Underwing

Rota Escolhida


Estavam na floresta coberta de neve, Leah não conseguia reconhecer a criança a sua frente, estando ainda mais indignado com ela por caminhar saltitando e cantarolando pela trilha que seguiam. Se perguntava quando que mudara tanto, ou se ele que não havia percebido o quão assassina ela era.

Perdido em seus pensamentos, esbarrou em Frisk, que se virou furiosa para ele --- Quieto. --- solto num chiado, os olhos incendiados. Outra coisa que não sabia sobre aquela menina, nunca havia visto a cor de seus olhos, já que sempre os mantinha fechados, mas agora quase enfartava toda vez que os encontrava. Ela observava em volta atenta, procurando algo, não sabendo exatamente o que, mas tinha certeza de ouvira alguma coisa.

E estava certa, se não fosse por seus reflexos teria sido acertada por um grande e grosso... osso? Imediatamente pegou seu arco dentro da mochila, junto de uma flecha e preparou-a para atirar, apontando para todos os lados sem mirar em nada especificamente. Apesar de todo a circunstância em que estava, o garoto sentia certo orgulho dela, havia aprendido rápido e sempre praticava bastante tentando melhorar.

—-- Quem está aí? Apareça seu covarde! --- ela gritou. Esperava que alguém realmente aparecesse depois de sua provocação, mas o que aconteceu foi que, tanto sua alma quanto a de Leah ganharam um tom de azul escuro, o corpo foi rodeado por uma luz de mesma cor e dois sentiram como se estivessem sendo puxados. Frisk conhecia isso, mas não poderia ser...

—-- Você...! --- o mesmo monstro do "sonho" disse parecendo surpreso em vê-la. Não poderia culpá-lo, também estava, ainda não admitia que tinha sonhado, mas não imaginava que quem encontrou fosse real, muito menos ele.

—-- Eu --- disse disfarçando sua surpresa em uma voz de tédio e deboche ---, agora pode nos soltar?

—-- Ah, mas nem pensar... --- ele diz com as órbitas completamente escuras. O rapaz humano não entendia nada, tudo passava tão rápido diante de seus olhos que não conseguia acompanhar, só viu uma sombra saindo do chão e quando olhou para o lado, a menina tinha um fino mas comprido osso a atravessando, a dor explícita em sua expressão e sangue escorrendo de sua boca e do peito, onde o osso também ensanguentado perfurava seu corpo.

******

Acordou assustado, estava no lugar que sempre patrulhava e, de vez em quando, - como agora - tirava um cochilo. Estava sonhando, era só um sonho, dizia a si mesmo tentando acalmar seus batimentos, o que por fim funcionou. Era normal sonhar com lutas, pegar a última alma que precisavam para que enfim fossem livres, mas nunca sonhou com uma criança agressiva - já que todos que haviam caído eram pacíficos e acabou por nem pensar na possibilidade - muito menos com a mesma criança duas vezes seguidas.

Não sabia o que poderia pensar, mas não viu ninguém passar durante toda a patrulha, então parou de pensar sobre isso rápido assim que encontrou Papyrus, seu irmão sempre bem humorado e excêntrico.

—-- Sans, você já recalibrou os seus quebra-cabeças? --- Papyrus diz animado, como o habitual.

—-- Sim.

—-- Acabou sua ronda?

—-- Sim.

—-- Já catou sua meia do chão da sala?

—-- Não. --- era sempre assim as conversas entre eles, sempre acabava no quão preguiçoso o de jaqueta azul era. O engraçado é que estavam no meio da rua, e ninguém se importava de verdade, isso não atrapalhava ninguém, Sans não sabia se por já estarem acostumados ou por simplesmente ser divertido de assistir.

Seguia para sua casa para catar a tal meia que Papyrus tanto reclamava, quando a viu, a mesma criança de seus sonhos. Quase correu para atacá-la como das outras vezes, mas, pensando melhor, percebeu que depois de fazer isso ele acordava, mesmo que não lembrasse de ter dormido naquele lugar, que foi o que aconteceu no festival. Optou por observar a garota, seria melhor do que correr o risco de ter o mesmo resultado das outras tentativas.

Se escondeu enquanto ela entrava junto do outro rapaz humano na pousada da cidade, onde ficaram. Ele teve que iria ter que esperar muito, tanto que acabou fazendo o mesmo que os humanos e dormiu, até parece que ficaram acordados a noite inteira.

******

Leah estava roncando, depois chamava ela de dorminhoca, já estavam na pousada fazia horas e ele ainda não acordou, claro que ela também havia tirado um cochilo, afinal essa noite foi agitada, mas acordou bem antes dele. Estava esperando fazia um tempo e não conseguia mais só ficar sentada, decidiu arrumar suas coisas e ir embora sem ele. Assim o fez, deixando algumas moedas de ouro, afinal ele precisaria pagar pelo tempo que ficou, e não sabia se ele tinha dinheiro. Admitia que uma certa pena recaía sobre si pelo pobre garoto, ela tinha assustado muito ele.

Desceu as escadas e saiu pela porta da frente, pensou em ir pela janela, então pensou de novo e se perguntou se precisava mesmo, chegando a conclusão que não. Caminhou até chegar em uma espécie de ponte que tinha muita névoa, não deixando-a enxergar sequer um palmo à sua frente, havia se encontrado com alguns monstros aqui e ali e os matou, sem pensar duas vezes, estava cada vez mais distante, como se aos poucos algo fosse tirado de si. Se perguntava se o que fez nas Ruínas poderia ser repetido ali, se não ficaria com tanto peso nas costas e adiante, quando avistou um monstro alto com uma roupa estranha. Era mais uma caveira. Com medo de que algo fosse acontecer como das últimas vezes, puxou seu arco e atirou, acertando em cheio nele.

O corpo foi se tornando poeira até sobrar apenas a cabeça que antes estava no topo. Frisk andou até ela e a pegou, só observando enquanto ia se desfazendo devagar em suas mãos. De repente tudo ao seu redor não importava, só a estranha alegria que sentia, jogou a poeira de suas mãos para cima como confetes, não ligando se se sujaria por causa disso. Tudo que ela queria naquele momento era voltar e sentir isso de novo, isso era poder, e ela queria mais!