Unbreakable

Capítulo 12 - Volare!


Carmen levantou-se da cama completamente desamparada, e fitou o relógio na mesa de cabeceira.

24/12/2006.

Véspera de Natal.

Puta que pariu, pensou. Caminhou até o banheiro e tomou a ducha mais rápida de sua vida. Vestiu uma roupa simples e foi em direção à sala. Estava sem fome. Tomou um susto ao se deparar com a imagem de Sherlock enrolado em somente um lençol branco.

– Olha, ela está usando calças. Bom dia.

Ela arregalou os olhos e ele se levantou. Arrastando o lençol, Sherlock caminhou até a cozinha, e Carmen aproveitou para pisar na única vestimenta do homem, fazendo-a cair no meio do caminho. Ele, por incrível que pareça, não percebeu.

Carmen puxou a carteira de cigarros da bolsa e acendeu um. Sherlock retornava da cozinha com uma xícara de chá.

– Porque está tão frio?

– Talvez porque esteja nevand-- MEU DEUS, SHERLOCK! - Carmen fingiu estar assustada.

O homem fitou o lençol caído no meio da sala e ergueu o olhar. Carmen tinha virado o rosto, tragando o cigarro. Sra. Hudson que vinha da área de serviço, serviu uma xícara de chá para si mesma e ao rotacionar no próprio eixo e mirar a figura nua do locatário de seu apartamento, deixou a xícara estourar no chão. Para seu azar (será?), o homem se virou e não foi muito rápido em se esconder.


Uma hora depois, Sherlock e Carmen estavam sentados no sofá, assistindo tv. O detetive permanecia calado, completamente vestido e envergonhado, e Carmen fumava o terceiro cigarro.

– Ehm, Sherlock?

– Hmm?

– Aconteceu... ahem, alguma coisa ontem?

– Não que eu saiba. Por quê?

Carmen suspirou aliviada. Sherlock arqueou uma sobrancelha.

– Nada.

Após cinco minutos de um longo silêncio, Carmen tateou o bolso da calça de Sherlock e fisgou o telefone do detetive.

– O que você está fazendo?

– Ligando para o seu irmão.

Após a resposta de Carmen, Sherlock tentou capturar o celular da mão da menina, mas foi impedido por um pé em seu esterno.

Mycroft atendeu a ligação.

– Sherlock, eu já disse que n--

– Não, Mycroft, é a Carmen.

– Ah. Como posso ajudar?

– Bem, hoje é véspera de Natal e eu gostaria de convidá-lo para jantar aqui no 221b.

– Oh.

– Desculpe ter ligado muito tarde, eu meio que perdi a noção do tempo.

– Não, tudo bem. Vejo se passo aí mais tarde.

– Ah, que bom. Espero o senhor, então.

– Não me chame de senhor, Carmen. Não sou tão velho.

– Certo. Até mais tarde.

– Até.

Carmen fechou o celular com um sorrisinho maléfico e o jogou em cima de um Sherlock emburrado. Ele o capturou no ar e suspirou, puto nas calças.

Carmen Morrigan tratou de limpar o apartamento e deixá-lo um brinco para o Natal, arrumando a decoração natalina. Sherlock reclamava cada vez que a garota pendulava a vassoura sobre o chão do apartamento. Uma coletânea de músicas de Natal de Dean Martin tocava na vitrola, só para irritar cada vez mais o detetive. Quando acabada a limpeza, Carmen começou a cozinhar. Temperou o Chester, fez uma salada com legumes, arroz cremoso e batatas fritas. A sra. Hudson ajudou a menina com a comida. Às cinco tomou outro banho e começou a se arrumar. Às sete, os três residentes do 221b estavam prontos para a noite de Natal. Carmen deu um pedala-robinho em Sherlock quando pegou o homem no flagra tentando abrir um dos presentes.

– Oi!

– Sai daí.

Sherlock bufou e se ergueu. Carmen cantarolou a parte em italiano da música que tocava na vitrola.

– Penso che un sogno cosi non ritorni mai piu... Mi dipingevo con le mani e la faccia di blu...

– Ah, cale a boca.

– Poi d'improvviso venivo dal vento rapito, e incominciavo a volare nel cielo infinito...

Vencido pelo sarcasmo de Carmen, os dois começaram a dançar uma valsa acelerada ao som de Volare, ambos concentrados para não rir. A música chegara quase ao final quando a menina colocou-se a falar.

– Sherlock.

– Hmm?

– Mycroft está na porta desde que começamos a dançar.

Eles pararam de dançar e Sherlock mirou a porta do 221b, e os companheiros de dança começaram a gargalhar.

– Feliz Natal para os dois.

Após meia hora, Lestrade e Molly chegaram, quase juntos. Sherlock permanecia prostrado, sentado no sofá com um copo de água. Carmen se aproximou dele e acendeu um cigarro.

– Qual é da vibe Kurt Cobain, Sherlock?

– Nada.

Antes de dar a primeira tragada, colocou o cigarro na boca do detetive.

– Pra você. Feliz Natal.

Ele tragou com força o cigarro e fechou os olhos.

