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Ela me olhou nos olhos e eu estremeci, sorri um pouco sem jeito e sai da sala o mais rápido o possível, me infiltrei na cozinha e tentei normalizar a respiração, eu ouvi Loke a cumprimentando, e depois indo falar com a chapeleiro, também ouvi passos, vindos na minha direção, corri para fora, uma pequena varanda voltada a parte de trás do enorme jardim, ouvi os passos novamente e puxei a manga da minha camisa para baixo, até tampar completamente os ferimentos, não podia deixar que ela me visse assim.

— AL! – Alice me gritou e eu virei no mesmo instante, eu a encarei e esperei ela chegar, como sempre eu iria agir normalmente e sofrer novamente, mas ela então correu até mim e se jogou em meus braços, eu a abracei pasme, mas feliz, quer dizer, ela...

— Ah! Oi. Que surpresa você por aqui... Onde estão os outros?

— Nos separamos, é uma longa história. – Ela respondeu com a voz suave e não disse mais nada, o que eu estranhei ela geralmente é bem... Chata.

— Está tudo bem? O que aconteceu?

— Por que fugiu de mim?

— Eu... Não fugi. – Mentira eu sei, mas o que eu ia dizer?

— Al, eu senti tanto a sua falta, por favor, me diga que esta bem...

— Eu estou Alice, não vê? – Ergui os braços e ela segurou um com força, puxando a minha manga pra cima. — Alice isso-

— Eu fiquei tão preocupada porque pensei que você fosse morrer, eu não sabia como reagir a nada, fiquei perdida, olha pra você dizendo que está bem... Só piora meu estado.

—Calma uma coisa de cada vez. – Pedi e ela respirou fundo, segurou minha mão e sorriu, o que me surpreendeu, ela não costumava controlar bem as emoções.

— Quando você me deixou eu finalmente percebi que deveria ser sincera, quer dizer, mesmo que não diretamente você se mostrou pra mim, e eu? Você não sabe nada de mim e isso me mata por dentro, eu me sinto isolada de novo, eu me sinto perdida e sozinha...

— Alice, calma você não esta sozinha eu estou aqui em-

— Não você não entende, eu sei que esta aqui agora, mas antes não estava, eu percebi então que não estava sendo eu mesma, eu estava apenas sendo apenas a menina idiota e mimada que foi traída uma vez e se culpa por isso.

— Espera oque? – Perguntei e ela me encarou aflita.

— Estou esperando poder te contar desde o dia em que foi levado, mas céus é muito pra mim eu não... Ah! Eu não... Se...

— Pelo menos respira. Uma coisa de cada vez. – Ela me encarou e pareceu tomar a decisão de sua vida.

— Antes de te conhecer eu era apaixonada por um cara chamado Hector...

— Ah! Entendo. – Comentei meio desanimado e ela continuou sem perder o ritmo.

— Quando eu achei que tudo ia dar certo pra nós ele me traiu com minha suposta melhor e única amiga, Ah! Eu fiquei com muita raiva e sabe oque meus pais disseram? Sabe? - Ela mudou de aflita para raivosa em dois tempos.

— Não! Mas coisa boa não deve ter sido.

— E não foi, eles me disseram para voltar pra festa. Como assim? Isso não foi justo. E... Que coisa! Acho que falei demais. – E de repente ela se acalmou. — Bem não é nisso que eu queria chegar.

— Não? Tudo bem, agora eu me perdi.

— Seu idiota.

— Ah! Devo te chamar de irritante ou... Não, melhor não.

— Eu só queria dizer, que por causa disso eu tive medo de... Amar. E isso me privou de muita coisa. – Ela admitiu desanimada e eu me aproximei.

— Ah! Que isso. Não diga algo tão triste. – Já falei que sou péssimo com coisas relacionadas a sentimento?

— Alli, se eu te chamar de fofo promete não ficar bravo? – Ela pediu com jeitinho e eu sorri.

— É... Não.

— E se em troca eu te contar um segredo? – Mas que menina trapaceira.

— Tudo bem.

— Ah! Fofo! – Ela me abraçou de novo, olha eu posso acabar me acostumando com isso, seria melhor senão tivesse a palavra fofo no meio. — Alli?

— Que?

— A coisa mais importante de todas, o segredo. – Ela disse me olhando nos olhos.

— E oque seria?

— Allister Wate eu realmente te amo e se possível gostaria de passar o resto da minha vida com você, não diga que isso é amor de conto de fadas, porque eu sei bem oque é real, e oque eu sinto eu nunca senti por nada e nem ninguém.

— Ah! – É eu sei, sou um idiota.

— Eu tenho magia do amor então... Palavra de especialista, ou nem tão especialista assim, mas.

— E quem liga para especialistas? – Eu a puxei e a beijei, diferente das ultimas vezes, ela também queria e isso tornou tudo melhor, quando nos afastamos eu a abracei sorrindo. — Alice eu realmente acredito em amor de conto de fadas, porque eu acredito em você.

— Eu te amo coelho irritante.

— Eu te amo menina mimada. E senti sua falta, sem você eu não sei ser eu mesmo.

