Não era possível dizer em palavras quanto Clara estava cansada, na tarde de sábado acordou na praia de Micaal , totalmente acabada não aguentava nem andar, mas o tinha que fazer, depois de pular na água e se transformar sentiu algo diferente, sua cauda estava normal, sua pele normal, seus cabelos normais, mas ela não sabia o que exatamente estava diferente em si, logo descobriu ao começar a se movimentar sob água

A cada batida, mesmo que leve de sua cauda ela se movimentava em grande velocidade, o que era anormal já que ela só nadava rápido como queria, parecia ser mais fácil nadar era como voar, sentiu-se mais forte e sentiu vontade de permanecer no mar para sempre, mas não podia. Deixando-se levar pela correnteza e pela força de sua cauda ela nadou quilômetros em minutos chegando a uma praia perto de sua casa, para seu azar praia estava mais que cheia, deixou apenas seus olhos saírem da água para espionar a costa não tinha a mínima chance de sair da água sem ser vista e o pior a praia deserta mais próxima ficava a cinco quilômetros de sua casa.

Vendo que não tinha escolha a sereia nadou até a praia deserta, ainda em velocidade rápida, saindo da água ela se arrastou na areia até que estivesse longe o suficiente da água, estendeu a mão sobre a cauda e fechou-a lentamente, a água em seu corpo evapora mais rápido que antes e sem querer ela acabou queimando a perna.

-Ouch!- A morena resmungou passando a mão pelo local queimado.- Ai isso dói.

Levantou-se limpando o vestido azul que vestia na noite, então se deu conta que não se lembrava como tinha ido parar na praia de Micaal, nem do que tinha acontecido na sexta depois de ter ido na cozinha com Viljami.

Viljami, ela sentia que tinha que falar com ele mas não sabia como, seu celular tinha ficado em casa, sem contar que ela nem lembrava direito o número do amigo, afinal quem decora número hoje em dia?

Coçou a cabeça sem idéias do que fazer, como uma luz do fim do túnel Clara avista um certo alguém que talvez pudesse lhe ajudar.

Rebecca bebeu pelo canudinho um pouco de suco de algas e abacaxi, estava cansa e com tédio com a cabeça jogada para trás no sofá de veludo na casa de uma das sereias do conselho, diferente das sereias de outras regiões as sereias latinas viviam em casas em terra firme, infelizmente graças a uma maldição de mais de quinhentos anos as sereia não se sentiam seguras em viver nos mares que rondavam a América do Sul, uma pequena porcentagem se mudou para outros oceanos, entretanto o resto preferiu por viver entre humanos, mesmo sendo perigoso elas já tinham pegado a manha.

As portas do grande salão finalmente se abriram e Rebecca pode respirar em alívio, graças a Deus aquilo tinha terminado, o grande conselho tinha convocado todas sereias e tritões de confiança, que moravam perto de outras sereias e tritões e que poderiam manter todos em contato. Sua mãe era uma dessas sereias, toda vez que era convocada ela levava Rebecca que participava das audiências e das reuniões, mas daquela vez, daquela vez ela soube que algo grande acontecera ou estava para acontecer pois barraram sua entrada, nunca fizeram isso, nem mesmo quando as sereias planejaram a morte de um cientista que “sabia demais”.

-Até amanhã.- sua mãe disse antes de chamar a filha para irem para a casa de seus parente que moravam perto.

-Como assim amanhã?- Perguntou brava, já estava cansada daquele lugar, nem lugar tinha para nadar queria ir para casa nadar no mar.

Sabrina suspirou ao ver a filha já impaciente, passou a mão nos cabelos mal cortados loiros e sedosos, estava um turbilhão, mas sabia que a filha estava mais, sabia que ela suspeitava que algo grave acontecia,mas realmente, algo grande estava para acontecer.

-Eu ainda terei muitas reuniões querida.- Rebecca arregalou os olhos.- Teremos de ficar aqui por mais algum tempo.

A loira menor bufou e a passos pesados andou em direção ao carro.- Maldito conselho

praguejou mentalmente, abriu a porta do carro entrou e fechou com força, Sabrina suspirou, aquela seria uma longa viagem.

Ao chegar na casa moderna de seus avós Rebecca saiu furiosa do carro, o trajeto tinha sido em silêncio total, a sereia sabia que a sua mãe não lhe contaria o que estava acontecendo o que aumentaria seu tédio, mas ela tinha razão para estar brava, era segunda lua que perdia e a primeira que tinha sido em vão.

