Underwater

Uma droga de quedinha


Depois de uma só frigideirada Danyella estava desmaiada em minha cama por cima de Fernando, o homem tinha seus olhos arregalados, seus braços que envolviam a cintura fina de Danyelle afrouxaram e percebendo esse vacilo mamãe enrolou um tufo dos cabelos roxos por entre a mão com fúria puxando-a contra si, subitamente a mulher acordou levando as mãos ao ventre em sinal de desespero por segurança, desespero para com sua criança.

Eu não me importei.

Aquilo era talvez o meu ato mais desumano, mas eu odeio ela, quero que morra.

Pisquei, eu tinha pensado mesmo aquilo? Meu. Deus!

Balancei a cabeça negando rapidamente, levei meu olhar para o homem desprezível em minha cama, ele parecia chocado e preso em outro mundo em uma dimensão paralela, mamãe conseguiu arrancar Danyelle do colchão e jogou-a no chão com força tirando Fernando de seu transe, mas ele não se levantou, ele tentou mas não o fez e eu era o motivo.

Não, não pense asneiras. Eu estava usando meus poderes para mantê-lo prensado contra o colchão, minha mão esquerda estava curvada como uma garra, escondida sob meu braço direito, a cama rangeu e eu percebi que faltava pouco para que cedesse.

-SAIA DA MINHA CASA!- Gasnou minha mãe em puro ódio, ela tremia e era evidente ela segurava lágrimas.- SAIAM DA MINHA CASA! DO QUARTO DA MINHA FILHA.- Ela destacou o minha para deixar claro “é meu não seu”.

Danyelle se debatia tentando sair do aperto de minha mãe, era inútil, bom eu achava que que era, lágrimas escorriam do rosto de Danyelle, eu revirei os olhos ao vê-la me lançar um olhar que pedia piedade, sorri cínica pra ela.

-SAIAM DA MINHA CASA!- Mamãe esbravejou tão furiosa como um trovão, até mesmo eu temi, parei de prensar o cafajeste contra o colchão quando em plenos pulmões mamãe gritou.- SAIA DA MINHA VIDA.- Essas palavras foram direcionadas a Fernando, ele saiu da cama finalmente indo em direção a sua “amante”, antes que ele chegasse a frigideira atingiu seu rosto foi atingido uma, duas, três vezes seguidas, atordoado ele levou a mão ao rosto vendo o sangue escorrer de seus nariz, fechou a mão em punho e antes que qualquer um pudesse perceber sua mão se chocou contra a barriga da minha mãe, foi a minha deixa.

Mamãe soltou a piruá mal cozida que caiu no chão assustada com o ato de Fernando, ah Fernando, sua morte tá vindo de triciclo. Agarrei os cabelos dele com força puxando-o para baixo, tive o vislumbre de seu queixo batendo com força contra o chão, sorri satisfeita antes de gritar:

-Nunca mais bata na minha mãe! NUNCA MAIS!- Ele se encolheu como um animal assustado e eu tive de aumentar meu sorriso, mas quando olhei para minha mãe ele murchou, mamãe agonizava com a mão no estômago, eu senti que a qualquer momento ela vomitaria.- Estão fazendo o que na minha casa ainda?- Perguntei entre dentes para o casal a minha frente.- Querem uma forma mais clara?- Questionei vendo a cara de tacho desses dois.

-E-eu… Não… Lúcia me desculpe.- Ele tentou se arrastar até minha mãe, sem chance.

-Sai de perto dela.- Me segurei para não rugir.- Sai da minha casa.- murmurei sentindo a fúria cada vez mais crescente.- Saiam.- Virei para Danyelle que entendeu o recado com êxito, antes de sair na velocidade da luz do meu quarto ela me lançou um último olhar, não tinha acabado ainda.

Isso eu decidia.

Respirei fundo me virando pro monte de esterco que sangrava no meu chão.

-Está esperando o quê?- Perguntei.- Suma.- Ordenei.

Ele se levantou e tentou chegar até mim, mas minha mão se ergueu rapidamente e uma rajada de vento invadiu o quarto sem mais nem menos, Fernando sacudiu a cabeça atordoado virando o rosto e tentando barrar a grande quantidade de ar que eu jogava contra ele. Parei assustada eu nunca tinha feito isso, eu gostei.