— Percebi, vai me dizer o que aconteceu aos seus braços? – Ela perguntou e eu passei a mão entre seus cachos perfeitos.

— Outra hora. – Pedi com receio de uma possível briga, mas ela apenas concordou sem questionar e me abraçou. — Então... Agora, o que vamos fazer?

— Sobreviver a mais um dia? – Ela propôs e eu sorri.

— Como quiser doçura. Acho que Jas deve estar nos procurando como louco.

— Vamos voltar?

— É o jeito. – Comentei um pouco sem animo e ela riu, me puxando para fora da varanda, nós chegamos a sala de mãos dadas, não posso negar que o olhar torto e o sorriso malicioso de Loke me incomodou, mas eu não me importei, como eu suspeitava Jas estava atrás de nós.

— Que bom que voltaram. – Tolke comemorou sorrindo, ele estava sentado no chão com Johan.

— É... Ah! Alice, esse é... meu tio Johan, pai de Erick. – Anunciei e ele se levantou, o choque dela foi evidente, mas ainda assim conseguiu sorrir e cumprimentar ele.

— Uau, você está...

— Vivo? – Meu tio completou rindo um pouco. — Sim é oque dizem.

— Nossa. Erick vai ficar tão feliz.

— E eu também docinho. Mal posso esperar para ver meu filhos de novo.

— Eu imagino. – Alice comentou com um sorriso doce e segurou minha mão novamente, depois se virou pra mim e me deu um beijo no rosto. — Vou achar o chapeleiro, temos muitos assuntos a tratar.

— Tudo bem, nos vemos depois. – Ela passou por Loke, que resolveu ajudar, no fim Tolke também foi atrás, só restamos eu e Johan, que jogou um dos braços sobre meu ombro e sorriu.

— Olha eu imaginava que ela era linda, mas, uau, ela é encantadora. Agora fico aqui imaginando como deve ser minha norinha. – Ele disse pensativo e eu revirei os olhos.

— Tio você deveria arrumar uma mulher. – Resmunguei e ele riu.

— Concordo. Então, vai contar a ela sobre... – O olhar dele passou para meus braços e eu suspirei.

— Sim, se é que ela já não percebeu. Mas por enquanto vamos manter esse assunto entre nós. – Pedi e ele concordou.

— Sabe, isso me lembra de quando conheci minha esposa, ela vendia quadros muito lindos, e um dia foi fazer um autorretrato da rainha, eu trabalha para o reino, era aprendiz de ferreiro, em uma dessas idas e vindas eu a conheci, é incrível como tudo se transformou a partir dai. É bom ser jovem. – Ele deu dois tapinhas no meu ombro. — É muito bom.

— Tio, sente falta dela não é mesmo?

— Sim Alli, mas com o tempo a dor vai se curando, talvez quando rever meu filho eu possa voltar a ser completo.

— Você vai tio, tenho certeza. – Confirmei e ele me encarou com ternura.

— Obrigado Alli. Você é demais sabia?

— Ai estão vocês. – Lianni apareceu com o chapeleiro, Alice e Loke, acho que despachou os filhos menores, oque não é pra menos, aqueles dois só complicam as coisas. Eu e Alice nos sentamos lado a lado no chão, ela encostou a cabeça no meu ombro e eu passei a mão pela sua cintura, poder ficar assim tão perto dela era tão reconfortante que todos os problemas pareciam menores.

— Bem... – Começou o chapeleiro. — Como eu disse antes, precisamos da rosa de permon, e supomos que aqui poderia ter.

— Certamente. – Loke interferiu. — São poucas, mas temos sim, já pedi a Cinne que recolhesse algumas.

— Muito obrigado.

— Espera, ninguém me disse ainda onde estão os outros.- Reclamei e o chapeleiro pareceu me notar.

— Ah! Alli, quanto tempo, está mais alto?

— Eu sei lá. Apenas responda.

— Responder? Ah! Sim... Nos separamos, para uma viajem, com um acompanhante adulto claro, dessa vez entramos num consenso de não deixar as crianças sozinhas, a duquesa foi a primeira a concordar, enfim, para conseguirmos os ingredientes para o feitiço que vai nos ajudar precisamos de uma longa viajem pelos três reinos. Claro que a decisão de vir pra cá se tornou mais aceitável depois da mensagem que recebemos de Zeck.

— Espera... O que? – Johan perguntou visivelmente preocupado.

— Era o único jeito... – Alice tentou acalma-lo.

— Então... Erick foi pra onde? E com quem?

— Ah! – O chapeleiro estava mais animado que nunca. — Com a Duquesa e Will, e claro que ele foi pra Jadis. – Johan ficou em choque certamente, pois não conseguiu dizer mais nada. — Preciso... Preciso ir até lá.

— Oque disse?

— Além dos ingredientes vocês a querem não querem? – Johan olhou fixamente nos olhos do Chapeleiro.

— Sim.

— O que? – Perguntei confuso e Johan suspirou.

— A espada vorpal. Eu tenho que ir a Jadis, eu sou o guardião dela, só eu posso a encontrar.