Uncursed

Espete no fuso.


Bambi estava exausto depois de atravessar o deserto intenso pela segunda vez. Aladdin, Jasmine e Mogli, acima deles, no tapete, estavam exaustos por conta do calor. Todos chegaram suados e muito cansados no local onde nem eles mesmos sabiam do que se tratava. Lily e Emma desceram do cervo e Aladdin e Jasmine pousaram com o tapete, descendo com Mogli.

– E aí? Gostou da volta do tapete, irmãozinho? – perguntou Lily para Mogli, rindo para o menino.

– Sim! – disse ele, com um sorriso alegre no rosto. – Posso ir outra vez?

– Na volta você vai, Hamed. – fala Aladdin, rindo e balançando os cabelos de seu filho.

– Mogli. – fala Lily, seca. – Seu nome é Mogli, não Hamed.

– Ah, desculpe. – disse Aladdin. – Eu e Jasmine temos que nos acostumar com isso.

– Gente, onde estamos? – pergunta Jasmine, mudando de assunto e olhando ao redor.

Estão no meio de uma floresta, e afrente deles tem uma caverna de rochas roxas que desce até o subsolo, com escadas íngremes.

– Reino Sudoeste. – fala Emma, olhando para o céu. – As nuvens sempre correm no sentido norte. E pelo trajeto delas, estamos mais ao Sudoeste. Estamos no reino da Rainha Aurora e Rei Phillip.

Lily olha para a caverna com uma sensação de dejá-vu. Sente que já esteve lá. Sente que era destinada a estar naquele lugar desde que nasceu. Sabe que aquele é o seu lugar.

– Então, o que estamos esperando? – pergunta Lily. – Vamos. Vamos entrar na caverna.

– Lily, tem certeza que é uma boa ideia? – pergunta Emma. – Esta caverna não parece muito confiável.

– É, Lily. – diz Jasmine, com suas mãos nos ombros de Mogli. – Uma caverna de pedras roxas não parece muito convidativa.

– Mas estamos falando sobre eu descobrir meu passado. – diz Lily, agora indignada com o fato de todos quererem ficar de fora da descoberta do passado de Lily. – Eu não hesitei em adentrar em um deserto escaldante, num reino abandonado em ruínas para saber o passado de meu irmãozinho, e assim libertei vocês dois, Aladdin e Jasmine. Não acham que eu mereço saber sobre eu mesma também, não?

Todos ficam sem palavras. Apenas olham para os rostos uns dos outros vendo e se perguntando por que acham que Lily está tão certa em relação àquilo.

– Está bem. – fala Emma. – Vamos.

Lily acaricia Bambi, avisando que já volta, e adentra na caverna sendo seguida por Emma, Jasmine, Aladdin e Mogli logo atrás. A caverna é escura, mas consegue se ver em suas paredes tochas apagadas.

– Se pelo menos tivéssemos fogo. – diz Lily, pegando na tocha apagada.

Neste mesmo momento, a tocha se acende, emitindo uma luz por toda a escadaria abaixo da caverna de rochas roxas. Lily se assusta, vira-se e vê Emma com as duas mãos voltadas para a tocha.

– Agora temos. – fala Emma, rindo.

– Você nunca me disse que podia fazer isso. – fala Lily, assustada. Jasmine e Aladdin tem receio também, e protegem o pequeno Mogli, o que irrita Lily um pouco.

– Pois é, não havia necessidade de usar meus poderes quando você me ameaçou com a flecha. – disse Emma. – Mas eu nasci com esses poderes, legais, não?

– Sim, bastante! – fala Lily, rindo e olhando a tocha acesa.

– Agora vamos, seu passado nos aguarda. – fala Emma, descendo mais degraus.

Os degraus são estreitos e muitos, mas finalmente eles conseguem chegar a um grande salão no final desta caverna.

– O que é isso? – pergunta Jasmine.

– É o que vamos descobrir. – diz Emma, enxergando algumas tochas e acendendo-as, iluminando o grande salão.

É um salão empoeirado, com uma lareira e alguns sofás, com uma poltrona imensa. Do outro lado do salão tem um caldeirão no qual pode se ver terra dentro dele, juntamente com teias de aranha para “enfeitá-lo”. Tudo parece muito velho e abandonado, como se a anos um ser humano não tivesse pisado ali.