Brecou, suas feições de ódio foram substituídas por desespero ao se lembrar que: Clara jamais passara pela lua cheia antes.

Bateu na própria testa com força, correu até a casa, entrou sem cumprimentar ninguém, subiu até seu quarto, tirou do bolso o celular e foi até o contato da amiga, era tarde? Era, mas ela precisava saber se algo tinha acontecido.

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Três toques foram necessários para que ele abrisse a porta, de short mesmo abriu-a fazendo a garota corar, Viljami olhou para ela de cima a baixo e com uma careta brava bateu a porta em sua cara, Clara bufou e bateu de novo com mais força e urgência.

-Eu acho que seu namoradinho não vai atender.- Jefferson comentou aparecendo atrás de Clara.

-Cala boca velho nojento, ele não é meu namorado.- Clara bateu mais forte na porta.

O homem deu de ombros. E foi até sua moto.

-Vai querer carona pra voltar pra casa?- O sirena perguntou e Clara prontamente negou.

Nem morta que subiria naquele monstro de novo, que Deus e todos os anjos a livrasse de ter contato com aquela moto infernal novamente, ainda podia sentir o vento a cortando mesmo ela estando de capacete, nem podia imaginar o tanto de multas que Jefferson tinha por excesso de velocidade, com certeza muitas. O homem subiu na moto pôs o capacete, acelerou sumindo da vista de Clara.

A casa de Viljami era beira mar, em uma praia pequenininha onde haviam mais casas como as suas, a casa tinha dois andares e não tinha portão como as tradicionais brasileiras mas sim uma porta que não dava diretamente a um cômodo, dava em um corredor que levava aos cômodos, a sereia continuou batendo na porta até que um platinado furioso abrisse.

-O que é porra!- Ele gritou para Clara que se assustou, mas rapidamente voltou a postura determinada,

-Temos que conversar.- Disse firme, olhando em seus olhos.

-Vai se fuder Clara.- Ele bateu a porta com força novamente.

A garota se irou, seu rosto se tornou vermelho de pura raiva e respirando lentamente ela ergueu a mão em direção ao trinco da porta, mas não o tocou, movimentou a mão como se estivesse a o abrir e sentiu três trancas diferentes, se concentrou em uma, depois em outra e mais outra, todas se abriram lentamente fazendo uma barulho de “clack”, Viljami que falava no telefone encerrou a ligação ao ouvir o barulho da porta, caminhou até o corredor e se assustou ao ver a porta se abrir lentamente, logo seguido da imagem de sua amiga séria do outro lado da porta.

-Não sei se entendeu, mas eu disse que temos que conversar.- Ela disse caminhando até ele.- Podemos?- Perguntou ela séria, Viljami engoliu em seco e assentiu.

Sentados ambos na sala da casa de Viljami eles se olhavam em silêncio, cada um se incentivando para começar.

-O que aconteceu sexta?- Perguntou Clara ao amigo.

Viljami ergueu uma sobrancelha e murmurou baixinho.

-Pensei que ela estivesse mentindo.

-”Ela”? - Perguntou franzindo o cenho.

-Rebecca me ligou a pouco antes de você abrir a porta, a propósito como você fez isso?- Ele perguntou assustado para a garota.

Na verdade nem ela sabia, apenas tinha agido por instinto, instinto de sereia, mas ela não podia dizer isso a ele, afinal nem sua melhor amiga sabia sobre seu segredo seria estranho contar a ele. Passou a mão no cabelo em uma tentativa de achar uma desculpa e sentiu um grampo e puxou-o lentamente para não arrancar certos fiozinhos dolorosos.

-Grampo.- Mentiu para o garoto que pareceu engolir.

Estava ficando boa com mentiras, o problema seria quando as consequências de suas mentiras viessem.

-Bom….Ela disse que você tinha tomado alguns remédios para dor de cabeça e que você tinha exagerado na dose.- Clara se surpreendeu, parecia que ela não era a única que sabia mentir bem, também ouvindo essa explicação salvadora de Rebecca soube que ela tinha respostas do porque dela ter esquecido sobre a noite anterior.- Que foi normal você ter ficado doidinha e que era para eu te perdoar por tudo que você fez.- Ele fez careta.- Acho dificil. Com rémedio ou não você vacilou bonito sem contar que nem consegui dormir direito por sua causa.- Ele disse em duplo sentido, ficara acordado por medo de algo ter acontecido a garota, mas também pelo beijo que ela dera a ele, seria aquele beijo algo indiferente para ela? Agora sabia que era por conta do seu delírio e se sentia decepcionado, não que ele gostasse dela nem nada do tipo.