-Você é uma aberração nojenta.- Ele cuspiu ódio junto de palavras, meu coração apertou mas joguei todo o amor que um dia senti por ele pelos ares, deixei o ódio dominar.

-Você é um desleal infeliz, saia da minha casa.- Eu ordenei.

Ele ergueu a sobrancelha desafiador, será que ele esqueceu da queixada que eu o fiz ter a pouco. Ele deslizou a língua pelos dentes que alternavam entre branco e um leve amarelado normal em pobres, como um predador experiente estralou o pescoço pronto para me atacar, não movi um músculo sequer, ele queria vir?

Que viesse.

Quem levaria uma surra não seria eu.

Perto de seus pés mamãe tinha parado de agonizar finalmente caindo desmaiada, senti um pesar em meu corpo, eu devia ter contado antes, aproveitando esse meu momento de distração ele se jogou sobre mim.

-Augh.- Foi o som que saiu da minha boca quando eu fui atingida por um soco certeiro e exageradamente forte de sua parte, minha cabeça pendeu para o lado e eu tremi nervosa, meus braços estavam imobilizados por suas pernas, que estavam cada uma de um lado, mais um soco me atingiu e destrancado meu maxilar um arrepio antecessor a grande dor percorreu meu corpo.

-Eu vou te matar seu estorvo.- Ele desceu o punho mais uma vez contra meu rosto já inchado.- Finalmente serei livre. Pegarei a pedra.- A palavra pedra me fez abrir os olhos em choque de realidade me atingiu junto com mais um soco.

Não seria eu que apanharia.

Fechei a mão apertando minhas unhas contra a minha palma, esperei pelo próximo soco, que não veio, um som como de algo atingindo um vidro blindado chegou aos meus ouvidos e eu abri a boca surpresa assim com Fernando, o colar escondido pelo meu moletom brilhava revelando a si mesmo, a minha volta um tipo de capsula de vidro azul transparente encobertos de runas me protegia, ofeguei assustada. Fechei os olhos e senti aquela capsula entrar em mim, abri os olhos novamente eu não estava mais em meu quarto, olhei a minha volta confusa, uma grande imensidão de luz me rodeava e eu me sentia flutuar, a minha frente um grande telão me mostrava o que eu deveria ver com meus olhos, pisquei assustada, eu estava dentro de mim?

Tentei me mover, mover minha cabeça mas não consegui nada além de uma dor latejante, grunhi em minha mente, minha voz saiu mesclada com outra que eu não conhecia, ela ecoou pela imensa luz e sumiu no horizonte. Uma movimentação estranha no grande telão chamou minha atenção, pude ver Fernando em cima de mim, mas nenhum soco que ele tentava desferir me atingia a cápsula ainda me protegia.

-Saia.- Minha voz saiu sem que eu quisesse, eu não estava comandando meu corpo.

Até eu me surpreendi quando um murro de minha parte atingiu sua face com maestria, foi a vez dele virar o rosto com força, seu pescoço estalou, senti-me sorrir. Eu não sabia o que estava acontecendo mas aquela não era eu, não mesmo. Mais outro foi desferido, outro, outro e mais outro. Até que ele finalmente estava sob mim, desmaiado com mais sangue sobre rosto que antes, grunhi nervosa, dentro e fora de mim, eu ainda sentia raiva.

Aquela quem controlava meu corpo se levantou e agarrou o braço do Fernando, com brutalidade começou a puxá-lo como se fosse um saco de roupas podres.

—Prefiro chamá-lo de saco de esterco.— Pisquei confusa, de quem era essa voz? Ela ecoou por toda minha mente e por fora dela também. Abri a boca para falar mas a dor me atingiu novamente.Não tente, você não sabe como.-Sua voz ecoou pelos confins de mim e fora de mim.

Levei meu olhar para o “telão’, ele focava a porta que levava ao quintal que levava ao portão, “eu” ainda arrastava Fernando, era engraçado eu ter força o suficiente para isso. - Somos fortes.— A voz ecoou novamente.-Não subestime a si mesma. Você é foda.

