Sinara

Encarei bem o colar em minhas mãos, desde que saímos de Neal ele pareceu perder um pouco o brilho, ou será que tudo perdeu?

— Tem certeza que está bem? – Ás perguntou sem olhar para mim.

— Claro que estou.

— Certo. – Ele respondeu com um pouco de ironia, oque me incomodou, mas preferi ficar quieta na minha, não estava bem. E ele notou isso. — Estamos quase chegando ao ponto de encontro.

— Duvido que mais alguém tenha chegado. – Murmurei e ele riu.

— Pois é. – Lyh concordou, saindo de seu mundo da lua, até agora ela esteve em silêncio absoluto, era como se estivesse tão imersa em seus próprios pensamentos que esqueceu a vida, e olha que a chamamos várias vezes.

— Um primeiro sinal de vida desde que saímos de Neal, que vitória. – Ás comentou e eu sorri, Lyh apenas nos encarou confusa. — Nada esquece.

Continuamos andando até chegar ao chafariz, de longe reconheci o chapeleiro, quer dizer demorei um pouco para sacar que era ele porque estava sem o chapéu; Ele estava com rapaz de cabelo azul que brincava com um anãozinho vulgo Jas.

Quando Ás viu o filho estagnou no mesmo instante e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Ai Céus, e essa agora. – Resmunguei e corri até o menino, que ainda não tinha nos visto, eu o abracei por trás e ele levou um susto, para depois começar a rir e me fazer rir junto. —O seu papai está te esperando. – Sussurrei e ele olhou para trás.

— Papai! – Ele gritou ao ver Ás e saiu correndo para abraça-lo.

Ás o pegou no colo e sorriu, era inacreditável como o sorriso dele era sincero perto de Jas, e os olhos dele tinham um brilho diferente, isso era... Ás versão pai amoroso? Pensei que jamais iria ver isso na minha vida.

— Ai está uma cena rara. – O rapaz azul comentou ao meu lado e eu sorri. Ele ergueu a mão. — Sou Loke, é um prazer.

— Sinara. – Respondi segurando a mão dele. — O prazer é todo meu.

Ele se apresentou para Lyh, que assim que o viu começou a falar sobre alguma coisa sobre mestre da magia, mas eu não entendi bem, por que ele a cortou educadamente.

— Onde estão os dois pestes? – Perguntei, me lembrando de Dee e Dum, Loke me encarou em dúvida e eu sorri sem jeito.

— Se está se referindo aos Tweedles... – Começou o chapeleiro, pelo tom acho que coisa boa não era. Mas eu não pude saber o que ele ia dizer ninguém pôde, por que quando ele abriu a boca algo atrás de nós explodiu, e uma onda de fumaça branca cobriu todos nós.

Virei-me rapidamente, mas não vi nada além de fumaça, ouvi a voz de Jas e logo uma forte luz dissipar a fumaça. Tudo foi muito rápido, quando consegui enxergar direito vi que Loke segurava Jas pelo braço, pela forma como estava ofegante percebi que a luz tinha vindo dele. Ás pegou Jas no colo novamente e o acalmou, Lyh e o chapeleiro começaram a olhar ao redor;

— Mas o que foi isso? – Perguntei, ainda com a impressão de estar intoxicada com a fumaça.

— Uma distração... – Concluiu Ás. — Mas o que querem com isso?

— As crianças. – Lyh respondeu com convicção, o chapeleiro concordou e se voltou para nós.

— Dee principalmente, ele é um menino de muitos dons, se o pegarem estaremos perdidos.

— Mas o que iam querer com aquele desastrado? – Uma pergunta indelicada, eu sei, mas era assim que eu o via, como um menino desastrado e tímido que não sobrevive sem o irmão mais velho.

Lyh me encarou, e depois de um tempo conseguiu responder;

— Para fazê-lo de oráculo.

— Oráculo? – Eu queria dizer que o nome era estranho, mas preferi tentar entender o por que de escolherem justo ele. — O que fariam com uma criança como oráculo?

Lyh sorriu de modo melancólico.

— Você não tem ideia do quanto uma criança talentosa pode ser útil querida... São poderosas e se amedrontam fácil, se apegam rapidamente as pessoas, o que as tornam manipuláveis.

— Lyh... Você- Fui novamente interrompida, dessa vez por um som de pássaros de aproximando.

— Não temos tempo. – Loke tomou frente. — Ás e Sinara salvem os meninos, eles estão no quarto sete do hotel a frente, eu protejo Jas, apenas vão, não se preocupem, vocês são melhores na luta e nós na magia, por isso nós vamos protegê-los dos inimigos mágicos que aparecerem.

Um pouco relutante concordei em ir com Ás e nós começamos a correr, sem pensar duas vezes invoquei minha arma, para descobrir que a habilidade de meu parceiro era quase a mesma, a diferença era que a arma dele era preta, cheia de listras azuis e mais fina, enquanto a minha era cinza e o cano não era tão longo.

— Será que até nisso você tinha que se parecer comigo? – Ás brincou enquanto corríamos e de algum modo eu consegui sorrir. — Você tem que parar de me amar tanto.

A nossa frente dois soldados apareceram, certamente dando cobertura a seus companheiros, olhei para além dele e vi o hotel. Aquilo me deu mais ânimo, fazia tempo que eu não lutava

— Não tenho culpa se Jason me ensinou a usar uma arma. – Retruquei e Ás riu. — Mas tenho certeza que não tem uma coisa.

— E o que poderia ser? – Ignorando o tom irônico dele, peguei a esfera azul e a amarela e quebrei uma na outra, revelando meu chicote de água energizado, encarei Ás e acelerei mais o passo. — Uau. Eu precisava de um desses para meus alunos;

O primeiro soldado surgiu e ergueu a espada, mas eu rapidamente o desarmei com o chicote, para em seguida acertar uma bala silenciosa em sua testa e voltar a correr.

De relance vi Ás acertar um chute no outro e acertar-lhe no peito, sempre com um sorriso tosco no rosto. Ele me alcançou rapidamente e nós diminuímos o passo ao entrarmos no hotel, a recepcionista estava abaixada atrás do balcão e nem ousou nos encarar.

— Me de cobertura. – Ás sussurrou ao começar a subir as escadas e eu fui atrás, atenta a qualquer movimento. Nós fomos passando pelos quartos até chegarmos ao sete. — No três, um... – Ouvimos um choro abafado vindo lá de dentro, por mais que eu achasse aqueles dois umas pestes, a ideia de que eles poderiam estar machucados... — Dois... Três!

Ás abriu a porta e nós dois apontamos a arma para os possíveis inimigos, mas não havia mais inimigos. Os três soldados estavam caídos do chão, completamente mortos, olhei para os meninos, Dee estava encolhido chorando ao lado da cama, e Dum estava a sua frente, tremendo e com lágrimas nos olhos, os dois estavam de mãos dadas.

— Dum, quem fez isso a esses homens? – Perguntei e ele engoliu seco.

— Fui eu.