-O que aconteceu na sexta?- Perguntou novamente.

O garoto suspirou e se ajeitou no sofá e começou a contar sobre o ocorrido.

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Rebecca continuou ligando desesperadamente, iria fazer duas horas que estava tentando falar com a amiga, quando finalmente ela finalmente atendeu soltou um suspiro de alivio.

-Alô.— Rebecca estremeceu com o tom de voz que a amiga usou.

-Alô…. - A loira apertou o celular.- Ta tudo bem?

Ouviu a outra sereia rir sarcástica do outro lado da linha.

—Claro. Tirando o fato de que agora eu estou oficialmente em cativeiro, infelizmente não com a SIA, e que o Viljami está mais que puto comigo, porque pelo que parece…— Ela pausou em um suspiro cansado.- EU BEIJEI ELE! PUTA QUE PARIU EU TIREI O BV DO MULEQUE!

Rebecca riria se grande parte da culpa não fosse sua, ela abriu a boca para pedir desculpa quando foi interrompida pela amiga que estava mais que afobada.

—O que aconteceu comigo Rebecca? Por que isso aconteceu comigo? Você sabe não é? Você encobriu tudo pra mim então você sabe!

-Se você calar a boca eu faço questão de explicar tudo.- Rebecca disse não querendo, mas sendo rude.

Clara se calou esperando a explicação e Rebecca sorriu começando a explicar.

-O que aconteceu com você costumamos chamar de " Feitiço da lua” ou “Febre lunar”. Acontece mais com sereias mais jovens , crianças e filhotes, pelo que parece afeta recém transformados como você. E antes que pergunte o porque isso acontece eu só sei parcialmente, toda vez que a lua se revela completa em qualquer parte do mundo é para dar a quem não tem, acrescentar a quem tem e raramente tirar de quem tem, nos humanos não surte efeito algum, a não ser que esse humano seja sensível a coisas sobrenaturais, já nas sereia inexperientes como você ela tem um efeito fortíssimo, é necessário um treinamento não muito difícil para aprender a controlar todo o poder que a lua te entrega. Porém é necessário que uma sereia experiente te treine, se não acaba sendo sozinha pelo fato de ser… Um algo que você vai fazer sozinha.- Ela finalizou a extensa explicação e Clara suspirou.

—VOCÊ NÃO ME FALOU ISSO ANTES PORQUE HEIN?— Clara gritou do outro lado da linha assustando a loira, a mesma tirou o celular do ouvido.

-Desculpa eu estava distraída e com…

—Seu nariz, você teve a merda de um mês, em vez de falar de série porque não me avisou que se eu olhasse pra merda da lua eu ficaria louca como se eu tivesse virado umas quinze garrafas de catuaba.— Clara grunhiu no telefone um arrepio passou pelo corpo de Rebecca.

- Olha você precisa saber meu lado, eu tenho essas viagens toda hora e essas viagens tiram minha concentração.- Ela ouviu Clara resmungar um “hum” e continuou.- Elas não são simples viagens tem coisas por trás delas, muitas coisas, na maioria das vezes são para reuniões dos conselho das sereias.

- Conselho das sereias? O que é isso?

-É uma história muito longa para contar agora Clara, mas eu prometo que quando eu voltar eu te conto. Provavelmente entre terça ou quarta.- Rebecca disse emburrada queria voltar logo para casa.

-Promessa é promessa, se você quebrar eu quebro a sua cara. Até porque você tá merecendo umas bolachas.

Rebecca suspirou ao ouvir sua vó gritar seu nome, era hora do almoço.

-Eu tenho que desligar. Você me perdoa pelo meu vacilo princesa?

-Não.- Ela respondeu seca.

-Por que?

-Rebecca meu amor...— Ela suspirou dizendo calmamente.- TEM UM VIDEO MEU DANÇANDO FUNK, EU QUASE BEIJEI UM CARA DE VINTE ANOS E EU APOSTO QUE FIZ MAIS COISAS QUE VILJAMI NÃO SABE E/OU NÃO ME DISSE.— Ela gritou no outro lado da linha.- E também se o Viljami não me perdoar, eu não te perdoo.- E assim ela desligou.