Sorri.

Fernando foi largado na rua como o saco de esterco que ele era, estava desmaiado, sem blusa e sangrando, bati uma mão na outra como se estivesse acabado um árduo trabalho, antes de entrar pelo portão chutei-o com força fazendo ele, mesmo desacordado, grunhir.

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Acordei exausta, demorou um pouco até eu abrir os olhos, não me lembrava exatamente do que tinha acontecido depois de jogar Fernando na rua, me lembrava de xingar as vizinhas por não cuidarem da vida delas, subir para meu quarto e finalmente retomar o controle do meu corpo, ligar para Jefferson e… Porque eu liguei para ele?

Pisquei atordoada era muita luz e sons.

Olhei para o lado e para o outro não reconhecendo o lugar onde eu estava, era um quarto lindo, suas paredes eram verdes com lindos desenhos de variadas flores, sobre a parede duas luminárias adornadas de ouro tentavam iluminar o quarto, era meio inútil já que pela janela uma grande quantidade de luz solar entrava, a frente da minha cama havia uma escrivaninha de madeira, estava decorada com um vaso de flores azuis e roxas, e a sua frente sentado completamente focado em uma pilha de papel estava uma figura conhecida, sentei-me na cama sentindo uma dor latejante me atingir, grunhi dolorosa.

-Jefferson?- Chamei-o e ele ergueu o olhar para mim, largou as feições focadas para sorrir.

-Acordou?- Ele perguntou gentil se levantando da cadeira e deixando de lado o papel que escrevia, assenti levemente na verdade querendo responder : “Não tô dormindo ainda idiota”, mas a gentileza em seu tom de voz não deixou.- Como se sente?

Parei por alguns minutos para avaliar a mim mesma, minhas mãos estavam doloridas, minhas pernas molengas, me sentia pesada e inchada, meus olhos ardiam um pouco e minha cabeça latejava, parecia que minha alma a qualquer momento sairia de mim, levei as mãos a minha barriga e senti uma pontada na altura do ventre, maldita seja a cólica. Sem contar o meu rosto inchado de sono e pelos socos de Fernando, passei a mão pelo meu queixo e um dor aguda me atingiu.

-Mal, mas nada para se preocupar.- Ele ergueu a sobrancelha não acreditando em minha desculpa esfarrapada. Eu estava mal, mas a maioria dos sintomas não eram pelo que tinha ocorrido na noite passada. Noite passada…- Onde eu tô?- Perguntei ao vê- lo andar até uma porta com desenhos dourados de flores e pássaros.

- No castelo do rei Pietro Thalles.- Ele respondeu calmamente e ergui a sobrancelha. Rei? Quase ri.

Mas me lembrei da vez em que ele me abordou no meu primeiro dia de aula, ele tinha dito algo sobre guardar a pedra e eu ter sorte dele não ser um dos assassinos do rei, levei a mão até o peito sobre meu moletom completamente sujo de sangue seco, eu não sabia se era meu ou de Fernando.

-Onde está minha mãe?- Perguntei seriamente engolindo minha vontade de rir de nervoso, mamãe tinha levado um soco forte e desmaiado, quem sabe como ela estaria agora.

-Na ala hospitalar do castelo.- Engoli em seco, acompanhei-o com o olhar, ele abriu rapidamente a porta e falou com alguém, não consegui ouvir o que diziam, depois disso ele fechou-a e veio até mim, me olhou de cima a baixo, tocou meu queixo e eu chiei.- Dói muito? -Ele questionou ainda com a mão em meu queixo, bati com força em sua mão a tirando dali.

-Não muito, quando NÃO tocam.- Destaquei o não com raiva.

Ele assentiu e andou até uma das portas, diferente da outras duas que haviam no quarto esta por sua vez era verde musgo, vários desenhos abstratos a decoravam também com fios de ouro, ele a abriu e pude ter um deslumbre de uma sala meio grande com inúmeras roupas, de lá ele tirou uma muda de roupa e entregou a mim andando até a porta branca que a pouco abrirá, virou-se para mim antes de sair e disse:

-Aquela porta.- Ele apontou para a terceira porta que ainda não tinha sido aberta.- É um banheiro pode se trocar e se lavar, se quiser tomar banho também é uma boa opção, ali tem uma banheira pode ficar tranquila.- Assenti.- Vou estar lá fora, me chame se precisar de algo.- Vi-o atravessar a porta e fechá-la.