– Esse alcatrão é fraco.

– Larga de ser ingrato.

Carmen se levantou e caminhou em direção à cozinha. A tv estava ligada. A sra. Hudson e Molly conversavam sobre a comida e Mycroft permanecia em silêncio, sentado na frente da governanta. Lestrade seguiu Carmen e agarrou sua cintura quando a menina servia uma taça de vinho branco, assustando-a.

– Porra, Lestrade! - ela deu um tapa no ombro de Greg.

Ele riu e desfez a seriedade de Carmen, que o abraçou.

– Feliz Natal, seu panaca.

– Feliz Natal - Lestrade apertou ainda mais a menina, que não tinha nem metade do seu tamanho, quase a levantando. Ambos caminharam até a saída da cozinha e Carmen parou sobre o portal, pousando as costas na parede.

– Você quer algo para beber?

– Não, estou bem.

– Ok - Carmen deu um breve selinho em Lestrade antes de caminhar até a mesa, sentando-se, bebericando o vinho. Sherlock uniu as sobrancelhas ao presenciar o ato.

– Vocês, namorando? - todo o som da sala se encolheu até formar uma neblina desagradável.

– Não é nada sério - Lestrade respondeu, e Carmen afundou a testa na mão livre.

– Sério o suficiente para vocês demonstrarem afeto na minha casa, na minha frente!

– Na sua casa, Sherlock Holmes? Pelo o que eu me lembro, sou eu que pago a maior parte do aluguel.

– Isso não faz ela mais sua que minha. Além do mais, quando você ia me contar? E você está bebendo!

– Desde quando eu te devo satisfações?!

– Parem, os dois! - Mycroft interrompeu a discussão. - Sherlock, Carmen é livre o suficiente para namorar quem ela quiser. Eles até formam um casal... "fofo".

Sherlock acenou negativamente com o rosto e rodopiou os olhos. Carmen virou o copo de vinho na boca.


Após duas horas enfurecidas entre Carmen e Sherlock, os dois trocaram olharem raivosos entre si. O humor de Carmen ia do vermelho para o azul quando Lestrade começava uma conversa, o que parecia irritar Sherlock mais ainda. Todos ceiaram às nove e meia da noite, sempre elogiando a comida de Carmen e da sra. Hudson. Após a ceia, começaram a trocar os presentes.

A mais nova iniciou os trabalhos, e puxou uma sacola da Dolce e Gabanna debaixo da árvore de Natal.

– Ah, ela vai começar com o presente mais caro. Deixe-me ver se acerto, deve ser para o seu novo namoradinho - disse com desdém.

– Não.

– Ah, não?

– É pra você.

O olhar de Sherlock desmoronou quando Carmen Morrigan se aproximou dele e lhe entregou o presente.

– Feliz Natal, Sherlock Holmes - Carmen colou os lábios na bochecha de Sherlock em um pequeno beijinho, deixando uma marca de batom e um detetive consultor muito confuso. - Abre, vê se você gosta.

Sherlock descolou a fita plástica que grudava uma aba da sacola à outra, e retirou de dentro da bolsa uma camisa social roxa, de botões.

– Nossa, é bonita. - Molly comentou.

– Obrigado, Carmen - Sherlock levantou um olhar envergonhado e Carmen permitiu-se perdoar o moreno. - Aqui está o seu.

Ele entregou uma caixa de plástico envernizado, fechada por um laço azul. Carmen puxou o laço e abriu a caixa, revelando um vestido amarelo com uma faixa azul em sua cintura.

– Obrigada, Sherlock. É lindo.

Mycroft ergueu-se da sua cadeira e entregou uma caixa de aproximadamente 20x20cm. Uma palheta de maquiagem. Carmen abraçou o irmão de Sherlock e entregou-lhe seu presente, e depois trocou presentes com Molly, Lestrade e a sra. Hudson. Lestrade deu-lhe um kit de lingerie (e recebeu um olhar de desaprovação junto com um tapa no ombro), Molly um par de brincos e um colar, e a sra. Hudson, um perfume. Pouco a pouco os convidados foram se retirando, e Carmen os acompanhava até a porta.

Lestrade foi o último.

– Greg, erm.

– Sim?

– Perdoe Sherlock pela cena, ele...

– Nah, não ligue.

– Mesmo assim. Desculpa.

Carmen aproximou-se de Lestrade e roubou-lhe um longo beijo, seguido de um apertão de bunda. Greg riu e se despediu, pegando um táxi na rua principal.

A menina trancou a porta e subiu as escadas. Chegando na sala, mirou um Sherlock vestido com a camisa roxa que ela lhe presenteara.

– Ficou ótima em você.

– Você vai me contar o que aconteceu, ou não?

– Contar o quê, Sherlock Holmes? Eu estou namorando, e?

– Sério? Lestrade, sério mesmo? - ele bufou. - Que mau gosto.

– Ah, então você acha de mau gosto? Vou escrever um questionário e mandá-lo para os homens que quero namorar, aí você pode conferir e opinar qual deles é o melhor! Por favor, quem você acha que eu devo namorar? Você?!

Ele não respondeu.