– Então esse é o seu passado? – pergunta Jasmine, olhando para o lugar imundo. – Uma caverna abandonada?

– Essa caverna já foi a casa de alguém. – fala Lily, andando em direção ao caldeirão e vendo uma mesinha a sua frente com acima dela um livro aberto em uma página com uma receita para um feitiço de escudo.

– Feitiço de escudo? – pergunta Lily, pensando alto.

– O quê? – pergunta Emma, que neste momento analisava a poltrona.

– Aqui nesta página tem as instruções para um feitiço de escudo poderosíssimo. – fala Lily. – Será que minha família foi atacada ao eu nascer, e me protegeram com um escudo?

– Pode ter sido. – diz Jasmine, analisando o caldeirão. – Usaríamos isso em Mogli, mas somente grandes feiticeiros eram capazes de tais atos. E o único grande feiticeiro que conhecíamos era o todo poderoso Jafar, que acabou desaparecendo após conseguir achar uma maneira de voltar á sua forma humana depois de ter se transformado em um gênio. Ele viu que não tinha mais futuro nos ameaçando e desapareceu. Nunca se ouviu falar dele.

– Jafar? – pergunta Emma. – Mas Jafar estava na Batalha Final do dia em que nasci, vocês são de séculos atrás.

– Gente, todos sabem que Jafar foi para o País das Maravilhas. – fala Lily, e todos parecem estranhar. – Sério que vocês não sabiam? Em Camelot só se falava nisso, existem até livros. Após passar anos no País das Maravilhas, Jafar encontrou uma fonte da juventude, e combinado com o fluxo temporal diferente do local, ele voltou e se vingou de todos que o fizeram sofrer. Só que aí a Vovó lançou uma flecha em seu rosto e no de Cruella De Vil durante no nascimento da filha da Branca de Neve, no caso você. E ele morreu. Para o bem de todos.

– Juro que não sabia desta história. – fala Emma. – E olhe que já ouvi muitas.

– Sério, vocês tem que ler mais. – fala Lily.

– Ei, gente. – fala Aladdin, olhando para a lareira da caverna e chamando todos. – Acho que irão gostar de ver isso daqui.

Todos se aproximam da lareira, passando pelas poltronas empoeiradas. E veem algo estranho: uma casca de ovo imensa e toda empoeirada, com uma espécie de terra dentro dela. Um ovo imenso.

– Que criatura seria capaz de chocar um ovo deste tamanho? – perguntou Mogli.

– Não sei, mas que é mortífera, isso ela é. – fala Aladdin.

– É, Lily. Seu passado parece ser muito estranho. – fala Emma.

Lily apenas olha para aquele local com uma sensação de nostalgia, lembrando sabe-se lá de quê. Mas é aí que acontece. Lily esquece do local ao ouvir uma voz. Uma voz distante, chamando seu nome. Esta voz é feminina e muito forte. Ela se vira, e vê no canto da caverna uma mesa com algo coberto por um lenço cinza. É dali que vem a voz. Lily se sente atraída por essa voz como nada já a fez se sentir atraída antes. Passa por todas as poltronas, sofás, até chegar perto daquela pequena mesa com o objeto acima dela. Lily pega o lenço e retira de cima do objeto, e é aí que aparece: uma roca de fiar, com um fuso bem afiado de ferro. A mesma voz, neste momento, ecoa na cabeça de Lily:

– Espete no fuso.

Neste momento, Emma percebe a falta da Lily perto deles na lareira, e vira-se, vendo a cena de Lily com os olhos vidrados no fuso da roca, enquanto levanta seu dedo para espetá-lo.

– Lily, não! – grita Emma, mas já é tarde demais.