Bati minhas costas contra a cabeceira da cama com força e esfreguei as mãos nos olhos, castelo, traição, desmaio, tudo confuso, e isso não era nem a merda da ponta do iceberg, sobre o criado mudo pude ver, além dos muitos papéis que Jefferson se concentrava a pouco, meu celular, tomei coragem para me colocar de quatro e engatinhar até ele, peguei-o e sentei sobre minhas pernas.

-”20 mensagens, 2 duas conversas”- Li minha notificação do Whatsapp e entrei nele.

Clara?

Clara?

Amigaaa

Responde aiiii!!1

Talvez a gente tenha algo interessante

A chantagista te mandou mensagens??

Que horas?

Claraaa

Clara? Ta td bem?

-Becky



Suspirei e a respondi.

- Não vi as mensagens tem dois dias.

Não tardou para que ela me respondesse.

Veja, ela estava furiosa, parecia querer explodir

Vc não a respondeu ela está se achando confrontada

Se ainda tiver dúvidas sobre ser ela ser ou não, me mande os horários.

-Becky

Sai da aba da Becky para ir na conversa com a Tereza, ela também tinha mandado dez mensagens e pareciam ambas bem preocupadas.

BOM DIAAAA.

NÓS TEMOS NOTICIAS MEU AMOR

miga???

Tu tá bem?

Me responde caramba

Amiga eu tô no seu portão abre aí.

O q houve??

Cadê vc??

Não tem ngm aqui

As vizinhas disseram q houve uma briga. O q aconteceu migaaaaaaa??????

-Cremosa

-Desculpa, estou bem, não estou em casa. Temos q conversar.

Larguei o celular na cama e corri pro banheiro, levando comigo a muda de roupas, o banheiro era grande e muito bonito, era verde como o quarto, tinha uma grande janela que dava uma vista privilegiada do lugar onde eu estava, a mesma estava encoberta por uma longa e clara cortina de algodão, havia um banheiro fincada ao chão profunda e convidativa, decorada com luzes e a sua volta estava cheia de sais e cremes, tinha também um grande espelho e uma pia transparente.

Despi-me ainda encantada com o lugar e as sensações que ele me proporcionava, me sentia bem melhor, bem mais calma e pacífica. Mesmo estando nua liguei o registro e vi a banheira encher, caminhei até o grande espelho examinando meu corpo nu, pensei que os socos de Fernando só tinha atingido meu rosto, eu estava errada, meus braços tinham grandes manchas roxas resultado da força que ele colocará sobre eles quando tentará me imobilizar, minha barriga também estava encoberta por vergões, não tinha percebido, mas parece que Fernando esmurrou minha barriga e outras partes também, meu rosto era o mais danificado, eu estava com uma das bochechas inchadas, com dois olhos roxos e o esquerdo levemente inchado, meu lábio inferior tinha um grande corte horizontal meu lábio superior estava inchado e dolorido. Maldito, eu esperava com todas as forças que ele estivesse bem pior, nem quando eu briguei com Kaila foi tão grave. Pude ver que em minha pernas, direita e esquerda uma cicatriz vertical as cortava, juntei-as e percebi que a linha da perna esquerda se completava com a direita, não me lembrava desse machucado. Dei de ombros e andei até a banheira sentando-me na ponta.

A banheira finalmente estava cheia, um pé de cada vez eu entrei e me sentei, suspirei alto jogando a cabeça para trás, remexi minhas pernas quando senti que a minha transformação se iniciaria, já não mais eram pernas eu finalmente pude esticar minha extensa e linda, modéstia parte, cauda dourada e cintilante, a movimentei da maneira que podia me deixando confortável, era a primeira vez que eu tomava banho em uma banheira e eu queria replay.

Apoiei os braços na lateral da banheira descansando minha cabeça sobre a mesma, minha cauda estava jogada na lateral contrária, eu a balança vez ou outra para frente ou para trás, suspirei cansada.

