peguei impulso e com a outra fechei o punho em direção ao seu rosto. Thyler pareceu surpreso e deu dois passos atrás. – Um breve sorriso habitou em meus lábios com isso – e com isto que eu abri minha mão mudando meu rumo para seu pescoço que ele simplesmente inclinou-se para trás dando uma bela cabeçada no tronco de uma árvore que eu simplesmente ri divertida.

- Hei, isso não vale! – ele protestou ainda dolorido.

- Eu nunca tinha dito que queria te acertar. – tentei imitar sua voz inutilmente que pude escutar sua doce risada agora dolorida.

- Au. – gemeu ele baixinho tentando conter o riso.

- Pare de reclamar. – falei. – Não está doendo tanto assim. – e logo eu estava a olhá-lo divertida enquanto sentava-me ao seu lado, ele estava caído sobre a arvore um tanto dolorido ainda, devo dizer.

- Fala isso por que não é com você. – murmurou ele baixinho, foi quando novamente me pus a rir que em um piscar de olhos pude ver que ele me fitava entre confuso, sem graça e divertido.

Mas não foi isso que chamou minha atenção, o que chamou minha atenção foi o fato de ele estar realmente próximo a mim, quer dizer, realmente próximo.

Pude sentir seu cheiro percorrer o vento próximo a meu rosto e invadir meu pulmão. Pude sentir seu imenso calor escapar de seu corpo para o meu e seus olhos... Pude sentir sua alma através deles naquele momento, sei que é estranho, mas quando olhei, quero dizer, realmente olhei em seus olhos, eu pude sentir algo quente, algo realmente quente, mas não um quente insuportável, um quente continuo e maravilhosamente viciante, um quente aconchegante, um quente convidativo.

Algo em seus olhos fez minha mente por completo se apagar e o sonho em minha mente já não existia mais, algo em seus olhos me prendia a ponto de parar e simplesmente querer olhar através deles.

Não sabia se em seus olhos o que eu via agora fazia apenas parte de seu charme de filho de Apolo ou não, mas uma parte de mim torcia loucamente pela segunda opção. Uma parte de mim queria acreditar que o que eu via agora era mágico e talvez até irreal, uma parte de mim queria poder acreditar que o que eu via agora era o verdadeiro Thyler, uma parte de mim queria poder sonhar com seus olhos milhares e milhares de vezes, uma parte de mim queria continuar ali, olhando-o para todo e todo sempre, mas uma parte de mim pedia loucamente para parar. Uma parte de mim pedia para parar de sonhar e crescer, uma parte de mim lembrava-me que ele era apenas meu amigo e apenas isso, uma parte de mim agora o amaldiçoava por ser quem é e ser tão bonito, uma parte de mim o odiava agora, uma parte de mim pedia para esquecer o que passe agora por minha mente e principalmente: Uma parte de mim pedia para parar de fita-lo com tanta intensidade.

Mas não importa o quanto essa parte parecia gritar em minha cabeça, algo em seus olhos ainda me prendia de um modo descomunal. Algo ainda...

- Vamos – disse Thyler me tirando de meu blábláblá interno –, eles já devem estar acordando. – foi quando ele esticou a mão oferecendo-me ajuda para levantar, mas algo dentro de mim ainda parecia abalada com o fato de seus olhos me prenderem de tal modo há poucos segundos.

- Hã? – foi tudo que eu consegui dizer e então ele me olhou sem graça.

- Luna, Thalia, Annabeth... – dizia ele contando mentalmente. – Elas já devem estar acordando. Então – e ele me ofereceu novamente sua mão –, vamos?

- Err, hãn, hm. – e eu ainda não conseguia pensar direito quando por fim ele me olhou confuso e com um sorriso sem graça em seu rosto. – Claro. – disse enfim e logo aceitei sua mão para levantar.

Não consegui falar uma palavra sequer enquanto caminhávamos de volta aos chalés, algo em mim ainda parecia abalada com o fato de seus olhos penetrantes me olharem de tal modo que pareciam ver dentro de mim. Pareciam ver minha alma.

Balancei a cabeça para afastar tais pensamentos e foi quando por fim seus olhos encontraram os meus que pude sentir o sangue escapar para o meu rosto.

- Tudo bem? – ele perguntou.

- Por que não estaria tudo bem? – perguntei tentado disfarçar o desespero em minha voz, mas acho que respondi rápido demais, pois ele me olhou meio sem entender, foi quando balancei minha cabeça novamente em uma tentativa de tirar o rubor de meu rosto.

- Eu não sei. – conclui ele, então se pos a rir, foi quando eu o fitei irritada. – Bem – começou Thyler –, eu tenho que ir ao meu chalé arrumar minha mochila e-.

- Você ainda não arrumou suas coisas? – perguntei com certa surpresa em minha voz.

- Eu não tive tempo. – explicou ele. – Melena ficou me enchendo de perguntas a tarde toda e quando eu deitei esperando dormir ou até morrer pra parar de ouvir a voz dela acabei acordando de madrugada foi quando eu fui para a colina e encontrei você. – e agora eu já me punha a rir. – Não é engraçado. – e em sua voz continha certa irritação.

- É sim. – disse em meio as gargalhadas.

- É por que não foi no seu ouvido que ela ficou a noite toda. “Aonde vocês vão?”, “Quando vocês vão?”, “Vocês irão com Argos?” e blábláblá. – ele tentou inutilmente imitar a voz de Mel. – Eu juro que se ouvir a voz dela de novo perguntando qualquer coisa meus tímpanos vão explodir! Deuses! – e novamente eu estava a rir. – Ei! – Thyler protestou. – Eu já disse que não é engraçado.

- Você ri das minhas desgraças – justifiquei –, o que eu mais tenho é o direito de rir das suas. – e novamente eu me pus a rir. Primeiro ele bufou cansado, porém logo seu sorriso simpático habitou novamente seus lábios e assim ele se pos a contar o como Melena o atormentara a tarde inteira e como isso era estranho e sem nexo, mas eu não prestava muita atenção.

Algo nele ainda me prendia de um jeito completamente louco e sem sentido foi quando chegamos ao chalé de Zeus que ele sorriu novamente e antes que eu pudesse pensar em como me despedir ele beijou suavemente minha bochecha e disse suavemente próximo ao meu ouvido mais como um sussurro: – Até. – foi quando eu senti os pelos em minha nuca se arrepiarem e logo ele se foi em direção ao seu chalé.

- Até... – consegui murmurar, mas eu não tenho certeza se ele ouviu ou não.

Talvez por pura curiosidade – eu não sei bem porque – toquei aonde a pouco ele havia me beijado, estava morno. Não sabia se o encontro de seus lábios com minha pele havia a feito ficar quente tão rápido ou se novamente o sangue havia fugido para o meu rosto, mas algo era mais que certo: O encontro de seus lábios com minha pele foi como levar um breve choque que rapidamente passou por todo meu corpo de um modo descomunal, era como se essa corrente quente transmitisse o calor de seu corpo para o meu, mas não apenas isso era como se pudesse sentir suas emoções naquele momento.