Sinara

Jas estava serio, assentindo a cada recomendação da duquesa, o trabalho dele era simples, seguir a estrada e encontrar o tal do Renne com a criança, tudo muito simples, então por que eu sentia que ele não estava levando a sério?

Talvez porque ele tenha oito anos e nada de juízo na cabeça?

— Aqui está! – Erick entregou alguns chocolates nas mãos do pequeno. — Tente fazer ele se sentir bem, eu e Sinara vamos estar logo atrás.

— Isso mesmo. – Murmurei, sorrindo. — Pode confiar em nós.

— Tá. – Jas guardou os chocolates no bolso, agora tudo o que nos restava era esperar, Alice e Alli deveriam chegar a qualquer momento.

Sentei em um banco, estávamos na varanda do hotel, Jas olhava para o horizonte, certamente esperando Alli aparecer, foi um custo convence-lo de que não íamos sequestra-lo ou algo do tipo, ele parecia determinado a se aventurar atrás de Alli.

— Pensando em que? – Erick surgiu, se sentando ao meu lado.

— Nada demais. – Respondi sorrindo. — Então o que seu pai queria?

Mais cedo, Johan havia chamado Erick para uma conversa particular e parecia ser sério.

— Ah! – Ele baixou os olhos. — Ele disse que temos que terminar a arma e coisas assim.

— Que ótimo então, já estava na hora.

— Sim. – Ele riu e olhou para frente. — Parece que chegaram.

De fato, Alice e Alli vinham discutindo por algum motivo, Will e um homem desconhecido conversavam distraidamente, os dois adultos cumprimentaram a duquesa e os três entraram conversando animadamente.

— Você viu como ele te encarava? – Alli resmungou para Alice assim que chegaram a varanda.

— Vi Allister, vi como ele me olhou depois de levar o soco. – Alice parecia impaciente. — Olha se o Hector estava me olhando o problema era dele, ele tem olho não tem?

— Sim e eu também, e não acredito que se interessa por loiros. – Alli emburrou a cara e eu quis rir, ele estava com ciúmes?

— Eu estou aqui sabia? – Erick se manifestou ainda sentado ao meu lado. — E digo que loiros são um arraso.

— Dá um tempo ser. – Alli fuzilou Ches com o olhar. — É porque você não viu como aquele menino era engomadinho.

— Tudo bem senhor albino, acabou a reclamação? – Alice questionou, cruzando os braços.

— Tá legal, o que houve? – Perguntei e os dois me encararam.

— Hector houve. – Alli resmungou. — Aquele cara me irritou bastante. Todo metido. – E se voltou para Alice. — Como você pôde gostar dele um dia?

Jas estava parado ao lado do irmão, segurando a blusa dele e a puxando para chamar atenção, em vão.

—Alli! – Tentei chama-lo, para que ele pudesse atender a Jas, a cena já estava me dando agonia e pena. — Alli!

— Olha só meu querido eu sei que você está com ciúmes, mas pelos céus. – Alice segurou os ombros dele, Jas a encarou confuso e emburrado. — É o Hector e eu dei um soco na cara dele.

— Alli! – Tentei de novo, Erick parecia entretido demais com a briga para me ajudar. — Se não se importa o J-

— O Hector é só o cara que você amava Alice. – O coelho maldito me ignorou, Jas fez bico e voltou a puxar a blusa de Alli, dessa vez a ponto de chorar.

— ALLISTER! – Gritei e todos me encararam. — Obrigada pela atenção, agora da para olhar para baixo? Esse menino carente esta me dando agonia.

Alli olhou para baixo e Jas ergueu os dois bracinhos para ele, com uma carinha de choro, drama deve ser de família.

— Oh! Pequeno, me desculpa não te vi. – Alli se abaixou e puxou o irmãozinho para o seu colo. — Sentiu saudade?

— Sim! – O pequeno resmungou, deitando a cabeça no ombro do mais velho.

— Tudo bem, depois que você ajudar a gente eu não saio mais de perto, pode ser assim?

— Pode! – Jas sorriu e abraçou forte o irmão.