Noite passada tinha sido o inferno, tirando os momentos que eu passei com as meninas, tudo tinha sido do pior para o horrível. Fernando só podia ser um burro, fuder uma mulher em casa e no meu quarto? Ele achava o que? Que eu passaria a noite inteira fora? O pior de tudo, mamãe estava em casa e se ele achava que ela era como as mães de protagonistas de fanfic clichê ele estava enganado, mamãe não guardaria dentro de si e aceitaria o homem que sempre amou a traindo, ela choraria, mas antes de chorar ela agiria. Como agiu ontem. Sorri lembrando da frigideira que ela acertou contra o rosto da Danyelle e Fernando, foi lindo. Afundei mais na banheira e peguei um frasco.

-”Sais de fadas”- Murmurei lendo, o abri cheirando, suspirei tinha cheiro de jardim, mesmo sendo de fadas, não entendi exatamente.-“Vire pouco do conteúdo sobre a água”... - Continuei lendo, abri a tampa e virei o frasco lentamente para que um pouco do conteúdo saísse, algo parecido com purpurina caiu lentamente sobre a água, pequenas flores e pétalas brotaram e eu arregalei os olhos surpresas. Variadas flores de variadas cores perfumavam o banheiro e a mim, puxei o ar sentindo aquele maravilhoso aroma me contornar inebriante, nunca mais queria sair de lá, mas eu tinha e queria ver minha mãe.

Nunca pensei que me vestir seria tão difícil, eu vestia um vestido parecido com da Grécia antiga, ele tinha um leve e delicado decote de coração, com duas mangas que sumiram em um tipo de colar d ouro e um lindo cinturão de ouro que marcava minha cintura, o resto do tecido rosa bebê caia livre exceto pelas duas partes específicas presas cada uma em um dedo da minha mão, sempre que eu as levanta o tecido fino e leve voava se assemelhando a asas, não fiz nada em meu cabelo além de prendê-lo de lado com a xuxinha que eu sempre carregava em meu pulso.

Sai do quarto deixando minhas roupas sobre a cama dobradas e com meu celular entre os seios, afinal não tinha um bolso na porcaria do belíssimo vestido.

-Graças a Deus.- Jefferson ergueu as mãos dramático e eu revirei os olhos, caminhei para fora do quarto olhando tudo em volta. Estávamos em um extenso corredor, branco, cheio de quadros.

-Eu não achei sapatos alguns por aqui.- Observei fechando a porta e acuada por estar andando descalça, mesmo que o vestido encobrisse isso, Jefferson riu e começou a andar, brava pelo fato dele estar rindo de mim e não me explicando a situação corri em direção a ele o mais rápido que eu podia, enganchei meu braço no seu para acompanhar seus passos, ele andava muito rápido!- Porque você tá rindo?

Ele não respondeu apenas negou com a cabeça, olhei para seus pés e franzi a testa, ele também não usava sapatos, olhei-o questionadora e ele continuou a rir, bati em seu braço com força e ele reclamou parando de rir.

-Credo menina que agressiva.- Jefferson esfregou o braço, fechando a cara.- O que vocês crianças humanas tem comido ultimamente? Vocês são fortes para um caralho.- Reclamou.

Viramos alguns corredores, finalmente janelas começaram a fazer parte da decoração me dando um ar de segurança, enquanto Jefferson e eu caminhávamos, provavelmente para a ala hospitalar , em silêncio eu me vi distraída olhando para a paisagem do lado de fora, provavelmente estávamos acima das nuvens porque nenhuma decorava o céu, na verdade poucas, o castelo parecia ficar ao topo de uma colina já que era possível ver no horizonte abaixo dos muros do castelo cidades e mais cidades, não sei dizer como as casas eram já que estavam longe demais para se dizer exatamente sua aparência.

-Psiu.- Jefferson me cutucou e eu ergui meu olhar, mesmo eu sendo bem alta pra minha idade ele era quase um poste, deveria não ter menos que um é oitenta.- O que exatamente aconteceu?- Ele perguntou rompendo o silêncio e o gelo entre nós. Apertei seu braço para não tropeçar no vestido enquanto andávamos, no final do corredor avistei um corrimão e uma escada, seguimos até ela e começamos a descer.

