Underfell

Capítulo 1 - Vs Napstablook


A criatura a frente de Frisk parecia com uma cabra bípede, de pelagem cinzenta e patas em lugar de cascos, olhos amarelos vidrados e pequenos chifres na cabeça. Sua roupa consistia em um vestido preto sujo e rasgado com um símbolo estranho – dois triângulos invertidos com um normal no meio, abaixo de uma esfera com asas de morcego -, de mangas brancas sujas de poeira e barro.

— Um humano? – A criatura disse em um sussurro, perplexa. Sua voz era fina e estranha, diferente da voz suave de Toriel. Aquela criatura parecia com Toriel, mas Frisk logo chegou a conclusão que, definitivamente, não era a Toriel que ele conhecia. – Você é um humano...? – Toriel deu dois passos para frente, olhando para a criança. Frisk se sentia assustado com a criatura. O que diabos havia acontecido com seus amigos? – Oh, meu pequeno... Aquela criatura nojenta e miserável estava te torturando? – Frisk negou com a cabeça, o sorriso de Toriel parecia tentar transmitir segurança, mas falhava. – Claro que estava. Você não sabe que não pode confiar em flores?

“Q-quem...”, Frisk gaguejou.

— Meu nome é Toriel, a zeladora das ruínas, meu pequeno. – Ela disse, se aproximando mais ainda. Frisk conseguia sentir um cheiro de putrefação vindo dela, coisa totalmente contraria a Toriel.

“Impossível”

— O que disse? – O sorriso de Toriel não vacilou. Aquilo deixava Frisk desconfortável.

“Nada...”, Frisk respondeu.

— Venha, eu vou te guiar pelas ruínas. – Toriel segurou a mão de Frisk e começou a puxa-lo enquanto caminhava firmemente até a porta ao norte da sala.

Frisk reconheceu a sala no mesmo instante em que pisou nela: Era a primeira sala das ruínas, com sua dupla escadaria de pedra e suas folhas vermelhas secas. Mas havia alguma coisa estranha nela, parecia mais... Abandonada... E fedia.

— Venha por aqui, meu pequeno. – Toriel falou desde o topo da escadaria, interrompendo a exploração de Frisk.

A criança subiu as escadas e seguiu Toriel até a outra sala, onde havia vários botões no chão e uma porta de pedra.

– As ruínas são cheias de quebra-cabeças, as maiorias são mortais, então tenha cuidado com eles. – Toriel pisou em uma serie de botões e a porta de pedra se abriu. Frisk caminhou até um dos botões. – Eu recomendo não pisar aí. – Toriel disse, com um sorriso perturbador, e caminhou até a outra sala.

Frisk mal havia dado dois passos para dentro da outra sala e um froggit apareceu, mas um froggit estranho, com dentes afiados como agulhas e com olhos completamente negros, além do desenho em sua barriga estar errado, sendo similar a uma caveira.

— Ribbit. – O froggit disse, pulando de um lado para outro. Frisk tentou conversar com ele, mas este não deu ouvidos e tentou morder a criança.

— É minha! – Frisk ouviu Toriel gritar, então escutou sons de passos apressados e a cabeça do froggit foi cortada fora. Frisk olhou assustado para Toriel, com as mãos sujas de sangue fresco e um olhar estranho em seu rosto. Toriel devolveu o olhar. – Vamos.

Toriel continuou levando Frisk pelas ruínas. A maioria das armadilhas já haviam sido ativadas, pelo que Toriel e Frisk só passaram por elas. Chegando a certo ponto, existia uma divisão no caminho, onde Toriel se deteve e se virou para Frisk.

— Eu vou fazer uma coisa, me espere aqui. – Ela disse, sorrindo levemente e caminhando até o outro extremo da sala. – Ah. – Ela se virou. – O que você prefere? Canela ou caramelo? – Frisk estava prestes a responder, mas Toriel o interrompeu. – Tanto faz, não é mesmo? Eu volto logo. – Toriel saiu apressada e Frisk ficou sozinho.

Igual como da outra vez, mas ainda assim, diferente.

— Humano... – A voz de Flowey sussurrou, e Frisk se virou para encontrá-lo a vários metros atrás de si. – Tome cuidado. – Flowey se enfiou no chão outra vez.

Frisk se sentou no chão e começou a organizar seus pensamentos. O que estava acontecendo? Porque Toriel estava tão diferente, e matando outros monstros? Porque Flowey não se lembrava de nada e ainda tentava o ajudar? Para falar a verdade, porque ninguém se lembrava de nada e estavam tão diferentes?