Lily não cai em um sono profundo, mas sim vêm memórias em sua cabeça. Memórias de uma fada de poucos anos de idade, apaixonando-se por um humano, e o mesmo corta suas asas. Esta mesma lança uma maldição na pequena princesinha do Reino Sudoeste como vingança contra o odioso rei, e fica amargurada pelo resto da vida, até um príncipe resolver dar o “beijo do amor verdadeiro”, acordando-a. Esta bruxa então fica amargurada e simplesmente deixa para lá, deixando se tomar por sua vida de trevas, e conhece um homem no qual compartilha seu poder de transformar-se em dragão, e assim ela põe um ovo no qual está dentro dele uma menina. Mas aí, depois de algum tempo, uma mulher aparece oferecendo uma vingança. Ela aceita, e tenta se vingar de todos que já fizeram mal contra ela. Ela aceita, mas antes deixa uma mensagem para sua filha em um fuso de uma para caso perdesse tal batalha, e perde, sendo arrastada para uma terra sem magia e forçada a viver como uma sem-teto em um lugar chamado Nova York, no qual um tempo depois ela morre atropelada por um automóvel. O ovo, com a menina, eventualmente se choca, e por um milagre uma família de lobos consegue resgatá-la, e mais posteriormente, essa menina teria um irmão também resgatado. A partir daí Lily já sabe.

As memórias simplesmente são jogadas em sua cabeça, e enquanto uma gota de sangue escorre pelo fuso da roca, uma lágrima cai do olho de Lily. Ela não foi abandonada, fora apenas vítima de uma injustiça. Uma terrível injustiça que foi pior por conta de Branca de Neve e o Príncipe Encantado.

– Lily? – pergunta Emma, se aproximando de Lily.

Lily se vira, e com o rosto cheio de lágrimas, diz:

– Você! Você matou minha mãe!

– Lily, o que você está dizendo? – pergunta Emma.

– A verdade, queridinha. – diz Rumplestiltskin, aparecendo em uma nuvem preta.

– Rumplestiltskin! Então foi você! – diz Emma.

– Jasmine, estou com medo. – diz Mogli, se abraçando em Jasmine, que o acolhe.

– Não fique, menininho, afinal, você pouco será afetado por esse momento. – diz Rumplestiltskin. – Não fui eu, princesinha. Foi a própria mãe da menina que a fez enxergar a verdade.

– Que verdade? – pergunta Emma, olhando para Lily. – O que ele está falando, Lily?

– Sou filha da Malévola! – grita Lily, ecoando por toda a caverna. – A fada mais injustiçada de todas.

– Malévola? – pergunta Emma. – Impossível, a Malévola morreu na Batalha Final.

– Não exatamente, mas foi expulsa para uma terra sem magia. – diz Rumplestiltskin, sorrindo com seus dentes podres. – Mas antes, ela deixou um pequenino ovo com uma pequenina menina que fora resgatada por lobos.

– Lily... – fala Emma, pensando alto. – Mas, tudo isso já passou Lily, este é o presente.

– Não, queridinha. – fala Rumplestiltskin. – Ela não acha isso.

– Você matou minha mãe! – grita Lily. – Eu juro, você vai sofrer tanto quanto ela!

– Acho que agora está na hora de você pagar o preço, queridinha. – diz Rumplestiltskin, olhando para Lily com seu sorriso podre. – Seu preço é servir á mim em prol da destruição de Branca de Neve e Encantado.

– Espera, você disse que seria modesto! – fala Mogli se aproximando dele.

– E ele está sendo. – fala Lily, rindo para ele. – Será um prazer, Senhor das Trevas.

– Lily, não faça isso! – fala Mogli, segurando sua irmã pelo seu braço. – Por favor, não vá.

– Calma, Mogli. Você pode vir comigo se quiser. – fala Lily. – Afinal, você é tão vítima quanto eu.

Mogli olha para a irmã e em seguida olha para seus pais, confuso sobre qual caminho tomar. Mas ele sabe que aquilo é errado. Ouviu histórias traiçoeiras sobre Rumplestiltskin sua vida toda, e não podia cooperar com isso. Ele simplesmente solta a mão de Lily.

– Então vai ser assim, não é? – fala Lily, olhando com ódio para o irmão. – Ótimo, eu não preciso de vocês. Não preciso de ninguém.

– Lily, não faça isso. – fala Emma. – Não vale a pena.

Lily olha com uma cara irônica para Emma, e diz:

– Claro que vale, querida. Em breve, tudo o que você ama. Tudo o que todos vocês amam, será tirado de vocês, para sempre. E de seu sofrimento, se erguerá minha vitória. Eu irei destruir sua felicidade. Nem que seja a última coisa que eu faça.

Com o final deste discurso, uma nuvem preta se faz, e Rumplestiltskin e Lily somem, indo em direção á tão esperada vingança de todos os vilões incompreendidos.