Me imaginei por momentos em um filme de princesa, mas diferente do que imaginei as escadas não davam para um lindo salão de bailes, mas para um tipo de hall, criadas andavam e voavam de um lado para o outro, pisquei quando um sentimento de nostalgia me atingiu, era como se eu já tivesse vindo aqui, já tivesse passado por aqui.

-Clara.- Voltei a mim olhando-o novamente, eu tinha me esquecido dele.- Você não respondeu minha pergunta, o que aconteceu?

Afundei o dedo no seu casaco escuro e prendi o ar, nem mesmo para Rebecca eu ousei abrir a boca sobre meus problemas domiciliares, não seria a hora que eu o faria, nem com ele.

-Nada.- Senhoras e senhores, apresento-lhes a mentira mais bosta do planeta terra.

Jefferson brecou no meio da escada e eu quase caí dela, ele me segurou pelos ombros e me obrigou a virar para si, com uma das mão ele segurou meu queixo e eu grunhi, ele não tirou a mão e me forçou a olha-lo.

-Clara, você me ligou em desespero as quase três da manhã, quando eu chego na sua casa você estava desmaiada no seu quarto junto com a sua mãe cheia de hematomas, para no dia seguinte me dizer que nada aconteceu?- Ele perguntou bravo, porque ele estava bravo.- Quem bateu em vocês, Clara? Quem machucou você?

Fechei os olhos sentindo as lágrimas acumularem, sem que eu deixasse um filete de água escorreu pela minha bochecha, Jefferson suspirou e me puxou para um abraço aconchegante e quentinho.

Um abraço como de um pai.

-Vamos ver sua mãe tá legal?- Assenti freneticamente e ele me soltou, estendeu o braço eu enganchei com o meu e juntos descemos as escadas.

Sabe talvez eu nunca tenha mencionado, mas eu não me lembrava exatamente do Fernando antes dos meus sete anos, era engraçado, eu me lembrava dos meus seis, cinco, quatro, fagulhas dos meus quatro e dois anos, mas em nenhuma dessas lembranças Fernando se fazia presente, tudo era minha mãe e um homem, ele era como uma sombra, eu não enxergava Fernando nesse homem eu sabia que não era ele, mas… Quem era exatamente ele? Será que… Que… Fernando não….

Não impossível.

Sacudi minha cabeça negando rapidamente esses pensamentos, era quase impossível ele não ser meu pai, né? Okay, okay, respirei fundo e me apertei mais a Jefferson. Ele percebeu e me olhou pelo canto dos olhos.

-Ta tudo bem?- não respondi eu estava no profundo da minha mente vasculhando algo que pudesse dizer se ele era ou não meu pai.

Certidão! A minha certidão, eu pude jurar que o nome dele estava escrito nela, mas e se…E se…- Okay, Clara para de graça, com certeza não é falsa, larga mão de ser paranóica.- Falei a mim mesma voltando a respirar fundo.

Percebi pelo canto dos olhos que Jefferson ainda me olhava disfarçadamente, fingi que tudo estava bem, comecei puxando assunto:

-Então…. Onde exatamente estamos?

-Bom...No céu.

Mal percebi, mas a tempos tínhamos deixado as escadas para trás e caminhávamos já pela ala hospitalar, bom eu imaginava estava completamente vazio, as paredes em azul estavam decoradas por belos desenhos de nuvens e sirenes.

-Como assim?- Perguntei.

-Nossos clãs vivem sobre as nuvens, há uma magia antiga que nos mantém no alto e nos esconde.- ele começou a explicar enquanto olhava de quarto em quarto para saber onde mamãe estava, eu o acompanhei na busca.- É como se estivessem nas nuvens, mas não estamos, é como se fossemos invisíveis, mas não somos.

-É tipo um universo paralelo?- Sugeri me desprendendo de seu braço e procurando pelas mamãe, era estranho, nem mesmo médicos transitavam por ali!

Os corredores estavam claros e arrumados, portas dos quartos abertas, mas os mesmos vazios, me apressei para acompanhar os passos velozes dele.