— Ok agora venham, vou mostrar o caminho. – Alli pediu e nós levantamos.

~ ~ # ~ ~

Jas caminhava como quem não queria nada, olhando ao redor e saltitando um pouco, um soldado passou por ele, o ignorando, ele continuou saltitando até o homem sumir de vista, cínico.

Ele parou em uma praça e se sentou em um banquinho. Nós o observávamos de longe.

Uma jovem ruiva de trança apareceu de mãos dadas com um menino moreninho, ela encarou Jas e sorriu, fazendo-o segurar a mão do moreninho, que mantinha o olhar baixo e chorava um pouco.

— Pronto está entregue. – Ela resmungou impaciente e começou a se distanciar. — Agora Renne me paga.

Jas pareceu ignorar a ida dela, e sorriu para o moreninho, lhe entregando um chocolate e se levantando para guiar o menino de volta para casa.

— Vai ficar tudo bem! Tá? – Ele dizia de tempos em tempos, enquanto puxava o outro pelo caminho que indicamos, o moreninho se mantinha de cabeça baixa, deixando que Jas o guiasse.

— Até que tudo saiu como planejado. – Comentei sorrindo, enquanto caminhávamos escondidos atrás deles.

Erick assentiu e continuamos seguindo os dois, eu me preocupava, pois Erick estava um pouco quieto desde cedo, por mais que negasse, eu tinha certeza que era por causa da conversa com o pai.

— O que acha que vai acontecer quando tudo acabar? – Ele perguntou, me surpreendendo. — Digo, quando essa guerra insana chegar ao fim?

— Não sei. – Admiti, eu realmente não havia parado para pensar sobre isso.

— Meu pai me disse que iam tentar reconstruir Jadis. – Erick riu sem humor, ainda com os olhos fixos nas duas crianças. —Eu penso que... Não sei... Eu sonhei tanto com isso, e agora que é uma chance real eu acho que não consigo colocar fé.

Eu suspirei, segurando a mão dele com força.

— Eu sei como se sente, eu perdi meus pais sabe... – Comecei a falar, me lembrando da minha decisão, da minha escolha, de Branca, de Jason e de Let, uma nova familia. — Mas eu ganhei pessoas que me amam e você também. Pode parecer confuso, mas a mudança é assim, ela assusta, mas acontece.

Erick sorriu e passou um dos braços pelo meu ombro, fazendo-nos andar lado a lado. — Você é incrível. – Ele murmurou e eu ri baixinho.

— Eu sei!

~ ~ # ~ ~

Jas estava animado ao nosso lado, sorrindo e vendo o pequeno moreninho abraçar a mãe. A missão havia sido um sucesso e agora eu, Erick e Jas recebíamos o agradecimento do pai do menino, um homem alto e magro que se controlava para não chorar.

O menino estava agarrado a mãe, que só chorava desde que ele chegou, e acenou para nós quando começamos a partir. Dentre nós Jas parecia o mais feliz, havia feito um amiguinho afinal.

Nós chegamos ao hotel sem nenhum problema, Alice e Alli conversavam decentemente na varanda, o que era um avanço.

— Pronto! Vossa alteza, trabalho cumprido. – Erick comentou quando chegamos perto dos dois, Alice me abraçou e depois o abraçou agradecendo como nunca, os dois começaram a pular de alegria, ainda abraçados.

Eu me sentei ao lado de Alli, que apenas observava a cena com cara de nada enquanto abraçava Jas.

— Devemos ter ciúmes? – Questionei e ele sorriu.

— Não... Eles são duas crianças.

~ ~ # ~ ~

Eu e Alice estávamos sentadas em nosso quarto, conversando sobre coisas aleatórias, quando a duquesa apareceu com cara de poucos amigos e nos chamou para uma reunião de emergência.

— Temos dois recados. – Will anunciou quando todos chegaram a sala. — Primeiro que as nossas armas estão quase concluídas, só falta o menino que sabe fazer essa arma. E a outra bem, não é tão boa assim.

— É sobre Loren! – A duquesa se antecipou. — Ás me mandou um recado, Loren foi envenenada pela rainha de copas e agora corre risco de vida.