Rebecca bufou e jogou o celular na cama com força, ela realmente tinha sido uma cuzona e por sua causa Clara tinha passado por coisas humilhantes, bufando ela levantou da cama e saiu do quarto.

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Na segunda de manhã Clara parecia mais um defunto do que uma pessoa ou sereia, ela estava empacotada com um moletom e agradecendo a Deus pelo clima estranho do Brasil que lhe permitia dias de inverno no meio do verão, para sua sorte ninguém percebera sua presença e assim pode caminhar até o refeitório, onde ficaria até a hora de dar o sinal.

Para seu azar Viljami não estava querendo falar com ela, Tereza tinha faltado já que seus pais tinha voltado de viagem e ela queria paparicada-los, e ser paparicada também, Rebecca estava em viagem e o resto do grupo tinha tomado chá de sumiço, com exceção de James e Luana que Clara com muito prazer os ignora. Para aumentar seu azar sentiu a presença de alguém e quase vomitou quando viu quem estava perto de si, ele deslizou as mãos até as dela e sorriu.

-Faz tanto tempo que a gente não se fala, né princesa?- Marcos disse galanteador, Clara quis morrer, não vomitar bem na cara dele, discretamente começou a forçar vômito.

- Podia continuar assim não acha?- Perguntou ela puxando as mãos com violência pronta para se levantar, mas ele a puxou para se sentar.

-Afiada hein?- Ele puxou-a mais perto pela touca que cobria seu rosto e sussurrou ameaçadoramente.- Me respeite, você não sabe do que sou capaz.

Ela olhou-o com olhos ardendo em uma mistura de medo e surpresa, que logo foi substituído por raiva e determinação, no mesmo tom ela sussurrou de volta.

-Você também não sabe do que sou capaz.

Ele ergueu uma sobrancelha e puxou-a para mais perto ela tentou se afastar, mas ele desceu a mão e puxou-a pelo braço ela grunhiu e sua raiva aumentou, ela levou a mão até a dele no braço dela e a apertou, com uma força humana como normal de uma mulher, Marcos riu irônico, aquela garota achava mesmo que era algo, enquanto revirava os olhos sentiu algo estranho, o aperto estava forte demais, doloroso demais, assustado ele puxou a mão do braço dela, mas mesmo assim ela não a largou, apertou-a mais forte e ele gritou chamando a atenção.

-Ta doendo, para! Para!

Cinco garotos apareceram e tentaram, repito tentaram tirar a mão de Clara, porém era a mesma coisa que nada, mesmo estando furiosa e concentrada em quebrar lentamente a mão dele ela estava assustada com quão forte estava. Ela apenas parou ao ouvir o “crack”, e o grito da multidão e de Marcos se intensificando, com um sorriso obscuro ela se levantou e o ergueu pela camisa ainda sorrindo.

-Não. Se.Meta.Mais.Comigo. -Ela disse pausadamente, largou-o no chão com força e ele se apoiou, como pode.

Ele a olhou assustado e ela sorriu antes de ajeitar a touca girar os calcanhares em direção a sala de aula, todos da rodinha, que ela nem percebeu ter se criado a sua volta, abriram espaço para que ela passasse e pela primeira vez na vida ela se sentiu foda.

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Sentada na cadeira esperando a aula vaga acabar, afinal mesmo um mês passado eles não tiveram a competência de arrumar alguém para dar aulas para aqueles bandos de cabritos, incluindo ela, sentiu seu celular vibrar, estanho ela não estava com os dados ligados não poderia ser mensagens do whats, podia? Deu de ombros e apenas olhou a notificação.

Uma mensagem….

De SMS?

Apostava que era mensagem de operadora, que a propósito ela odiava, mas quando viu que aquele não era o numero da operadora, que novamente a propósito ela sabia de cor, ela correu para ler a mensagem e começou a tremer.

Olá hum?

Ha ha ótimo dia hein? Nem começou direito e já saiu por ai quebrando barreiras

E mãos. kkkkkkk

Eu tenho algo que vai quebrar suas pernas.

Imagem:

Clara sentiu lágrimas vindo, lágrimas de total medo e desespero o celular tremia em sua mão e ela não pode evitar de soluçar quando viu a foto. Ela e Rebecca em boa resolução transformadas na praia a noite, ela sorriu enquanto falava a amiga e esticava a mão para secar sua cauda, para seu azar seu rosto era visivel e reconhecível.

Ou cauda como preferir.