-Digamos que sim.- Ele disse andando até um dos quartos, vinte e quatro, esse era o número do quarto, uma sensação ruim se apoderou do meu corpo, subiu a espinha e me fez estremecer. Aquele quarto, o vinte e quatro, ele seria lar de muitos males, coisas horríveis aconteceriam ali.- A magia que nos ronda é como uma cápsula.- Ele continuou fechando a porta e cortando meu medo daquele quarto.Levei a mão até meu peito onde meu colar residia, segurança me inundou, Jefferson e eu continuamos a andar.- Essa cápsula nos tira da dimensão normal e leva a uma “alternativa”. Mas se você olhar para fora, para o seu mundo ele continua o mesmo.

-Legal!- Exclamei, o mundo mágico era bem extenso e eu sei que eu não sei nem metade da metade, é algo tão extraordinário, mas… Eu sei que tem perigos como o vampiro que me atacou ontem, um vampiro…. Vampiros existem! Passei a mão no cabelo nervosa. Olhei para Jefferson, talvez ele soubesse mais que eu.- Jefferson… Vamp-

-Achei.- Ele me interrompeu, empurrando uma porta rosada, número trinta e cinco, longe o suficiente do vinte e quatro.- Falou algo?- Ele questionou virando-se pra mim enquanto segurava a porta para eu passar. Neguei, naquele momento eu não estava com pique pra ouvir explicação, passei por ele e avistei mamãe.

Ela estava deitada, com a pele mais clara que o normal, passei a mão pelo seu rosto delicado, sentindo a culpa pesar.

-Desculpa mamãe.- Peguei sua mão apertando contra as minhas.- Eu devia ter contado antes.

Naquela sala não havia nem um aparelho eletrônico, nada que a mantivesse respirando, ou lhe mandando medicamentos, mas sobre a cama de madeira haviam plantas de todos os tipos, algumas em vez de frutos carregavam cristais que se assemelhavam aos que haviam em Micaal.

-Nosso tipo de medicina é diferente da sua.- Ele comentou encostado no batente da porta.- Usamos magia nobre para curar.

-Magia nobre?- Perguntei.

-É o contrário de magia negra, uma magia limpa e que vem de de dentro de você.

Assenti sinalizando que tinha entendido. Olhei para mamãe ainda apertando sua mão a minha, seus cabelos caiam espalhados pelo travesseiro, seu rosto mantinha uma expressão serena como se estivesse em um sono profundo, lábios entre abertos e pálpebras fechadas com leveza, suspirei inúmeras vezes sentindo as lágrimas virem.

-Olá.- Limpei-as rapidamente ouvindo a doce voz, virei-me para a porta onde mulher estava parada, tal tinha cabelos claros encobertos por um véu lilás de rendas, sua pele era clara e delicada se assemelhando a uma nuvem, principalmente pelas suas bochechas rechonchudas delicadamente pintadas com rosa, ela vestia uma vestido de alça semelhante ao meu, mas tal era branco seu cinturão era de prata e era gradativamente menor, ela era magra, não havia muitas curvas nem nada que lhe destacasse, mas seu sorriso meigo e olhar amoroso era capaz de abalar planetas. Atrás de si pude ver Jefferson ajoelhado e com cabisbaixo em um sinal solene de respeito, levei meu olhar para ela rapidamente e pude perceber que sob o véu havia uma coroa de rubis. Naquele momento eu soube que ela era mais que importante naquele reino.

-O-olá.- Murmurei levantando-me, eu estava um pouco confusa, eu me curvo? Não me curvo? Agarrei a ponta do vestido com força o alisando, era estranho eu sentia seu poder mágico daqui, o mais estranho era saber que o arrepiar do meu corpo não era por nervosismo, mas sim magia.- Ahn é… Quem é você?- Deixei escapar, Jefferson prendeu os lábios segurando o riso, mas ela gargalhou e com toda certeza jamais vi risada tão doce e controlada, ela era quase um robô elegante.

Corei quando Jefferson se juntou a ela, estavam rindo de mim? Me senti pequena, eles não faziam nada de mal mas era um instinto irracional, levei a mão as minhas costas tateando a cama, quando encontrei a mão de minha mãe eu apertei encontrando segurança e carinho.