Frisk decidiu que ficar sentado não resolveria nada e decidiu se levantar e continuar a caminhar pelas ruínas. As ruínas prosseguiam com quase nenhum quebra cabeça armado, e os que sim estavam armados haviam sido aumentados para deixá-los mais mortais, mas mesmo assim, Frisk conseguiu prosseguir sem se machucar. Finalmente, após passar por uma tabua velha onde repousava um queijo com forte cheiro de veneno, Frisk chegou em uma área onde o caminho era tampado por um fantasma.

“Napstablook...”, Frisk sussurrou. Ele sabia que aquele fantasma não devia ser o mesmo Napstablook que Frisk conhecia. O fantasma era completamente preto, com a exceção de seus grandes olhos vermelhos gotejantes e um sorriso perturbador vermelho em seu rosto.

— Zzzzz... – O fantasma emitiu. Frisk se aproximou dele e confirmou que este não estava fingindo, mas dormia de verdade.

“Napstablook, com licença”, Frisk cutucou o fantasma com receio, que abriu os olhos e se levantou, olhando para Frisk sem mudar sua expressão.

— Ei... Eu estava dormindo... – Napstablook fez uma pausa. – Oh... Você é um humano... – A voz era suave e tímida, assim como a do Napstablook original, mas Frisk percebeu alguma coisa estranha nela... Alguma coisa mais sombria...

“Eu... Eu só quero passar... Então te deixo em paz.”, Frisk tentou dialogar. Napstablook negou com a cabeça.

— Porque eu deixaria você passar...? – Napstablook emitiu um som similar a uma risadinha. – Você sabe o quanto uma alma humana é valiosa...? – Napstablook começou a rir lentamente enquanto lagrimas vermelhas saiam dos seus olhos, soltando uma fumaça preta ao cair no chão. A alma de Frisk saiu do seu corpo iniciando a batalha e Frisk conseguiu controla-la como de costume em uma batalha, esquivando as lagrimas acidas que Napstablook espirrava.

Cada vez que se iniciava uma batalha, a alma de Frisk saia do seu corpo e Frisk ficava paralisada, conseguindo tão somente falar e controlar para onde sua alma deveria ir. Os monstros preferiam atacar diretamente a alma, pelo que Frisk entendera na sua viagem pelo underground, pois era o método mais eficaz de retira-la. Por sorte, os ataques feitos à alma não atingiam o corpo físico.

Frisk se lembrou de como havia feito para convencer o Napstablook original, animando-o, mas este parecia ser uma versão invertida do Napstablook tímido e pacifico que ela conhecia.

“Napstablook... Mmmh... O que um fantasma disse para o outro?”, Frisk tentou, enquanto sua alma esquivava lagrimas que subiam nas paredes e caiam do teto.

— ... Suas piadas são horríveis. – O macabro sorriso de Napstablook nunca desaparecia do seu rosto. Frisk começou a se sentir nervoso, mas resolveu tentar denovo.

“Toc Toc...”, a forma de Napstablook tremeluziu.

— ...Pare de tentar! – A voz de Napstablook se tornou aguda ao ponto de machucar os ouvidos de Frisk, que teve que tampa-los.

“Quem é?”, Frisk persistiu, com dificuldade.

— Uh, deixe eu te mostrar uma coisa... – Napstablook voltou para sua voz usual e suas lagrimas começaram a cair para cima. Frisk pensou que havia conseguido e se sentiu aliviado, mas seu alivio se dissipou ao perceber o que Napstablook estava formando: Uma faca. – Eu a chamo de Murderblook... – A faca foi direta a alma de Frisk, que a desviou com dificuldade. – Oh não... – Napstablook pareceu irritado e suas lagrimas pararam de escorrer. – Eu geralmente venho aqui para ficar sozinho... Mas hoje nem isso eu consegui. – E Napstablook desapareceu, deixando Frisk a sós outra vez.

Frisk começou a se desesperar. Até mesmo Napstablook estava estranho? Lagrimas brotaram nos olhos de Frisk enquanto este corria pelos corredores e chegava a uma grande arvore morta, com uma pequena casa atrás.

— Oh, isso demorou mais do que eu pensei. – Toriel surgiu atrás da arvore, caminhando apressada. Ela percebeu Frisk e por um instante, sua expressão se tornou nervosa, mas logo voltou a sorrir. – Minha criança! Você está bem? Você se machucou? – Toriel se agachou perto de Frisk, que ainda tinha lagrimas nos olhos. – Eu não devia ter te deixado tanto tempo sozinho... – Toriel franziu o cenho por um segundo e logo voltou a sua expressão anterior. – Acho que não posso ocultar, muito mais... Venha aqui criança. – Toriel saiu puxando Frisk para dentro da casa. De perto, ela parecia em ruínas.