-Eu adorei sua amiga, ela é tão fofinha.- Ela caminhou até mim, olhando para quão leves seus passos eram, parecia flutuar.- Onde a encontrou?- Perguntou apertando suas mãos em minha bochecha resmunguei.

-Ela me achou.- Ele murmurou agora de pé fazendo careta.- A sete anos atrás e ainda fez isso.- Ele apontou para a cicatriz em seu olho e prendi o riso vendo-o fechar a cara mais ainda quando a moça que ainda apertava minhas bochechas entreabriu os lábios pálidos, e ergueu as sobrancelhas claras.

-Ai meu Deus ícone, você que fez isso?- Ela perguntou virando meu rosto para o seu, com dificuldade assenti, ela finalmente me soltou para gargalhar docemente, mas eu sabia que havia maldade naquela plumada risada.- Eu vou roubar ela um pouco.- Ela disse para Jefferson. - Vem querida.- Ela agarrou meu braço.

-M-mas minha mãe…-Tentei protestar, mas ela era mais forte, do que ela tinha de beleza com certeza também tinha de força.

-Deixa a menina Yêva!- Jefferson murmurou cruzando os braços e encostado no batente da porta denovo.

-Cuida da sua vida Jeff.- Ela lhe mostrou a língua e me arrastou para fora do quarto.

Eu e ela passamos pelo mesmo hall que antes, Yêva estava me mostrando tudo no castelo, que era bem vazio a propósito, vez ou outra eu via vultos voando, mas eu já estava tão acostumada em ver essas coisas minha vida inteira que nem mesmo me importei, a garota de cabelos claros indecifráveis para mim, pareciam rosa mas não eram, pareciam loiro mas não eram, o véu que lhe encobria a cabeça piorava minha tentativa de desvendar que cor exatamente seus cabelos eram.

Descemos um pequeno agrupados de pedras que formavam uma escada desengonçada, era charmosa até mas parecia ser pouquíssimo usada, um caminho de pedrinhas prateadas nos guiava até uma grande porta dupla de madeira, eu chutava pela cor e pelo cheiro Carvalho, as portas eram grandes e pareciam pesadas, seriam necessários três de mim para abri uma das duas, mas quando Yêva largou meu braço e empurrou suas mãos contra as duas portas não tive tempo para ficar surpresa com o fato de que ela tinha sido aberta como uma pena, logo a visão a minha frente roubou toda minha atenção, sem ligar por parecer grotesco eu disparei em sua frente, a minha companheira tinha parado de falar antes de abrir a porta por isso não foi rude deixá-la para trás, sua gargalhada doce novamente chegou até meus ouvidos. Céus! Eu poderia ouvir seu riso o dia todo. Sorri para ela e voltei novamente minha atenção para lá.

-Sabia que você adoraria.- Ela caminhou até a porta nessa altura eu já a tinha atravessado a muito tempo, eu me encontrava afundando os pés na grama seca mas saudável do jardim.

Sim jardim.

Mesmo que o castelo não se igualasse aos que vi a minha vida inteira, em desenhos, o jardim me lembrava ao da Coraline, aquele filme que provavelmente acabou com várias infâncias, tinha variadas flores, de petúnias a lírios, de rosas a gira-sois, todos em ou palanques de terra, vasos ou na grama, caminhos de pedras douradas levavam a um só lugar, apesar do próprio jardim ser uma mistura deliciosa de abstrato e harmonia, não me importei em saber para onde os caminhos iam, tudo que me importava era ver os insetos e pássaros voando por todos os cantos sentindo aquele aroma maravilhoso de flores e grama.

-Adoro esse lugar.- Yêva comentou finalmente me alcançando, ela caminhava como uma pluma, sua voz me lembrava alguém, ela me lembrava alguém.

Engoli em seco quando me dei conta que ela me lembrava “ele”, e lembrar dele me dava vontade de rir e de corar violentamente, me dava vontade de rolar no chão me sujando com grama e terra, me fazia sentir borboletas dançando tango em meu estômago, pela primeira vez não foi James que me fez sentir assim.

Foi ele. Foi o Viljami.

Eu estava tendo uma droga de uma queda pelo Viljami.